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3. AS ATIVIDADES MENTAIS

3.6 Os Mapas Mentais

3.6.1 Interesse Geográfico pela Psicologia dos Espaços

Há muito tempo atrás WRIGHT, 1947 (apud CANTER, 1977) geógrafo notável, se utilizou de argumentos em estudos do mundo como " percebido " que complementariam estudos do mundo supostamente " real " convencionalmente empreendido por geógrafos. WOOD (1970) demonstrou que, no início dos anos sessenta, muitos (embora certamente não todos) geógrafos aceitaram que a localização e movimentação das pessoas não poderiam ser nem previstos nem explicados fazendo-se referência somente a características físicas e geográficas. Recentemente um professor de geografia escreveu em palavras muito fortes sobre o valor do que ele chama " geografia de imagem". Ele diz que deveria ser: " uma parte significante de geografia aplicada, ajudando fixar esses gostos e desgostos, esperanças e medos que motivam o movimento das pessoas de lugar para lugar - seja isto de um bairro para outro na cidade, ou de uma região para outra no país, ou de um país para outro no mundo". Ele continua: " muito do que nós aceitamos como geografia hoje que está baseado em geografia física ou geografia econômica ou geografia política pode ter que ser alterado, e alterado significativamente, através de geografia de imagem" (WATSON, apud CANTER, op. cit.).

Uma das motivações que despertaram interesse dos geógrafos pela psicologia dos espaços provavelmente foi o envolvimento crescente deles em planejamento e projeto ambiental. Isto os trouxe mais próximo das pessoas e de seus problemas, alertando-os assim, mais sobre os processos psicológicos aos quais tendiam estar familiarizados como geógrafos. Todavia os geógrafos mantém-se reservados quanto à aceitação completa da relevância das concepções de lugares que as pessoas possuem, por duas fortes razões. Uma é a dificuldade antecipada de obter informação objetiva sobre essencialmente processos internos e subjetivos. O segundo é que se até mesmo se obtendo dados os quais se encaixam aos padrões da ciência, eles ainda serão

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particulares e individuais, com problemas associados na produção de qualquer generalização baseado neles. Entretanto, estas dificuldades encontradas vem aos poucos se equacionando com o aparecimento de procedimentos e instrumentos de pesquisa, o que demonstra a possibilidade de se produzir medições gerais e objetivas dos processos internos das pessoas (CANTER, 1977).

Para ilustrar como tais procedimentos foram desenvolvidos e que ligam psicologia e geografia, um dos estudo de Florence LADD é apresentado (apud GOULD & WHITE, 1986):

Em Mission Hill, Boston, 1967, Ladd pediu para várias crianças negras desenharem um mapa da área delas, gravando sua conversa com cada criança enquanto elas desenham seu mapa.

No mapa de Dave (Figura 3.2) o projeto Mission Hill, que é onde as crianças brancas vivem, ele o desenhou como a área maior, completamente em branco no mapa dele. Da conversa gravada está claro que ele tem fisicamente medo da área e nunca se aventurou a passar por perto. No mapa dele a área residencial dos brancos é literalmente " incógnita ", enquanto todos os detalhe no mapa são imediatamente ao redor a casa dele e da escola no outro lado da Rua Parker. Ernest também indica a Rua Parker que divide a área dele do projeto Mission Hill (F igura 3.3), e usa aproximadamente um quarto da folha de papel para enfatizar, inconscientemente, o tamanho desta barreira psicológica.

Ambos, estes meninos, percorrendo a vizinhança da escola, nunca se aventuraram a ultrapassar esta barreira desconhecida. Porém, Ralph, que participa da famosa Escola Latina de Boston, desenha um mapa completamente diferente (Figura 3.4). O projeto Mission Hill está bastante reduzido em relação ao todo do desenho. Ele indica cinco instituições educacionais na área, indicativo da percepção dele da educação como uma rota de fuga de sua vida segregada.

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Figura 3.2 - Mapa de Dave Fonte: GOULD & WHITE ( 1986)

Figura 3.3 - Mapa de Ernest Fonte: GOULD & WHITE (1986)

Figura 3.4 - Mapa de Ralph Fonte: GOULD & WHITE ( 1986)

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É

muito difícil de se avaliar as semelhanças das imagens mentais que estes meninos têm, porém tais padrões de informação começam a definir a vizinhança deles. Dave e Ernerst se sentem em casa apenas em uma área bastante restringida que eles conhecem bem, enquanto Ralph tem uma visão mais ampla e aloca sua informação uniformemente pelo mapa.

O conceito de vizinhança é uma imagem mental importante, ambos para o urbanista e os demais que estão sujeitos a planejar uma cidade. Nós temos muitas evidências hoje em dia, de muitas das cidades do mundo que se separando um bairro coeso podem ter muitos efeitos sociais e psicológicos prejudiciais. A pergunta de medir este espaço social, que tem um grau importante de familiaridade para um grupo particular das pessoas foi examinado por Terrence Lee, 1963 (apud GOULD & WHITE, 1986) na Inglaterra. Ele quis ver se o conceito urbanístico de uma unidade de bairro básica realmente era apropriado para uma moderna vida urbana. O que ele descobriu foi que o espaço social e espaço físico eram tão ligados, entre si, que a maioria das pessoas simplesmente não consegue distinguir um do outro.

Em média, as pessoas tendem a definir seus bairros como uma área cujo tamanho parece ser bastante independente do número de pessoas que vivem nele. Bairros populosos em subúrbios da classe média e baixa são percebidos como do mesmo tamanho. Em outras palavras, as pessoas não pensam em seus bairros em termos do número das pessoas, como os urbanistas geralmente fazem, mas simplesmente como um espaço confortável e familiar ao redor deles.

Em um outro estudo LADD, 1970 ( apud CANTER, 1977) pesquisou como jovens negros vêem o ambiente em que vivem. Ela pediu para os participantes que desenhassem um mapa da vizinhança deles. Compare os desenhos de dois meninos que viveram muito próximo um ao outro, no mesmo lado da rua. Figura 3.5 mostra o mapa de Reggie que abrange até o Terraço de Stonewood. Porém, como pode ser visto em figura 3.6, o Terraço de Stonewood não aparece no mapa de Garson. A rua onde a "vizinhança" de Garson deixa de existir, depois da Rua de Normandy, se torna o enfoque central para Reggie. Estes dois " mapas " são assim indicadores interessantes de como os meninos interpretam a "vizinhança" deles. Em outras palavras, eles

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indicam diferentes limites da vizinhança dentro de suas geografias mentais e as características significantes da paisagem dentro desses limites.

Figura 3.5 - O desenho de Reggie quando solicitado para desenhar sua vizinhança Fonte: CANTER (1977)

Figura 3.6 - O mapa de Garson de sua vizinhança Fonte: CANTER (1977)

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