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CAPÍTULO 1: Comunicação pública, participação e rádios educativas: um

1.7. Interação e interatividade

O termo interatividade não é algo novo e vem sendo estudado muito antes do aparecimento das tecnologias digitais. Muitos autores colocam definições sobre eles que não necessariamente fazem referências a tais tecnologias, mas muito mais à relação entre emissor e receptor das mensagens.

Quando ainda não havia referência ao mundo digital, um diálogo interativo podia ser entendido como aquele que ocorre socialmente e no qual os participantes têm a possibilidade de intervir e modificar sua mensagem através da mensagem do outro, assim, a informação e a construção de conhecimento se daria de forma dialógica.

E analisando a própria formação da palavra interatividade: “inter +

atividade. O prefixo inter significa tratado entre diálogo, enquanto atividade

pode ser determinada como sendo ação. Seria a priori, uma “ação entre sujeitos da comunicação”. (ANDRADE, 2009, p.205-206).

Para Stranbhaar & Larose, (2004, p. 211) interatividade refere-se “a situação onde a resposta em tempo real provém de receptores de um canal de comunicação e são utilizadas pela conta para continuamente modificar a mensagem, conforme esta é enviada ao receptor.” E, voltando à definição de Andrade (2009):

É exatamente a possibilidade de virar emissor – e voltar a ser receptor, de acordo com o diálogo – que a interatividade aparece no processo. Distante das outras aplicações da palavra, a interatividade no processo de comunicação é a ação do receptor em agir na mensagem, participar dela, optar e opinar sobre e, principalmente, modificá-la. (ANDRADE, 2009, p.205).

Em relação às mídias de massa, o surgimento das tecnologias digitais e a convergências midiática conferiram um novo sentido à compreensão da interatividade, pois “os meios de comunicação de massa, outrora vias de mão

única, precisaram do computador para se libertar da falta de respostas com os seus consumidores, a suas audiências.” (GAIA & NEVES, 2009, p. 261-262). No computador, a condição da interação é essencial, pois quando recorremos a esse equipamento já existe o objetivo de buscar informações, “ninguém passeia sobre a tela do computador distraidamente. A tela do computador exige interatividade, ação” (GAIA & NEVES, 2009, p. 261). Essa ação pode ser em relação à máquina, às informações e também a outros indivíduos.

(...) de alguma forma o status do receptor é redefinido a partir da possibilidade de uma maneira de agir ou inserir-se no produto, já que o retira de um lugar apático, fornecendo um novo papel, o faz sentir-se adentrando na relação comunicativa. Nesse aspecto, encontramos e consideramos traços de um novo modo de interatividade na relação com as máquinas. (ANDRADE, 2009, p. 211)

Assim, nessa nova configuração, a audiência tem o poder de interagir não só com as máquinas, mas também com as mensagens; e frente ao novo sentido conferido à interatividade, vale a pena colocar alguns questionamentos como:

o que significa interatividade para a geração digital? O que é interatividade para os administradores de sítios (webmasters) e para os empresários que produzem sítios ditos “interativos”? Como a educação está usando a interatividade, seja na sala de aula presencial ou na educação a distância, com os alunos da geração digital? (LIMA; PRETTO; FERREIRA, 2005, p. 250)

Dizer que algum aparelho eletrônico ou produto midiático é “interativo” parece ter virado moda após a incorporação das mídias digitais na sociedade. “a ideia de interatividade nos grandes meios de comunicação tem se erguido a cada nova proposta lançada pelos emissores. Agora, parece que tudo pode ser interativo”. (ANDRADE, 2009, p. 210).

Podemos nos perguntar: com a incorporação das mídias digitais na sociedade, ligar para uma emissora de rádio e pedir uma música poderia ser chamado de interatividade? Andrade (2009) afirma que, pode-se dizer que sim e não, pois na verdade existem níveis de interatividade, e algumas ações correspondem a maiores e outros menores.

Para o autor, existem 4 níveis de interatividade: ilusório, optativo, participativo e opinativo, mas daremos maior destaque aos dois últimos.

O ilusório é quando são dadas opções, mas o emissor já sabe que apenas uma é possível; o segundo ocorre quando há várias opções e realmente é possível escolher entre elas. Um exemplo clássico seria o programa “Você Decide”, no qual os espectadores ligavam para emissora para escolher o final do episódio.

O terceiro nível é a “Interatividade Participativa”: no qual o produto midiático abre espaço para que o receptor faça parte dele, inserindo-se no conteúdo. Isso cria uma função realmente ativa para o interlocutor do processo, “transportando-o para dentro do produto (...) são maneiras de inserir o receptor do processo dentro do produto, como parte integrante do conteúdo vinculado pela mídia, gerando uma ação participativa.” (ANDRADE, 2009, p.214)

E o quarto nível é a “Interatividade Opinativa”:

Nele o receptor assume um status (dentro de um campo pré- determinado) de emissor no produto midiático, podendo fornecer sua opinião acerca do conteúdo exposto, dialogando com o produtor da mensagem, transformando-se num agente ativo do processo comunicativo, modificando a mensagem conforme deseja. Desta maneira, o leitor transforma-se em coautor, podendo criar abordagens onde emite outros pontos de vista sobre determinado assunto, numa prática democrática de conceitos ou saberes. Dispõe, portanto, de uma prática comunicativa com máquinas cuja finalidade é atuar sobre as mensagens, quando desejado, e disponibilizar as informações socialmente construídas via um veículo de comunicação. (ANDRADE, 2009, p.214)

Esses dois últimos níveis são os mais profundos e os que devem ser buscados pelos meios de comunicação se quiserem manter suas audiências e também ampliar seu impacto na sociedade, pois as pessoas querem optar, opinar, participar, ou seja, buscam interatividade.

Como se pode notar, a comunicação em si já é um processo de interação, mas a interatividade que será tratada aqui é a interatividade digital pela qual o usuário não interage apenas com uma máquina, mas também com outras pessoas e com informações, podendo transformar e compartilhar conteúdos para outros usuários de sua rede de contatos. Para que isso seja melhor compreendido, será tratada no próximo tópico a relação ente hipermídia, interatividade e educação