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Capítulo 2 Relatório de Estágio em Farmácia Comunitária: Farmácia do Cavaco, Santa

6. Interação Farmacêutico, utente e o medicamento

6.1. Comunicação com o utente

A cedência de um medicamento não é um mero ato de entrega de um produto. Constitui o momento no qual o farmacêutico é responsável por fornecer toda a informação necessária à melhoria da qualidade de vida e da saúde do doente. (13) Uma boa formação científica do farmacéutico é extremamente essencial neste processo, mas ele também deve possuir uma boa capacidade de comunicação e relacionamento com o doente. Princípios éticos, como o sigilo profissional, e técnicos são evocados de forma constante nesta profissão. Só desta forma será possível conciliar as preocupações individuais de cada um com a informação necessária à promoção do uso racional do medicamento e será fornecido um aconselhamento farmacêutico adequado.

Como já referido, a Farmácia do Cavaco recebe uma grande rotatividade de clientes, de diferentes faixas etárias, classes sociais, graus de escolaridade, conhecimentos técnicos e etnias. A adequação da postura, da expressão facial e da linguagem do farmacêutico é essencial para que o doente saia com a informação corretamente fundamentada e sem dúvidas que levem a possíveis efeitos secundários ou à não adesão à terapêutica. A comunicação é o ponto fulcral em todo o procedimento e está sempre presente. A expressão verbal deve ser feita de forma clara e adequada para cada caso, pois só assim existirá um correto aconselhamento, quer em produtos destinados à automedicação quer em casos de tratamento de patologias crónicas, uma vez que a regularidade não implica a eliminação de possíveis erros associados à toma do medicamento. Erros na prestação de informação implica, em muitos casos, a perda da confiança e proximidade do utente ao farmacêutico, sendo que, em casos mais graves, como o não cumprimento do Código Deontológico dos Farmacêuticos, o profissional de saúde pode ser punido pelo INFARMED. (13)

Manifestar confiança, determinação e assertividade é importante num atendimento. No decorrer do estágio tive oportunidade de otimizar estas qualidades nas mais variadas situações, das quais destaco a visualização de atendimentos e o início de atendimentos com supervisão. Sendo este estágio completo em FC, vivenciei vários períodos característicos de aconselhamento para sintomas gripais e alergias, pedidos de suplementos para o sistema nervoso central e cuidados dermatológicos. Independentemente das situações, muitas são as questões abrangentes a considerar: a idade da pessoa que vai tomar o medicamento (criança, adulto ou idoso), a toma de outros medicamentos em simultâneo, o historial de alergia a alguma substância, a duração da sintomatologia e, muito frequentemente, questões mais específicas como, por exemplo, se tem ou não diabetes mellitus como patologia, se a tosse é com ou sem expetoração, se há recorrência de afeções conjuntivais, se usou previamente algum suplemento, qual o tipo de pele – seca, mista, oleosa- com rosácea ou atópica.

Contudo, nem sempre é o farmacêutico a fornecer a informação por iniciativa própria, muitas vezes é o utente que necessita de determinado conhecimento e recorre à farmácia como

fonte fidedigna de informação. Ao longo do estágio surgiram vários pedidos de informação relacionados com a toma dos medicamentos (pedidos solucionados através da complementaridade da informação verbal com a informação escrita na embalagem do medicamento), qual o uso a que se destinavam, como funcionavam determinados dispositivos médicos (câmaras expansoras, inaladores, tensiómetros, glicosímetros), mas também que atitude tomar perante relações sexuais desprotegidas.

Em suma, a ação do farmacêutico perante os MSRM e MNSRM é no sentido da educação para a saúde, da promoção e prevenção da doença, da adesão a medidas não farmacológicas e farmacológicas, da análise de possíveis contraindicações, efeitos adversos e possíveis interações mais relevantes. O SIFARMA 2000 contém informação sucinta relativa aos aspetos acima referidos e auxilia na análise de possíveis interações com outras substâncias medicamentosas. Contudo, se o farmacêutico disponibilizasse toda esta informação, em todos os casos, ocorreria uma grande perda de tempo e, adicionalmente, elevaria a preocupação do doente a ponto de abandonar a terapêutica. Logo, o farmacêutico é responsável pelo equilíbrio da informação que deve ou não ser cedida.

6.2. Farmacovigilância

Nos primeiros momentos da introdução do conceito, a farmacovigilância era vista como um processo demorado de registo de uma possível reação adversa medicamentosa (RAM) e sem benefício acarretado. (23) Atualmente, tanto doentes (Circular Informativa n.º 034/CD, de 15 de fevereiro de 2012) como profissionais de saúde ou até os titulares da autorização de introdução no mercado (AIM) podem efetuar o registo de RAM pelo preenchimento do formulário disponível on-line no site do INFARMED (entidade responsável pela aplicação do Sistema Nacional de Farmacovigilância). (24-26)

Na atualidade, o medicamento tem de passar por inúmeros exames antes de estar disponível para o doente. Contudo, só no mercado é que o mesmo é utilizado por uma grande variedade de indivíduos (superior à apresentada nos ensaios clínicos). Assim, uma recolha pontual de uma RAM (em função da duração; gravidade; evolução; medicamento suspeito; data de início e suspensão do medicamento; lote, via de administração; indicação terapêutica; outros MSRM e MNSRM que esteja a tomar ou até patologias do doente), pode, graças a uma recolha sistemática de toda a informação e avaliação científica pelo INFARMED, culminar em ações corretivas, seja através de comunicações informativas aos profissionais de saúde e titulares de AIM, seja através da alteração do folheto informativo, da restrição de uso, da suspensão temporária de AIM e, em casos mais graves, da revogação de AIM. (27)

Contudo, alguns medicamentos possuem no seu folheto informativo um triângulo invertido, de cor preta, que apesar de possuírem igual segurança, eficácia e qualidade, têm, comparado aos que não o possuem, uma monitorização adicional, por três possíveis razões: ser uma nova substância ativa autorizada na União Europeia após 01 de janeiro de 2011; representar um

medicamento biológico; ou pelo fato de existir uma autorização condicionada até que se apresentem os resultados do medicamento relativos à sua utilização a longo prazo e no caso de ocorrer efeitos secundários raros nos ensaios clínicos. (28, 29)

No decorrer do estágio, no âmbito da monitorização adicional, tive contato com alguns dos produtos presentes na lista de medicamentos sujeitos a esta condição (última atualização 22/02/2017), de entre os quais: Bexsero, Bretaris Genuair, Brimica Genuair, Forxiga, Gardasil 9, Jentadueto, Protelos, Relvar Ellipta, Xarelto, Xigduo e Zoely. (30)

6.3. Medicamentos fora de uso

Na Farmácia do Cavaco existem três pontos de recolha de produtos fora de uso ou fora do prazo de validade: um no hall da farmácia, onde os utentes podem colocar os medicamentos sem entrar no interior da mesma; outro próximo dos balcões de atendimento, onde se colocam as caixas vazias que os utentes trazem para identificar os produtos; e um terceiro ponto no interior da farmácia, onde se colocam os medicamentos e produtos de saúde que resultaram de quebras de produtos da farmácia ou eliminação de amostras já fora do prazo de validade.

Quando os pontos de recolha se encontram cheios, são pesados, selados e identificados para posteriormente serem recolhidos (faz-se um registo através de um impresso com informações acerca da data, do distribuidor responsável e do peso, sendo que o triplicado desse documento fica na farmácia) e reencaminhados para o VALORMED. Este processo garante uma recolha segura dos produtos, evitando a sua eliminação juntamente com o resíduo urbano, questão de saúde pública. (31)

Apesar de muitas pessoas já estarem sensibilizadas para o ato de entrega dos medicamentos fora de uso nas farmácias, no decorrer do estágio questionaram-me se os produtos que colocavam nestes contentores eram novamente reaproveitados para venda e se os laboratórios mudavam unicamente a embalagem. Aquando desta dúvida, foi necessário sensibilizar o doente de que essa ação não ocorre, mas que se trata antes de um processo de triagem que resulta na separação do material enviado para a reciclagem, como é o caso da cartonagem, que pode seguir o normal tratamento ambiental, do restante material, que é incinerado. (31)