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A intencionalidade e a reciprocidade são, segundo os autores, condições sine qua non para que ocorra uma aprendizagem mediada de qualidade. A noção de intencionalidade inclui não apenas objetivos claros e bem estabelecidos de ensino, mas principalmente as ações concretas que o professor deve planejar e executar para que esses objetivos atinjam os alunos, gerando assim a reciprocidade, ou seja, o engajamento do aluno no processo.

...os objetivos de ensino não sejam apenas uma “declaração de intenções”, mas que reverberem em uma tomada de posição, por parte do professor, no sentido de efetivar planos de ação e de assumir a responsabilidade, de forma consciente, por colocar em prática as estratégias disponíveis para alcançar os objetivos propostos. (GARCIA et al., 2013: 31)

O critério da intencionalidade refere-se tanto aos aspectos cognitivos como às relações afetivas com o conhecimento e com o aluno. “A clareza ‘do que’ e ‘a quem’ pretende atingir que orientam o ‘como’ de suas ações.” (GARCIA et al., 2012: 22). É importante que o professor não só domine os conteúdos que ensina (dimensão cognitiva), mas também tenha consciência dos sentidos que ele, professor, atribui a esses conhecimentos, aos aspectos energéticos e afetivos com que reveste a sua relação com o saber e com os alunos (dimensão

60 emocional, social e ética). Nesse sentido, o desenvolvimento das habilidades socioemocionais dos alunos, como motivação e engajamento, pode, e deve, ser promovido pelo entusiasmo e prazer com que o ensinante apresenta o conhecimento aos alunos.

Esse critério ressalta a responsabilidade do professor em relação aos seus alunos. Um grupo de alunos desmotivado, que não presta atenção, não pode paralisar o professor: cabe a ele procurar por ações planejadas que possam motivar e prender a atenção, ou seja, a reciprocidade dos alunos deve ser considerada, pelo professor, como um desafio a ser enfrentado e superado. O uso de diferentes e variados recursos e estratégias de ensino10 poderá ajudá-lo na tarefa de provocar, nos alunos desmotivados, o desejo de aprender, conquistando-os e tornando-os cúmplices na jornada da construção do conhecimento.

2. Significado

Mediar o significado refere-se a explicitar o sentido atribuído às ações, crenças, conceitos, tarefas... Uma explicação clara de um conceito e de como ele se insere em uma estrutura de valores, crenças e ideias permite que o aluno compreenda o conceito em si por meio de suas interrelações com outros conceitos e com a teoria que lhes dá sustentação.

Mediar significado é, portanto, permitir e instigar o aluno a compreender (ao invés de memorizar), a debater (ao invés de aceitar passivamente), a problematizar e posicionar-se diante dos conhecimentos, a engajar-se e manter os níveis motivacionais elevados para ampliar seus repertórios internos. (GARCIA et al., 2013: 32)

Conteúdos “vazios” de significado são facilmente esquecidos. Para que a verdadeira aprendizagem se dê, é preciso que o aluno construa o seu próprio conhecimento, revestindo-o de sentidos pessoais, o que por sua vez mobiliza a afetividade tanto do professor como dos alunos. Esse critério ressalta a importância do professor buscar ações intencionais que

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61 preencham as situações de aprendizagem de interesse e relevância para o aluno, provocando nele o seu envolvimento ativo e emocional. Conversar com os alunos sobre a importância do objeto do conhecimento que está sendo estudado e como ele se interliga com os conhecimentos prévios dos alunos, quais são as suas possíveis aplicações e finalidades, tanto na escola como na vida, além de procurar despertar o interesse pela tarefa em si, são alguns caminhos para mediar o significado.

3. Transcendência

Transcender, no contexto educacional, significa ultrapassar o “aqui e agora” da tarefa pedagógica, voltando o olhar para outros contextos e outros saberes. Transcender implica em buscar interrelações entre aquilo que está sendo estudado no momento e outros conceitos, significados, ideias, imagens, situações e vivências nas mais diferentes dimensões da experiência humana.

O ensino não deve ser pontual, restrito a uma única situação ou contexto, precisa ser passível de aplicação, precisa ser capaz de ser útil e integrável a outras estruturas conceituais, outros saberes, outros momentos da vida do aprendiz e outros contextos. (MEIER & GARCIA, 2007: 132)

Mediar a transcendência é atuar, de maneira consciente e intencional, de forma a promover a metacognição do aluno, ou seja, o “pensar sobre o próprio pensamento” que faz com que ele reflita sobre como relacionar aquilo que está sendo estudado no momento com outros saberes, com outras situações, com outras esferas da vivência humana.

4. Competência

Perceber-se como alguém capaz de aprender aumenta a chance do aluno motivar-se e investir seus esforços para entrar e permanecer na situação de aprendizagem. Desse modo, é fundamental que o professor-mediador prepare as suas aulas e avaliações com conteúdos,

62 linguagens e atividades condizentes com o interesse, idade e capacidades dos alunos, para que eles possam experimentar situações de sucesso, aumentando assim a sua autoestima e disposição para enfrentar e vencer os desafios envolvidos nas situações de aprendizagem.

A consciência clara dos caminhos que levam ao sucesso possibilita o desenvolvimento do sentimento de competência, que por sua vez está diretamente relacionado à motivação e autoestima, ou seja, aos aspectos emocionais essenciais à aprendizagem. (GARCIA et al., 2013: 34)

Segundo Meier e Garcia (2007), a escola deve promover muitas experiências de sucesso e oportunidades de conquistas reais para que os alunos desenvolvam um sentimento positivo em relação a si mesmos. O professor-mediador deve, além disso, incentivar processos metacognitivos para que os alunos tomem consciência de suas próprias competências para o aprender, ou seja, percebam a dimensão do seu envolvimento e da sua responsabilidade pelo sucesso.

Assim, é importante que o professor ofereça feedbacks não só em relação às habilidades cognitivas envolvidas (por exemplo, interpretar corretamente a tarefa, colher os dados e acionar os conhecimentos disponíveis necessários à sua execução), mas também às habilidades socioemocionais, como a capacidade de controlar a ansiedade, prestar atenção e concentrar-se na execução.