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O objeto de análise dessa tese, site globo.com, encontra-se localizado na Internet. As redes sociais das celebridades também. Por esse motivo, faz-se necessário compreender sua definição e história e perceber além desse espaço quais são suas implicações, a partir da cibercultura e do webjornalismo. A autora escolheu o que Manuel Castells diz, pela credibilidade e solidez em seus estudos na área. Para ele,

a Internet é um meio de comunicação que permite, pela primeira vez, a comunicação de muitos com muitos, num momento escolhido em escala global. Assim como a difusão da máquina impressora no Ocidente criou o que McLuhan chamou de a ‘Galáxia de Gutenberg’, ingressamos agora num novo mundo de comunicação: a Galáxia da Internet (CASTELLS, 2003, p. 8).

Com esse nascimento da Internet para a sociedade como um todo, é possível perceber, a partir de 1995, uma modificação na cultura, na verdade, a criação de uma nova cultura, a cibercultura. Pode-se utilizar o conceito apresentado por Castells que afirma o seguinte:

Disponível em: <http://g1.globo.com/rs/rio-grande-do-sul/noticia/2015/10/mulher-com-cancer-

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Por cultura entendo um conjunto de valores e crenças que formam o comportamento; padrões repetitivos de comportamento geram costumes que são repetidos por instituições, bem como por organizações sociais informais. Cultura é diferente de ideologia, psicologia ou representações individuais. Embora explícita, a cultura é uma construção coletiva que transcende preferências individuais, ao mesmo tempo em que influencia as práticas das pessoas no seu âmbito, neste caso os produtores/usuários da Internet (CASTELLS, 2003, p. 34).

Pierre Lévy escreveu uma obra, Cibercultura (2010), em que esclarece, inicialmente, antes de entrar no conceito que dá nome ao livro, sua visão sobre o termo cultura: “parece-me, […], que não somente as técnicas são imaginadas, fabricadas e reinterpretadas durante seu uso pelos homens, como também é o próprio uso intensivo de ferramentas que constitui a humanidade enquanto tal (junto com a linguagem e as instituições sociais complexas) (LÉVY, 2010, p. 21). Além disso, Lévy define o ciberespaço como:

o espaço de comunicação aberto pela interconexão mundial dos computadores e das memórias dos computadores. […] Esse novo meio tem a vocação de colocar em sinergia e interfacear todos os dispositivos de criação de informação, de gravação, de comunicação e de simulação. A perspectiva da digitalização geral das informações provavelmente tornará o ciberespaço o principal canal de comunicação e suporte de memória da humanidade a partir do início do próximo século (LÉVY, 2010, p. 95). Para Lévy, “quanto mais o ciberespaço se amplia, mais ele se torna “universal”, e menos o mundo informacional se torna totalizável. O universal da cibercultura não possui nem centro nem linha diretriz. É vazio, sem conteúdo particular” (LÉVY, 2010, p. 113). As mídias de massa buscam em seus relatos e informações o universal totalizante, para que as pessoas, de um modo geral, possam compreender o que o veículo está transmitindo. Ainda para o autor, o principal evento cultural anunciado pela emergência do ciberespaço é a desconexão da universalidade e da totalização. Segundo ele, a causa disso é simples: “o ciberespaço dissolve a pragmática da comunicação que, desde a invenção da escrita, havia reunido o universal e a totalidade (LÉVY, 2010, p. 120). Mas o que é universal e a totalidade? Universal “é a presença (virtual) da humanidade em si mesma” (LÉVY, 2010, p. 123). A totalidade é a “conjunção estabilizada do sentido de uma pluralidade (discurso, situação, conjunto de acontecimentos, sistema etc)” (LÉVY, 2010, p. 123). E, para concluir essa relação, Lévy esclarece: “A cibercultura, por outro lado, mostra precisamente que existe uma outra forma de instaurar a presença virtual da humanidade em si mesma (o universal) que não seja por meio da identidade do sentido (a totalidade)” (LÉVY, 2010, p. 123).

A web chega com o intuito de integrar ainda mais as pessoas com o mundo ao seu redor. Pode-se dizer ainda que este pensamento revela um sentido formativo para o indivíduo. Além disso, a cibercultura é vista como a Era sujeita ao pensamento tecnológico – revolução na mídia, convergência midiática, interatividade entre os meios e os indivíduos (RÜDIGER, 2003).

No cenário contemporâneo de uma sociedade totalmente computadorizada, marcada pelas Novas Tecnologias da Informação e Comunicação (NTIC), ocorrem diversas convergências nos mais variados campos. Presencia-se o que Henry Jenkins chama de cultura da convergência, na qual há um grande fluxo de conteúdos através de diversos suportes midiáticos. Jenkins acredita que este fenômeno ocorre devido à cooperação entre múltiplos mercados midiáticos e ao comportamento migratório dos públicos dos meios de comunicação, que vão a quase qualquer lugar em busca de entretenimento e diversão (JENKINS, 2009).

Henry Jenkins considera como convergência cultural este fenômeno no qual um conteúdo de um meio de comunicação passa a circular por diversos canais midiáticos. Há também a narrativa transmidiática, em que o mesmo produto é criado com formatos diferentes a fim de ser transmitido em diversas plataformas midiáticas, desde o cinema para a internet, bem como para celulares e televisores. Além do episódio na mídia televisiva, pistas são disponibilizadas na internet, livros, revistas, entre outros.

Quando eu comecei, você submetia uma história, porque sem uma boa história, você não tinha realmente um filme. Depois, quando as continuações começavam a ser produzidas, você submetia um personagem, porque um bom personagem podia dar suporte a múltiplas histórias. Hoje, você submete um mundo, porque um mundo pode dar suporte a múltiplos personagens e múltiplas histórias, através de múltiplas mídias (JENKINS, 2009, p. 114).

Cada indivíduo se concentra em seus gostos e cria seus grupos dentro e fora da rede cibernética. Além de buscarem informações nos poderosos sites de notícias, eles tendem a se aproximar de pessoas que agem conforme seus pontos de vista e criam um grau de sociabilidade com outros indivíduos através de uma vida virtual em redes sociais. Com isso, a produção dos bens de consumo também foi modificada (JENKINS, 2009).

Por ser essencialmente um sistema aberto, a web possibilita a busca de informações em toda a rede, num fluxo constante, fato que aumenta a força de uma

comunicação interativa, individualizada e, ao mesmo tempo, coletiva. Saad (2003) propõe que os diferenciais da World Wide Web são características como: interatividade, conectividade, flexibilidade, formação de comunidades e arquitetura informacional. A autora propõe que a web é uma mídia de duas mãos capaz de estabelecer relações de comunicação não lineares (SAAD, 2003).

Na internet, exige-se maior atividade do receptor. Em alguns casos, o receptor torna-se emissor ou tem o poder de influenciar o comunicador no próprio instante da geração e transmissão da mensagem. Enquanto a comunicação tradicional pressupõe uma difusão totalmente unidirecional de um para muitos, a web gera outras formas de comunicação: um para um, muitos para um ou muitos para muitos (CASTELLS, 2003).

Através da web houve a possibilidade de uma maior interação entre o indivíduo e as ferramentas online. Além disso, ocorreu uma mudança drástica entre o emissor da mensagem e o receptor desta informação. Com o passar dos anos, não apenas os meios evoluíram, bem como os indivíduos que fazem uso dessa tecnologia (SAAD; COUTINHO; 2009).

Os avanços na tecnologia, bem como a digitalização e o desenvolvimento de novos softwares, deram espaço para uma nova transformação na comunicação: ocorreu o surgimento e uso crescente das mídias sociais, na qual o cidadão é capaz de interagir com o meio e com outros indivíduos simultaneamente. Sendo assim, tornou-se ainda mais evidente a fusão de papéis entre emissor e receptor, deixando fluido o pólo de emissão, e quebrando com o padrão e a metodologia de produção e informação (SAAD; COUTINHO, 2009).

As mudanças tecnológicas viabilizam uma transformação material, e consequentemente, estrutural, na constituição da chamada “sociedade global de redes”. Nesse contexto, o poder se reconfigura a partir de novos modos de produção e apropriação das dinâmicas que definem o valor: do capital, da divisão social do trabalho, das relações de gênero e do uso e disponibilidade de tempo nos chamados empreendimentos de redes. Na sociedade de redes, o poder político insurgente, que advém dos movimentos sociais, busca utilizar os mesmos dispositivos, introduzindo novas formas, regras e códigos nos programas de redes. De modo que “a resistência ao poder programado das redes também ocorre por meio e através das

redes”, o que configura nova dinâmica para o estatuto das relações de poder (CASTELLS, 2009).

Estas NTICs disponibilizam mais conteúdos para um maior número de indivíduos e cada vez se tem mais acesso à socialização através do ambiente virtual. Tudo isto é ocasionado pelo intenso espaço de fluxos informacionais que geram a maior participação da sociedade. Desta forma, redes sociais são criadas, blogs jornalísticos ganham credibilidade e jornais impressos são reformulados e passam a atuar também no meio online, criando, assim, uma maior interatividade entre o público e os meios (CASTELLS, 2003).

Ao abordar a mudança na forma de suportes de comunicação, Muniz Sodré acredita que existe a presença de um verdadeiro paradigma analógico-digital que ainda precisa ser discutido perante a sociedade. Para ele, a convergência digital reduziu as barreiras materiais e permitiu a unificação dos meios, como, por exemplo, a telefonia, radiodifusão, computação e imprensa escrita. Antes, o espaço público era tradicionalmente animado pela política e pelos jornais diários. Agora, formas tradicionais de representação da realidade interagem com formas novíssimas, como é o caso do virtual, expandindo a dimensão tecnocultural dos sujeitos (SODRÉ, 2009).

Na Era digital, ocorre a transformação de um sistema massivo para a convergência em um modelo multimídia que possibilita a constituição de um novo modo de interação, conceituado por Castells (2009) como “comunicação pessoal- massiva”:

É uma comunicação de massa porque atinge, potencialmente, a audiência global por meio de redes P2P. É multimodal, já que a digitalização de conteúdos e os avanços nos softwares abertos e de uso livre permitem a reformatação de praticamente qualquer conteúdo que, por sua vez, é mais e mais distribuído pelas redes sem fio. É uma comunicação que gera conteúdo próprio, autodirigida na emissão e autosselecionável na recepção por muitos que se comunicam com muitos outros (CASTELLS, 2009, p. 238).

Esse sistema tem como principal característica as formas horizontais de comunicação interativa que conectam o local ao global em tempos definidos pelos próprios usuários. As mídias massivas se transformam diante da emergência das novas tecnologias, que possibilitam maior interação entre os atores sociais por meio da mídia digital, da internet, da rede mundial de computadores e dos novos dispositivos wireless (CASTELLS, 2009).

Além destes meios tradicionais, também sofreram modificações as relações entre os atores sociais que os utilizam. Através do avanço tecnológico, os usuários podem transferir documentos digitalizados e interagir com seus pares em situações de tempo e espaço reconfiguradas. Isso não apenas redefine o cotidiano dos sujeitos e a relação entre os seres, mas muda completamente as relações de produção e trabalho entre as empresas, instituições e organizações. Na nova sociedade de redes, dinâmicas locais são influenciadas por eventos globais e vice- versa (CASTELLS, 2009).

Antes de prosseguir é importante destacar as principais características que diferenciam o cenário 1.0 e o cenário 2.0 dentro das organizações. A primeira diferenciação é a de que, anteriormente, a comunicação digital era mais informativa. Na web 2.0, porém, reflete-se a participação, na qual os públicos podem influenciar positiva e negativamente com uma organização, seja colaborando na criação de um novo produto ou prejudicando sua imagem. No cenário 1.0, as expressões comunicacionais ocorrem com baixa intervenção do receptor ou do usuário, baixa capacidade de personalização do conteúdo, predomínio do emissor sobre o controle do conteúdo e de suas relações com o usuário (SAAD, 2003).

Nesse ambiente relativamente novo o público, independente do meio no qual ele está interagindo, está vivenciando a convergência. Ou seja, o mundo passou a ser um ambiente transmutado, que transformou um consumo individualizado e personalizado para um consumo compartilhado em rede, fenômeno que essencialmente incentiva a participação e a inteligência coletiva. A colaboração pode ser vista como o “equilíbrio” entre o poder dos meios tradicionais, produção e público: “ainda estamos aprendendo a exercer esse poder – individual ou coletivamente – e ainda estamos lutando para definir as condições sob as quais nossa participação será permitida” (JENKINS, 2009, p. 313).

No meio jornalístico, também há uma mudança significativa: a publicação de conteúdos informativos passa a utilizar multiplataformas para a distribuição da mensagem. Mais que isso: a convergência gera a reorganização das redações e a introdução de novas funções para os jornalistas. Devido ao uso associado de tecnologias da informação, softwares, audiência ativa, exploração do potencial interativo, hipertextual e multimídia da internet, o profissional cria novas formas de

atuação no mercado. Esta é mais uma oportunidade de atualizar o jornalismo diante às demandas do público exigente do século XXI (SALAVERRÍA, 2007).

Um dos principais conceitos da cibercultura que pode ser ligado ao webjornalismo é o hipertexto. Segundo Lévy (2011, p. 44), “seria constituído de nós (os elementos de informação, parágrafos, páginas, imagens, sequências musicais etc.) e de ligações entre esses nós (referências, notas, indicadores, “botões” que efetuam a passagem de um nó a outro)”. Para o autor, o hipertexto com o suporte digital apresenta uma diferença considerável: “a pesquisa nos índices, o uso dos instrumentos de orientação, de passagem de um nó a outro, fazem-se nele com grande rapidez, da ordem de segundos” (LÉVY, 2011, p. 44).

Com a proliferação de sites na Internet, os portais de notícias que conseguem se destacar dos demais muitas vezes têm investido nesses hipertextos. Vídeos, áudios, galerias de fotos e infográficos, além de fotos e vídeos em 360º, e aplicativos para realidade virtual, como o filme lançado em 5 de novembro de 2015, chamado

The Displaced, criado pela The New York Times Magazine, que traz uma matéria

sobre a crise global dos refugiados que visa destacar a resistência das crianças deslocadas pela guerra . A seguir, será tratado da história e conceito dos portais de 27

notícias.