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2 PERCURSO METODOLÓGICO

2.5 Interpretação do Material

Neste capítulo abordaremos o método utilizado para a compreensão do material adquirido através do grupo focal, o qual será transcrito e submetido à análise temática de conteúdo. A contribuição da Análise de Conteúdo, segundo Minayo (2006), se refere à possibilidade de verificação de hipóteses, compreender o que está atrás do conteúdo manifesto, “ultrapassar o nível do senso comum e do subjetivismo na interpretação e alcançar uma vigilância crítica ante a comunicação de documentos, textos literários, biografias, entrevistas ou resultados de observação” (MINAYO, 2006, p. 308). Nesta investigação, acreditamos que a Análise de Conteúdo poderá contribuir para com a compreensão dos sentidos em arte, posto que, segundo Minayo (2006), ela se propõe a relacionar conteúdos

significativos das falas dos sujeitos e as variáveis psicossociais em que foram produzidos. A seguir, apresentaremos o método de tratamento de dados adotado por esta investigação.

2.5.1 Análise de conteúdo como recurso para compreensão dos sentidos

Nesta investigação adotaremos como técnica de tratamento de dados a análise de conteúdo. A análise de conteúdo configura-se não somente como uma forma de tratar os dados, mas também, como um conceito construído com implicações teórico-metodológicas. Minayo (2006) trabalhou o método de Análise Conteúdo desenvolvido por Bardin para utilização em pesquisas qualitativas com fundamento no materialismo-histórico. Segundo a autora, Bardin refere que a análise de conteúdo seria

Um conjunto de técnicas de análise de comunicação visando obter por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (qualitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção destas mensagens (BARDIN, 1979, p.42 apud MINAYO, 2006, p.303).

A Análise Temática consiste em descobrir os núcleos de sentido que constituem uma comunicação. Para a análise dos significados, a presença de determinados temas nas falas dos sujeitos apontam para estruturas de relevância que devem ser levadas em consideração na análise, tais como valores e modelos de comportamento. Dentro desta forma de análise o tema seria uma afirmação a respeito de determinado assunto. Ele pode ser representado por uma palavra, uma frase ou um trecho da fala do individuo.

De acordo com Bardin (1979, p. 105), “o tema é a unidade de significação que se liberta naturalmente de um texto analisado segundo critérios relativos à teoria que serve de guia à leitura”. Segundo Minayo (2006), a Análise Temática constitui um conjunto de etapas que se iniciam com a pré-analise. Neste período, ocorre a escolha dos documentos que serão analisados. O pesquisador retoma as hipóteses e objetivos da pesquisa e os reformula a partir do material que foi coletado. O pesquisador pode proceder com a leitura flutuante, tomando um contato exaustivo com o material considerando as hipóteses iniciais e emergentes e as teorias relacionadas. Em seguida, o pesquisador deverá partir para a constituição do corpus. De acordo com Aguiar e Ozella (2006), a leitura flutuante permite o destaque de pré-indicadores para a construção de núcleos de significação futuros. Da transcrição emergirão temas diversos que, de acordo com a “importância enfatizada pela

fala dos informantes, pela carga emocional presente” (p. 230), demonstrarão sua importância para a compreensão do objetivo da investigação.

Minayo (2006) define esta etapa como uma organização do material coletado para validação dos dados a partir dos seguintes itens: Exaustividade (que contempla todos os aspectos levantados no roteiro); Representatividade (que contempla a representação do universo pretendido); Homogeneidade (que obedeça a critérios precisos de escolha em termos de temas, técnicas e interlocutores); Pertinência (os documentos analisados devem ser adequados ao objetivo do trabalho).

A etapa posterior a pré-analise trata da exploração do material, onde se realiza a transformação dos dados brutos com o objetivo de alcançar o núcleo de compreensão do texto. Segundo Aguiar e Ozella (2006), uma segunda leitura sobre o texto permitirá aglutinar os pré-indicadores pela similaridade dos temas abordados. A partir de então, estão formados os indicadores que podem surgir a partir de temas como: sentimentos que surgem na utilização da arte, os espaços de convivência das oficinas de arte, a experiência com o transtorno mental, dentre outros. De posse destes indicadores e seus conteúdos, retorna-se ao material das entrevistas e inicia-se uma primeira seleção dos trechos que ilustram os indicadores e os núcleos de significação são nomeados de acordo com uma fala do informante que reflita o conteúdo daquele núcleo. Os núcleos de significação são resultado da articulação de conteúdos semelhantes, complementares e contraditórios contidos na transcrição.

Nesse processo [...] é possível verificar as transformações e contradições que ocorrem no processo de construção dos sentidos e dos significados, o que possibilitará uma análise mais consistente que nos permita ir além do aparente e considerar tanto as condições subjetivas quanto as contextuais e históricas (AGUIAR; OZELLA, 2006, p. 231).

Em seguida, inicia-se a análise dos núcleos. Nesta etapa, é realizada uma articulação entre os núcleos onde se revela contradições e semelhanças entre os mesmos. Outrossim, neste processo é realizada uma articulação da fala do sujeito com as bases teóricas escolhidas nesta investigação e o contexto da experiência do sujeito com transtorno mental, de modo a permitir a compreensão deste em sua totalidade. Especificamente para a compreensão dos sentidos, faz-se necessário agregar à análise dos dados a apreensão das necessidades e motivações dos sujeitos identificadas a partir dos indicadores, “são elas que, na sua dinamicidade emocional, mobilizam os processos de construção de sentido e, é claro, as atividades do sujeito” (AGUIAR; OZELLA, 2006, p. 232).

Meu processo de análise foi um pouco difícil pois teria que aproximar as temáticas utilizadas na saúde com a teoria histórico-cultural, trabalho que não costuma ser visto em bibliotecas e pesquisas em sites de trabalhos científicos na internet. Por outro lado a arte pareceu se encaixar com certa facilidade em ambas as temáticas. Outrossim, realizar dois grupos focais acabou sendo uma surpresa para a pesquisadora que esperava realizar apenas um grupo focal. No entanto, os participantes expressaram muita necessidade para falar de cuidado e saúde mental,o que tomou todo o tempo do primeiro encontro e mudou os planos da pesquisa para a realização de dois encontros. No segundo encontro, tendo percebido a agitação com que chegaram no primeiro encontro, a pesquisadora resolveu fazer uma sessão de relaxamento com palavras geradoras (Apêndice C) para facilitar a concentração dos usuários. A utilização de materiais de arte facilitou com que eles mobilizassem pensamentos e sentimentos para a expressão dos sentidos de arte (OSTROWER, 2007).

Para a análise das falas utilizarei códigos para a localização das falas nos grupos focais, como por exemplo, GF1, L522-527, P.15, para designar que a fala localiza-se no encontro do Grupo Focal 1, da linha 522 a 527, e na página 15 da folha de transcrição.