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3.1 Conceitos e Definições

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acordo com a altura em que surgiram e com as opiniões de quem as criou.

Para Defontaine a psicomotricidade é como “um caminho, é o desejo de fazer, de querer fazer, o saber fazer e o poder fazer”, afirmando ainda que para entender a psicomotricidade é necessário aceitar que há uma triangulação entre o corpo, o espaço e o tempo (Lussac, 2008).

Ajuriaguerra defende que a psicomotricidade é a “ciência da Saúde e da Educação” que pretende que a representação e expressão motora sejam adquiridas a partir da “utilização psíquica e mental do individuo” (Lussac, 2008).

A Psicomotricidade é, segundo Vitor da Fonseca, o “campo transdisciplinar que estuda e investiga as relações e as influências, recíprocas e sistémicas, entre o psiquismo e a motricidade”. O psiquismo abrange todo o funcionamento mental (emoções, sensações, medos e afetos), e abrange os processos cognitivos, (funções de processamento, atenção, controlo e regulação, entre outros). Já a motricidade, é para este autor o “conjunto de expressões mentais e corporais”, sendo que estas envolvem as funções posturais, tónicas, somatognosias e práxicas (Fonseca, 2010b).

Segundo Fonseca (2010b), a psicomotricidade tem uma “conceção triárquica”, com uma dimensão multicomponencial, multiexperiencial e outra multicontextual. Relativamente à multicomponencialidade, refere-se à integração de diversas áreas como as ciências humanas, e biológicas, a filosofia, antropologia, psicologia, psiquiatria, entre muitas outras. No que se refere à componente multiexperiencial, há uma tentativa de estudar e pesquisar sobre a implicação da psicomotricidade no desenvolvimento humano. Por fim, a multicontextualidade é referente à projeção do conhecimento nos diversos contextos, tentando observar e integrar a atividade humana.

Segundo Martins (2001), a psicomotricidade consiste numa “prática de mediação corporal que permite à criança reencontrar o prazer sensório-motor através do movimento e da regulação tónica, possibilitando depois a apropriação dos processos simbólicos, com forte acentuação na componente lúdica”.

A psicomotricidade é então uma área transdisciplinar que estuda e investiga as relações que se estabelecem entre o corpo e o psiquismo (Fonseca, 2010b), e entre a realidade e a imaginação (Fonseca e Martins, 2001), encarando deste modo as atividades motora e psicológica como indissociáveis (Fonseca, 2010a), estando a dimensão psicomotora sempre associada a uma dimensão simbólica, lúdica e relacional

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(Fonseca e Martins, 2001). A psicomotricidade encontra-se dividida em três vertentes: preventiva, educativa e terapêutica/reeducativa (Vieira, Batista e Lapierre, 2005; Mello, 1989).

Por sua vez, a Intervenção Psicomotora pode ser definida como um processo de facilitação que permite uma reeducação ou intervenção através da mediação expressiva e corporal, onde o terapeuta tem como função investigar e compensar os comportamentos motores desadequados, os problemas de desenvolvimento ou de maturação tanto a nível psicomotor, como de comportamento, psicoafectivo ou de aprendizagem (Martins, 2001), mantendo sempre uma visão holística do individuo, na qual o corpo e a mente se encontram diretamente relacionados (Fonseca, 2001). Assim, como uma visão biopsicossocial, consideram-se importantes para o desenvolvimento todos os fatores que influenciam o ser humano, sejam eles biológicos, psicológicos ou sociais (Fonseca, 2004).

A Intervenção Psicomotora engloba parâmetros reabilitacionais, educacionais reeducacionais, e ainda terapêuticos, sendo sempre mediada pelo corpo, pelo jogo, gesto, ritmo, e pela motricidade (Fonseca, 2010b).

A prática psicomotora destina-se a toda a população de qualquer faixa etária, incluindo diversas metodologias como técnicas de relaxação e consciencialização corporal (Maximiano, 2004), atividades lúdicas (Caron, 2010; Martins, 2001), atividades motoras adaptadas (França e Zuchetto, 2004; Teixeira-Arroyo e Oliveira, 2007), terapias expressivas (Latterza, 2010; Neves, 2014), mediação por animais (Prianti e Cabanas, 2007), entre outras.

Segundo Fonseca (2010a), na base da observação e intervenção psicomotora encontram-se sete fatores psicomotores, sendo eles a tonicidade, equilibração, lateralização, noção do corpo, estruturação espaciotemporal, praxia global e praxia fina, sendo estes fatores baseados nas três unidades de Lúria.

Independentemente da experiência, na intervenção psicomotora o objetivo é sempre um espaço de prazer sensório motor, de representações e jogo simbólico, visando a realização da criança enquanto pessoa (Martins, 2001).

3.2 O papel do Psicomotricista

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não apenas ajudando na criação e execução de tarefas, mas também interagindo com a criança de modo intencional, estimulando assim a criatividade, organização e planeamento motor. Ao ajudar nestes fatores interfere consequentemente no aumento da autoconfiança e da segurança afetiva da criança (Fonseca, 2005; Fonseca, 2006).

Martins (2001) defende que o corpo é o principal instrumento de trabalho do psicomotricista, assim como do sujeito com quem está a trabalhar, uma vez que é através dele que se expressam, sendo fundamental o domínio do próprio corpo.

O Psicomotricista deve considerar que num individuo, as potencialidades motoras, emocionais e mentais interagem constantemente, expressando-se sempre através do corpo (Martins, 2001).

Segundo Martins (2001), este terapeuta deve investigar e compensar não apenas os comportamentos motores desadequados, mas também em casos de problemas de desenvolvimento ou de maturação, seja ela de âmbito psicomotor, comportamental, psicoafectivo ou de aprendizagem.

O psicomotricista deve adotar uma postura que permita que a criança se liberte, conseguindo manifestar as suas emoções e interesses. Este terapeuta deve ainda ajudar a criança em tudo o que ela sentir dificuldade e insegurança em realizar sozinha, tendo um papel de mediador (Falkenbach, nd).

Deve ser um suporte de comunicação, não avaliando o rendimento, mas sim os comportamentos da criança, valorizando não apenas os êxitos, mas também a capacidade afetiva e relacional da criança (Martins, 2001).

O psicomotricista deve ser capaz de intervir em simultâneo nas funções afetivas e emocionais da criança, recorrendo para tal a estratégias de intencionalidade, significação, segurança e conforto, reciprocidade, transcendência, novidade e complexidade, sentimento de competência, transcendência, etc. (Fonseca, 2001).

Sem descurar do que foi referido anteriormente, no âmbito da IP, o psicomotricista deve integrar a equipa transdisciplinar, constituída por Técnicos de diversas áreas, com o objetivo de em conjunto com a família, promover o desenvolvimento da criança (Simões, 2003).

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3.3 A pertinência da Intervenção Psicomotora no Âmbito da

Intervenção Precoce

A Psicomotricidade é utilizada todas as suas vertentes e em diferentes contextos, tendo sempre como objetivo que a criança alcance o nível mais elevado de aprendizagem e de desenvolvimento (Fonseca, 2001), à semelhança do que é pretendido no âmbito da IP.

A Intervenção Psicomotora quando direcionada para as crianças, deve basear- se na espontaneidade e no jogo simbólico, possibilitando a simbolização e representação de vivências (Franc, 2002).

O principal objetivo da Intervenção Psicomotora é desenvolver o potencial dos indivíduos através de atividades que propiciem a aprendizagem. Assim, o individuo vivencia um processo de consciencialização corporal, assim como um desenvolvimento das competências afetivas e cognitivas, recorrendo a experiências lúdicas que permitem não apenas a socialização, como o desenvolvimento intelectual e a criatividade (Cavalari e Garcia, 2010).

Nas sessões de Intervenção Psicomotora deve privilegiar-se a vivência do jogo, prazer, desejo, regulação tónica e simbolização, envolvendo as áreas emocional, afetiva, corporal, psicomotora, linguística, cognitiva, sócio-motora e cultural, que conjuntamente ajudam a estruturar a consciência da criança, como individuo em desenvolvimento (Onofre, 2004).

Na IP defende-se que quanto mais precocemente se iniciar uma intervenção, mais eficazes serão os resultados dessa mesma intervenção (Simões, 2003). Neste sentido, a Intervenção Psicomotora pode ser utilizada como uma das modalidades de apoio de que a IP tem ao seu dispor, visando sempre a promoção global do desenvolvimento da criança.

Segundo Gras (2004), a Intervenção Psicomotora é considerada fundamental no âmbito da IP, uma vez que a IP atua em diversas dimensões do desenvolvimento, como a dimensão motora, emocional, comportamental, educativa e familiar, tal como acontece no âmbito da Intervenção Psicomotora, que tem uma visão da atividade humana com um fundo psicomotor.

Tendo em conta a informação anteriormente mencionada, é possível concluir que uma equipa de IP deve ser composta por elementos de diversas áreas de intervenção,

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podendo assim atender à diversidade de famílias e de problemas que a família e a criança apresentam.

Assim, tendo em conta a visão holística sobre o ser humano que é abordada pela psicomotricidade, assim como o trabalho desenvolvido pelo psicomotricista com vista ao desenvolvimento psicomotor, são trabalhadas novas aprendizagens que serão benéficas não apenas no momento presente, mas também para o futuro da criança, nomeadamente para as competências académicas, como para a construção da personalidade da criança, identidade, autonomia e vinculação.

Estas bases da Psicomotricidade vão de encontro aos princípios da IP, sendo o psicomotricista um elemento importante numa equipa de IP, uma vez que avalia e intervém não apenas com a criança, mas também com a sua família, tal como é sugerido no modelo de IP centrado na família, potenciando sempre o desenvolvimento da criança.

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