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1. Metodologia e Objectivos

1.1. Interpretação de Dados

O estudo dos registos inéditos do sítio da Moita do Ourives, juntamente com a interpretação crítica da informação reunida na Base de Dados, foi realizado em função dos seguintes campos de análise e respectivas metodologias:

1. Caracterização da paisagem: dinâmica dos territórios

Abordar o contexto geológico e geomorfológico das paisagens onde,

arqueograficamente, se observam os contextos domésticos referentes ao final do Neolítico antigo e ao Neolítico médio, com especial destaque para o espaço onde se insere a Moita do Ourives, bem como os territórios de circulação e interacção que o grupo que aí habitou terá explorado. A tentativa de reconstituição paleoambiental da área do Baixo Tejo, bem como de outros espaços onde o registo arqueológico demonstra uma presença efectiva de grupos humanos neste período específico, vai no sentido de se reconstituir eventuais cenários da acção cultural, identificando os recursos disponíveis nas distintas regiões, designadamente ao nível das matérias-primas e de elementos passíveis de integrar o subsistema económico.

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2. Caracterização das modalidades e critérios de implantação espacial

Definição dos modelos de implantação espacial desenvolvidos pelas comunidades no período crono-cultural em análise, atendendo: aos substratos geológicos seleccionados; à topografia dos lugares de implantação; às redes hidrográficas; acessos e visibilidades; Pretendeu-se identificar os critérios que subjazem ao estabelecimento dos lugares habitacionais, procurando detectar eventuais disparidades nas modalidades de implantação espacial, relacionadas com a especificidade da tipologia funcional das ocupações e/ou com a cronologia das ocupações.

3. Caracterização das estratégias paleo-económicas e definição de áreas de captação de recursos

Procurou-se definir, a partir da observação de indicadores directos (restos zoológicos e botânicos) e indirectos (funcionalidades específicas de elementos da cultura material), as estratégias económicas desenvolvidas, identificando, se possível, o peso das estratégias predatórias versus estratégias produtoras, a presença de actividades agrícolas e as principais espécies animais exploradas, procurando detectar, num plano diacrónico, eventuais alterações das modalidades de utilização dos recursos, domésticos e silvestres, disponíveis.

Dedicou-se particular atenção à localização dos lugares de origem das matérias-primas líticas, utilizadas nas indústrias de pedra lascada e polida, à proveniência das argilas empregues no fabrico dos recipientes cerâmicos possibilitando, dessa forma, a definição dos diferentes territórios de exploração e obtenção de recursos, bem como a distância a que estariam dos espaços domésticos, reflectindo sobre o significado socioeconómico que estas acções podem possuir.

4. Caracterização das tipologias de ocupação e das modalidades de organização interna dos espaços de habitat

Neste ponto, pretendeu-se avaliar a possível dimensão dos espaços de habitat, bem como identificar e caracterizar, ao nível tipológico e funcional, as estruturas domésticas conservadas, a existência, ou não, de áreas funcionalmente especializadas, definir o regime temporal da ocupação (permanente/temporário), e a funcionalidade dos sítios (residenciais/especializados).

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5. Caracterização da cultura material

Esta matéria corresponde a um dos campos de análise com maior peso nas leituras produzidas neste trabalho. Procurou-se determinar, numa perspectiva tecno-tipológica, o subsistema material das comunidades a partir da 2ª metade do 5º milénio até ao 3º quartel do 4º milénio cal BC, partindo, essencialmente, de dois contextos específicos e integralmente estudados: Moita do Ourives e Monte da Foz 1.

O seu estudo integrou-se na perspectiva dinâmica de análise subjacente ao modelos das cadeias operatórias que, aplicadas a materiais líticos e cerâmicos, procuraram estabelecer as áreas de obtenção das matérias-primas utilizadas, as modalidades tecnológicas de produção artefactual, o quadro tipológico associado, a funcionalidade, os espaços de uso e, por fim, de abandono das utensilagens.

A classificação tecno-tipológica da cultura material permitiu, na ausência de datações absolutas na maioria dos contextos abordados, um primeiro enquadramento cronológico, avaliar o papel de alguns fósseis-directores, bem como identificar, no tempo longo e no espaço amplo do processo de Neolitização.

Tendo em conta o potencial informativo da Cultura Material, a sua análise foi sujeita a um inquérito multidisciplinar, que envolveu distintas metodologias. Neste particular, destacam-se a identificação das áreas de proveniência das matérias-primas, análises traceológicas, análises arqueométricas sobre fragmentos cerâmicos e, ainda alguns ensaios de arqueologia experimental no campo do material lítico e cerâmico.

Estas actividades foram realizadas com a colaboração dos seguintes investigadores: • Henrique Matias, UNIARQ - Centro de Arqueologia da Universidade de Lisboa, na caracterização das silificações (sílex e jaspe), identificadas na Moita do Ourives e na determinação de áreas prováveis de proveniência das matérias-primas;

• Nuno Pimentel, Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, na classificação petrografica dos elementos em pedra polida e afeiçoada da Moita do Ourives, e na determinação de áreas prováveis de proveniência das matérias-primas aí utilizadas; • Ângela Ferreira, UNIARQ - Centro de Arqueologia da Universidade de Lisboa, responsável pelas análises traceológicas dos artefactos em sílex;

• Miriam Cubas, da BioArCh/Universidade de York, nas análises arqueométricas realizadas sobre as cerâmicas, procurando identificar os componentes das pastas cerâmicas, suas áreas de proveniências e análise de conteúdos dos recipientes (estudo em curso, aguardando-se os resultados finais);

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• Pedro Cura, Centro de Geociências da Universidade de Coimbra – Instituto Terra e Memória, no trabalho de arqueologia experimental com o propósito de se tentar reconstituir as possíveis funcionalidades e práticas de uma parte dos seixos talhados em quartzito;

6. Caracterização de patamares cronométricos

Interpretação das datações absolutas existentes, provenientes de contextos estratigráficos seguros, a fim de definir, com a maior fiabilidade possível, a cronologia das ocupações do final do Neolítico antigo e de Neolítico médio.

Pelo seu carácter de excepção, as escassas datações existentes, nomeadamente em contextos domésticos, têm vindo a ser consideradas como autênticas linhas orientadores para esta etapa cultural. No entanto, muitas das datas disponíveis oferecem limitações que condicionam as leituras interpretativas. Refiram-se, por exemplo, datas com intervalos de tempo muito amplos (quase sempre obtidas sobre amostras de vida longa – carvão), ou a escassa informação sobre o contexto de proveniência de alguma amostras que forneceram intervalos mais curtos e fiáveis.

7. Caracterização das paisagens simbólicas

Mesmo assumindo que esta matéria não corresponde à temática central da dissertação, a associação ao mundo funerário não pode deixar de ser referida. Discute-se por isso aqui, partindo de critérios cronológicos e culturais, as relações entre os grupos do Neolítico médio e a utilização/escavação/construção de grutas naturais e artificiais, de estruturas dolménicas.

Em suma, esta dissertação visa caracterizar um espaço temporal onde as dinâmicas culturais, económicas e simbólicas são decisivas para a caracterização do trajecto das Primeiras Sociedades Camponesas. O Neolítico médio, espera-se, será doravante menos invisível.

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