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CAPÍTULO 1 DISCUSSÃO DA LITERATURA

6. Integrando linguagem e contexto social: gramática sistêmico-funcional e análise

Pesquisas realizadas em contextos educacionais, em particular nos estudos de interação de sala de aula, incluindo situações que envolvem a relação professor/aluno, têm suscitado questões sobre os níveis micro e macro sociais, ou seja, entre a estrutura social (escola) e os eventos sociais (interação de sala de aula), com ênfase muito maior na reprodução social do

28 “nós podemos distinguir diferentes discursos, que podem representar a mesma área do mundo sob diferentes

perspectivas ou posições” (tradução minha).

29 “ linguagem comporal ou imagens visuais” (tradução minha). 30 “identidade e personalidade sociais” (tradução minha).

que na transformação e emancipação. Fairclough (2003:36) tem se referido aos estudos da linguagem como socialmente orientados, destacando a necessidade de relacionar ‘eventos sociais’, ‘práticas sociais’ e ‘estruturas sociais. Ele diz:

“Social structures are very abstract entities. One can think of a social structure (such as an economic structure, a social class or kinship system, or a language) as defining a potencial, a set of possibilities. However, the relationship between what is structurally possible and what actually happens, between structures and events, is a very complex one. Events are not in any simple or direct way the effects of abstract social structures. Their relationship is mediated – there are intermediate organizational entities between structure and events. Let us call these ‘social practices’. (Fairclough, 2003:23) 31

Qualquer prática social envolve uma articulação destes elementos sociais (ação e interação; relações sociais; indivíduos, com suas crenças, atitudes e histórias; o mundo material e o discurso).

O interesse de Fairclough (2003), em investigar as práticas sociais, parece ser uma tentativa de mediar a relação entre os níveis micro e macro, ou seja, entre estrutura social e eventos sociais. Nesse sentido, a gramática sistêmico-funcional e a análise crítica do discurso me permitiram uma visão holística do fenômeno social investigado. Do ponto de vista da gramática sistêmico-funcional, minha atenção se concentrou na descrição detalhada e sistemática dos padrões lingüísticos. Como diz Halliday (1994:xv): “the aim has been to construct a grammar for purposes of text analysis (…) any texts, spoken or written”32.

Utilizei-me da gramática sistêmico-funcional para analisar a linguagem pela perspectiva sócio-semiótica, na qual os significados são entendidos a partir de escolhas lingüísticas, estruturalmente organizadas. As escolhas, segundo Halliday (1994), operam em todos os níveis do discurso: lexical,

31“Estruturas sociais são entidades muito abstratas. Pode-se pensar em uma estrutura social (por exemplo, uma

estrutura econômica, uma classe social ou uma língua) como algo que define um potencial, um conjunto de possibilidades. Todavia, a relação entre o que é estruturalmente possível e o que realmente ocorre entre as estruturas e os eventos é muito complexa. Eventos não são, de nenhuma maneira simples nem direta, os efeitos de estruturas sociais abstratas. Sua relação é mediada – existem entidades organizacionais intermediárias entre estruturas e eventos. Vamos denominá-las de ‘práticas sociais’ ”. (tradução minha)

sintático, modal, e é por meio delas que se pode perceber o nível de expressividade presente numa determinada situação comunicativa. O léxico utilizado num texto carrega traços da identidade do falante/escritor, uma vez que as escolhas feitas pelo falante/escritor podem estar transparentes ou não, precisando, portanto, ser desvelados. A análise lingüística permite, em conseqüência, interpretar os significados presentes nos textos.

Na perspectiva da análise crítica do discurso, meu olhar se voltou para além do texto, ou seja, a linguagem passou a ser analisada levando-se em consideração a interpretação do contexto social mais amplo, incluindo os aspectos sócioculturais, políticos, ideológicos, etc. A análise crítica do discurso me possibilitou captar outros significados presentes no contexto social investigado, cujos efeitos podem estar ou não presentes nos textos. Como a vida social está dialeticamente interconectada com outros elementos das práticas sociais, as pessoas interpretam e representam o que fazem, pensam e sentem no cotidiano e, muitas vezes, os contextos sociais não são transparentes, precisando ser desvelados. Quanto maior for o entendimento do contexto social, maiores as possibilidades de o analista compreender seus efeitos nos textos. Daí minha tentativa de realizar neste estudo a integração da GSF com a ACD. A convergência dessas duas concepções teórico-analíticas foi uma forma dialética de olhar a linguagem por vários prismas, com outros significados, a fim de melhor compreender os mecanismos sociais de dominação e resistência ou emancipação e transformação social. Foram, portanto, essas duas correntes teóricas que me permitiram analisar o discurso da professora, seus diferentes modos de enxergar e sentir a realidade e o mundo.

Todo o trabalho de investigação é constituído de práticas sociais de organização, análise e escritura do texto: o desenho da pesquisa, a formulação das perguntas, as notas de campo, a análise do material etnográfico, e, finalmente, a apresentação dos resultados da pesquisa. Na perspectiva social crítica, reconheço que as práticas discursivas de sala de

aula são moldadas por relações de poder, ideologia e desigualdade social. Nesse sentido, meu papel de pesquisadora ultrapassa o de uma investigadora de fatos; consiste também na procura de valores, crenças e identidade, que permitirão fortalecer ações individuais e coletivas, com o propósito de alcançar a auto-emancipação e transformação social.

Uma vez apresentado o arcabouço teórico que norteará este estudo, passo a discutir a metodologia de pesquisa, procurando me centrar nas questões teóricas e analíticas, que permitirão compreender melhor o contexto social deste estudo.

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