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5.2 Tipologia dos assentamentos

Um conjunto de características, no tocante à sua integração na paisagem, poderão permitir enquadrar os assentamentos em três tipos distintos:

Tipo 1 - Assentamento em altura:

Caracteriza-se pela ocupação do topo ou a periferia de elevações de média ou baixa altitude, sempre bem destacadas na paisagem e abrangendo uma área visual de extensão muito considerável para a região. Trata-se do tipo de assentamento mais comum, representado por cerca de 60% dos povoados.

A excepção do Castro de Santa Tecla, em Famalicão, todos os povoados situados no topo de outeiros (Sub-tipos IA e IB), possuem dimensões consideráveis e sistemas defensivos de certo aparato, com três ou mais muralhas. Um dos traços comuns parece ser o grande desenvolvimento que estes povoados conheceram na última fase da Cultura Castreja, conforme sugeriram as escavações efectuadas na Cividade de Terroso e no Castro de Santa Marta da Falperra e o Monumento para Banhos Castrejo do Castro do Monte da Saia, em Barcelos. A cronologia dos povoados incluídos neste tipo é variável. Em dois povoados - Terroso e Falperra, confirma-se uma ocupação desde o Bronze Final.

Os povoados assentes em cabeços no centro ou rebordo de rechãs (Sub-tipos 1C e ID) possuem dimensões variáveis, desde os muito grandes - caso dos Castros das Eiras ou Santa Cristina, em Vila Nova de Famalicão, até aos muito pequenos como por exemplo o Castro de Sabroso. Os sistemas defensivos são, no geral, complexos, com vários circuitos de muralhas e fossos nos lugares mais vulneráveis, que podem ser em número considerável como o observado nos Castros de Facho e Vermoim, em Vila Nova de Famalicão.

Pelo menos três destes povoados foram ocupados desde o Bronze Final e, em muitos deles, nota-se um grande desenvolvimento ocorrido na Fase III.

Considerando a altitude absoluta, a altitude relativa ao vale e o posicionamento no relevo poderemos distinguimos os quatro sub-tipos seguintes:

IA - Topo de um outeiro em altitude - Os povoados com esta localização ocupam, geralmente, os relevos mais imponentes da região, por vezes os cumes das linhas divisórias de bacias hidrográficas, estão rodeados de boas condições naturais de defesa e dominam pela altura todo o espaço circundante. Possuem altitude absoluta acima dos 300 metros e altitude relativa ao vale superior aos 200 metros. Os povoados de Santa Marta da Falperra, Monte da Saia, Eiras Velhas, S. Miguel-o-Anjo de Vermil e Santa Tecla incluem-se neste sub-conjunto.

(metros*) 800 6 0 0 - 4 0 0 - 2 0 0 -

o -

— t e 800 6 0 0 - 4 0 0 - 2 0 0 -

o -

-y-

800 6 0 0 - 4 0 0 - 2 0 0 -

o -

800 6 0 0 - 4 0 0 - 2 0 0 -

o -

800 6 0 0 - 4 0 0 - 2 0 0 -

o -

800 6 0 0 - 4 0 0 - 2 0 0 -

o -

Fig. 1 - Castro de Santa Marta da Falperra. Povoado do Sub-tipo IA

IB - Topo de um outeiro de baixa altitude - Possuem características idênticas aos povoados IA, mas com altitude absoluta abaixo dos 300 metros e altitude relativa ao vale inferior aos 200 metros. Integram-se neste grupo a Cividade de Terroso e os Castros de S. Miguel-o-Anjo de Calendário e S. Miguel-o-Anjo de Ruivães.

1C - Cabeço no centro ou rebordo de uma rechã. em altitude - Os povoados com esta localização, por vezes também assentes em remates de esporão, evidenciam-se bem no relevo, à excepção de um dos seus lados, onde o destaque é menor. Estão rodeados de boas condições naturais de defesa e dominam pela altura grande parte do espaço circundante. Possuem altitude absoluta acima dos 300 metros e altitude relativa ao vale superior aos 200 metros. A este sub-tipo pertence o maior número de povoados, nomeadamente Vasconcelos, Monte Padrão, Monte das Eiras, Monte dos Picos, Pau de Bandeira, Vermoim, S. Bartolomeu, Alvarelhos, Monte Redondo e Santa Cristina.

Fig. 3 - Castro do Monte Padrão. Povoado do Sub-tipo 1C

ID - Cabeço no centro ou rebordo de uma rechã. de baixa altitude - Possuem características idênticas aos povoados 1C, diferenciando-se pela altitude absoluta que, neste caso, se situa abaixo dos 300 metros e pela altitude relativa ao vale que é inferior aos 200 metros. Integram-se neste grupo a Cividade de Bagunte e os Castros das Ermidas, de Sabroso e do Facho.

(metros) - 800 - 600 L 400 ^ 200 - 0 (metros) - 800 - 600 L 400 ^ 200 - 0

Fig. 4 - Castro do Facho. Povoado do Sub-tipo ID

Tipo 2 - Assentamento na vertente:

Contempla estações situadas em esporões, adjacentes às elevações mais proeminentes nas quais se situam os povoados do tipo anterior, ou num pequeno cabeço que se destaca ligeiramente da linha da ladeira. Regra geral, estão rodeados por pendentes pronunciadas em pelo menos três dos lados o que lhes confere excelentes condições naturais de defesa, limitando, no entanto, as suas dimensões. A análise dos povoados deste tipo revelou que eles mantêm pequenas dimensões, mesmo durante a Fase III, e um sistema defensivo caracterizado pela existência de uma ou, no máximo, duas muralhas e o reforço com taludes e fossos no lado mais vulnerável.

A sua ligação com o vale é bastante mais evidente, se bem que não prejudicando um domínio da paisagem, nalguns dos casos notável, no entanto, preferencialmente orientado para um sitio determinado. Enquadram-se neste tipo 9 povoados, representando 24% do total.

A cronologia dos povoados incluídos neste tipo é variável. Existem alguns com ocupação do Bronze Final que ou são abandonados, no caso de Lages, ou continuam ocupados até ao final do Milénio, como se verifica no Castro de Penices. Os materiais de superfície observados nos Castros da Boca, do Cruito e da Torre Alta deixam-nos a impressão de podermos estar perante povoados que só terão surgido durante a Fase III e, provavelmente, já num momento avançado.

Considerando o posicionamento dos povoados em relação ao topo do relevo e ao vale, poderemos distinguir três sub-tipos:

2A - Cabeço ou esporão em altitude - Ocupam remates de esporão ou pequenos morros destacados na ladeira, em posição de maior proximidade ao topo do relevo. Incluem-se neste sub-tipo os povoados do Alto do Crasto, Lages, Monte da Forca e Argifonso.

Fig. 5 - Alto do Crasto. Povoado do Sub-tipo 2A

2B - Cabeço ou esporão a meia encosta - As características são idênticas ao sub-tipo anterior, com a particularidade de estarem a uma distância sensivelmente igual quer ao topo do relevo quer ao vale. Incluem-se neste grupo os Castros da Consolação e da Boca.

2C - Cabeço ou esporão a baixa altitude - As características são idênticas às dos dois sub-tipos anteriores com a particularidade de uma maior proximidade ao vale. Incluem-se neste sub-conjunto os Castros de Penices, Torre Alta e Cruito.

O Castro de Penices apresenta uma característica única, já que o remate de esporão em que assenta é circundado pelo rio Este, proporcionando-lhe as pronunciadas escarpas, excelentes condições naturais de defesa, em três dos seus lados.

Fig. 7 - Castro de Penices. Povoado do Sub-tipo 2C

Tipo 3 - Assentamento na planície:

Neste tipo integram-se estações da plataforma litoral, nomeadamente os Castros de Retorta, Santagões, Casais, Ferreiro, Boi e Labruje, todos no concelho de Vila do Conde, representando 16% do conjunto de estações consideradas.

Contempla estações assentes em montes de baixa altitude, no centro da planície ou em posição sobranceira aos rios ou ao mar, com uma grande acessibilidade às zonas agrícolas sistematicamente integrada nos terraços fluviais. No geral as condições naturais de defesa são más, se bem que o domínio visual nem sempre seja demasiado restrito.

A altitude, sempre inferior a 125 m atinge a sua menor expressão no Castro de S. Paio, em Vila do Conde, num local sobranceiro ao mar do qual se eleva apenas 14 m.

As observações recolhidas nos povoados deste tipo parecem apontar para a existência de sistemas defensivos de pouca envergadura. Ressalvando, provavelmente o Castro do Boi, em Vila do Conde, todos os outros parece terem ocupado um único recinto, protegido por uma muralha, talude e fosso.

Não conhecemos a cronologia destes povoados, se bem que pelos materiais de superfície nos tenha ficado a impressão de poderem corresponder a um momento de ocupação tardio, provavelmente já bem dentro da Fase III. Apenas um povoado, S. Paio, foi escavado no Verão passado, não tendo sido ainda publicados os resultados dos trabalhos. Numa visita que efectuámos ao local, durante a intervenção arqueológica, observámos uma estrutura circular com lareira, com aparelho idêntico ao de estruturas que conhecemos dos finais do Milénio, o que estaria em sintonia com algumas cerâmicas recolhidas.

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