• Nenhum resultado encontrado

Intervenção Formativa à Equipa de Enfermagem

No documento relatório estágio tânia franco (páginas 45-48)

2. PERCURSO DE ATIVIDADES E APRENDIZAGENS SIGNIFICATIVAS

2.2. Construção de um Programa de Intervenção de Enfermagem no Processo de Luto

2.2.5. Intervenção Formativa à Equipa de Enfermagem

Relativamente à equipa de enfermagem da Unidade, a estratégia utilizada para auscultar as necessidades formativas da equipa correspondeu à aplicação de um questionário simples composto por três questões (Apêndice 12) ancorado na metodologia de recolha de dados

Matrix Assessment (Bielak, 2003), através da rede social Facebook® com a criação de um "grupo secreto" que integrou todos os elementos da equipa de enfermagem da Unidade. De acordo com Bielak (2003), esta técnica de recolha de dados permite a identificação das necessidades de aprendizagem de acordo com os interesses dos participantes e o seu envolvimento no planeamento da formação, aspetos que ajudam a melhorar o seu desempenho e a identificar as necessidades de mudança, promovendo também um sentimento de identidade e de coesão no grupo. Os resultados revelaram uma adesão da equipa de 79%, o que parece corresponder a uma percentagem significativa da mesma. A análise das respostas permitiu identificar um conjunto de resultados, posteriormente agrupados de acordo com o seu significado, sendo que as duas primeiras questões estavam direcionadas para as principais dificuldades sentidas na prestação de cuidados à criança/ao jovem em fim de vida (primeira questão) e para as principais necessidades formativas (segunda questão). Os resultados relativos à primeira questão destacaram as áreas da comunicação, do controlo sintomático, da gestão de sentimentos dos enfermeiros, de condicionantes inerentes à equipa multidisciplinar assim como os parcos conhecimentos em CPP. No que se refere à segunda questão, observou-

51

se uma significativa consonância entre as necessidades de formação dos enfermeiros e as principais dificuldades na prestação de cuidados a estas crianças/estes jovens e suas famílias, resultantes da primeira questão, enfatizando-se as áreas da comunicação, do controlo sintomático, da intervenção no luto, da gestão de sentimentos dos enfermeiros e dos CPP. A terceira e última questão direcionou-se para as principais dificuldades sentidas na realização da visita do luto. Atendendo a que somente 36% dos elementos da equipa de enfermagem já tinha tido, pelo menos, uma experiência em visita do luto, apenas se obtiveram respostas de 29% da equipa de enfermagem. Os resultados destacam as principais dificuldades decorrentes desta experiência, nomeadamente a comunicação, a ausência de linhas orientadoras para a realização da visita do luto, a ausência de recursos de encaminhamento, a gestão de sentimentos do próprio enfermeiro assim como a ausência de feedback da família relativamente ao impacto desta intervenção. Considera-se que a utilização desta estratégia permitiu não só identificar as principais dificuldades e necessidades formativas sentidas pela equipa de enfermagem como alavancou o início de um processo de reflexão pessoal de cada elemento relativamente às principais capacidades e limitações na prestação de cuidados de enfermagem à criança/ao jovem em fim de vida e sua família em processo de luto.

A utilização da passagem de turno como espaço para promover a discussão e reflexão sobre a problemática do luto parental foi uma das estratégias utilizadas, no entanto, a necessidade de partilha de experiências, reconhecida pela maioria dos elementos da equipa, foi muitas vezes vencida pela obrigatoriedade de cumprir os trinta minutos previstos para a passagem de turno e pelo cansaço, desgaste e desmotivação generalizados. Assim, ainda no intuito de promover a reflexão sobre o tema e na busca de outras estratégias formativas mais adequadas ao contexto da Unidade, foi extremamente interessante a descoberta do potencial pedagógico da rede social Facebook®, tendo-se assumido a gestão e dinamização do "grupo secreto" previamente

criado com o objetivo de identificar as necessidades de formação à equipa de enfermagem. Esta estratégia inovadora revelou-se muito útil, tendo possibilitado a construção de um ambiente virtual promotor do pensamento crítico, da reflexão e da partilha de saberes, observando-se uma adesão bastante significativa dos elementos da equipa através da publicação de diversos conteúdos/documentos/artigos muito pertinentes e atualizados sobre o tema, mantendo-se um espaço ativo e dinâmico até ao momento.

Mas, embora este espaço tenha constituído um contributo significativo na abordagem do tema do luto parental, considerou-se que deveria ser complementado com a realização de uma sessão formativa (Apêndice 13), concedendo à problemática em causa uma maior e merecida

52

atenção e profundidade. Na sessão estiveram presentes 12 elementos (8 enfermeiros da equipa, 2 educadoras e 2 fisioterapeutas), tendo sido traçados os seguintes objetivos: contextualizar a problemática e o Projeto de Estágio, apresentar os resultados do questionário realizado à equipa de enfermagem, descrever as principais intervenções de enfermagem integradas no Programa de Intervenção de Enfermagem no Processo de Luto Parental e promover a reflexão sobre a intervenção do enfermeiro neste âmbito. Torna-se relevante referir que os participantes verbalizaram a importância de criarem outras oportunidades formativas semelhantes, para aprofundamento do tema e proporcionar o espaço necessário para partilha de experiências, dificuldades e sentimentos. Efetivamente, recordando os resultados do questionário, a gestão de sentimentos foi uma dimensão transversal às três questões vislumbrando-se que o enfermeiro tem necessidade de espaços de diálogo e de reflexão que lhes permitam questionar e analisar a sua prática profissional. Neste contexto, de acordo com a Sociedade Francesa de Acompanhamento e de Cuidados Paliativos (SFAP) (2000), a supervisão clínica em enfermagem assume uma relevância muito significativa na medida em que facilita a tomada de consciência dos comportamentos e das formas habituais de comunicação conduzindo o enfermeiro ao desenvolvimento de novas competências e à melhoria das suas intervenções, constituindo “uma ajuda preciosa para o reforço de uma atitude profissional, para a partilha de uma carga emocional ou das interrogações colocadas numa situação de cuidados complexos” (p.66). Avaliando a sessão formativa, considera-se que a metodologia foi adequada e que foram alcançados os objetivos delineados, pelo facto dos participantes demonstrarem interesse durante a sessão, por se ter criado um espaço de debate e partilha de experiências e pela satisfação demonstrada pelos participantes nos contributos que a sessão proporcionou. Importa sublinhar que, a curto prazo, seria pertinente alargar e adaptar a formação aos restantes elementos da equipa multidisciplinar nomeadamente a equipa médica e a equipa de assistentes operacionais, na medida em que a complexidade do sofrimento e a combinação de fatores físicos, psicológicos e existenciais na fase final de vida obrigam à integração de uma abordagem multidisciplinar e intersectorial (Mendes, Silva & Santos, 2012). A organização de um grupo de discussão poderá também ser uma estratégia útil permitindo que os diferentes membros da equipa exponham as suas dificuldades relativamente a uma situação difícil de gerir e proporcionando um tempo e um espaço para se distanciar e olhar as dificuldades sob uma nova perspetiva (SFAP, 2000). As estratégias formativas utilizadas revelaram que a equipa de enfermagem está consciente das suas dificuldades e da necessidade de desenvolver competências nesta área,

53

demonstrando-se recetiva às iniciativas formativas implementadas sublinhando-se que, dos 16 elementos que constituem a equipa de enfermagem, 8 elementos realizaram já formação na área dos CP, CPP e intervenção no processo do luto. No entanto, procurando-se alcançar todos os elementos da equipa de enfermagem, foram inseridos no plano de formação do serviço os principais conteúdos programáticos identificados no questionário realizado e elaborado um cronograma de formação dirigido à equipa com o objetivo, não só de divulgar o Programa, mas também de orientar os enfermeiros para a sua operacionalização.

2.3. Prestação de cuidados especializados na área da vigilância e promoção da saúde da

No documento relatório estágio tânia franco (páginas 45-48)