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INTERVALO QT EM CÃES DA RAÇA DOBERMANN PINSCHER: QUAL MÉTODO DE CORREÇÃO PARA O INTERVALO QT É MAIS

APROPRIADO?

[QT interval in Dobermann Pinscher dogs: which method of correcting the QT interval is most appropriate?]

Matheus Matioli Mantovani1, Suzana Akemi Tsuruta2, Ruthnéa Aparecida Lázaro Muzzi3, Nayara

Hortêncio Manzan 4, Sirlei Manzan Hortêncio4, Leonardo Augusto Lopes Muzzi3, Maira Souza de

Oliveira3

1Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo 2Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade Federal de Goiânia 3Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade Federal de Lavras 4Médica Veterinária autônoma

RESUMO - O intervalo QT do eletrocardiograma (ECG) é influenciado pelas variações da frequência cardíaca

(FC), que pode levar a erros na interpretação de sua duração. Considerando que as alterações na duração do intervalo QT podem refletir anormalidades da repolarização ventricular que predispõem a ocorrência de arritmias, esta variável deve ser devidamente avaliada. O objetivo deste trabalho foi determinar qual método de correção do intervalo QT é mais adequado para os cães da raça Dobermann Pinscher. Doze cães da raça Dobermann Pinscher foram submetidos ao exame eletrocardiográfico, no qual foi determinado os intervalos QT a partir da derivação bipolar II e foram corrigidos os efeitos da FC por meio da aplicação de três fórmulas, envolvendo regressão quadrática cúbica ou linear. A média de valores do QT corrigido (QTc) obtidos utilizando as diversas fórmulas foram significativamente diferentes (ρ <0,05), enquanto os derivados da equação de Van de Water (QTcV) foi a mais consistente (r = 0,84), quando comparados a fórmula de Bazzet (r = 0,30 ) e Fredericia (r = 0,66 ). Devido à sua simplicidade e confiabilidade, o QTcV foi considerado o mais apropriado para ser utilizado para a correção do intervalo QT em cães da raça Dobermann Pinscher.

Palavras - chave: eletrocardiografia, frequência cardíaca, arritmia.

ABSTRACT - The electrocardiography (ECG) QT interval is influenced by fluctuations in heart rate (HR)

leading to misinterpretation of its length. Considering that alterations in QT interval length reflect abnormalities of the ventricular repolarization which predispose to occurrence of arrhythmias, this variable must be properly evaluated. The aim of this work is to determine which method of correcting the QT interval is the most appropriate for Dobermann Pinscher dogs. Twelve healthy adult Dobermann Pinscher were submitted to ECG examination and QT intervals were determined in triplicates from the bipolar limb II lead and corrected for the effects of HR through the application of three published formulae involving quadratic, cubic or linear regression. The mean corrected QT values (QTc) obtained using the diverse formulae were significantly different (ρ < 0.05), while those derived according to the equation of Van de Water (r = 0,84) were the most consistent as compared with Bazzet equation (r = 0,30) and Fredericia equation (r = 0,66). Owing to its simplicity and reliability, the QTcV was considered the most appropriate to be used for the correction of QT interval in Dobermann Pinscher dogs.

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INTRODUÇÃO

O intervalo QT, medida no eletrocardiograma (ECG), compreende a duração desde o início do complexo QRS até ao final da onda T do ciclo cardíaco, e representa a despolarização e

repolarização ventricular (Tilley, 1992).

Anormalidades no intervalo QT sugerem

hipertensão arterial sistêmica, propensão à taquicardia ventricular polimórfica e intoxicação digitálica (Garberoglio et al.,2007). O intervalo QT apresenta relação inversa com a FC e a sua medição deve ser corrigida, a fim de melhorar sua utilidade diagnóstica (Spence et al.,1998). Fórmulas para cálculo do intervalo QT corrigido (QTc) estão disponíveis desde 1920 (Bazett, 1920; Fridericia, 1920) e vários métodos alternativos têm sido estudados, principalmente em pesquisas de toxicologia (Spier et al., 2001; Dennis et al., 2002). Uma série de fórmulas de correção são utilizadas atualmente, a maioria dos quais foram derivados para análise de dados humanos e modelos animais para avaliação de farmácotoxicidade (Spence et al., 1998). O objetivo do presente estudo foi determinar o método de correção adequado do intervalo QT (QTc) obtido a partir de cães da raça Dobermann Pinscher hígidos.

MATERIAL E MÉTODOS

Foram realizados exames eletrocardiográficos de 12 cães adultos da raça Dobermann Pinscher,

clinicamente hígidos, segundo metodologia

estabelecida por Tilley (1992). As derivações I, II, III, aVR, aVL e aVF, e as derivações pré-cordiais: V4 (CV6LU), V2 (CV6LL); rV2 (CV5RL) e V10

foram registradas na velocidade de 50

mm/segundo em sensibilidade 1mV = 1 cm. Todos os traçados eletrocardiográficos utilizados estavam normais, sendo as ondas e intervalos identificados facilmente. A frequência cardíaca e o intervalo QT foram mensurados em três ciclos cardíacos consecutivos na derivação D II por um único observador. Para o cálculo da frequência cardíaca

foi considerado a duração entre os intervalos da onda R de dois ciclos cardíacos consecutivos. O intervalo QT foi corrigido (QTc) utilizando-se as seguintes equações: QTcB = QT*(RR)1/2 (Bazett, 1920), QTcF = QT*(RR)1/3 (Fridericia, 1920) e QTcV = QT + 0.087(1- RR) (Van de Water et al., 1989). Todas as variáveis foram submetidas a análise estatística descritiva e teste de normalidade (Shapiro-Wilk). Posteriormente, as médias foram comparadas por análise de variância (ANOVA) e pós-teste de Tukey, sendo adotado nível de significância de 5%. Foi realizado análise de correlação de Person entre as variáveis FC, intervalo QT e QTc. As análises estatísticas foram realizadas utilizando-se o software BioEstat 5.0.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os valores médios e desvio padrão da frequência cardíaca, intervalo QT e QTc são demonstrados na tabela 1. Houve correlação negativa entre a variável frequência cardíaca e intervalo QT (r = - 0,66; p = 0,02), semelhante ao descrito por SPENCE et al. (1998). Este achado ressalta a importância de se utilizar uma fórmula de correção para avaliar o intervalo QT. Foi observada forte correlação (r = 0,84, p <0,05) entre os intervalos QT e QTcV, enquanto que a correlação entre o QT e QTcF (r = 0,66, p <0,05) e entre o QT e QTcB (r = 0,30, p <0,05) mostraram-se moderada e fraca, respectivamente. Provavelmente isso ocorreu, pois os procedimentos para os cálculos do QTcB e QTcF foram originalmente formulada com base na fisiologia humana e empregam, respectivamente, as correções quadráticos e cúbicos da FC (DENNIS et al., 2002). No entanto, a FC de cães é muito mais elevada do que a encontrada nos seres humanos e, por conseguinte, os valores do intervalo QT corrigido fornecido por tais equações divergiram grandemente dos intervalos QT originais (Spier et al., 2001). Em contraste, a simples equação linear proposta por Van de Water et al. (1989) apresentou resultados mais consistentes para frequência cardíaca de cães. Tabela 1. Médias e desvio padrão da frequência cardíaca, intervalo QT e QTc obtidos do registro eletrocardiográfico de 12 cães da raça

Dobermann Pinscher adultos e hígidos

F C (bpm) Intervalo QT QTcB QTcF QTcV

105 ± 13 0,20 ± 0,01a 0,26 ± 0,01b 0,23 ± 0,01c 0,22 ± 0,009d

bpm: batimentos por minuto; QTcB: intervalo QT corrigido pela fórmula de Bazett (1920); QTcF: intervalo QT corrigido pela fórmula de Fridericia (1920); QTcV: intervalo QT corrigido pela fórmula de Van de Water et al. (1989). Diferentes letras indicam diferença estatística (ANOVA pós-teste de Tukey, p < 0,05).

CONCLUSÃO

Os resultados do presente estudo indicam que a equação proposta por Van de Water para corrigir o intervalo QT é o mais apropriado para cães da raça Dobermann Pinscher.

REFERÊNCIAS

Bazett, H. C. 1920. An analysis of the time-relations of electrocardiograms. Heart, v. 7, p. 353-367.

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Dennis, S.G.; Summerfield, N.J.; Boswood A. 2002. Investigation of QT-interval dispersion in the electrocardiogram of 81 dogs. Veterinary Record, v.151, p. 77- 82.

Fridericia, L. S. 1920. Die Systolendauer im Elektrokardiogramm bei normalen Menschen und bei Herzranken. Acta Med. Scand, v. 53, p. 469-486.

Garberoglio, L.; Giustetto, C.; Wolpert, C.; Gaita, F. 2007. Is acquired short QT due to digitalis intoxication responsible for malignant ventriculary arrhythmias? J. Electrocardiography, v. 40, p. 43-46.

Spence, S.; Soper, K.; Hoe, C.M.; Coleman, J. 1998. The heart rate-corrected QT interval of conscious beagle dogs: a formula based on analysis of covariance. Toxicol. Sci. p. 45, v. 247-258.

Spier, A.W.; Meurs, K.M.; Muir, W.W.; Lehmkuhl, L.B.; Hamlin, R. L. 2001. Correlation of QT dispersion with indices used to evaluate the severity of familiar ventricular arrhythmias in boxers. Am. Jour. Vet. Res. v. 62, p.1481-1485.

Tilley, L. P. 1992. Essentials of canine and feline

electrocardiography interpretation and treatment. 3rd ed.

Philadelphia: Lea & Febiger, 1992. 470 p.

Van De Water, A.; Verheyen, J.; Xhonneux, R.; Reneman, R. S. 1989. An improved method to correct the QT interval of the electrocardiogram for changes in heart rate. J. Pharmacol.

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PERSISTÊNCIA DO ARCO AÓRTICO DIREITO EM UM GATO