• Nenhum resultado encontrado

Com frequência aborda-se o tema Problemas de Comportamento (PC). Na atualidade este é um tema preocupante não apenas para a família, como para os professores e educadores, e para todas as pessoas que lidam com estas crianças, sendo aprofundado seguidamente. Estas dificuldades não são consideradas como uma categoria de diagnóstico, mas sim como um conjunto de características que definem o comportamento destas crianças.

5.1. Definição

Os PC podem ser definidos como a ausência ou o excesso de comportamentos, que levam a uma relação desadequada com os pares e com os adultos, sendo estes socialmente inadequados (Silva, 2000).

Webster-Stratton (1997) considera que os PC podem ser de dois tipos: inicio precoce ou inicio tardio. O primeiro caso, refere-se a comportamentos considerados agressivos e opositivos que se desenvolvem no período pré-escolar, podendo na adolescência evoluir para situações mais preocupantes, se não forem devidamente controlados na sua fase inicial. No caso de inicio tardio, estes tipos de comportamentos desenvolvem-se já no período da adolescência.

Estudos comprovam a relação entre os PC das crianças, com as características do seu ambiente familiar e as práticas educativas parentais, nomeadamente no caso de famílias com estilos de educação demasiado severos ou inconsistentes, onde se verifique um escasso envolvimento positivo entre os pais e as crianças, e uma monitorização e supervisão desadequados, as crianças tendem a desenvolver problemas comportamentais (Gallo e Williams, 2005; Webster-Stratton, 1997).

Os comportamentos que são considerados problemáticos podem ser divididos em problemas internalizados, e problemas externalizados. Os comportamentos internalizados são manifestados por tristeza, insegurança e medos frequentemente, timidez, e preocupações excessivas (Achenbach e Edelbrock, 1979; Campbell, 1995). Por sua vez, como comportamentos externalizados podem ser entendidos os

 33 

comportamentos agressivos e delinquentes, a desobediência, e hiperatividade, desatenção e uma tendência evidente para transgredir regras (Achenbach e Edelbrock, 1979; Campbell, 1995; Trickett e Kuczynski, 1986).

É de salientar que na infância, comportamentos como testar limites, procura de autonomia e não cumprimento de regras são considerados típicos e adequados, uma vez que as crianças começam a desenvolver a sua personalidade, procurando independência e testando os limites impostos pelos adultos (Campbell, 1990).

5.2. Etiologia

Existem estudos que comprovam e relação entre a forma como os pais desempenham o seu papel e o surgimento de PC nos filhos (Borsa, Souza e Bandeira, 2011; Campbell, 1990; Webster-Stratton, 1997). O reportório de comportamentos parentais influencia maioritariamente problemas de externalização por parte dos filhos, não sendo propício apenas ao aparecimento destes comportamentos, mas também à sua manutenção (Campbell, 1990). Comportamentos dos pais que demonstrem interesse e entusiasmo pelos filhos, assim como capacidade de resposta adequada à necessidade da criança e o estabelecimento de regras e limites parecem influenciar positivamente a relação entre os pais e os filhos, influenciando consequentemente ao não surgimento de PC (Borsa, Souza e Bandeira, 2011).

Outros fatores que podem interferir no aparecimento e na manutenção de PC são, por exemplo, as condições socioeconómicas, fatores genéticos (Assis, Avinci e Oliveira, 2009), fatores individuais (Luiz, Gorayeb e Liberatore, 2010), e características da família, nomeadamente o número de elementos que a constituem, práticas parentais severas ou psicopatologia dos progenitores (Ferriolli, Marturano e Puntel, 2007).

5.3. Diagnóstico e Incidência

Para o estabelecimento de um diagnóstico, é necessário ter em conta algumas variáveis essenciais: intensidade, frequência e evidência dos comportamentos, idade com que estes surgem, e comorbildade com outra perturbação do desenvolvimento (Benavente, 2001), uma vez que este tipo de comportamentos nem sempre estão associados a um diagnóstico, visto serem considerados naturais no processo de desenvolvimento infantil (Campbell, 1990).

 34 

idade escolar, verifica-se uma maior tendência dos rapazes para terem comportamentos externalizados, e das raparigas para comportamentos internalizados (Anselmi, Piccinini, Barros e Lopes, 2004; Cova, Maganto e Melipillán, 2005; Moura, Marinho-Casanova, Meurer e Campana, 2008). Campbell (1995) num trabalho de revisão da literatura, tendo por base vários estudos, conclui que em idade pré-escolar, não são identificáveis diferenças significativas entre géneros.

Emck (2004) considera que as perturbações de comportamento podem ser consideradas como um fator constituinte do funcionamento psicomotor infantil, mais especificamente no domínio psiquiátrico, manifestando dificuldades na atenção, hiperatividade, comportamentos agressivos, de oposição ou de não cumprimento das regras impostas.

As perturbações de comportamento encontram-se divididas em 2 categorias, Perturbação de Oposição e Desafio (POD), ou Perturbação de Conduta (PCD) (Emck, 2004). Apresentando de forma resumida cada uma destas perturbações, a PHDA manifesta-se essencialmente pela desatenção, hiperatividade e impulsividade, dependendo dos sintomas. Pode ser do tipo predominantemente desatento, predominantemente hiperativo/ impulsivo, ou misto (APA, 2013). A POD é caracterizada por um humor irritável, comportamentos desafiantes ou vingativos, procurando culpar os outros pelos seus erros e comportamentos desadequados (APA, 2013). A PCD manifesta-se pela tendência para desrespeitar os direitos básicos e regras da sociedade, revelando comportamentos agressivos, destruição e furtos, violando assim as regras sociais (APA, 2013).

5.4. Intervenção Precoce e Problemas de Comportamento

As crianças com PC devem ser devidamente acompanhadas, sendo que segundo Benavente (2001) a intervenção deve atuar em todas as dimensões da vida da criança, nomeadamente junto da família, escola, pares e com a própria criança. Isto vai ao encontro do que ocorre no âmbito da IP, uma vez que nesta, a intervenção é centrada não apenas na criança, como também na sua família.

Os PC têm muitas vezes associadas características psicomotoras como a precipitação, inquietação, agitação, violência, inconsciência nas ações e híper- vigilância, sendo que a Intervenção Psicomotora pode atuar nesse sentido (Webster- Stratton, 1997), ajudando a criança a controlar esses comportamentos e

 35 

consequentemente a melhora-los, e tal como já havia sido exposto anteriormente, um Psicomotricista pode integrar a equipa de IP, complementando-a.

Alguns estudos têm demonstrado que quando crianças manifestam este tipo de comportamentos e não são devidamente acompanhadas e corrigidas, tendem a num futuro próximo ser problemáticas, nomeadamente nos domínios social, emocional e educativo, podendo isso, consequentemente, trazer repercussões negativas a nível económico e social quer para a própria criança, quer para a sua família (Foster, Jones e CPPRG, 2005; Webster-Stratton 1997).

Existem também evidências que nas crianças com PC alguns dos fatores psicomotores se encontram comprometidos, nomeadamente a praxia fina, praxia global e a lateralização (Emck, 2004), sendo que estes são alguns dos fatores se encontram na base da intervenção por parte de um psicomotricista (Fonseca, 2010a).

Emck (2004) aborda ainda dificuldades a nível da regulação da distância corporal e conflitos sociais, nomeadamente entre pares, gerando por vezes comportamentos agressivos que posteriormente levam à exclusão social, e consequentemente à diminuição da autoestima. Tendo em conta que o psicomotricista tem um papel mediador (Fonseca, 2005; Fonseca, 2006), pode ser útil na intervenção, intervindo junto da criança para diminuir esses comportamentos, permitindo assim um aumento da autoconfiança e segurança afetadas na criança (Fonseca, 2005; Fonseca, 2006).

Documentos relacionados