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2. OS DESAFIOS DO LITORAL CONTINENTAL PORTUGUÊS

2.8. GESTÃO DO RISCO E ESTRATÉGIAS DE ADAPTAÇÃO COSTEIRA

2.8.2. Intervenções nacionais / custos / investimentos

Com base no levantamento realizado e compilado por Silva (2014), baseado em dados disponibilizados pela APA, foi possível analisar os investimentos realizados na faixa costeira de Portugal continental relativamente às obras de defesa costeira entre 1995 e 2014.

Segundo esta análise e que serviu de base aos dados utilizados no Relatório do GTL (2014), verifica-se que para este período foram realizadas intervenções de proteção costeira no valor de 196 M€, sendo que as áreas mais problemáticas por POOC e por ordem decrescente são: 1ª Ovar-Marinha Grande (34,6%); 2ª Caminha-Espinho (19,0%) e 3º Sintra-Sado (18,8%) (Figura 2.47). Estas áreas litorais, segundo a GTL (2014), são caracterizadas como sendo baixas e arenosas, onde a ocupação urbana é intensa e há elevado défice sedimentar.

Figura 2.47– Investimentos realizados nas infraestruturas de defesa costeira entre 1995-2014 por POOC (Adaptado de Silva, 2014).

No mesmo trabalho de Silva (2014), os investimentos realizados nas obras costeiras também foram avaliados comparativamente aos vários concelhos. Verifica-se que os maiores investimentos foram realizados no concelho de Almada (18,8%), mais especificamente na Costa da Caparica, Ovar (11.4%) e Espinho (9,2%), como se pode observar na Figura 2.48.

Cidadela de Cascais-Forte De S.Julião Da Barra

Burgau-Vila Moura

Vila Moura - Vila Real de Santo António Alcobaça-Mafra Sintra-Sado Caminha-Espinho Ovar-Marinha Grande Sines-Burgau Sado-Sines

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Figura 2.48 – Investimentos realizados nas infraestruturas de defesa costeira entre 1995-2014 por concelho (Fonte: Silva, 2014).

Relativamente à tipologia dos investimentos realizados nas obras costeiras, pode-se observar que mais de metade (52%) envolvem obras de tipologia pesada, nomeadamente esporões, obras aderentes e destacadas, enquanto 38% respeitam a obras ligeiras, nomeadamente alimentação artificial e reforços de diques ou dunas e 8% das intervenções respeitam a intervenções em arribas (Figura 2.49).

Figura 2.49– Investimentos por tipologia de obra costeira entre 1995-2014 (Adaptado de: Silva 2014).

O número de investimentos realizados na última década e segunda Silva (2014) foi maior em obras de tipologia leve, como sejam mobilização de sedimentos e intervenções em sistemas dunares, embora a maior percentagem em termos de custos seja em obras pesadas, uma vez

Desassoreamento Alimentação Artificial de Dunas Alimentação Artificial de Praias Arribas Defesa Aderente + Cordão Dunar Quebramar Destacado Defesa Aderente Esporão Defesa Aderente + Esporão Desassoreamento + Alimentação Artificial Outros

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que este tipo de empreendimentos, seja na manutenção seja na construção de raiz, são em menores quantidades, mas muito mais caras que as de tipologia leve.

Com base na evolução da linha de costa entre os anos de 1958 a 2010 efetuado por Lira (2014), Silva (2014) sobrepôs os investimentos realizados por concelho relativamente às obras de defesa costeira para o período entre 1995 a 2014, o que permite correlacionar os trechos costeiros com maior erosão com os de maior investimento e que corresponde ao expectável conforme se pode observar na Figura 2.50.

Figura 2.50 – Sobreposição dos custos das obras costeiras entre 1995-2014 com a evolução da linha de costa entre 1958-2010 e da tipologia das obras costeiras face aos seus custos para o mesmo intervalo

(Fonte: Lira, 2014; Silva, 2014)

Relativamente à tipologia de obras em termos geográficos e tomando como referência o trabalho de Silva (2014), podemos observar na Figura 2.50, que existe uma predominância de obras da tipologia pesada a norte do País, e de obras da tipologia leve na zona de Lisboa e a sul do país.

Como referido anteriormente, entre 1995-2014 houve um investimento de cerca e 196 milhões de euros nas intervenções de defesa costeira, sendo que, segundo o GTL (2014) há uma

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elevada variação interanual associada a uma tendência de crescimento desse investimento, como se pode observar na Figura 2.51.

Figura 2.51– Investimentos anuais realizados em intervenções de defesa costeira (Fonte: Silva, 2014)

Segundo o GTL (2014), as explicações para as várias flutuações de investimentos parecem ter a ver mais com razões de carácter político e administrativo do que devido a necessidades objetivas no terreno. Com efeito e de acordo com a análise efetuada pelo GTL:

• Nos anos de 1995 e 1996 a ocorrência de baixos investimentos deve-se, possivelmente, à transferência de competências das intervenções da ex-Direção Geral de Portos para o ex-INAG,

• A partir do ano de 1997 o aumento significativo nos investimentos nas intervenções de defesa costeira até ao ano de 2003 parece estar associado às disponibilidades financeiras após a adesão de Portugal à CEE;

• Em 2004 foi diminuta a concretização de obras do ponto de vista financeiro;

• No ano de 2009 verifica-se a ocorrência de um pico de investimentos que coincide com o início do apoio financeiro decorrente do POVT – QREN;

• O baixo investimento sucedido em 2012 coincide com a crise financeira a nível nacional;

• No ano de 2014 houve um pico de investimento, provavelmente porque resolvidos os constrangimentos administrativos e financeiros da execução das ações candidatas ao POVT – QREN e que coincide também com as ocorrências das tempestades de 2013- 2014 designadamente devido à tempestade Hércules e que mereceu um forte atenção política.

No mesmo relatório realizado pelo Grupo de Trabalho do Litoral é efetuada uma sobreposição entre os investimentos realizados e as ocorrências de temporais, entre os anos de 1995 a 2014 (Figura 2.52).

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Figura 2.52- Investimentos anuais entre os anos de 1995-204 face aos acontecimentos de temporais registados com ondas superiores a 7 metros de altura (Fonte: Silva, 2014)

Face à aparente falta de correlação entre os investimentos efetuados e as tempestades ocorridas no mesmo período conforme evidenciados na Figura 2.52, o GTL avança como possibilidade que os investimentos em obras de defesa estão mais relacionados com razões políticas administrativas de carácter financeiro do que com efetivos estragos verificados no terreno devido há ocorrências das tempestades.

Em Espinho, segundo a CME (Câmara Municipal de Espinho, 2016), foram realizadas obras de reforço no Esporão norte. Após a realização destas obras de reforço dos esporões, podemos observar que, apenas cinco meses depois destes empreendimentos, a obra apresentava novamente problemas estruturais. Na Figura 2.53 é possível observar o esporão com uma estrutura defeituosa na sua cabeça, no qual os seus levantamentos fotogramétricos foram obtidos através da utilização do drone da APA no dia 12 de Julho de 2017.

Figura 2.53– Esporão Norte de Espinho (Fonte: Fotografias obtidas com drone da APA no dia 12 de Julho de 2017).

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