• Nenhum resultado encontrado

Capítulo 1 Publicidade na sociedade contemporânea: uma guerra pelo olhar

1.3. Mundo digital

1.3.2. Internet e sociedade

1.3.2.3. Inteligência coletiva e curadoria social

Jenkins (2009), citando Pierre Lévy, define inteligência coletiva como a “capacidade das comunidades virtuais de alavancar a expertise combinada de seus membros. O que não podemos saber ou fazer sozinhos, agora podemos fazer coletivamente”. Estes grupos “‘tornam acessível ao intelecto coletivo todo o conhecimento pertinente disponível num dado momento’ (...), [e servem] como locais de ‘discussão, negociação e desenvolvimento coletivos’”. “Ninguém sabe tudo. Todo conhecimento reside na humanidade26” (LÉVY apud JENKINS,

2009, p.56). Segundo Pierre Lévy:

a moral implícita da comunidade virtual é em geral a da reciprocidade. Se aprendermos algo lendo as trocas de mensagens é preciso também repassar os conhecimentos de que dispomos quando uma pergunta formulada online os torna úteis. A recompensa (simbólica) vem, então, da reputação de competências que é constituída a longo prazo na “opinião pública” da comunidade virtual (LÉVY, 1999, p.128).

Por isso nota-se a proliferação de blogs e fóruns especializados, wikis, comunidades virtuais e sites como o Yahoo! Respostas, que ajudam os usuários a encontrar a informação que ele precisa. A mesma web 2.0, que contribui para o caos de informação, se usada corretamente, permite que os internautas possam “driblar” este excesso que há na rede, pois sua principal característica é colaboração e troca online de informação. O usuário não quer mais perder tempo navegando pela rede em busca de informação. Com tanta informação inútil, “você, usuário, quer saber o que fazer – e quer que alguém lhe diga27”. Assim, o mediador surge como um filtro diante da demasiada gama de informação (MALTEZ, 2012). Essa “mediação” de informações leva ao conceito de curadoria social na internet.

Para Maltez (2012), a curadoria no âmbito comunicacional, mais especificamente na internet, se refere a uma tentativa de administrar o fluxo de informação a partir de interesses

26 “Lévy traça uma distinção entre conhecimento compartilhado – informações tidas como verdadeiras e

conhecidas pelo grupo inteiro – e inteligência coletiva – a soma total de informações retidas individualmente pelos membros do grupo e que podem ser acessadas em resposta a uma pergunta específica (JENKINS, 2008, p.57)”.

27Citação retirada do post “A era do visual” de Rodrigo Franco, diretor de arte do jornal Valor Econômico, no

blog Brainstorm #9 (eleito por diversas pesquisas e publicações como um dos blogs mais influentes do Brasil). Disponível em: <http://www.brainstorm9.com.br/17449/design/a-era-do-visual> Acesso em: 10 set. 2012

singulares e adição de novos valores. Os mediadores surgem neste contexto de excesso de informações e carência de tempo como facilitadores do acesso à informação. Maltez (2012), citando Vaz (2001), apresenta o conceito de mediador, que abrange três tipos diferentes de agentes que funcionam como filtros: “ferramentas baseadas em algoritmos, como sites de busca, profissionais de comunicação, como jornalistas, e usuários comuns engajados na busca por determinado nicho de informação e compartilhamento”.

Entretanto, a autora alerta que o que os mediadores humanos realizam é “curadoria de conteúdo”, não simplesmente mediação. Citando autores que abordam especificamente a curadoria, Maltez afirma que a curadoria está relacionada à ação humana de seleção, avaliação, julgamento, organização e recontextualização de um determinado conteúdo produzido por um terceiro, seguido de sua replicação. Os curadores podem ser tanto profissionais quanto amadores. Jornalistas e profissionais envolvidos na filtragem de conteúdos podem ser entendidos como curadores profissionais. Já os curadores amadores são os cidadãos comuns que filtram e compartilham conteúdo, por exemplo, nas redes sociais.

Há uma nova realidade no modelo de comunicação:

o usuário antes era mediado pelos meios de comunicação em um sistema hierarquizado, onde o conteúdo era filtrado e disponibilizado de acordo com os interesses dos meios. Com o advento da internet e a criação das plataformas digitais, uma nova cultura foi se formando, a cultura digital, a qual promoveu a quebra de barreiras entre o produtor e o receptor de conteúdos, tornando esse esquema de comunicação hierarquizado insuficiente (ROCHA; ALVES, 2010, p.224).

A curadoria e inteligência coletiva também são importantes do ponto de vista empresarial. Quanto à curadoria, por dois motivos. Primeiro, pois há uma tendência atual dos consumidores de criarem um bloqueio a anúncios publicitários. Entretanto, eles são mais suscetíveis se essa “publicidade” vier através de uma recomendação de um amigo. É o que mostram os dados da Socialnomics28:90% dos consumidores acreditam em recomendações de amigos e apenas 14% acreditam em anúncios. O segundo motivo é fato deste compartilhamento espontânea do usuário entre sua rede de relacionamento virtual pode acarretar em um efeito viral de uma ação/anúncio publicitário.

28 Dados retirados do vídeo Social Media Video 2013. Disponível em: <http://youtu.be/QUCfFcchw1w> Acesso

Além de ser um dos três princípios29 que orientam o crescimento inicial do ciberespaço, a inteligência coletiva também é importante, pois a “organização de expectadores no que Lévy chama de comunidades de conhecimento permite-lhes exercer maior poder agregado em suas negociações com produtores de mídia” (JENKINS, 2009, p.56). Com a interatividade da web, nota-se uma inversão de paradigma histórico: parte dos atuais consumidores dita o que a indústria (de entretenimento etc.) deve produzir. Há uma troca de poder na cadeia produtiva. Para designar o papel deste novo consumidor, Alvin Toffler (apud COVALESKI, 2010a), criou o termo prosumer30. Vale ressaltar que consumidores querendo participar da cadeia produtiva sempre existiram, mas foi com alta competitividade dos mercados, e, principalmente, a emergência da internet que eles ganharam voz. Como explica Caio Tulio Costa, o consumidor “não tinha meios fáceis de tornar essa capacidade pública, não tinha como divulgá-la, não tinha como divulgá-la de forma geral. Agora tem” (COSTA, 2008 apud COVALESKI, 2010a, p.23).

Jenkins (2009) resume: “a convergência, como podemos ver, é tanto um processo corporativo, de cima para baixo, quanto um processo de consumidor, de baixo para cima”.