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Intervenção não invasiva

Como já mencionado anteriormente, as intervenções corporais não invasivas são aquelas em que não há penetração no organismo do sujeito.

Portanto, o direito à integridade física que a doutrina brasileira menciona incorpora dois tipos de prova que implicam a intervenção corporal sobre o suspeito ou réu, para que sejam realizadas as provas invasivas e as provas não invasivas.

Ambos os tipos de prova necessitam de intervir no organismo do indivíduo e, por isso, dependem da colaboração deste.

Em contrapartida, as provas não invasivas são aquelas para as quais, para serem produzidas, não é preciso que haja penetração no corpo humano do acusado. Muito embora a produção da prova também implique uma intervenção corporal, esta não é invasiva, ou seja, provém do corpo humano, mas não há uma “invasão” dele.

Entre as principais intervenções não invasivas estão os exames fecais, as identificações datiloscópicas, a radiografia, as buscas pessoais e ainda os testes de ADN realizados através da análise de fios de cabelo, pelos ou unhas, sem a necessidade de penetrar no organismo do suspeito.48

É relevante para o processo penal a utilização de métodos de obtenção de provas não invasivas, pois assim se preserva o princípio constitucional da dignidade da pessoa humana, e os direitos — à integridade, à privacidade e à autodeterminação — do sujeito envolvido no processo. Além da vantagem citada de não ser necessário penetrar o corpo do indivíduo, caso seja necessário realizar um teste ao ADN, o material genético é

47 Marcelo Schirmer Albuquerque, A Garantia de Não Autoincriminação: Extensão e Limites, del Rey,

Belo Horizonte, 2008, p. 178. Disponível em:

https://books.google.com.br/books?id=8fqp7vtcynkC&pg=PA61&lpg=PA61&dq=intervenção+corporal+ direito&source=bl&ots=_GQbcifYdL&sig=qBc2hZoNnAu9nR_W6Kh03-BtFE4&hl=pt-

BR&sa=X&ved=0CE8Q6AEwCDgKahUKEwje_dmBo9jHAhXMEJAKHXNiDxk#v=onepage&q=inter venção corporal=false (acedido em 02/09/2015).

22 obtido mais facilmente de forma não invasiva, através da análise de fios de cabelo ou até de pontas de cigarro.49

A intervenção corporal não invasiva é uma forma de investigação efetuada no corpo das pessoas, com ou sem o seu consentimento, e tem o propósito de encontrar determinadas circunstâncias fácticas que tenham relevância processual. Esta investigação não é restrita apenas aos indivíduos acusados da prática de delitos, podendo também ser executada em testemunhas e em vítimas. Para a produção destas provas, não é necessário submeter o indivíduo a procedimentos que penetrem o seu organismo por via do uso de um qualquer tipo de instrumento ou de substância.50

Num momento posterior, será dada a devida atenção à questão do consentimento ou não em relação às intervenções, seja através da vítima, de terceiros, de testemunhas ou de acusado/suspeito/arguido.

Nos dizeres de CARLA CASTRO, “as provas não-invasivas não violam a intimidade e a integridade física, pois são realizadas com material descartado pelo indivíduo. De igual forma, a pessoa não está sendo obrigada a produzir provas contra si mesma, já que em nada contribui para o exame. Sua vontade não influi em sua realização; ao contrário, a perícia é feita sem sua colaboração”.51

Hernández entende a intervenção corporal como a realização de atos de investigação ou de obtenção de provas no corpo do próprio acusado.52

Conforme o entendimento de QUEIJO, a intervenção pressupõe penetração, no organismo humano, por instrumentos ou substâncias, em cavidades naturais ou não.53

Na legislação penal não há conjetura expressa a respeito do dever de o acusado colaborar em intervenções corporais que visam a busca de provas, não existindo assim qualquer aprovação de norma jurídica aplicável aos casos em que ele se recuse a colaborar. Nos planos doutrinário e jurisprudencial, está predominantemente determinado que a extração abusiva de sangue ou de qualquer parte não removível do

49 Bárbara Alves Soares, “Provas Ilícitas e o Exame de DNA como Prova no Processo Penal”,

Monografia (Graduação em Direito) – Universidade de Brasília, Brasília, 2013, p. 88.

50 Lucas Arbage, As Intervenções Corporais e o Princípio da Não Autoincriminação (nemo tenetur de

detegere), Jusbrasil, 2015. Disponível em: http://lucasarbage.jusbrasil.com.br/artigos/150985203/as- intervencoes-corporais-e-o-principio-da-nao-autoincriminacao-nemo-tenetur-de-detegere (acedido em 26/02/2016).

51 Carla Rodrigues Araújo de Castro, Prova Científica: Exame Pericial do DNA, Ed. Lumen Juris, Rio

de Janeiro, 2007, p. 101.

52 Ángel Gil Hernández, Intervenciones Corporales…, p. 37.

53 Maria Elizabeth Queijo, O Direito de Não Produzir Prova Contra Si Mesmo: O princípio nemo

23 corpo, como, por exemplo, um fio de cabelo, para realizar exame de ADN, viola o artigo 8.º, que determina que ninguém é obrigado a produzir prova contra si mesmo.54

Como exemplos de intervenção não invasiva temos os exames de ADN a partir de fios de cabelo e de pelos, a identificação datiloscópica, a radiografia usada em buscas pessoais, o reconhecimento pessoal, a acareação, o exame grafotécnico, a reconstrução do facto, o “balão” e a prova documental.55

A impressão datiloscópica é o processo que identifica as pessoas fisicamente por intermédio da impressão digital, na qual é reproduzida uma réplica invertida do desenho da digital. Cada ser humano tem um desenho digital diferente, e, de facto, é impossível que haja duas pessoas com impressões digitais iguais. Desta forma, usa-se este procedimento para diferenciar um ser humano de outro.Esta identificação é feita através das papilas dérmicas, que se localizam nas palmas das mãos e nos pés.56

Esta técnica de identificação é muito confiável, pratica e possui baixo custo. O Instituto Nacional de Identificação foi criado no Brasil em 1930, com o intuito de emitir a “carteira de identidade” a todos os brasileiros, para evitar fraudes na identificação.57

A genética forense, que é uma das áreas da medicina legal, tem a função de analisar a genética da diversidade humana para resolver alguns problemas jurídicos que necessitem desta função. Nos laboratórios de genética forense são comuns as investigações biológicas para aferição da paternidade e as relativas à criminalística biológica. Através de uma investigação de material genético como as manchas de sangue, o esperma, a urina, a saliva ou os pelos, são feitos testes de ADN (ou DNA), para daqui resultar um perfil genético.58