• Nenhum resultado encontrado

3. Métodos de recolha e preparação aplicados na investigação

3.2 Procedimentos laboratoriais

3.2.1 Preparação laboratorial de amostras para estudos palinológicos

A preparação laboratorial deve considerar os resultados que se pretende obter e as especificidades das amostras em estudo, nomeadamente o tipo de litologia ou o estado de incarbonização da matéria orgânica. Tendo em conta estas premissas é necessário adaptar as diferentes etapas do processo, ao tipo de amostras em estudo.

A metodologia utilizada no processo de tratamento palinológico consta de cinco etapas principais, tendo início com a limpeza e fracionamento físico das amostras, de modo a prepará-las para a etapa da eliminação da componente inorgânica (fração mineral) por tratamento químico, num processo designado por desmineralização. Posteriormente o resíduo orgânico é limpo e concentrado podendo, após esta fase, ser sujeito à oxidação. Por fim fazem-se as lâminas delgadas para a observação e estudo ao microscópio.

1) As cerca de 100 g de cada amostra foram desagregadas, com o auxílio de um martelo (Figura 3.3). Os fragmentos foram lavados em água corrente, para a remoção de todas as partículas de menores dimensões, que pudessem reagir violentamente com os ácidos.

Figura 3.3: Processo de fracionamento físico das amostras estudadas.

2) Os fragmentos foram colocados em frascos de Teflon® de boca larga, devidamente fechados e catalogados, onde foram sujeitos a uma sucessão de ataques, utilizando ácidos com diferentes concentrações, para remoção progressiva da fração mineral do sedimento, designadamente silicatos e carbonatos, dentro de uma hotte de laboratório para manipulação de produtos químicos (Figura 3.4).

Figura 3.4: Frascos de Teflon® com amostras em tratamento, com banho ácido (HF e HCl) dentro de uma hotte de laboratório.

No primeiro tratamento químico foi utilizado o ácido flurídrico (HF) a 48% à temperatura ambiente, para remoção de silicatos e minerais silicatados estando as amostras expostas a 150 ml deste reagente durante 5 dias.

Após a neutralização e decantação com água canalizada, o ácido foi renovado, tendo sido acrescentado 100 ml adicionais deste, ficando as amostras de rocha a reagir durante mais 10 dias, ao longo dos quais a solução foi agitada duas vezes por dia, de modo adestruir a maior quantidade de

rocha possível. Em seguida neutralizou-se a reacção com água canalizada e procedeu-se à decantação durante cerca de 12 horas. No final, o ácido foi colocado em garrafões próprios para o efeito, permitindo o seu reencaminhamento para processos de reciclagem e valorização. Foi acrescentada novamente água canalizada à amostra e esta decantou, uma vez mais, durante 24 horas, sendo posteriormente eliminada, levando consigo os materiais finos que se mantiveram em suspensão.

Posteriormente, procedeu-se à eliminação dos carbonatos, através da adição de 150 ml de ácido clorídrico (HCl) a 37 %, num gobelé devidamente catalogado, com 100 ml do resíduo. Aumentou-se a temperatura do preparado, ficando este em banho-maria até levantar fervura, sendo a solução continuamente agitada com uma vareta de vidro.

Após a reação completa da amostra, seguiu-se a neutralização e a decantação com água canalizada, durante 24 horas. O líquido foi posteriormente eliminado, mantendo no recipiente o conteúdo que se depositou.

Para garantir a eliminação eficiente da sílica e de algum material silicatado, a amostra foi novamente atacada com 100 ml de HF a 48%, utilizando-se novamente os frascos de Teflon®, devidamente identificados. O ácido foi deixado a reagir durante um dia, agitando a solução periodicamente durante esse período de tempo, de modo a promover a reação. A solução foi neutralizada, ficando a decantar, sendo este processo de decantação repetido uma segunda vez.

3) Para que haja uma maior concentração de palinomorfos, foi eliminada matéria inorgânica fina remanescente como, partículas da dimensão do silte e da argila que tenham resistido ao ataque dos ácidos. Para esta concentração, fez-se a limpeza final dos resíduos, pela filtração dos mesmos, utilizando um crivo de 20 µm, juntamente com água. Esta dimensão permite a eliminação de partículas finas, sem que haja perda de palinomorfos.

No final, os resíduos foram armazenados em pequenos frascos de plástico, devidamente catalogados, juntamente com água (Figura 3.5).

4) Terminada esta etapa, procedeu-se à análise preliminar dos resíduos, através da sua observação ao microscópio ótico, verificando-se o grau de concentração e o estado de limpeza dos palinomorfos. Esta avaliação permite igualmente determinar, o tempo necessário para a oxidação de cada amostra, a qual depende da tonalidade geral dos palinomorfos. Quanto mais escuros (incarbonizados) estes se apresentarem, maior será o tempo necessário de exposição aos reagentes, pois a oxidação provoca o desgaste químico da estrutura exterior da parede dos palinomorfos.

Para o processo de oxidação das diferentes amostras, utilizou-se a solução oxidante de Shullze, a qual é composta por uma mistura de ácido nítrico fumante (HNO3) a 100 % e 2-5 gramas de Clorato de Potássio (K2ClO3). Para a realização desta solução, colocaram-se os reagentes num funil de Buchner com um crivo de porcelana de 20 µm, conectado com um kitasato de vidro (Figura 3.6). Esta solução foi adicionada ao resíduo orgânico que se encontrava sobre o filtro, ficando este a reagirdurante cerca de 30 segundos a cerca de 1 minuto, dependendo do estado de incarbonização do material. Este tempo foi rigorosamente controlado, de modo a evitar excessiva erosão ou total desaparecimento das paredes dos palinomorfos. Após este perído de tempo, a reação foi neutralizada com água canalizada, tendo- se acelerado o processo de filtração recorrendo à sucção por vácuo.

Após a oxidação, as amostras foram filtradas, utilizando água corrente e um crivo de 20 µm, num processo mecânico que facilita a remoção da fração de granulometria mais fina, no caso desta não ter sido eliminada na terceira etapa. Este processo de lavagem, promoveu a recuperação das partículas orgânicas, retidas no crivo, as quais foram colocadas num gobelé de vidro, com auxílio de uma pipeta de plástico.

Durante este procedimento, o resíduo orgânico foi sendo controlado ao microscópio ótico, de modo a verificar se seria necessária a repetição do processo de oxidação ou apenas o processo de lavagem seguinte, caso os palinomorfos apresentassem cor escura ou caso existissem demasiadas partículas inorgânicas, respetivamente.

De seguida colocou-se em cada gobelé hidroxietilcelulose (celucite), solução química que permite a dispersão dos palinomorfos, impedindo que se aglutinem, facilitando assim a sua observação.

Figura 3.6: Oxidação do material orgânico. 1 - funil de Buchner com um crivo de porcelana de 20 µm; 2 - kitasato de vidro; 3 - mangueira flexível paraexecução da sucção por vácuo.

5) A partir do resíduo obtido, prepararam-se as lâminas delgadas para os estudos palinológicos. Nas lamelas, devidamente identificadas, colocou-se, com auxílio da pipeta, uma gota de resíduo no centro das mesmas, tendo estas ficado a secar na estufa durante mais de 24 horas.

Depois de secas, as lamelas foram colocadas sobre uma lâmina delgada, onde previamente foi aplicada uma gota da resina acrílica Entellan® deixando-se secar durante 24 horas. Para cada amostra foram preparadas entre 8 a 10 preparações de lâminas delgadas.

O resíduo não utilizado foi arquivado em frascos devidamente identificados.

3.2.2 Preparação laboratorial de amostras para estudos de palinofácies e