• Nenhum resultado encontrado

Capítulo II Intervenção Pedagógica: o percurso

4. Intervenção com as Famílias

A identidade primária de uma criança está intimamente ligada ao seu contexto familiar, sendo a família o primeiro e principal contexto socializante, o qual transmite à criança “uma grande variedade de conteúdos, hábitos, normas e estruturas racionais” (Diogo, 1998, p. 41). Com efeito, os pais são os principais responsáveis pela educação e cuidado das crianças. Estas refletem desde muito cedo as influências familiares, que se refletem também nos sentimentos, na forma como reagem a novas experiências e nos valores para com a escola.

Importa ter em conta que as crianças, desde que nascem, vivem numa família que representa o modelo de interação mais precoce que estabelecem com o mundo. A instituição pré-escolar, posteriormente, constitui-se num outro elemento importante para o desenvolvimento e socialização das crianças.

“Os principais contextos de vida da criança (casa e jardim-de-infância) não são compartimentos fechados, sendo que o que acontece num contexto tem implicações ao nível do que acontece no outro, movendo-se a criança entre os dois, de forma incessante” (Portugal & Laevers, 2010, p. 118). Tal facto torna imprescindível que os educadores encarem a família, e a comunicação que estabelecem com estas, como um canal decisivo para o crescimento das crianças, com a consciência de que, na educação da criança, tomam parte diversos agentes. Quanto mais equilíbrio se verificar nas relações que se estabelecem entre estes agentes, mais probabilidades de sucesso existirão no processo educativo da criança e, consequentemente, no seu futuro enquanto cidadão.

Os diferentes documentos oficiais salientam a importância de existir uma boa articulação entre a escola e a família. Sendo a educação pré-escolar, de acordo com as OCEPE (1997), complementar da ação educativa da família, deve “assegurar a articulação entre o estabelecimento educativo e as famílias, no sentido de encontrar, num determinado contexto social, as respostas mais adequadas para as crianças e famílias” (p. 22). Segundo este documento, existem diversos níveis de relação e meios dos profissionais de educação de infância estabelecerem um contacto positivo com a família das crianças. Estes podem efetivar-se através da troca diária de informações,

142

nomeadamente acerca do comportamento da criança durante o dia na instituição educativa, os seus progressos, a exposição dos seus trabalhos, entre outras informações relevantes.

O artigo 4º da LBSE também faz referência a esta relação, explicitando que “a educação pré-escolar, no seu aspeto formativo, é complementar ou supletiva da ação educativa da família, com a qual estabelece estreita cooperação”.

No artigo 2º da Lei-Quadro da Educação Pré-Escolar, enfatiza-se que “a educação pré-escolar é a primeira etapa da educação básica no processo de educação ao longo da vida, sendo complementar da ação educativa da família, com a qual deve estabelecer estreita cooperação”.

Ao longo do estágio, procurámos sempre promover um bom entendimento na relação com os pais das crianças, dialogando no momento da chegada à sala, de manhã, e, sempre que necessário, ao fim do dia, dependendo do horário dos dias de estágio. A atividade do pão-por-deus foi uma oportunidade dos pais participarem nas experiências educativas dos filhos, tendo sido solicitado que elaborassem em casa, com as crianças, o saco do pão-por-deus, utilizando materiais recicláveis e de desgaste. Os sacos foram expostos num placar da sala, de forma a valorizar a sua participação e mostrar às crianças o trabalho feito em conjunto com a família. Todas as famílias elaboraram um saco, tendo havido trabalhos muito criativos e bem conseguidos. Estes sacos foram depois utilizados na atividade desenvolvida em parceria com a comunidade.

Num outro momento, aquando da exploração da alimentação, foi sugerido aos pais de nacionalidade não portuguesa que pensassem num prato típico do seu país, que poderiam trazer para o grupo provar ou então para elaborá-lo na instituição, na presença das crianças. Apesar de nenhum pai se ter mostrado depois disponível para desenvolver esta experiência na sala, o facto de se abrir as portas da sala para as famílias demonstra uma recetividade que é fundamental para que estas se sintam à vontade e seguras quanto à escola. Na nossa opinião, uma vez que o ano letivo estava no início e era o primeiro ano para estes pais, poderão ter-se sentido constrangidos, porém, como dito anteriormente, é importante que se abram estes canais de comunicação.

Quanto ao outro momento de colaboração com as famílias das crianças, este deu-se no final do estágio com uma ação de sensibilização que contou com a presença do psicólogo Armando Correia. Esta ação, intitulada “Dos afetos às regras”, foi desenvolvida no dia 26 de novembro de 2013 pelas 18,30h, em conjunto com os pais

143

das crianças da sala azul, e contou com a participação de um grande número de pais, tanto da valência de pré-escolar como do 1º ciclo e restante comunidade educativa.

Esta ação de sensibilização partiu de diálogos realizados a par com a estagiária da outra sala de pré-escolar, onde se denotou que, de facto, uma das maiores fragilidades das crianças de ambas as salas era o cumprimento das regras. Assim, propusemos às educadoras cooperantes das salas em questão a realização do encontro, de forma a dar um contributo especializado e significativo nesta área que mobiliza o interesse de muitas famílias e profissionais de educação. A proposta foi bem aceite pela equipa pedagógica ao que se passou, então, para os passos seguintes, elaborando um convite dirigido depois aos pais e afixando na instituição de forma a chamar a atenção de toda a comunidade.

A ação de sensibilização ultrapassou as expetativas devido ao orador ser deveras cativante e eloquente, o que tornou o espaço muito significativo e proporcionador de um diálogo extremamente rico.

Documentos relacionados