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2. OS DESAFIOS DO LITORAL CONTINENTAL PORTUGUÊS

2.8. GESTÃO DO RISCO E ESTRATÉGIAS DE ADAPTAÇÃO COSTEIRA

2.8.1. Tipos de intervenção de proteção das zonas costeiras

Obras de proteção e manutenção da posição da “linha de costa”

Este tipo de intervenções, segundo Cardona (2015), apresentam como função a defesa de um troço costeiro no qual a situação de erosão apresenta níveis críticos.

Segundo Coelho (2005) as estratégias de defesa apresentam um variado leque de tipos de intervenções e cada uma delas apresenta uma função específica na proteção costeira. Segundo o mesmo autor, as obras pesadas podem estar dispostas paralelamente à costa, nomeadamente defesas aderentes, muros e quebra-mares destacados ou perpendiculares à mesma, como os esporões, molhes ou quebra-mares. Estas obras favorecem a acumulação de sedimentos de forma a ajudar à dissipação da energia ou elas próprias estarem dimensionadas para suster ação direta da agitação marítima.

Estruturas paralelas à costa

As estruturas paralelas à zona costeira podem ser diferenciadas em muros, obras longitudinais e quebra-mares destacados. Na Figura 2.36 encontram-se representados esquematicamente as estruturas paralelas à costa (Coelho, 2005).

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Figura 2.36– Esquema das estruturas paralelas à costa (Fonte: Coelho, 2005).

Os muros (ou paredões de retenção) são estruturas implantadas em zonas terrestres que apresentam como principal objetivo impedir o galgamento do mar em decorrência da ação de grandes ondas e marés de tempestades. Usualmente, estas infraestruturas são construídas para a proteção de terraplenos marginais, arruamentos, frentes urbanas edificadas e parques de estacionamento. Por norma, são utilizados materiais como madeira e rocha, embora em alguns casos também seja utilizado betão (Coelho, 2005; Sousa, 2011).

Segundo Coelho (2005), em muitos casos estas estruturas foram construídas em faixas no qual existia uma restinga de areia, mas devido ao contínuo avanço do mar, os muros ficaram expostos à ação direta das ondas. Como já referido, como os muros são uma estrutura dominantemente vertical, estes não favorecem a estabilidade do areal devido à reflexão das ondas. A fundação dos muros, para ser ideal, deve atingir uma cota baixa, de preferência o estrato rochoso quando exista e de forma a evitar subescavações.

Similarmente aos muros, as obras longitudinais aderentes (Figura 2.37) são uma solução comum na proteção do litoral português. Estas, como referidas anteriormente, são construídas paralelamente à costa, as quais pretendem fixar o limite da praia em zonas não protegidas por praia natural, ou em áreas que se pretende manter a posição da linha de costa (Lima, 2011).

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Figura 2.37 – Obras longitudinais aderentes, exemplo da Costa da Caparica e da Cova do Vapor (Fonte: Fotografias Obtidas a Agosto de 2017).

O seu funcionamento consiste numa solução estrutural em que a rocha ou o betão é colocado ao longo da face de uma duna ou de um talude inclinado, reduzindo a ação das ondas através da absorção da sua energia nas faces e nos espaços vazios da obra, como se pode observar na Figura 2.38 (Lima, 2011).

Figura 2.38– Perfil das obras longitudinais aderentes (Fonte: Feming et al., 1998 cit. in Lima, 2011).

Segundo Castanho (1962), as obras longitudinais devem apresentar o mesmo comprimento da zona que se pretende proteger, uma vez que esta apenas protege localmente. Face à sua altura, esta deve ser de modo a evitar possíveis galgamentos e pesando os fatores económicos.

Os quebra-mares destacados são estruturas que, tal como as defesas aderentes, são construídas de forma a combater a ação direta do mar, dissipando a energia das ondas. Estes são colocados paralelamente à linha de costa, embora em pleno leito do mar, o que significa profundidades maiores que as restantes estruturas de defesa costeira (Coelho, 2005; Alfredini, 2005).

A principal função deste tipo de estruturas consiste na redução da ação das ondas, através de fenómenos de difração, fazendo com que atinjam a zona de costa com uma intensidade mais baixa. Assim, similarmente aos esporões, os quebra-mares apresentam a capacidade de interferir na distribuição dos sedimentos ao longo da costa, diminuindo a capacidade erosiva das ondas e consequente capacidade de transporte, permitindo o acumular de sedimentos na zona abrigada da estrutura, formando em consequência um tômbolo, como se pode observar na Figura 2.39. Por norma, estas infraestruturas são constituídas por enrocamentos, embora

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possam ser utilizados blocos de betão, bem como estacas metálicas ou de madeira (Lima, 2011; Coelho, 2005; Sousa, 2011).

Os quebra-mares destacados podem ser colocados individualmente ou em conjunto, formando um campo de quebra-mares destacados (Figura 2.39). O seu comprimento e distância entre si dependem, essencialmente, da sua distância à linha da costa (Coelho, 2005).

Figura 2.39- Formação de tômbolo devido à colocação de um quebra-mar destacado e o comportamento erosivo do mar face a um conjunto de quebra-mares (Fonte: Basco, 2006).

Os quebra-mares podem ser diferenciados em quebra-mares de talude, de parede vertical, mistos ou flutuantes (Figura 2.40), em que cada um apresenta finalidades distintas, relativamente à dissipação da energia das ondas (Hughes, 2006)

Figura 2.40– Quebra-mar de talude, parede vertical e misto (Fonte: Hughes, 2006).

Segundo Coelho (2005), os quebra-mares portuários (Figura 2.41) são estruturalmente análogos aos esporões (embora mais complexos e geralmente maios robustos) e são utilizados para estabilizar canais de navegação de acesso a portos. Estes apresentam como principal função tornar a navegação mais segura e a manutenção dos canais de navegação mais económica. Em geral, são maiores que os esporões e por isso induzem maiores défices no transporte sedimentar longitudinal, podendo gerar grandes acumulações a barlamar e, consequentemente, maior erosão a sotamar.

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Figura 2.41– Quebra-mar do porto de Ferrol (Fonte: Queiroz, 2016).

Estruturas perpendiculares à costa

Este tipo de estruturas apresenta como principal função a retenção do transporte longitudinal de sedimentos que, por consequência, vai formar praias por depósitos de areias (Coelho, 2005). Na seguinte figura encontram-se representados esquematicamente as estruturas perpendiculares à costa (Figura 2.42).

Figura 2.42- Esquema de estruturas perpendiculares à costa (Fonte: Coelho, 2005).

O esporão é uma estrutura perpendicular à linha de costa que se estende até à zona de rebentação, por norma, um pouco além da praia-mar, podendo atingir os 300 metros de comprimento (Coelho, 2005).

Geralmente, os esporões são construídos com o recurso a rochas empilhadas de forma regular, com enrocamentos, ou com a presença de um sistema de gabiões, suportando as cargas provocadas pelas ondas (Alfredini, 2005). Porém, segundo o mesmo autor, estes também podem ser construídos com madeiras, normalmente com recurso ao enchimento com

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argamassa. Na figura seguinte (Figura 2.43) encontra-se representado um perfil transversal de um esporão tipo, com as diferentes composições de enrocamentos por secção.

Figura 2.43 – Representação do perfil tipo de um esporão, com a composição das suas diferentes secções, segundo técnicos da APA.

Como observado na figura anterior, a composição geral de um perfil apresenta quatro secções, nomeadamente o seu núcleo, banqueta, talude e o seu coroamento. As banquetas são a secção que se encontra submersa e, opcionalmente a parte superior do coroamento encontra- se consolidada com betão.

Os principais objetivos destas estruturas são (van Rijn, 2010):

• Reter o transporte sedimentar longitudinal diminuindo a erosão costeira e estabilizar ou aumentar a área da praia. Os sedimentos ficam retidos a barlamar da estrutura e que é onde se manifesta o seu efeito protetor, embora promova a erosão mais intensa imediatamente a sotamar devido à interrupção no transporte sedimentar pela obra; • Estabilização dos sedimentos provenientes de alimentação artificial em praias naturais

ou artificiais;

• Impedir a migração de sedimentos, nomeadamente em zonas terminais de células sedimentares próximas de sumidouros de sedimentos.

Como se pode observar na Figura 2.44, os esporões podem ser edificados isoladamente ou em conjunto (campo de esporões), apresentando diferentes comportamentos de enchimento e erosão sedimentar (French, 2001).

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Face aos seus diferentes fins os esporões podem adquirir várias formas, nomeadamente em forma de T, L, Z e Y, embora sejam geralmente retilíneos (Figura 2.45) (French, 2001).

Figura 2.45 - Comportamentos de enchimento e erosão face a diferentes formas de esporões (Fonte: French, 2001).

Como referido anteriormente, os esporões são projetados a fim de reter os sedimentos transportados longitudinalmente à praia, reconstruindo e/ou protegendo estas, pelo que, segundo Coelho (2005), quanto mais compridos e altos maior a sua eficácia a barlamar, mas, ao mesmo tempo maiores impactes a sotamar. Assim, geralmente são construídos campos de esporões, ou são associados a obras longitudinais de forma a diminuir o efeito erosivo a sotamar, como se pode observar na Figura 2.46.

Todavia, existem alguns esporões “permeáveis” que, segundo Hughes (2006), são construídos com o objetivo de permitir a passagem de uma parte dos sedimentos, promovendo uma menor reflexão das ondas e à formação de correntes de retorno de densidade menor.

a) b)

Figura 2.46– a) Esporão EC1 da Caparica associado a uma obra aderente (Fonte: Fotografia obtida a Agosto de 2017); b) Campo de esporões da Caparica (Fonte: SIARL, 2014).

Intervenções de alimentação e reperfilamento das praias

A alimentação de praias e a construção de dunas, segundo Sousa (2011), são uma solução pertinente quando o objetivo é a proteção costeira com a manutenção de praias ou até mesmo a criação delas, tratando-se de um método que requer atenção quanto às características dos sedimentos a mobilizar. Segundo o mesmo autor, no caso da criação de uma praia, esta pode ser para suportar zonas de lazer ou para atuar contra a erosão.

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O local onde se realiza o depósito de sedimentos com o propósito de contribuir para a alimentação artificial, deve ser objeto de um estudo prévio que pondere o comportamento desses sedimentos e do sistema e as consequências económicas.

Segundo Coelho (2005), este tipo de intervenções tentam trabalhar em conjunto com os processos naturais, ao contrário das obras pesadas que lhes tentam fazer frente. Estas intervenções, segundo o mesmo autor podem ser: a alimentação artificial de praias, reperfilamento de praias e a artificialização de dunas.