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CAPÍTULO 4: A Prática Pedagógica e a Utilização de TICs nas Aulas de

4.2. Outros Recursos Didáticos

4.3.3 Interações entre professoras

Esse parâmetro de análise também é muito importante, pois se os professores da escola interagem entre si a aprendizagem é facilitada, uma vez que as experiências são compartilhadas e o trabalho em grupo ajuda na interdisciplinaridade entre os diferentes conteúdos.

Na escola-referência, essa interação entre professores é mais importante ainda, devido ao compartilhamento das turmas por duas professoras de Biologia, sendo uma de aulas teóricas e a outra de aulas práticas. A relação de cumplicidade entre elas deveria ser maior, devido ao conteúdo lecionado pelas duas, Biologia. Mas isso não ocorre na prática. Como observado nas aulas, as duas professoras não lecionam os mesmos conteúdos. Para realizarmos uma comparação dessas aulas analisemos o seguinte quadro:

Quadro 3: Conteúdos lecionados pelas professoras da Escola-Referência Professora Viviane (aulas

teóricas)

Professora Beatriz (aulas práticas)

Conteúdos lecionados

Características gerais dos seres vivos, Ecologia, tipos de reprodução, reprodução humana. Uso do microscópio (características de células eucarióticas e procarióticas), introdução à Histologia. Fonte: Elaborado pela autora

Notamos que os conteúdos biológicos lecionados são totalmente diferentes. Isso pode ser constatado, pois, numa mesma semana, os alunos têm aula de histologia, no laboratório e aula de ecologia e reprodução com outra professora na sala de aula. Então, eles passam a estudar nos conteúdos da Biologia, saberes compartimentalizados, uma vez que não há relações entre os conteúdos lecionados durante as três aulas semanais por uma e outra professora.

As duas professoras poderiam ter feito um ajuste no cronograma de aulas de maneira que uma lecionasse a teoria e a outra explicasse na prática o que eles aprenderam teoricamente.

A partir das observações feitas em sala de aula pudemos notar uma interação entre as professoras e seus respectivos conteúdos lecionados apenas em duas situações descritas a seguir.

A primeira delas ocorreu no dia 03/04, em que a professora Viviane pede, depois dos alunos terminarem de desenhar as células colhidas da gengiva de um aluno, para duas alunas desenharem no quadro as células da Elodea sp e da gengiva do colega. Em seguida começa a explicar o porquê do corante da Elodea (verde). Ela fala da clorofila, presente nos vegetais e então fala dos produtores, que os alunos acabaram de ver em Ecologia.

A segunda situação que liga as aulas teóricas e práticas foi observada no dia 23/04. Nesse dia a professora Viviane lecionava Fluxo de Matéria e Energia e após questionar os alunos sobre quem começa uma cadeia alimentar e como a energia percorre essa cadeia alimentar, passa à explicação sobre a celulose.

A celulose é a matéria orgânica que forma a parede celular dos vegetais...

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Ela fez então desenhos no quadro das células de Elodea para explicar onde fica a celulose e em seguida continuou explicando, com desenhos, como a energia é transferida e se dissipa ao longo da cadeia.

Não conseguimos presenciar em outros momentos a interação entre as professoras para um desenvolvimento melhor dos conteúdos da Biologia. Ao contrário, só conseguimos perceber uma fragmentação dos conteúdos aumentados pela divisão das turmas em função das supostas aulas de laboratório, como demonstrado em entrevista com a professora Viviane:

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Viviane: Na realidade, pra conseguir atender às necessidades da escola de Estado a gente desvinculou aula prática de aula teórica. Então, o que acontecia? Enquanto eu estava na teoria com a turma inteira eu dava uma matéria. Quando dividia a turma, a turma que ia pro laboratório estudava uma aula teóricoLprática no laboratório, numa matéria e a outra metade que ficava comigo na sala de aula, estudava uma outra matéria. Então, ao mesmo tempo eles tinham 3 conteúdos de Biologia sendo trabalhados.

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Viviane: Em três aulas diferentes. Por que isso? Primeiro porque a gente tinha que cumprir um programa que é humanamente impossível. Segundo, a teoria e a prática, por causa do laboratório ser com a metade da turma de 15 em 15 dias uma turma volta ao laboratório, às vezes a teoria avança muito e a prática não. Então, às vezes eu já estava lá na frente, eles estavam numa matéria, na unidade anterior, na prática, por quê? Porque de 15 em 15 dias só que eles iam ao laboratório. E isso acabava que atrasava, tava emperrando o desenvolvimento da matéria. Então quando a gente desvinculou, nós achamos que ficou melhor.

Como observado no trecho da entrevista e nas observações de aulas, a prática é desvinculada da teoria, o que leva a uma grande fragmentação dos conteúdos biológicos.

Além desses problemas de interação entre as duas professoras da mesma disciplina, pudemos notar que os roteiros de aulas práticas não são elaborados pelas duas professoras. Eles são feitos pelos diferentes professores de Biologia que lecionam apenas aulas práticas, ou seja, a professora Beatriz e outro professor de Biologia. Este leciona aulas práticas para os segundos e terceiros colegiais, agravando ainda mais a fragmentação dos saberes lecionados, uma vez que ele não é professor dos primeiros colegiais, não conhece as turmas e, logo, não sabe as reais necessidades ou dificuldades que os alunos possuem.

Está faltando um maior entrosamento entre as professoras de Biologia para que elas percebam o que estão fazendo com suas aulas e a aprendizagem dos alunos. Não é suficiente querer vencer todo o conteúdo, e não estabelecer relações entre os saberes biológicos lecionados por docentes diferentes, considerando que, desta forma, torna-se difícil a aprendizagem pelos alunos.

Na escola não referência Daniela não compartilha suas aulas com outro professor de Biologia. Ela não utilizou o laboratório para práticas em nenhuma das aulas observadas. Em entrevista ela se justificou da seguinte forma:

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Daniela: Se você for lá primeiro e arrumar tudo, tem. Porque não existe uma pessoa também. Tirando essa parte de limpeza básica, que é a limpeza do chão, varrer. Não existe uma pessoa pra poder organizar, não.

Dessa forma, torna-se difícil para os alunos terem aulas práticas, pois sabemos que em escolas de educação básica, públicas, não existe um técnico de laboratório para “organizar” a prática para o professor. Essa é uma atividade do próprio professor da disciplina. E uma vez que a professora fica esperando alguém fazer essa atividade para ela, as aulas não ocorrem mesmo. Durante as observações em campo, não presenciamos a interação entre os professores de Biologia dessa escola. Notamos apenas que estes não conversam muito durante os intervalos. Também perguntamos a Daniela sobre o planejamento de Biologia, ao que ela nos respondeu que quem fez esse planejamento foi outro professor de Biologia e que ela pegaria com ele depois.

Assim, essa interação entre professores, nas duas escolas precisa ser melhorada, pois com uma discussão sobre as práticas de ensino, os docentes, no coletivo, podem se ajudar para melhorar a disciplina e, conseqüentemente, a aprendizagem dos alunos, principalmente em turmas mais difíceis, como a da professora Daniela.

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