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Embora o dispositivo se refira apenas a defesa a ser apresentada pelo potencial atingido pela desconsideração, a pessoa jurídica originalmente demandada também tem interesse no contraditório, com o intuito de defender sua atual administração e autonomia. Assim, o demandado originário deverá ser intimado de todos os atos praticados no incidente e poderá responder no mesmo prazo de que dispões o potencial atingido pela desconsideração. Reconhecendo o interesse do demandado originário de se defender no pedido de desconsideração:

O interesse na desconsideração ou, como na espécie, na manutenção do véu protetor, podem partir da própria pessoa jurídica, desde que, a luz dos requisitos autorizadores da medida excepcional, esta seja capaz de demonstrar a pertinência de seu intuito, o qual deve sempre estar

relacionada a afirmação de sua autonomia, vale dizer, à proteção de sua personalidade (STJ,Resp 1.421.464,Relatora Ministra Nancy Andrighi, julgado em 24.04.2014). (GAJARDONI, 2015, p. 441-442).

Não importando o resultado, não se extingue a execução no procedimento principal, porque a decisão do incidente será interlocutória, apreciando assim o mérito do incidente conforme o (artigo 203, § 2º). Nessa decisão cabe agravo de instrumento ou, seja, na decisão que resolve o incidente. O agravo de instrumento não suspende automaticamente o procedimento principal (artigo 1.015, inciso IV), surgirá como uma atribuição de efeito suspensivo no agravo de instrumento.

Havendo a rejeição do pedido de desconsideração da personalidade jurídica, existe uma hipótese não disciplinada no CPC/2015 se refere à rejeição do pedido de desconsideração. Nesse caso, afastado o pedido a âmbito do incidente próprio ou do procedimento principal, não poderá ser produzido novo incidente de desconsideração com base nos mesmos fundamentos, sob pena de intolerável retrocesso na marcha processual, o que é vedado pelo artigo 507. Admite-se, porém, a qualquer tempo (artigo 134, caput), a instauração de incidente de desconsideração com base em novos fatos, que ocorram em momento posterior ou

não eram de reconhecimento do requerente (ROQUE apud GAJARDONI, 2015), mas só em nesse caso será possível de novo incidente, não havendo um novo fato, não tem como requerer.

CONCLUSÃO

O Código de Processo Civil de 1973, traz as modalidades conhecidas de, intervenção de terceiros, assistência, oposição, nomeação a autoria, chamamento ao processo e denunciação da lide. O Novo Código de Processo Civil, além de excluir algumas, ele inclui umas novas, e entre essas novas está o Incidente de Despersonalização da Personalidade Jurídica (art. 133 a 137 do NCPC). Esses artigos tratam de uma situação muito comum no dia a dia forense, onde é demandada uma pessoa jurídica como ré, e na fase de cumprimento de sentença a pessoa jurídica não apresenta patrimônio suficiente para o pagamento da dívida e ainda existe ali indícios de abuso da personalidade jurídica, houve um desvio de finalidade, uma confusão patrimonial da pessoa jurídica com o sócio.

É comum hoje em que se ataque o patrimônio do sócio, fazendo a chamada Desconsideração da Personalidade Jurídica, todavia, atualmente é muito comum pelo fato da empresa não ter patrimônio suficiente, e na visão do juiz haver uma configuração de abuso da personalidade jurídica, os sócios têm o seu patrimônio atacado, independentemente de oportunização, não se dá obviamente ao sócio da pessoa jurídica se manifestar e tentar impedir os atos de expropriação material dele, podendo em defesa alegar que não houve confusão patrimonial, que não houve desvio de finalidade, afastando os requisitos legais da Desconsideração.

O Novo Código de Processo Civil não vê com bons olhos essa ideia, partindo de um corolário do devido processo legal, o Novo CPC entende que sim, podendo atingir o patrimônio do sócio, caso a pessoa jurídica tenha agido em desconformidade com o que determina a lei, mas para que isso aconteça, deve ser feita uma processualização dessa intenção e, ai ela cria esse procedimento de

Desconsideração da Personalidade Jurídica, exigindo que quando a parte interessada, ela objetivar o atingimento do patrimônio do sócio, ela então requererá a instauração desse incidente, e requerido esse incidente, o sócio da pessoa jurídica pode até ter o seu patrimônio atingido, isso não é modificado em relação ao CPC de 1973, mas no Novo Código de Processo Civil, deverá haver uma citação do sócio para que se manifeste no prazo de 15 (quinze) dias.

O Novo Código de Processo Civil processualiza a intenção do credor de atingir o patrimônio do sócio, determinando então a lei que ele seja citado previamente e se manifeste ou não acerca do pedido do credor dentro do prazo de 15 (quinze) dias, se manifestando o sócio após o estabelecimento do contraditório, e o juiz entendendo pela Desconsideração da Personalidade Jurídica, ele profere uma decisão, se será então possível o atingimento ou não do patrimônio do sócio. Por se tratar de uma decisão interlocutória, a lei prevê o cabimento de Agravo de Instrumento.

Continuando a entender esse importante instituto, tendo uma visão mais ampla e clara das diferenças entre o Código de Processo Civil de 1973 e o Novo Código de Processo Civil, podemos ver que ao longo do processo que já está em curso, os sócios ou administradores da pessoa jurídica sejam citados em nome próprio, incidentalmente no decorrer do processo, por isso a ideia de incidente e, assim sendo apurada a eventual responsabilidade pelo mau uso da pessoa jurídica, tanto que a lei determina no artigo 133 NCPC, vai se apurar a responsabilidade de acordo com o direito material, temos então a regra genérica do artigo 50 do Código Civil 2002, também temos a regra na legislação Tributária, na legislação Trabalhista, na legislação Previdenciária, na legislação Ambiental, que em determinadas circunstâncias os sócios e os administradores respondem pelas dívidas da pessoa jurídica.

Na verdade, essa prática do redirecionamento da execução, transformada num verdadeiro incidente processual, que vai começar com a citação dos sócios que em nome próprio respondem pela má administração e pelo mau uso da Personalidade Jurídica, ou seja, as circunstancias da pessoa jurídica não ter bem algum e os sócios terem muito dinheiro e nem uma dívida, e nesse caso viabilizar

esse redirecionamento da execução. O interessante é verificar que o Novo Código de Processo Civil no artigo 133 § 2º, admite aqui também o que está sendo chamado de desconsideração inversa. Um exemplo clássico é uma ação de alimentos, em que o pai de um determinado filho é chamado a pagar pensão alimentícia, o pai alega que não tem condições de pagar, nesse caso o autor ou autora desconfia que a pessoa jurídica a qual aquele pai é sócio, paga as contas dele, procede-se da mesma maneira, cita-se aquela pessoa jurídica para que em nome próprio argua, defenda-se dessa acusação e eventualmente essa pessoa jurídica acaba pagando a pensão alimentícia para o autor da ação.

Entendo os artigos 133 a 137 para uma melhor compreensão, vou comentar cada um desses artigos, discorrendo alguns procedimentos que devem ser respeitados, para que ocorra a Desconsideração da Personalidade Jurídica.

O caput do artigo 133 do NCPC, fala que a Desconsideração da Personalidade Jurídica não é feita no próprio processo principal, e sim será instaurada um apenso ao processo principal que será o Incidente de Despersonalização da Personalidade Jurídica, e ali que serão processados os fatos que podem ensejar a Desconsideração da Personalidade Jurídica de uma determinada empresa.

O artigo 134 traz uma novidade, porque possibilita que, o incidente pode ser instaurado em qualquer fase do processo, geralmente antes pedido na fase de execução, agora o credor pode pedir em qualquer fase do processo, a instauração do incidente processual, trazendo os fatos para que o juiz análise e veja se é o caso ou não de Desconsideração da Personalidade Jurídica.

Por força do parágrafo § 2º do artigo 134 do NCPC, a Desconsideração da Personalidade Jurídica, pode ser pedida na petição inicial, e nesse caso não haverá o incidente processual, mas o juiz mandará citar o sócio e a própria pessoa jurídica.

O parágrafo § 3º do artigo 134, dispõe que se instaurado o Incidente de Desconsideração da Personalidade Jurídica, o incidente enquanto não for resolvido, suspende o processo principal, salvo se esse pedido de Desconsideração da

Personalidade Jurídica, for feito na petição inicial, o que não suspende o andamento do processo.

O artigo 135 determina ao ser instaurado o Incidente de Desconsideração da Personalidade Jurídica, o sócio ou a pessoa jurídica deve ser intimada para que, no prazo de 15(quinze) dias venha responder e também requerer as provas que entender cabíveis.

Nos termos do artigo 136 após a instrução, ou seja colhida todas as provas, o juiz então julgara e resolverá todo esse incidente, que será uma decisão interlocutória, ou seja, que caberá recurso de agravo de instrumento, sendo o prazo de agravo de 15 (quinze) dias. Por sua vez, o artigo 137, determina a ineficácia das alienações ou oneração de bens perante o requerente em caso de decisão interlocutória, sendo deferido o pedido de Desconsideração da Personalidade Jurídica. O incidente vai viabilizar um maior resultado prático no Processo.

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