• Nenhum resultado encontrado

Capítulo IV – Apresentação das análises

1. Interpretação das unidades de análise – Primeira etapa

Nessa primeira Unidade de Análise, percebeu-se que todos os documentos defendem que todos os brasileiros em idade escolar devem ter o direito a educação e atribuem ao Estado e à família a responsabilidade de salvaguardar esse direito.

Nesse sentido, o papel do Estado é o de oferecer a toda a população brasileira, em idade escolar, a possibilidade de acesso a educação pública e gratuita; e aos pais cabe a obrigação de matricular seus filhos na Educação Básica.

Além da garantia de acesso, os documentos mostram a preocupação com a permanência da criança na escola. Isso pode ser notado de maneira genérica tanto na Lei de Diretrizes e Bases da Educação, quanto nas Diretrizes Curriculares e, de forma específica, na proposta curricular do município de São Bernardo do Campo, que organiza o sistema de ensino em ciclos a partir dessa preocupação.

Outro aspecto que complementa o direito de acesso e permanência é a garantia de aprendizagem bem sucedida. Essa aprendizagem diz respeito ao oferecimento de oportunidades, de maneira igualitária, para que todos possam ter desenvolvimento pleno para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho. Esse pleno desenvolvimento, segundo os documentos, deve abranger o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social.

Entretanto, nesse processo de oferecimento de oportunidades, deve-se considerar as necessidades de aprendizagem de forma geral e as especificidades, ou seja, há necessidades de aprendizagem que envolvem a população brasileira como um todo, mas também há diferenças socioculturais marcantes que determinam diferentes necessidades de aprendizagem. Com essa preocupação, um dos princípios que deve constar nas orientações educacionais é o da diversidade.

Também é estabelecido pelos documentos oficiais que o ensino oferecido como direito deve seguir um padrão de qualidade. Essa qualidade está relacionada às condições concretas para realização do ensino- aprendizagem que devem ser garantidas, mas também ao acesso aos bens sociais, artísticos e culturais. Dentre esses bens, os conhecimentos de diferentes áreas de conhecimentos. No caso da Educação Física deve-se oferecer às crianças a oportunidade de acesso aos conhecimentos da cultura corporal que devem fazer parte do processo de garantia educacional.

Esses direitos devem ser garantidos pela União, mas o oferecimento do ensino é de responsabilidade dos Estados e Municípios. Isso significa que os Estados e Municípios, em regime de colaboração e com a assistência da União, devem proporcionar a garantia desses direitos à criança.

b) Princípios e finalidades da educação

Ao observar os documentos oficiais nesta Unidade de Análise, é possível notar que a Lei de Diretrizes e Bases da Educação toma como referência os princípios democráticos, considerando a liberdade e a solidariedade humana como elementos primordiais no processo educacional, estabelecendo como finalidades o pleno desenvolvimento do educando, o preparo para o exercício da cidadania, a qualificação para o trabalho, para a progressão no trabalho e para estudos posteriores.

Todos esses preceitos são considerados pelos demais documentos que compõem esta análise, mas com maior detalhamento e acrescendo elementos a respeito da política educacional em andamento.

Nesse detalhamento o princípio da equidade é abordado para explicitar a necessidade de se adotar uma postura imparcial para que haja uma crescente igualdade de direitos, permitindo a todos o acesso à educação, numa perspectiva de construção da cidadania. Esse princípio é posto como central para que haja o reconhecimento do respeito às diferenças, pois, embora todos devam ter os mesmos direitos, há a preocupação com relação ao respeito a diversidade.

A diversidade é compreendida tanto do ponto de vista mais amplo, que considera as diferenças culturais, regionais, étnicas, religiosas e políticas que caracterizam um país de sociedade múltipla, como também, considerando a forma singular com que cada aluno se aproxima e se apropria do conhecimento. Nesse sentido, as singularidades dos estudantes devem ser vistas como um fator de promoção para o desenvolvimento de valores como respeito, cooperação e solidariedade.

Para isso, é preciso reconhecer a diferença de maneira não preconceituosa, evitando, assim, a exclusão. Por esse motivo pode-se observar o princípio da inclusão presente nos documentos oficiais, defendendo que a educação escolar deva fundamentar-se na ética e nos valores de liberdade, justiça social, na pluralidade, na solidariedade e na sustentabilidade, para garantir a todos o acesso aos conhecimentos socialmente relevantes.

Entre os diferentes conhecimentos relevantes há uma atenção ao desenvolvimento da capacidade de aprender, tendo como meios básicos o pleno domínio da leitura, da escrita e do cálculo.

Segundo os documentos, para que o acesso a esses conhecimentos sejam garantidos, os sistemas de ensino, as escolas, os professores e as famílias devem assegurar que o educando se desenvolva plenamente. Esse pleno desenvolvimento dos sujeitos exige a construção de saberes que irá permitir a aquisição de novas competências e habilidades envolvendo aspectos cognitivos, afetivos e motores, favorecendo o desenvolvimento individual para a compreensão e a intervenção nos fenômenos sociais e culturais, bem como possibilitando aos educandos usufruir das manifestações culturais.

Além disso, nesse processo, espera-se que o educando se torne crítico e autônomo. A autonomia posta pelos documentos é tida como uma capacidade que deve ser desenvolvida pelos alunos e como princípio didático geral.

Como capacidade individual, espera-se que o aluno, na construção de seus conhecimentos, gradualmente, saia de uma situação em que é dirigido para que ele mesmo se conduza. No entanto, para isso é necessário se perceber responsável na sociedade em que vive e analisar as diferentes situações de forma crítica, sem deixar de considerar os valores da dignidade e solidariedade.

Como princípio didático, o professor, em suas práticas pedagógicas, deve valorizar no aluno as suas experiências, o seu conhecimento prévio e as interações que ele estabelece com as outras pessoas, como elementos para construção da autonomia.

c) Compromisso da escola

Na terceira Anidade de Análise considerou-se a forma como os documentos oficiais veem o compromisso da escola na política educacional.

Segundo os documentos, o papel da escola é formar cidadãos. Para isso, a escola precisa ampliar parte de suas funções, desempenhando um papel socioeducativo, procurando superar as desigualdades de natureza sociocultural e socioeconômicas, para que os alunos desenvolvam uma convivência harmoniosa e pacífica.

Além disso, deve garantir o acesso dos alunos aos diferentes saberes elaborados socialmente, diferentes manifestações culturais e diferentes óticas, constituindo-se em um espaço de heterogeneidade e pluralidade, situada na diversidade, fundamentada no princípio emancipador.

Cabe à escola, ainda, a responsabilidade de elaboração de um projeto educacional coletivo que faça o aluno aprender mais e melhor. Para isso, deve envolver os professores, dirigentes, funcionários, famílias e estudantes, criando espaços para discutir os diferentes aspectos do processo educacional,

Na formulação desse projeto político-pedagógico, a escola deve articular as expectativas da comunidade escolar com os planos de educação nacional,

estadual e municipal sem deixar de considerar a realidade do seu alunado, verificando as condições de aprendizagem apresentadas pelos estudantes.

A participação das famílias não deve se restringir somente à elaboração do projeto educacional, se deve buscar formas para dar continuidade ao trabalho realizado na escola por meio de um acompanhamento.

O acompanhamento do aluno é um processo contínuo para todos desenvolverem suas capacidades e aprenderem, privilegiando ações em que a criança tenha condições de exercitar o pensamento, a tomada de decisões e a interação com seus pares buscando a autonomia.

Esse acompanhamento também é feito pela escola de maneira que conste no projeto político-pedagógico a avaliação da aprendizagem, a avaliação institucional interna e externa e dos sistemas de ensino da Educação Básica. Esse processo avaliativo tem, também, o objetivo de subsidiar os sistemas de ensino e as escolas nos esforços de melhoria da qualidade da educação e da aprendizagem dos alunos, permitindo, assim, acompanhar sistematicamente o percurso escolar das crianças.

d) Qualidade da educação

Pelo observado nos documentos, há o reconhecimento de que uma educação de qualidade depende de diferentes fatores. Assim, pensar na qualidade da educação traz a necessidade de considerar as condições objetivas para efetivar essa qualidade: verbas suficientes, instalações adequadas, salários dignos, condições materiais e estruturais de trabalho, além da formação qualificada e instrumentalização do professor. Isso influencia diretamente a maneira de a instituição escolar funcionar e se organizar.

Sendo assim, promover a formação de seus profissionais nas áreas de conhecimento e temas desenvolvidos e a valorização dos educadores em todas as instâncias, bem como atender às necessidades estruturais necessárias à efetivação de um bom trabalho e de um bom atendimento aos estudantes se configuram como um desejo exposto pelos documentos.

Além disso, a qualidade da educação está relacionada às metas e objetivos estabelecidos no projeto pedagógico da escola e expostos nos planejamentos dos professores, pois são eles que orientarão as ações

educativas. Isso exige o compromisso e responsabilidade de todos, tanto na elaboração quanto na execução desses planos.

O acompanhamento das metas e objetivos propostos no projeto e nos planejamentos dos professores, segundo os documentos oficiais, deve ser feito por meio de procedimentos avaliativos. Nesse sentido, estabelecem uma articulação entre as avaliações propostas pelos professores e o sistema avaliativo nacional, pois estes fornecerão subsídios para melhorar a qualidade da educação.

Entretanto, estes esforços não terão resultados caso o acesso de todos à educação não seja garantido, principalmente aos grupos da população em desvantagem na sociedade. Assim, a universalização do acesso à escola é uma medida necessária, assim como encontrar maneira de permanência da criança na escola. Essa permanência, segundo os documentos, tem relação com o rendimento escolar dos alunos que, quando é baixo, provoca a evasão escolar.

Assim, uma das formas adotadas para suprir essa deficiência é a educação em tempo integral, que poderá promover a melhoria da aprendizagem.

Em complementação, sugere-se, ainda, que os sistemas de ensino adotem a organização em ciclos para o Ensino Fundamental, evitando-se a descontinuidade e possibilitando a recuperação da aprendizagem. Para aqueles sistemas de ensino que optarem por outro tipo de organização, é recomendado que, nos três primeiro anos desse seguimento, seja instituído um bloco destinado à alfabetização que não deve sofrer descontinuidade.

e) Organização do sistema educacional

O sistema educacional, de maneira geral, é organizado por etapas. A Educação Básica é composta pela Educação Infantil, pelo Ensino Fundamental e Ensino Médio. A Educação Infantil está dividida em creche, que atende criança até três anos e onze meses, e a pré-escola, que tem a duração de dois anos. O Ensino Fundamental compreende um seguimento único com duração de nove anos. Já o Ensino Médio tem duração de três anos.

Entretanto, a organização do sistema educacional não se restringe somente pela distribuição dos alunos em grupos seguindo critérios etários ou

por níveis de aprendizagem, está relacionada também às intenções políticas que pretendem melhorar a sua qualidade. A partir disso, é possível notar uma tentativa de unificação do sistema educacional nacional, pois entende-se que há fragmentação dessas políticas e uma desarticulação institucional dos sistemas de ensino entre si.

Para melhor articular o sistema nacional de educação é adotado um regime de colaboração entre União, Distrito Federal, Estados e Municípios. Essa colaboração pressupõe que a União exercerá a função normativa, redistributiva e supletiva em relação às demais instâncias educacionais. Isso significa que a União organizará e coordenará as políticas educacionais dando apoio técnico e financeiro aos Estados e Municípios.

Aos Estados cabe definir com os Municípios formas de colaboração na oferta do Ensino Fundamental assegurando distribuição proporcional das responsabilidades.

Os Municípios ficaram incumbidos de oferecer a Educação Infantil e o Ensino Fundamental. Além disso, a legislação prevê a municipalização do Ensino Fundamental, integrando esse segmento, parcial ou totalmente, ao sistema de ensino municipal.

Também é de competência dos Municípios, a partir das diretrizes nacionais e estaduais, elaborar, com a participação da comunidade escolar, o regimento escolar e o Plano Municipal de Educação.

As escolas, por sua vez, se responsabilizam pela elaboração do projeto pedagógico que orientará as metas das ações educacionais. Essa elaboração contará com a participação dos profissionais da educação e do conselho escolar, constituído pela comunidade escolar.

Quanto à organização escolar para sistematizar os conteúdos da aprendizagem, os sistemas de ensino possuem autonomia para distribuir os alunos em séries anuais, períodos semestrais, ciclos, grupos não seriados, com base na idade, na competência e em outros critérios.

Entretanto, existe um indicativo de que a organização por ciclos é a mais adequada, pois, além de seguir uma tendência atual, é uma tentativa de superar a segmentação excessiva produzida pelo regime seriado, favorecendo uma apresentação menos parcelada do conhecimento e permitindo distribuir os conteúdos de forma mais adequada para aprendizagem.

Essa maneira de organização em ciclos, segundo os documentos oficiais, também promove a superação da concepção de docência solitária do sistema seriado, onde o professor se relacionava exclusivamente com a sua turma, passando a uma concepção mais integrativa, onde os professores de um ciclo são responsáveis pelos alunos daquele ciclo.

Seguindo essas orientações, o Sistema Municipal de Ensino de São Bernardo do Campo obedece à organização exposta pelos Parâmetros Curriculares Nacionais que organiza o Ensino Fundamental em quatro ciclos.

Ainda dentro de uma visão de integração do sistema nacional de educação, os documentos estabelecem que a Educação Básica deva se transformar em um conjunto orgânico, sequencial e articulado.

Quanto à dimensão orgânica, os sistemas de ensino devem observar as especificidades e as diferenças de cada uma das três etapas de escolarização, sendo cada etapa delimitada por suas finalidades, sem cisões entre elas. A dimensão sequencial diz respeito aos processos educativos. Estes devem obedecer às exigências de aprendizagem. A dimensão da articulação trata da integração das duas dimensões anteriores e destas com a Educação Superior.

Isso pressupõe que, mesmo nos processos de transição de uma etapa para outra ou na mudança de escola, em qualquer região do país deve ser garantido para criança a continuidade de seu desenvolvimento e de sua aprendizagem, assegurando a formação comum para o pleno exercício da cidadania.

f) Organização curricular

Embora os documentos oficiais façam abordagens semelhantes quanto à organização curricular do ensino, existem especificidades que serão destacadas ao longo do texto.

Os currículos escolares em todos os segmentos de ensino seguem o que foi denominado base nacional comum e, também, de uma parte diversificada.

Na base nacional comum estão colocados os conhecimentos, os saberes e valores produzidos culturalmente e que são gerados nas instituições produtoras do conhecimento científico e tecnológico, no mundo do trabalho, no desenvolvimento das linguagens, nas atividades desportivas e corporais, na

produção artística, nas formas diversas e exercício da cidadania, nos movimentos sociais.

Todos esses conhecimentos, saberes e valores foram categorizados em componentes curriculares e organizados pelos sistemas educativos em forma de áreas de conhecimento, disciplinas e eixos temáticos, preservando-se as características e especificidades dos diferentes campos de conhecimento. Estes devem se inter-relacionar numa perspectiva da articulação interdisciplinar de forma a promover uma integração curricular.

Na parte diversificada estão os estudos das características regionais e locais da sociedade para enriquecer e complementar a base nacional comum, de forma que a base comum e a parte diversificada constituam como um bloco único.

Nessa perspectiva, o currículo da base nacional comum do Ensino Fundamental abrange o estudo da Língua Portuguesa e da Matemática, o conhecimento do mundo físico e natural e da realidade social e política, bem como o ensino da Arte, a Educação Física e o Ensino Religioso.

Para efetivar o currículo, estabeleceu-se que os componentes curriculares obrigatórios fossem organizados de acordo com suas relações a cinco áreas de conhecimento: Linguagens, Matemática, Ciências da Natureza, Ciências Humana e Ensino Religioso. Algumas destas áreas foram subdivididas. As Linguagens foram subdivididas em Língua Portuguesa, a língua materna para população indígena, a língua estrangeira moderna, a Arte e a Educação Física; as Ciências Humanas foram subdivididas em História e Geografia. As áreas de Matemática, Ciências da Natureza e Ensino Religioso não foram subdivididas.

Em complementação a essa organização, existe uma articulação entre os conteúdos tratados pelas áreas de conhecimento e pelos componentes curriculares, de maneira que haja a abordagem de temas sociais abrangentes e contemporâneos.

Isso seria feito, segundo os documentos, por uma transversalidade que integraria o currículo. Na legislação e nas Diretrizes Curriculares essa transversalidade é apresentada como conceito a ser implantado. Já nos documentos propositivos (PCN e Proposta Curricular do Município) existe uma preocupação estreita com a operacionalização. Assim, é possível notar que,

nestes últimos, o termo usado é temas transversais. Objetivamente, esses documentos colocam como temas transversais a Ética, o Meio Ambiente, a Pluralidade Cultural a Saúde e a Orientação Sexual.

Tanto na legislação e nas diretrizes quanto nos documentos propositivos, a preocupação se concentra em incluir no currículo temas sociais que reflitam a realidade global, nacional, local e individual. A abordagem destes temas envolvem também valores, atitudes, sensibilidades e orientações de conduta.

A partir disso o currículo se organizaria em uma matriz curricular. Essa matriz seria responsável por dar dinamismo ao currículo de modo que os diferentes campos de conhecimento se coadunem com o conjunto de atividades educativas. A matriz curricular, por sua vez, se organizaria em eixos temáticos que estruturariam o trabalho pedagógico, preservando o trabalho em equipe e superando o isolamento das pessoas e de conteúdos fixos.

Com relação aos anos iniciais do Ensino Fundamental, a organização curricular é a mesma. Entretanto, é observado que nessa fase o trabalho não pode se reduzir apenas a alfabetização e letramento, deve garantir o desenvolvimento das diversas formas de expressão incluindo o aprendizado da Língua Portuguesa, a Literatura, a Música e demais artes, a Educação Física, assim como o aprendizado da Matemática, da Ciência, da História e da Geografia.

g) Corpo e movimento

Para interpretar como os documentos oficiais abordam o corpo e o movimento no contexto educacional é preciso considerar, também, a Educação Física, pois esta é a área em que esses temas são estudados e trabalhados.

A legislação federal considera a Educação Física como um componente curricular obrigatório, mas faz a observação de que é necessário que ela esteja ligada às preocupações pedagógicas das escolas, ou seja, ela deve ter vinculo com projeto educacional da instituição escolar.

Corroborando com a legislação Federal, o Ministério da Educação, quando publica as Diretrizes Curriculares Nacionais, estabelece que os componentes curriculares sejam organizados conforme a área de conhecimento a que pertencem, e a Educação Física é incluída na área

denominada de Linguagens, fazendo parte da base nacional comum do Ensino Fundamental.

Esse posicionamento ratifica o proposto pelos Parâmetros Curriculares Nacionais, que sugerem, como um dos objetivos do Ensino Fundamental, que a criança possa utilizar diferentes linguagens, inclusive a corporal, como meio para expressar e comunicar suas ideias, interpretar e usufruir das produções da cultura. Da mesma forma, a Proposta Curricular do Município de São Bernardo do Campo também manifesta o entendimento de que o movimento humano é uma linguagem corporal.

Outro aspecto que é consensual nos documentos é o fato de que os conteúdos teriam sua origem nas atividades desportivas e corporais, ou seja, conhecimentos, saberes e valores produzidos culturalmente, que são gerados nas atividades desportivas e corporais.

Entretanto, pelo que consta nos documentos, as atividades não podem ser compreendidas somente sobre o aspecto mecânico, visando apenas o desenvolvimento de habilidades motoras, nem restringir-se à reprodução de jogos para aprender regras ou aliviar o excesso de trabalho intelectual, devem ir além, contemplando aspectos da cultura. Nessa visão a Educação Física é interpretada como expressão de produções culturais, como conhecimentos historicamente acumulados e socialmente veiculados, perfazendo o que foi denominado cultura corporal.

Nesse sentido, a cultura corporal abarca tanto os aspectos biológicos do organismo humano como também as formas simbólicas de representação do corpo e do movimento em um determinado contexto sócio-histórico e cultural.

Assim, os conteúdos que seriam abordados pelo componente curricular Educação Física estariam relacionados aos jogos e às brincadeiras, pois estariam ligados à cultura infantil e reafirmam a importância da ludicidade na vida escolar, envolvendo o prazer e a fantasia. Isso contribuiria para melhor qualificar a ação pedagógica junto às crianças, principalmente nos anos iniciais do Ensino Fundamental.

Essa abordagem também contribuiria para dar continuidade ao trabalho que já vinha sendo feito na Educação Infantil, recuperando o caráter lúdico da aprendizagem, levando à participação ativa das crianças.