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II. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

II.III. INTENSIDADE ENERGÉTICA

Quando se pretende comparar os padrões de vida em diferentes

países, utiliza-se o Produto Interno Bruto per capita (PIB/capita), que resulta

da divisão em um determinado ano do valor do PIB pela população do país.

A renda per capita é um indicador do crescimento e do desenvolvimento de

um país. Em 2003 o Brasil ocupava a posição número 67 no ranking de

países. Em termos de consumo energético total, o Brasil é o maior

consumidor de energia da América Latina..

Quando se estuda o recurso energia, a intensidade energética, IE é

um dos indicadores mais utilizados para comparações econômicas. A IE é

calculada através da relação entre energia, E e PIB, ou seja, a IE mede a

relação entre consumo de energia de um país e o crescimento do seu PIB.

Este índice dimensiona a eficiência do uso da energia na criação de riqueza.

Há uma vasta literatura sobre o assunto, especialmente em se tratando de

análises econométricas relativas a impactos macroeconômicos decorrentes

de choques nos preços da energia. Da definição de intensidade energética

tem-se

=

E

IE

PIB

A IE é usualmente expressa em tEP por mil dólares americanos de

PIB para um dado ano de referência. Da definição da intensidade energética

podemos obter as mudanças percentuais como segue:

IE

E

PIB

IE

E

PIB

=

(III)

A tabulação dos valores da IE através de séries temporais de longo

prazo, segundo Goldemberg (2003), mostra que ela não é constante. Em

particular esta é uma das constatações deste trabalho para a matriz

energética brasileira, pois reflete os efeitos combinados de mudanças na

estrutura do PIB, assim como mudanças na combinação das fontes de

energia e na eficiência de seus usos. Neste caso é útil relacionar a energia e

o PIB pela equação:

E

k PIB

γ

= ฀

Onde γ é a elasticidade de renda do consumo de energia e k é uma

constante.

logE= γ฀logk+ γ฀logPIB

E

PIB

E

PIB

= γ฀

E

E

PIB

PIB

γ =

Para a maior parte das nações verifica-se que a intensidade

energética tende a declinar ao longo do tempo. Há uma série de

interpretações possíveis para a causa desse declínio: os modelos

paramétricos se concentram nas modificações da eficiência energética intra-

setorial (Tolmasquim, 2000); nos modelos de insumo-produto, verificam-se

as modificações estruturais, bem como aquelas ocorridas na estrutura da

demanda final; e os modelos econométricos testam a relação entre o uso de

energia e a produção (Stern, 1993).

A tabela 1 abaixo relaciona alguns valores das mudanças percentuais

da IE no período de 1981 a 1991 para algumas regiões (Goldemberg, 2003):

∆E/E

∆PIB/PIB

∆IE/IE

Elasticidade

Sul da Ásia

6,5

5,2

1,3

1,25

Leste da Ásia

7,7

6,6

1,1

1,17

América Latina

2,9

1,8

1,1

1,61

África

4,1

2,7

1,4

1,52

OECD

1,4

3,7

-2,3

0,38

Fonte: Energy in Developing Countries- Asectorial Analysis, OECD/IEA, Paris (1994)

Tabela 1: Variação da intensidade energética ∆IE/IE para algumas regiões de 1981 a 1991

Deve-se notar que o conjunto de países formados pela OECD foi a

única região em que a variação de ∆IE/IE foi negativa no período

considerado. Nota-se ainda que o indicador intensidade energética abrange

o desempenho econômico do setor industrial e o impacto da substituição

energética e tecnológica sobre o consumo de energia deste setor. Em países

como o Brasil, com parque industrial constituído por indústrias maduras,

quando este não se altera em sua estrutura, a análise prospectiva da

intensidade energética é bastante influenciada pelo baixo valor unitário

médio da produção. Para ter uma maior eficiência energética em termos

econômicos, deve-se ter não apenas ganhos tecnológicos no consumo de

energia, mas também alterações de caráter monetário e econômico, pois

existe um limite tecnológico para redução da intensidade energética. Além

deste limite, é fundamental considerar a inserção do país na divisão

internacional do trabalho, uma vez que, para o atual desenvolvimento

tecnológico, a infra-estrutura energética mundial disponível torna-se

insustentável no longo prazo, se expandidos ao nível de todas as nações,

pois continua sendo baseada em processos produtivos intensivos em

energia.

O impacto do crescimento econômico é atenuado pela diminuição da

intensidade energética ocasionada pelos efeitos combinados das mudanças

econômicas estruturais, do progresso tecnológico e dos aumentos nos

preços da energia

Os dados obtidos para realização da análise econométrica deste

trabalho são provenientes do Balanço Energético Nacional (BEN). Os dados

tabulados representam a Oferta Interna de Energia (OIE), que é a energia

disponibilizada para ser transformada, distribuída e consumida nos diversos

processos produtivos. A menos de ajustes estatísticos, a soma do consumo

final em todos os setores econômicos, com as perdas na distribuição e

armazenagem e com as perdas nos processos de transformação deve ser

igual à OIE.

A contabilização das diferentes formas de energia se dá com a

utilização de fatores de conversão, que levam em consideração a

capacidade de liberação de calor, de cada combustível, quando da sua

combustão completa (conceito de poder calorífico).

5

Na matriz energética brasileira o uso eficiente da energia nunca foi

fator prioritário. Aumentar a eficiência com que a energia é utilizada ou

promover a eficiência energética, ou a conservação da energia deve ser

sempre um objetivo a ser alcançado. Existem várias possibilidades para

aumentar a eficiência na utilização das fontes primárias de energia,

conforme Goldemberg (2003):

• Potencial teórico representa o que se pode atingir com base

em considerações termodinâmicas nas quais os serviços

decorrentes do uso de energia não são reduzidos, mas a

demanda por energia e as perdas são minimizadas por meio do

processo de substituição, reutilização de materiais, calor e

perdas;

• Potencial técnico representa economias de energia que

resultam do uso das tecnologias mais eficientes do ponto de

vista energético, as quais são comercialmente disponíveis, sem

levar em conta considerações econômicas;

5

Quantidade de calor, em kcal, que desprende 1 kg ou 1Nm³ de combustível, quando da sua

combustão completa. Os combustíveis que originam H

2

O nos produtos da combustão têm um poder

calorífico superior (PCS) e um poder calorífico inferior (PCI). Tanto o PCS quanto o PCI são calculados

em base seca, ou seja, com 0% de umidade. Para evaporar a H

2

O formada é consumida parte do

calor gerado, resultando no poder calorífico inferior e que, na realidade, tem significado prático (BEN

2005).

• Potencial de mercado é o que se espera obter dadas as

condições de contorno, tais como o preço da energia, as

preferências dos consumidores e as políticas públicas;

• Potencial econômico representa a economia de energia que

seria obtida se todas as adaptações e substituições fossem

feitas utilizando as tecnologias mais eficientes e que fazem

sentido econômico com os preços de energia a mercado. O

potencial econômico implica um mercado que funcione bem

com competição entre novos investimentos no suprimento e

demanda de energia e total disponibilidade de informações

necessárias para a tomada de decisão;

• Potencial Social representa a economia de energia se as

externalidades, tais como os custos dos danos causados ou

evitados na saúde, poluição do ar e outros impactos ecológicos

fossem levados em conta.

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