• Nenhum resultado encontrado

Após a realização da pesquisa documental, os dados foram analisados com base nas técnicas de análise documental e de conteúdo. Recorreu-se às duas técnicas por elas serem percebidas como complementares e por contribuírem para a extração do máximo de informações pertinentes à pesquisa. No entanto, a

investigação teve a análise de conteúdo como base principal, constituindo a análise documental recurso complementar.

A análise de conteúdo é um conjunto de técnicas de análise das comunicações (BARDIN, 1977) utilizado para estudar uma ampla gama de dados, como textos, mensagens de mídia, entrevistas, fóruns de discussão em comunidades virtuais, diários de viagem, entre outros (STEPCHENKOVA;

KIRILENKO; MORRISON, 2009).

Caregnato e Mutti (2006) ressaltam que dois tipos de materiais podem ser trabalhados na análise de conteúdo: o material produzido em pesquisa, como entrevistas e diário de campo, e o material já existente, produzido para outros fins, como é o caso das teses e dissertações analisadas. Bardin (1977) defende que qualquer comunicação, ou seja, qualquer meio de significações entre um emissor e um receptor, deveria ser decifrado por meio da análise de conteúdo.

Segundo Stepchenkova, Kirilenko e Morrison (2009), a análise de conteúdo tem um viés exploratório, devido a sua base qualitativa; porém, pode ser desenvolvida quantitativamente, por meio de inferências estatísticas. Os autores ressaltam, ainda, que a análise de conteúdo qualitativa está baseada na ideia de que a realidade é uma criação sociocultural, por isso ela é interpretada, mas não totalmente apreendida. Para Caregnato e Mutti (2006), a diferença entre essas duas abordagens é que na quantitativa se traça uma frequência de repetição de conteúdo, como quantas vezes aparece no texto determinada palavra, por exemplo; na abordagem qualitativa, por sua vez, considera-se a presença ou a ausência de dada característica ou o conjunto de características em um fragmento de mensagem.

Krippendorff (1980) distingue tipos de unidade de análise, as quais dependem do problema de pesquisa. Para esse autor, as unidades são: físicas (livros, cartas, filmes, dentre outros); sintáticas (capítulos de livros, títulos, artigos ou frases de jornais, cenas de filmes, dentre outros); proposicionais (núcleos lógicos de frases, desconstruindo frases complexas em núcleos proposicionais); temáticas ou semânticas (textos de implicam juízo humano, como cartas de amor e cartas comerciais). Na presente pesquisa, é considerada a unidade física, uma vez que são analisados estudos como um todo, a fim de destacar fragmentos acerca dos

“impactos do turismo em comunidades indígenas”.

Conforme Bardin (1977), a análise de conteúdo apresenta duas funções, que podem ou não se dissociar:

– uma função heurística: a análise de conteúdo enriquece a tentativa exploratória, aumenta a propensão à descoberta. É a análise de conteúdo 'para ver o que dá'.

– uma função de 'administração da prova'. Hipóteses sob a forma de questões ou de afirmações provisórias servindo de diretrizes, apelarão para o método de análise sistemática para serem verificadas no sentido de uma confirmação ou de uma infirmação. É a análise de conteúdo 'para servir de prova' (BARDIN, 1977, p. 28).

A presente pesquisa pauta-se na segunda função, uma vez que busca confirmar hipóteses preestabelecidas.

Sobre a diferença entre a análise de conteúdo e a análise documental, Bardin (1977) explica que, se for suprimida a função de inferência da análise de conteúdo e o estudo se limitar às possibilidades de análise categorial ou temática, a análise se identificará como documental. Para essa autora, a análise documental é uma operação ou um conjunto de operações que visam a representar o conteúdo de um documento a fim de facilitar a compreensão acerca do conteúdo expresso.

Apesar da semelhança entre os dois tipos de análise, há algumas diferenças essenciais, a saber:

– A documentação trabalha com documentos; a análise de conteúdo com mensagens (comunicação).

– A análise documental faz-se, principalmente por classificação-indexação;

a análise categorial temática é, entre outras, uma das técnicas da análise de conteúdo.

– O objetivo da análise documental é a representação condensada da informação, para consulta e armazenagem; o da análise de conteúdo, é a manipulação de mensagens (conteúdo e expressão desse conteúdo), para evidenciar os indicadores que permitam inferir sobre uma realidade que não a da mensagem (BARDIN, 1977, p. 47).

A partir dessa perspectiva, ressalta-se a importância da utilização da análise de conteúdo aliada à análise documental nesta investigação, uma vez que seu objetivo relaciona-se à análise das mensagens contidas nas teses e dissertações que fazem parte do corpus de pesquisa. No entanto, também se fez necessário categorizar tais estudos, e, por isso, tem-se a análise documental como complemento.

Tendo em vista que a análise de conteúdo pode ser aplicada por meio de diversas técnicas, cabe destacar que a técnica escolhida para a pesquisa foi a análise de avaliação, também conhecida como evaluative assertion analysis (análise de asserção avaliativa). Conforme Bardin (1977), essa técnica é aplicada a estudos

que têm por objetivo medir as atitudes do locutor quanto ao objeto abordado. Com ela, o pesquisador se atém aos indicadores manifestos explicitamente na comunicação para fazer inferências, ou seja, as opiniões e as atitudes de que passa a mensagem são analisadas conforme sua intensidade (força ou grau de convicção expressa) e direção (o quanto uma situação ou objeto é favorável ou desfavorável;

positivo ou negativo; amigável ou hostil; aprovador ou desaprovador; otimista ou pessimista; bom ou ruim).

Cabe salientar que essa técnica é parecida com a análise de conteúdo temática, pois ambas se baseiam no desmembramento do texto em unidades de significado. No entanto, a análise avaliativa se atém à ocorrência ou não de determinado tema e considera uma unidade de análise, enquanto na análise de avaliação busca-se, além dessa averiguação, determinar a carga avaliativa (direção e intensidade) (BARDIN, 1977).

A pré-análise é a organização e a sistematização das ideias iniciais, de modo a conduzir a um esquema para o desenvolvimento da análise. Nessa etapa, estabelece-se um roteiro preciso, porém flexível, de modo que seja possível introduzir novos procedimentos no decorrer do processo (BARDIN, 1977). Durante a pré-análise, realiza-se a escolha dos documentos a serem examinados e do corpus de pesquisa; também se formulam os objetivos e as hipóteses (BARDIN, 1977;

GOMES, 2006).

Na segunda etapa, a exploração do material, realiza-se a codificação, um modo sistemático de comparação, conforme Bauer (2002). Segundo esse autor, a codificação refere-se a um conjunto de códigos com os quais o codificador trata o material e por meio dos quais alcança respostas. A partir do momento em que se codifica um material, faz-se necessário produzir um sistema de categorias (BARDIN, 1977). Essa etapa compreende três ações: o recorte, a enumeração e a classificação (GOMES, 2006).

A categorização, parte da terceira etapa da análise de conteúdo, é uma operação de classificação dos elementos por diferenciação e reagrupamento conforme critérios definidos na pré-análise. Os critérios de categorização podem ser:

semântico (categorização temática), sintático (categorização embasada nos verbos e adjetivos), lexical (palavras segundo o sentido, emparelhamento de sinônimos) e expressivo (como, por exemplo, categorias que classificam perturbações de linguagem) (BARDIN, 1977). Na sequência da categorização, tem-se a inferência,

que se constitui na obtenção de informações para responder às hipóteses e aos objetivos, por meio da técnica escolhida (GOMES, 2006).

A seguir, apresenta-se um esquema (FIGURA 1) para uma visualização mais precisa do processo de análise de conteúdo utilizado na presente pesquisa.

FIGURA 1 – PROCESSO DE ANÁLISE DE CONTEÚDO Fonte: Baseado em Bardin (1977) e Gomes (2006)

Cabe salientar que a análise de avaliação considera dois enfoques: a primeira etapa leva em consideração o posicionamento dos autores (revisão bibliográfica); a

TRATAMENTO DOS RESULTADOS

Interpretação Codificação

Escolha da técnica de análise

Categorização

- Identificação de cada recorte com o código referente à pesquisa, ao objetivo específico e ao assunto ao qual se refere

- Agrupamento dos recortes conforme objetivo específico

- Ordenamento interno dos grupos de acordo com o assunto de cada recorte

EXPLORAÇÃO DO MATERIAL Criação de códigos de identificação para

cada estudo, objetivo específico e assunto abordado no referencial teórico

Escolha de documentos e constituição do corpus

Leitura flutuante

Formulação dos objetivos e das hipóteses

Leitura minuciosa

Inferência PRÉ-ANÁLISE

- Análise da frequência, intensidade e direção dos recortes

segunda etapa pauta-se nos resultados apresentados por esses investigadores (análise dos resultados), bem como nas conclusões por eles apresentadas (considerações da pesquisa).

3 SOBRE AS SOCIEDADES E A CULTURA: UMA CONTEXTUALIZAÇÃO