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Interpretações relativas ao sítio Um breve acréscimo às conclusões pós-

p.4) e as valas 1, 5, 6 e 7 não foram alvo de novas interpretações por parte da autora do relatório. De facto, nas áreas correspondentes às valas 1 e 2 não foram encontradas quaisquer estruturas. No que diz respeito às 5, 6 e 7 a pouca informação existente no relatório, aliada ao reduzido número de materiais exumados, não nos permite acrescentar qualquer informação.

No que diz respeito ao conjunto de estruturas escavadas, apenas foi possível concluir que se tratava de um conjunto de paredes interligadas, sendo que as 1 e 5 acabariam formando o que Maria Maia (2004, p.3) descreveu como sendo um podium de pedra. Este conjunto de estruturas tinha uma altura conservada quase nivelada e era revestida, quase na totalidade, por uma argamassa de cal e areia. A autora põe a possibilidade de esta estrutura ter correspondido à base de uma parede de taipa, cujos vestígios se verificariam através dos revestimentos das partes exterior e interior da Parede 1, ponto discutido acima, assim como a 3ª camada identificada junto à Parede 5. Neste espaço foram ainda exumados derrubes de tegulae e imbrices, que levaram a crer que o edifício era coberto, na sua maioria (Maia, 2004, p.4). No entanto, estes derrubes não foram associados a qualquer camada descrita no relatório e apenas foi identificada uma etiqueta que lhes pudesse corresponder, já apresentada na descrição da Vala 3.

A interpretação sugerida por Maria Maia (2004, p.4) para este espaço consiste na existência de um edifício, na sua maioria coberto, com o interior decorado com um espelho de água de pouca profundidade e algumas colunas feitas em tijolos de quadrante. Seguindo esta linha de pensamento poderíamos sugerir que se tratasse de uma zona de peristilo, mas as valas 5, 6 e 7 não ajudaram a determinar essa questão. Visto que apenas se conservava um piso de circulação (?) em terra batida, o espaço poderia também corresponder a um pátio ou um átrio de uma domus. No relatório vemos também a sugestão de que este espaço poderia ter paredes revestidas, “… na parte inferior, de mosaico policromo e na superior, de frescos que utilizavam a sumptuosa cor vermelho

pompeiano” (Maia, 2004, p.4) e, no chão um grande mosaico. No entanto, tratam-se apenas de “reconstituições hipotéticas”, tal como é referido pela autora.

O NMI contabilizado ao longo deste estudo leva-nos a questionar se este se trataria unicamente de um contexto habitacional ou se teria também uma área ligada ao comércio, pois 370 indivíduos acabam por representar um universo demasiado grande para uma ocupação unicamente residencial. No entanto, a documentação existente não é muita, e ao ver os desenhos de campo e as fotografias, e tendo em conta o mau estado de conservação dos materiais provenientes do local torna-se impossível fazer uma interpretação segura do sítio.

Podemos afirmar, ainda assim, que os contextos se encontravam muito revolvidos, o que se pode atestar pelo elevado grau de fragmentação dos materiais, assim como pelas descrições feitas no relatório. Não podemos também esquecer que o local já tinha sido alvo de obras, das quais desconhecemos a data exata, mas que terão sido em inícios do séc. XX (Maia, 2004, p.3) para erguer o edifício que terá então sido adquirido e anexado à unidade hoteleira, assim como para a construção de um poço, que não sabemos ser ou não contemporâneo da anterior residência.

4.1. Considerações alusivas à cronologia do sítio

Posto isto é necessário fazer algumas considerações relativamente à datação do sítio escavado. Tendo em conta todas as limitações já apontadas, identificámos um primeiro nível de ocupação nas camadas 5 da Vala 1 e 4 da Vala 2, entre a primeira metade do séc. I d.C. e a segunda metade do II. Ou até mesmo na 5ª camada da Vala 2, cujas formas se situam no séc. I d.C., inícios de II. Com já referido, não temos quaisquer estruturas associadas a estas unidades.

No que diz respeito ao edifício, foi proposto que a sua construção tenha sido levada a cabo no “… decurso do Séc. III d.C., incluindo o respectivo derrube e destruição que, para além de envolverem um incêndio, assumiram um carácter violento” (Maia, 2004, p.4). Na Camada 4 da Vala 4 identificou-se o que parece ser um outro momento de ocupação, entre a primeira metade do séc. III d.C. e a segunda metade do IV. Tendo em conta os desenhos de campo (Figuras 18 e 19 – Anexo V), este momento parece-nos ser posterior à construção da Parede 1 e da Parede 3, mas não da Parede 2 que assenta sobre a UE 4, no entanto, esta situação verifica-se na área da Vala 3. Também na segunda camada do testemunho entre estas duas valas se identificou um novo nível, definido entre meados do séc. IV e primeira metade do séc. V.

No entanto, não existem referências à escavação de outras camadas, que nos permitam datar seguramente estas construções. Da mesma forma, não nos parece ser possível atribuir uma datação segura ao momento da destruição do edifício, pois a documentação existente leva-nos a pensar que as camadas de derrube, por exemplo, estavam extremamente revolvidas.

Em suma, após as análises cronotipológica e cronoestratigráfica da TS identificada, é-nos possível observar que o local tem a sua datação balizada, grosso modo, entre a primeira metade do séc. I d.C., anos 30/40 d.C. e primeiro terço/metade do séc. V., anos 450/460 d.C.

Destacam-se, no entanto, dois grandes picos de importações: um entre os meados do séc. I d. C. e inícios do II, e outro entre a segunda metade do séc. III e a primeira metade do séc. IV. Estes foram os níveis de ocupação identificados na estratigrafia e acabam por se corresponder com os períodos de maior desenvolvimento da cidade.

As quebras nas importações cerâmicas, entre meados do séc. II d.C. e inícios/meados do III, são consequência do ambiente de crise e insegurança existente no Sul da Península Ibérica, que poderá ter correspondido a um período de ataques por parte

dos mauri, que referimos supra, no ponto 2.4.1. Relativamente ao terminus da ocupação

desta área, este poderá relacionar-se com o facto de na segunda metade do séc. IV a chegada de navios ao porto de Ossonoba ter diminuído, tal como aconteceu noutras cidades do Ocidente (Bernardes, 2014, p.363).

Na recente tese de Sónia Bombico (2017), onde são estudados os ritmos económicos de produção e exportação de produtos alimentares produzidos na Lusitânia, é também feita referência a duas fases de produção e exportação que, de certa forma também concordam com os períodos aqui apontados. A primeira situa-se entre os séc. I d.C. e o II, e a segunda entre o séc. III d.C. e o V. A autora (2017, p.416) refere também que houve um período de descontinuidade da produção de preparados piscícolas, entre os finais do séc. II e os meados do séc. III.

5. Comparação do padrão de importações da terra sigillata da Rua Infante D.