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PARTE 1 A CONSTRUÇÃO DA PESQUISA

1.3 Terceiro Setor: dimensões de análise

1.3.1 Internacional

Na esfera internacional, a pesquisa The Johns Hopkins Comparative

Nonprofit Sector Project inicia-se em 1991, reunindo, aproximadamente, 150

âmbito da Johns Hopkins Center for Civil Society Studies, no Jonhs Hopkins Institute

for Policy Studies, vinculado a Johns Hopkins University em Baltimore/EUA. Sob a

coordenação do professor Lester Salamon, a iniciativa é identificada como “[...] o grande projeto que temos em curso em todo o mundo para trazer o setor da sociedade civil para um melhor enfoque empírico e conceitual.”8 (SALAMON; SOKOLOWSKI, 2004, p. xxi, tradução nossa).

O The Johns Hopkins Comparative Nonprofit Sector Project é desenvolvido em mais de 40 países, mas os resultados publicados incluem apenas 36 deles, distribuídos por todos os continentes habitados. A tabela a seguir indica os países, separados em categorias, a saber: países desenvolvidos, em desenvolvimento e em transição.

Quadro 5 - Países cobertos pelo projeto de pesquisa The Johns Hopkins

Comparative Nonprofit Sector Project

Países desenvolvidos Países em desenvolvimento

Alemanha Israel Argentina Marrocos

Áustria Irlanda África do Sul México

Austrália Itália Brasil Paquistão

Bélgica Holanda Colômbia Peru

Espanha Japão Egito Quênia

Estados Unidos Noruega Filipinas Tanzânia

Finlândia Suécia Índia Uganda

França Reino Unido Korea do Sul

Países em transição

Eslováquia República tcheca

Hungria Romênia

Polônia Fonte: Salamon e Sokolowski (2004, p. 6).

Nota: O quadro foi adaptado e suas informações traduzidas por Roberto Galassi Amaral, do original em inglês, cuja tabela recebe o numero 1.1.

8 The major project we have had under way around the world to bring the civil society sector into better empirical and conceptual focus.

Do total de países informados, 16 estão listados na categoria “desenvolvidos”, 15 na categoria “em desenvolvimento” e cinco “em transição”. O Brasil figura como “em desenvolvimento” e teve com Landim (1993), representante brasileiro, documento de trabalho, no contexto daquele projeto, que trouxe o primeiro delineamento do TS no país.

Para a realização do estudo, foi utilizado o Manual da ONU de classificação das OSFLs9 que menciona as cinco características a partir das quais as organizações podem ser identificadas. São elas: (a) organizadas, que mostram algum grau de institucionalização; (b) privadas, fora do aparato do Estado; (c) não auferem ou distribuem lucros entre seus diretores, gestores e associados; (d) autogovernadas, com mecanismos internos de governança; (e) voluntárias, são criadas de forma voluntária, com filiação e participação não impostas por lei.

Johns Hopkins (2010) informa que o manual recomenda aos países a utilização da Classificação Internacional estipulada para as OSFLs, do inglês,

Classification of Non-Profit Organizations (ICNPO). A estrutura de classificação de

atividades das OSFLs contempla 12 grupos distintos, conforme indicado na tabela a seguir:

Tabela 5 - Classificação internacional para as OSFLs.

Código Campo Código Campo

1 Cultura e recreação 7 Advocacia, direito e política.

2 Educação e pesquisa 8 Intermediários filantrópicos e

promoção do voluntariado

3 Saúde 9 Internacional

4. Serviços sociais 10 Religião

5. Meio ambiente 11 Associações empresariais e

profissionais

6 Desenvolvimento e habitação 12 Não classificados em outra parte Fonte: Elaborada por Roberto Galassi Amaral a partir de Johns Hopkins (2010, p. 12, tradução nossa).10

Nota: A tabela foi adaptada e suas informações traduzidas pelo autor do original em inglês, cuja tabela recebe o numero 1.2.

9 Do original em inglês: United Nation Nonprofit Institutions (UNNPI) Handbook.

10 Do original no idioma inglês: 1. Culture and recreation 2. Education and research 3. Health 4. Social services 5. Environment 6. Development and housing 7. Law, advocacy and politics 8. Philanthropic intermediaries and voluntarism promotion 9. International 10. Religion 11. Business and professional associations,unions 12. Not elsewhere classified).

A estrutura acima sintetiza o conjunto das possibilidades de atuação das organizações consideradas integrantes do TS. Tal ordenamento, chamado de “conta satélite”11, e cujo modelo os países são estimulados a seguir, integra o Manual da ONU e o sistema de classificação de contas nele incluído. Na medida da elaboração da conta satélite, país a país, as especificidades nacionais recebem tratamento dirigido, de forma a construir uniformidade necessária para viabilização de comparações entre países. No caso brasileiro, ano de 2010, a

Johns Hopkins Center for Civil Society Studies, em cooperação com o IBGE e United Nations Volunteers (UNV), desenvolveu estudo intitulado Nonprofit Organizations in Brazil: A Pilot Satellite Account with International Comparisons, a

fim de realizar comparações internacionais, a partir da conta satélite citada e sua aplicação no Brasil.

Retomando a pesquisa, na esfera internacional e considerando os 36 países, Salamon e Sokolowski (2004) sublinham questões conhecidas como “grandes descobertas transnacionais”. A primeira delas aponta para a força econômica do setor, segundo o que segue:

Em primeiro lugar, além de sua importância social e política, a sociedade civil passa a ser uma força econômica considerável nos países que examinamos, representando uma participação significativa dos gastos nacionais e emprego.12 (SALAMON; SOKOLOWSKI, 2004, p. 15, tradução nossa).

Em termos de gastos, a pesquisa indica o total de 1,3 trilhões de dólares, representando 5,4% do Produto Interno Bruto (PIB) combinado. Foram, ainda, mobilizados trabalhadores remunerados e voluntários na ordem 45,5 milhões ou 4,4% da população economicamente ativa. Isso significa que se o setor fosse um país, seria a sétima economia do mundo, conforme tabela abaixo:

11 A conta satélite pertence ao sistema de contas nacionais e é elaborada para analisar com mais

profundidade determinadas áreas possibilitando comparações com o conjunto da economia. (IBGE, 2012d, online).

12 Do original, em inglês: In the first place, in addition to its social and political importance, the civil society sector turns out to be a considerable economic force in the countries we have examined, accounting for a significant share of national expenditures and employment.

Tabela 6 - Importância econômica do TS mundial

País PIB (Trilhões de US$)

Estados Unidos 7.2 Japão 5.1 China 2.8 Alemanha 2,2 Reino Unido 1.4 França 1.3

Gastos com setor da sociedade civil (36 países) 1.3

Itália 1.1

Brasil 0.7

Rússia 0.7

Espanha 0.6

Canadá 0.5

Fonte: SALAMON e SOKOLOWSKI (2004, p. 16).

Nota: A tabela foi adaptada e os nomes dos países escritos no idioma português pelo autor, do original em inglês, cuja tabela recebe o numero 1.4.

O TS, identificado por Salamon e Sokolowski como setor da sociedade civil (Civil Society Sector) e considerando a somatória dos dados de 36 países, ficaria atrás de Estados Unidos, Japão, China, Alemanha, Reino Unido e França; ficando à frente do Brasil, Rússia, Espanha e Canadá, indicando considerável importância a respeito do fluxo de recursos que pelo setor transita.

A segunda questão trata da significativa participação voluntária. As estimativas apresentadas pelos autores da pesquisa giram em torno de 132 milhões de voluntários, ou cerca de 10% da população adulta.

O terceiro apontamento realizado pelos pesquisadores compreende sentido mais ampliado e revela grandes variações entre as organizações dos países participantes da pesquisa. Tais variações estão no campo da força de trabalho remunerado, força de voluntários engajados, serviços que realizam e intervenções executadas nas mais diferentes áreas, demonstrando que este espaço não é, apenas, um local de trabalho. O que faz com que o setor seja relevante é, de fato, aquilo que realiza.

Por último, os autores do estudo indicam que o TS não substitui o Estado e demonstra, a partir da fonte de receita das organizações, a dimensão da

participação da sociedade como um todo. Segundo dados apresentados, no âmbito da referida investigação, 34% da receita provêm do Estado, 12% da filantropia e 53% de taxas; além de ampla gama de receitas comerciais. Cabe destacar que a expressão “filantropia” se refere a doações e investimentos de pessoas físicas e jurídicas. Quanto às taxas de comercialização, vale lembrar que, no caso brasileiro e com o surgimento da lei das OSCIPs, a possibilidade das OTS comercializarem bens e serviços dá nova espessura ao financiamento das atividades.

Os dados até aqui analisados, no âmbito internacional, contribuem para a compreensão a respeito do TS em todos os continentes do planeta. Indica, em larga medida, os parâmetros de comparabilidade entre diferentes países, bem como orientam os esforços investidos para dimensionar e compreender o setor em solo brasileiro.

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