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2. Enquadramento teórico

2.5. Intervenção na paralisia cerebral

2.5.4. intervenção educativa

Na intervenção educativa é indispensável conhecer a definição, caracterização e fatores associados que podem estar presentes nas crianças com PC, já atrás descritos e as implicações diretas nas competências funcionais e na aprendizagem das crianças com estas problemáticas. 2 www.appc-faro.org.pt/atividades 3 http://www.unifesp.br/dneuro/neurociencias/vol12_1/paralisia_cerebral.htm

Vários autores, como Rett e Seidler (1996), Muñoz et al. (1997), Andrada (1999), Ferreira, Ponte e Azevedo (1999) Nielsen (1999) e Jarrett (2007), consideram importante ter em conta que nem todas as crianças com PC apresentam dificuldades ao nível intelectual e que a intervenção com estas crianças e suas famílias deve ser iniciada o mais precocemente possível. Andradaconsidera que estas crianças experimentam:

Dificuldades de aprendizagem que são devidas a disfunções no neurodesenvolvimento sendo importante uma avaliação e intervenção multidisciplinar (…) existem, nestes casos, dificuldades na aprendizagem da leitura escrita e cálculo que requerem um apoio educativo individualizado e grande compreensão por parte dos educadores e professores. Na idade pré- escolar é também importante (…) um apoio específico com técnicas de integração sensorial que podem melhorar a organização percetiva e motora e também o treino de grafismo e apoio pedagógico específico (1999, p.7).

As crianças com PC beneficiam de uma intervenção educativa precoce no sentido de promover o seu desenvolvimento e potenciar as capacidades da criança/família. Este tipo de intervenção nunca deve ser desarticulada das restantes e só tem sentido num contexto multidisciplinar/transdisciplinar. A intervenção precoce foi enquadrada legalmente no Dec. Lei nº 891/99 de 19 de outubro, onde se refere que a intervenção precoce se destina a:

Crianças até aos 6 anos de idade, especialmente dos 0 aos 3 que apresentem deficiência ou risco de atraso grave de desenvolvimento (…) aquele que por fatores de risco pré, péri ou pós natal ou ainda por razões que limitem a capacidade de tirar partido de experiências importantes de aprendizagem (p.15566).

Mais recentemente o Dec. Lei nº 281/2009 de 6 de outubro cria o Sistema Nacional de Intervenção Precoce na Infância (SNIPI) que é “desenvolvido através da atuação coordenada dos Ministérios do Trabalho e da Solidariedade Social, da Saúde e da Educação, com envolvimento das famílias e da comunidade” (p.7298).

Para responder de forma adequada às necessidades e características destas crianças e facilitar o seu desenvolvimento, Correia e Serrano (1998) afirmam que todo o apoio deve ser dado centrado na família e nos seus contextos de vida.

Segundo Muñoz et al. (1997) e Nielsen (1999), a inclusão das crianças com PC é favorecida pela existência de condições de acessibilidade e produtos de apoio específicos (p. ex. computadores, software adaptado, uso de comunicação

aumentativa/alternativa; digitalizadores de fala, vários tipos de adaptações, cadeiras de rodas), sendo necessário, na maioria dos casos, adaptação de materiais e currículos. O objetivo é a maximização da participação e da maior autonomia possível em todas as atividades na sua comunidade.

As crianças com PC pelas características que têm sido expostas ao longo do trabalho integram-se nas necessidades educativas especiais de caráter prolongado definidas no pelo Dec. Lei nº 3/2008 de 7 de janeiro que caracteriza as crianças com NEE como:

Alunos com limitações significativas ao nível da actividade e da participação, num ou vários domínios de vida, decorrentes de alterações funcionais e estruturais, de carácter permanente, resultando em dificuldades continuadas ao nível da comunicação, da aprendizagem, da mobilidade, da autonomia, do relacionamento interpessoal e da participação social (p. 155).

Ao definirmos um currículo para as crianças com PC, de acordo com Jarrett (2007) será necessário abandonar a ideia de seguir, de forma ordenada, a sequência de desenvolvimento habitual de uma criança sem PC.

Pelas suas dificuldades motoras a criança com PC, pode ter que usar determinadas estratégias que não se enquadram na sua idade para conseguir, de forma eficaz, aprender determinados conceitos e desenvolver o seu raciocínio (p. ex. uso de um brinquedo adaptado; software adaptado no computador para perceber a causa efeito).

Pode não conseguir, construir uma torre, pegar em peças para fazer um puzzle, mas entender na mesma o conceito que está subjacente à sua execução. É importante, pois, definir intervenções interativas, funcionais das quais também fazem parte as diversas etapas de desenvolvimento (sentar, gatinhar, fazer torres com blocos), mas embutidas em situações do dia-a-dia, nos seus contextos naturais e significativas para a crianças e suas famílias.

A sequência de atividades, sua repetição consistente, inserida nas rotinas, proporciona aprendizagens significativas. Fornecer estimulação, ajuda verbal, demonstrativa, visual e física que encoraje a criança de forma gradual a desenvolver a sua capacidade para estar com os adultos, com outras crianças, com os objetos, trabalhando e treinando a utilização de produtos de apoio específicos, criando competências potenciadoras de uma maior autonomia para uma Inclusão com sucesso.

 A intervenção educativa em articulação com as outras vertentes deve proporcionar competências sensoriais, motoras, percetivas, cognitivas, maior

autonomia na comunicação, afetividade e nas aprendizagens. Segundo Ferreira et al. (1999), a intervenção deve atempadamente ser:

Bem planificada, visando as necessidades específicas da criança, e o melhor aproveitamento do contexto material e relacional (…) Basear-se-á na promoção do desenvolvimento global da criança, na prevenção de comportamentos incompatíveis com o desenvolvimento, e na facilitação de uma interacção rica e gratificante para a criança e para a família(p.85).

Correia afirma ainda que toda a intervenção com as crianças/jovens com PC deve ter por base a melhoria da qualidade de vida e a melhor e maior autonomia possível, sendo que:

A filosofia adjacente a uma escola inclusiva prende-se com um sentimento de pertença, onde a criança é aceite e apoiada pelos seus pares e pelos adultos que a rodeiam. A diversidade é assim, valorizada, tendo como pilares, sentimentos de partilha, participação e amizade (2003, p.30).