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Interdisciplinaridade, bioética e abordagem integral dos processos de saúde

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO PORTFÓLIO

4.8 Interdisciplinaridade, bioética e abordagem integral dos processos de saúde

Aspectos Teóricos

A Estratégia Saúde da Família é o modelo de assistência à população que vem consolidar o Sistema Único de Saúde (SUS). Os municípios têm desenvolvido ações de proteção e promoção à saúde dos indivíduos e da família, de forma integral e continua, desde

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a implantação da ESF, em 1994. Além disso, para que ocorra a Estratégia Saúde da Família temos de trabalhar em consonância com os princípios dos SUS: Universalidade, Equidade e Integralidade, como também com a participação da comunidade, além da interdisciplinaridade entre a equipe multiprofissional, (UFC, 2011 d).

A interdisciplinaridade é um trabalho coordenado por um profissional ou por normas escritas com um objetivo comum, ou seja, praticar a comunicação horizontal na equipe e a interação entre dois ou mais profissionais ou integração de toda a equipe. É partilhar saberes e conhecimentos de todos os profissionais de forma integral, sendo o foco a resolução do problema com planejamento assistencial de forma que contemple toda a necessidade do usuário (UFC, 2011 d).

O modelo assistencial de saúde anterior à Constituição Federal Brasileira de 1988 era caracterizado pela prática médica puramente curativa, individual, hospitalar e especializada. Assim, não se falava em coletividade, comunidade nem na influência do meio na saúde do indivíduo. Com a criação do SUS foi adotado um novo paradigma de saúde.

Multidisciplinaridade é a capacidade de se tratar uma problemática com a visão voltada para vários saberes. Para que ocorram as ações de proteção e promoção à saúde com a equipe de multiprofissionais é preciso seguir algumas atitudes ou posturas para que a interdisciplinaridade seja aplicada na prática: respeitar as limitações e competências; conviver com as diferenças; ser humildade e ético. Ao se trabalhar em equipe multiprofissional e respeitar as atitudes e competências de cada profissional, estamos trabalhando com base no modelo em que todos fazem parte do processo, os seja, todas as classes profissionais estão juntas para o cuidado. (UFC, 2011 d).

Destacam-se os avanços da Estratégia Saúde da Família, porém a maioria da população não entende e não faz parte desse sistema, ou seja, usa o sistema quando necessita em casos de urgência. A omissão da população na participação contribui para o não- funcionamento adequado desse modelo, fragilizando as propostas do sistema.

A melhor forma de se trabalhar com vários profissionais com saberes diversificados conforme sua aprendizagem é, sem dúvida, a interdisciplinaridade. Esta é a filosofia da boa convivência com todos os membros de uma equipe. No caso da equipe Saúde da Família na qual trabalho precisamos ter atitudes de respeito recíproco, ao mesmo tempo em que temos de estar atentos às questões que envolvem a bioética.

A Bioética é considerada a parte da ética, ramo da filosofia que enfoca as questões referentes à vida humana, incluindo saúde e morte. É a análise e o estudo do limite entre a

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ciência e a ética. Por sua vez, ética é uma palavra originada do grego ―ethos‖, que significa o modo de ser, o caráter (UFC, 2011 d).

O texto ―Bioética: definindo conceitos e olhando para o seu passado‖ mostra que a bioética é uma ciência que integra várias disciplinas para desenvolver a transdisciplinaridade. Trata, também, de assuntos polêmicos e de difícil compreensão. É uma área de estudo de maior crescimento no mundo do final do século passado e no século atual.

A bioética é o estudo que envolve os direitos e as condições necessárias para a assistência à vida do ser humano. É um estudo imprescindível para assistir, cuidar, preservar e pesquisar o ser humano, como também o meio ambiente em que vivemos. É trabalhar com o ser humano e para o ser humano, tendo o cuidado de observar as leis e costumes de uma sociedade para não ferir os princípios pré-estabelecidos por essa sociedade (UFC, 2011 d).

4.8.2 Impactos da disciplina na minha atuação profissional

Existem dificuldades em planejar as ações interdisciplinares na equipe, pois na maioria das vezes os profissionais da ESF dão prioridade aos interesses pessoais e outras atividades paralelas, deixando a equipe fragilizada nessa ação. É imprescindível que todos os profissionais da equipe planejem ações integradas, de forma interdisciplinar. Ao contrário, o prejuízo para a comunidade é visível, pois há pacientes atendidos pelas ESF que apresentam complicações, como por exemplo, hipertensos que sofrem acidente vascular encefálico, gestantes que desenvolvem eclampsia, amputações de membros por falta de controle adequado do paciente diabético, dentre outras doenças.

A formação acadêmica contribuiu por várias décadas para a não-interdisciplinaridade, uma vez que cada classe de profissionais exercia suas atividades individualmente, sem a devida discussão sobre o estado geral do paciente com outros profissionais de saúde. Atualmente, cada profissional realiza sua rotina sem qualquer questionamento ou sugestão acerca desse paciente, ocorrendo uma comunicação fragmentada.

Para contornar esse problema necessitamos lançar mão do trabalho em equipe, e não apenas fazer parte de uma equipe. Exercitar o estudo de caso em equipe, desenvolver estratégias de educação continuada e ações coletivas podem ser soluções viáveis para resolver o problema de falta de interdisciplinaridade das equipes da Estratégia Saúde da Família, como também nos demais níveis de atenção à saúde.

Na prática profissional na equipe da Estratégia Saúde da Família estamos a todo tempo tendo de assistir pessoas com problemas que envolvem a bioética, como por exemplo, mulheres que praticam o aborto. Às vezes somos abordados para realizar esse procedimento,

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mas com a nossa recusa e tentativa de convencer a usuária a não praticar o aborto, na maioria das vezes ela decide utilizar meios perigosos para a indução do aborto, gerando muitas vezes complicações. Além disso, baseado na ética profissional não podemos buscar parceria da família ou da comunidade, pois se trata de um caso de sigilo profissional que consiste em grande parte das vezes em gravidez indesejada ou proibida pelos pais.

Observa-se que já houve uma leve superação do modelo biomédico e muitas conquistas na equipe Saúde da Família. Em algumas ações conseguimos trabalhar a interdisciplinaridade. Porém, para quem está no sistema SUS desde os primeiros dias de sua implantação, ocorre desânimo quando não se consegue visualizar uma motivação comum daqueles que fazem o sistema, os profissionais e os usuários (comunidade). Falta o empoderamento por parte dos dois lados para que o processo se concretize de forma positiva.

Não é utopia se pensar a integralidade e a interdisciplinaridade na atenção às famílias, mas sim uma realidade que é possível quando se tem determinação e uma equipe comprometida com a qualidade de vida da população.

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