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5. Palinofácies

5.4. Interpretação paleoambiental

As variações das características ambientais, têm consequências na biodiversidade e no registo geológico. Estas características podem ser físicas ou químicas (como salinidade, profundidade, luminosidade, hidrodinamismo, oxigenação), biológicas (biodiversidade) e geológicas (substrato, fossilização e sedimentação) (Ramalho, 2010). Essas particularidades podem ser espelhadas pelas quantidades relativas dos componentes da MO presentes nas amostras das sondagens estudadas. Deste modo, as interpretações paleoambientais consideram a variação proximal-distal, a paleoprodutividade, as condições redox, as tendências transgressivas-regressivas, entre outros aspetos (Tabela 5.6).

Tabela 5.6: Correlação entre a percentagem dos diferentes componentes da MO e as tendências proximal-distal gerais (adaptado de Tyson, 1995 in Mendonça Filho & Menezes 2001).

Parâmetros

Tendência

Proximal Distal

% Grupo Fitoclastos no conjunto total da MO alta baixa

% Grupo MOA no conjunto total da MO baixa alta

% Grupo Palinomorfos no conjunto total da MO baixa alta

% Subgrupo FO na quantidade total de Fitoclastos baixa alta

% Subgrupo FO equidimencionais do total de FO alta baixa

% Subgrupo FO alongados do total de FO baixa alta

% Subgrupo FNO não-biostruturados do total de FNO alta baixa

% Subgrupo FNO biostruturados do total de FNO baixa alta

A caracterização do conjunto da MO pode ser auxiliada pela comparação entre os campos de palinofácies e os ambientes deposicionais (Figura 5.3 e Tabela 5.7).

Figura 5.3: Diagrama ternário (Fitoclastos-MOA-Palinomorfos) para caracterização paleoambiental (adaptado de Tyson (1993, 1995) in Menezes et al., 2008).

Tabela 5.7: Campos de palinofácies e respetivos ambientes deposicionais (adaptado de Tyson, 1993, 1995 in Menezes et al., 2008).

Campos de

Palinofácies Ambientes Deposicionais

I Bacia ou Plataforma altamente proximal II Bacia marginal disóxica - anóxica

III Plataforma óxica heterolítica (“plataforma proximal”) IV Transição Plataforma - Bacia

V Plataforma óxica dominada por sedimentos argilosos (“plataforma distal”) VI Plataforma proximal subóxica - anóxica

VII “Plataforma” distal disóxica - anóxica VIII Plataforma distal disóxica - óxica

IX Bacia distal subóxica - anóxica

Dado que os constituintes do grupo dos fitoclastos, são os mais abundantes nas amostras estudadas (Figura 5.4), a interpretação do paleoambiente a que as amostras estão associadas, deverá ter em conta estas percentagens. De um modo geral, a elevada percentagem de fitoclastos pode resultar da elevada produtividade primária de MO de origem vegetal em ambiente continental subaéreo, no qual existe influência direta das condições atmosféricas e do contacto com o oxigénio livre do ar, ou ambiente continental subaquático (modelos fluvial, lacustre/palustre, palustre/leques aluviais), ambos de natureza proximal.

Figura 5.4: Diagrama ternário com a distribuição dos principais grupos de componentes orgânicos das amostras estudadas das sondagens ETA 15 e ETA 71.

No grupo dos modelos fluviais destaca-se o sub-ambiente de leque aluvionar, que é formado por pequenos cursos de água temporários que funcionam como locais de concentração e escoamento de águas pluviais, localizando-se geralmente no sopé de elevações topográficas. Os materiais transportados por estas águas ao atingirem o extremo inferior do canal, perdem velocidade e depositam-se formando uma acumulação em forma de leque. Nestes depósitos é possível diferenciar três zonas (proximal, média e distal), nas quais a granulometria é progressivamente mais fina, sendo a zona distal caraterizada por fácies da granulometria do silte e das argilas (Figura 5.5).

Figura 5.5: Esquema ilustrativo do modelo geral de deposição de um leque aluvionar baseado em depósitos do Devónico da Noruega (adaptado de Stell & Gloppen, 1980 in

A elevada quantidade de fitoclastos pode igualmente estar relacionada com as áreas de influência dos rios, como zonas pantanosas, formadas pelo transbordo das águas a partir das margens, que invadem as planícies de inundação. A estas estão associados limos argilosos laminados, que podem conter raros canais arenosos, havendo uma diminuição da granulometria no sentido do afastamento do canal principal. As zonas pantanosas estão geralmente associadas a climas húmidos, que favorecem o crescimento de vegetação e acumulação de MO (turfa e carvões).

Os modelos lacustres (Figura 5.6) podem igualmente explicar a acumulação de fitoclastos nos sedimentos, uma vez que estas porções de água no interior nos continentes podem ser alimentadas por via fluvial ou glaciária, tendo muito pouco hidrodinamismo, o que favorece a deposição de sedimentos detríticos finos nas suas margens (como siltes e argilas transportados pelas linhas de água). Apesar da sua camada de água ser de espessura reduzida, esta pode ser dividida numa zona superior (rica em oxigénio gerado pelas plantas e algas a partir da fotossíntese) e numa zona inferior (pobre em oxigénio – meio redutor), onde os restos orgânicos têm tendência a ficar preservados.

Figura 5.6: Distribuição da fácies característica do modelo lacustre onde há um domínio de sedimentação detrítica (adaptado de Nichols, 2009).

Os modelos deltáicos (que estão entre os ambientes de sedimentação de transição), são outro dos modelos onde a acumulação de fitoclastos é favorecida. Estes podem ser dominados por processos fluviais, por influência de marés ou ondulação, que têm um papel essencial na sua dinâmica e na sua morfologia (Figura 5.7). São caraterizados por possuírem uma intensa rede de canais que culmina numa massa de água (pântanos, bacias lacustres ou oceano), onde no geral podem ser originadas diferentes zonas sedimentares: topset, foreset e bottomset. Topset é formado por camadas subhorizontais de sedimentos fluviais, argilas e MO vegetal com origem nos sub-ambientes associados (como os pântanos); foreset é caraterizado por uma estratificação oblíqua de areias finas e siltes e bottomset é geralmente determinado pela presença de estratificação subhorizontal, constituído por argilas com laminações bem definidas e muita MO.

Figura 5.7: Representação triangular criada por Galloway (1975), onde se distingue deltas de dominância fluvial, de maré e de ondulação e as respetivas granulometrias (adaptado de Orton & Reading 1993 in Nichols, 2009).

Do ponto de vista sedimentar, no corpo do delta distinguem-se: topset, foreset e bottomset (Nichols, 2009). Os fitoclastos são assim associados sobretudo a ambientes proximais (Tabela 5.6 e Figura 5.4), onde o seu elevado fornecimento atenua a ocorrência de outros componentes.

A elevada percentagem de FNO pode indicar proximidade de fontes fluviais, onde a sua presença pode suprimir a quantidade de FO, componentes do grupo dos palinomorfos ou do grupo da MOA. O predomínio de FNO pode igualmente estar associado a uma curta distância de transporte até à bacia sedimentar (Van Bergen & Kerp 1990 in Modie, 2007), na qual existem condições de preservação da MO.

Os FO em particular, estão associados a ambientes mais distais (Tabela 6), devido à sua resistência à degradação, que permite que sejam dominantes em fácies de baixo conteúdo orgânico, uma vez que permanecem no sistema, quando o restante material já foi destruído. Quando os FO são alongados, há maior probabilidade de serem transportados para longas distâncias, devido à sua facilidade em flutuar e à resistência à degradação, pois estas partículas podem ter como percursoras, fragmentos de maior dimensão e de natureza mais resistente (Whitaker et al., 1992 in Mendonça Filho & Menezes, 2001), estando sobretudo associadas a ambientes distais (Tabela 5.6).

Assim, de um modo geral, há um decréscimo na quantidade e dimensão dos fitoclastos na direcção dos sistemas distais, começando pelos FNO, que são os primeiros a diminuir a sua percentagem (nomeadamente os FNO não-biostruturados, perto do nearshore, seguidos dos FNO biostruturados, já próximos do offshore) (Figura 5.8). Os FO são os últimos a permanecer no ambiente, em particular os FO alongados. A zona offshore é caracterizada pela influência da ondulação que se reflete na deposição de sedimentos da granulometria das areias finas intercalados entre as mudstone. Os sedimentos são geralmente cinzentos devido à pouca oxigenação que existe a grandes profundidades, permitindo alguma preservação da MO no seu interior.

Figura 5.8: Modelo de sedimentação costeiro/litoral (cuja granulometria dominante são areias). Este tipo de litoral compreende um domínio submarino e outro subaéreo, definidos pela sua proximidade à costa e pelos processos dominantes: foreshore, domínio intertidal (praia) limitado pela maré alta e maré baixa; shoreface, corresponde ao domínio infratidal (praia imersa); offshore, plataforma externa - ambiente sedimentar marinho de plataforma conti-

nental (adaptado de Nichols, 2009).

A MOA e os componentes do grupo dos palinomorfos estão sobretudo associados a um ambiente distal (Tabela 5.6 e Figura 5.4). Porém, a presença de alguns esporos e pólenes de plantas terrestres superiores poderão estar associados a áreas próximas da flora precursora, tal como a locais de menor percentagem de fitoplâncton, como ambientes de reduzida salinidade, podendo haver proximidade de ambientes fluvio-deltaicos. A sua quantidade diminui em direcção aos sistemas distais (offshore), uma vez que se encontram distantes das fontes ativas e o seu transporte é pouco eficiente.

As palinofácies presentes na sequência estudada podem indicar a presença de uma fácies proximal de ambiente lacustre a pantanoso (Figura 5.6), em áreas de influência fluvial. Nestes ambientes a profundidade da água é relativamente baixa, tal como a salinidade. A espessura da camada de água é suficiente para atenuar os efeitos dos fatores atmosféricos sobre a MO depositada, havendo condições de preservação privilegiadas, pelo baixo hidrodinamismo, a fraca oxidação, entre outras condições. Neste ambiente os sedimentos são geralmente argilosos de cor escura, podendo existir camadas de arenitos (dependendo da proximidade do canal fluvial principal) e podendo ocorrer níveis carbonosos, com possibilidade de formação de carvão, características que se verificam nas sequências intersetadas pelas sondagens deste estudo.