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Interação da circulação oceânica com a atmosfera

Mapa 23: Unidades climáticas da área nuclear do Cerrado brasileiro

1. Revisão da literatura

1.3. Sistemas Meteorológicos da América do Sul que afetam o clima no centro

1.3.2. Interação da circulação oceânica com a atmosfera

A circulação atmosférica sobre a região dos trópicos é influenciada em grande parte pelos aspectos termodinâmicos dos oceanos Pacífico e Atlântico. Ferreira & Melo (2005) citam anomalias da Temperatura da Superfície do Mar (TSM) que influenciam nesse aspecto:

Em anos nos quais se verificam anomalias positivas ou negativas da Temperatura da Superfície do Mar (TSM) nas bacias desses oceanos, a célula de Hadley, que atua no sentido meridional (ramo ascendente sobre o equador e ramos descendentes nas latitudes subtropicais), e a célula de Walker, que atua no sentido zonal (ramo ascendente no Pacífico oeste e ramo descendente no Pacífico leste) são perturbadas, causando fortes anomalias na circulação atmosférica sobre os trópicos, visto que essas células são deslocadas de suas posições climatológicas. Consequentemente a intensidade e duração do período chuvoso dessa região também são afetadas (2005; p.16).

A integração da atmosfera e das águas oceânicas em relação as suas temperaturas e concentrações de CO2 é nítida. Barry & Chorley (2013) acreditam que a atmosfera contém menos de 1,7% de CO2 presente nos oceanos, e que a quantidade absorvida pela superfície oceânica controla a concentração do ar acima desse. Os mesmos autores afirmam que a absorção de gás carbônico pelos oceanos é maior onde a água é fria, ou seja, onde é mais rica em matéria orgânica. Sendo assim, os oceanos podem regular o a gás carbônico da atmosfera, influenciando no efeito estufa e consequentemente contribuindo para as mudanças climáticas.

35 De acordo com Hastenrath et al (1977); Moura & Shukla (1981), Aragão (1998) e Nóbrega et al (2014), o Dipolo do Atlântico é um fenômeno de interação oceano e atmosfera identificado como uma mudança anômala na temperatura da superfície água do mar (TSM) no Oceano Atlântico Tropical, onde uma porção do oceano fica mais quente e a outra fica mais fria. Nobre & Shukla (1996) alegam que a TSM na região equatorial altera a posição da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT):

No caso brasileiro, quando as águas do Atlântico Equatorial e Tropical Sul estão mais frias que no Atlântico Tropical Norte, forçam movimentos descendentes de transporte de ar frio e seco dos altos níveis da atmosfera sobre o Centro-Norte da região Nordeste brasileira inibindo a formação de nuvens e diminuindo a precipitação (Fase Positiva do Dipolo), podendo causar secas. Por outro lado, quando as águas do Atlântico Tropical Sul estão mais quentes existem aumento nos movimentos ascendentes sobre estas regiões, intensificando a formação de nuvens e aumentando os totais pluviométricos (Fase Negativa do Dipolo). Esse padrão de anomalias de TSM afeta a posição latitudinal da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT), alterando assim a distribuição sazonal de precipitação pluviométrica sobre parte do Nordeste, até o centro da Amazônia (1996; p. 2470).

Conforme Nobre et al (2002), no curto intervalo de tempo de aproximadamente uma semana os efeitos de anomalias positivas de TSM sobre o Atlântico Sudeste, por abaixamento hidrostático da pressão, aumento da convergência de massa em baixos níveis e de movimento vertical ascendente sobre as regiões mais aquecidas, favorece o desenvolvimento de caso de ZCAS mais intensa do que a presença de águas mais frias sobre o Atlântico Sudeste.

Carpenedo (2018) investigou a atividade convectiva associada às anomalias de TSM através dos índices climáticos do oceano Atlântico Tropical Sul (TSA) e do oceano Atlântico Tropical Norte (TNA), bem como os impactos climáticos sazonais no Brasil, com foco em Minas Gerais:

Foi observado que eventos frios (quentes) do TSA estão associados com anomalias negativas (positivas) de TSM no Atlântico tropical e anomalias positivas (negativas) no Atlântico Sul extratropical, semelhante à fase negativa (positiva) do Dipolo do Atlântico Sul. Um padrão espacial de tripolo de anomalias negativas/positivas/negativas (positivas/negativas/positivas) de ROLE entre o Atlântico Norte tropical, equador e Atlântico Sul tropical reflete o

36 deslocamento para norte (para sul) da ZCIT do Atlântico (2018; p.82).

Ainda segundo Carpenedo (2018) a precipitação em Minas Gerais é influenciada pelo TSA:

O padrão espacial das anomalias de precipitação sobre o Brasil durante eventos frios do TSA entre a primavera e outono é semelhante ao padrão de gangorra associado à ZCAS, indicando uma maior atividade convectiva. Desta forma, sobre o estado de Minas Gerais há anomalias positivas de precipitação e negativas de temperatura do ar. A associação com eventos de ZCAS não é evidente em episódios quentes do TSA. Assim, as anomalias de precipitação (outono e inverno) e de temperatura do ar (primavera, verão e outono) são opostas às observadas em eventos frios do TSA, ou seja, anomalias negativas de precipitação e positivas de temperatura do ar. Por outro lado, em eventos frios (quentes) do TNA as anomalias negativas (positivas) de TSM ficam confinadas no Atlântico Norte tropical e equatorial. Entre a primavera e outono (inverno e verão) há anomalias positivas de TSM no centro-leste (oeste e leste) do Atlântico Sul tropical. No Atlântico Sul equatorial e tropical há convecção (supressão de convecção) anômala, o que demonstra o deslocamento da ZCIT do Atlântico para sul (para norte) de sua posição climatológica (2018; p.82).

Carpenedo (2018) afirma que as anomalias de TSM no oceano Atlântico tropical tem grande importância para o entendimento das diferenças de precipitação e temperatura do ar, fornecendo subsídios para um melhor planejamento regional, como a autora mesmo fala:

A previsão da precipitação com pelo menos alguns meses de antecedência é importante para que se possa traçar estratégias que previnam situações de risco à sociedade e minimizem os custos socioeconômicos de mitigação e adaptação em relação aos impactos decorrentes dos eventuais eventos extremos hidrológicos. Além disso, possibilita a elaboração de políticas públicas mais eficientes, que servirão de instrumento para a tomada de decisões, com vistas à garantia de oferta de água para o abastecimento público, bem como para a geração de energia hidráulica e para a agricultura (2018; p. 83).

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