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1.1. Vinculação no contexto escolar

1.1.2. Interação em contexto escolar com pares

Os relacionamentos com os colegas são significativos e tornam-se cada vez mais importantes ao longo do crescimento da criança, mesmo nos primeiros anos de escolaridade. A própria definição de amizade não é só vista como uma partilha de uma atividade comum, mas sim como uma relação mútua, duradoura e seletiva baseada na compatibilidade de características da personalidade de cada indivíduo (Raikes & Thompson, 2005).

As relações com os pares têm um papel fundamental no desenvolvimento psicossocial e educativo das crianças e jovens, no entanto, estas interações podem

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desenrolar-se de vários modos (bem-sucedidas, pautadas por suporte ou caracterizadas por exclusão ou vitimização). Os vários comportamentos que as crianças podem expressar com outras, podem ser impulsionadoras ou obstáculos do sucesso pessoal e académico do aluno problemático (Li, Lynch, Kalvin, Liu & Lerner, 2011).

Tendo em conta que existe uma grande polaridade nas relações humanas, positivas como negativas, as crianças podem estabelecer relações com pares problemáticos (Li, et al., 2011), podem vivenciar situações de bullying (Patchin & Hindujam, 2010) ou de rejeição (Buhs, 2005; Buhs, Ladd, & Herald, 2006). Estes são alguns cenários negativos que podem acontecer no contexto escolar e nas interações com os pares, mas o modo como as crianças reagem a estas situações e como enfrentam, depende das suas características (introvertida ou extrovertida), se tem dificuldades relacionais, e também das suas vivências passadas (a relação com os seus cuidadores). Estas relações negativas podem ser muito dolorosas para algumas crianças e comprometer o seu desenvolvimento social e emocional, dificuldades nas aprendizagens. Deste modo, as relações negativas com os pares surgem associadas ao afastamento da escola e a comportamentos desviantes (Ma, Phelps, Lerner & Lerner, 2009).

No entanto, uma relação positiva com os pares, poderá ser promotora do envolvimento escolar, na medida em que, preenche as necessidades de pertença e vinculação, e a criança experimenta um sentimento positivo importante para o funcionamento adaptativo, global e em contexto escolar (Ryan & Deci, 2000). A perceção de apoio por parte dos pares surge, igualmente, relacionada com os resultados escolares, o ajustamento escolar (Buhs & Ladd, 2001), a motivação académica (Altermatt & Pomerantz, 2003; Wentzel, McNamara-Barry & Caldwell, 2004) e os comportamentos pró sociais (Wentzel, et al., 2004).

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Deste modo, as escolas têm um trabalho, no só relacionado com as aprendizagens escolares, mas também na estimulação do desenvolvimento socio emocional dos seus alunos, isto porque, a interação social (pares, professores) tem um papel crucial no desenvolvimento podendo influenciar a adaptação dos sujeitos no contexto e, posteriormente ajustamentos relacionais futuros (Emídio, et al., 2008).

A relação com os pares e a sua importância tem merecido uma atenção significativa durante o período da adolescência, situação que não se verifica da mesma forma nem com a mesma intensidade na primeira infância.

Ao analisarmos precocemente as interações na infância, pretendemos prematuramente, identificar dificuldades relacionais, sendo possível identificar se nesta faixa etária existe baixos níveis ou não de aceitação social. Esta situação irá permitir identificar a existência de problemas de ajustamento noutros contextos escolares ou também durante o desenvolvimento, como é o caso da adolescência. Muitos problemas de desajustamentos comportamentais de indisciplina ou de isolamento social, aparecem mais acentuados na adolescência, que é quando ocorre mais comportamentos de exteriorização e são mais facilmente observados. No entanto, estes comportamentos advêm desde a infância, mais especificamente em crianças que têm dificuldades em estabelecer relações, durante as brincadeiras no recreio ou mesmo no contexto sala de aula com os seus colegas.

À medida que vão desenvolvendo as suas capacidades emocionais e cognitivas, as crianças vão adquirindo novas competências, que parecem ser fundamentais na interação interpessoal. Esta evolução das competências sociocognitivas das crianças, permite ao longo do desenvolvimento, a sua capacidade de comunicação, o reconhecimento das necessidades do outro, a capacidade de antecipar as ações do outro

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e planear as suas ações, vão ficando cada vez mais apuradas facilitando a interação e o estabelecimento de relacionamentos duradouros (Machado & Oliveira, 2007).

Relativamente às perspetivas teóricas existentes, estas referem que consoante os indivíduos vão avançando na sua trajetória de desenvolvimento, assiste-se a um exponencial desenvolvimento intelectual e físico, mas também a um alargamento da vinculação a novas relações, o que poderá significar uma reestruturação ou o prolongamento dos modelos internos das relações, os laços afetivos às figuras parentais persistem, embora sujeitos a modificações.

Ao longo do período escolar, os alunos selecionam as suas preferências, escolhendo com quem mais gostam de brincar. Os alunos preferencialmente, selecionam um membro do mesmo sexo que se transforma num amigo próximo em quem se confia e desenvolve-se uma orientação para os objetivos comuns do grupo. Ladd, Bush e Troop (2002) consideram que, o grupo de pares adquire um papel principal no suporte do self e desenvolvimento da identidade social.

Numa turma existe uma grande diversidade de alunos com características distintas, os alunos que apresentam dificuldades de aprendizagem apresentam um número significativo de problemas de relacionamento com os pares, quer por inibição quer por exteriorização. Estes modos de exposição são frequentemente observados em crianças que apresentam uma vinculação insegura com os seus cuidadores. O estatuto sociométrico destas crianças oscila entre o ignorado e o rejeitado. Porém, não é inevitável que muitas crianças com dificuldades de aprendizagem (DA) ou outras patologias apesentem estudos sociométricos normais (Lopes, 2010).

Os problemas relacionais que muitos destes alunos apresentam, não ficam a dever-se necessariamente a características genéticas dos sujeitos mas sim à perceção

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que eles próprios e os outros apresentam perante o fracasso nas omnipresentes tarefas académicas (Lopes, 2010).

A capacidade de iniciar e manter relações interpessoais saudáveis é encarada não só como uma demonstração de competência, mas também como um fator protetor de um desenvolvimento saudável e bem-sucedido. Por conseguinte, as dificuldades e os fracassos nestas áreas do desenvolvimento constituem um fator de risco desenvolvimental. Assim, mais do que uma suposição, é hoje, um dado adquirido que a qualidade do ajustamento ao grupo de pares tem um incontornável significado educacional (Lopes, 2010).

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