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Introdução ao estudo da ha itação pavillonnaire

CAPÍTULO 3: PASSO A PASSO COM HENRI LEFEBVRE

11. Introdução ao estudo da ha itação pavillonnaire

Principais termos: funções/formas/estruturas - habitação - vizinhança - conjunto social - cotidiano alienação - reificação - equipamentos - centro - rua - ordenamento territorial - interdisciplinaridade - sistema - utopia - escala global - espaço geométrico apropriação- dimensões - vida (privada/pública).

Neste capítulo 11, datado de 1966, Lefebvre (1970a, p.159-181) analisa a vidaà oà pavillo à te e doà va i veisà ueà possam compor uma metodologia que dê conta de analisar o habitat no cotidiano deste lugar onde se julga que as pessoas são felizes, em contraponto aos que teriam por moradia apartamentos nos conjuntos urbanos. As ilustrações a seguir, evidenciam a proposta ideológica sobre conjunto habitacional, e à ,àeàha itaç esà pavillo ai e à aàdé adaàdeà ,à aà França (Ilustração 20 e 21) 120.

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“o eà pavillo ai e àve p. 50 desta tese.

120 MAGRI, Susanna. Le pavillon stigmatisé. Grands ensembles et maisons

individuelles dans la sociologie des années 1950 à 1970. L ann e sociologic, v. 58, 2008. Disponível em: <http://www.cairn.info/ resume.php?ID_ARTICLE=ANSO_081_0171>. Acesso em: 21 nov. 2010. Conjuntos habitacionais em contraste com o habitat pavillonnaire, cujas residências uni - familiares ofereciam, em acordo com o autor, um

Ilustração 20 - Propaganda ideológica sobre conjuntos habitacionais de modo a afirmar que todos os franceses tinham uma moradia (década de 1945)121.

Fonte: MAGRI ([2008])

conjunto de elementos que acentuariam o sentimento de apropriação e a qualidade de vida social.

121 I age à doà fil eà Odeà aoà pavillo ai e à deà F édé i à ‘a ade que lá

passou sua infância, e através do filme tenta compreender por que o modo de habitação pavillonnaire é um sonho de moradia para milhões de franceses. Em:ALLOCINE. Ode pavillonnaire: photos du film, 2008. Diponível em: < http://www.allocine.fr/film/fichefilm-129909/photos/ detail/?cmediafile=18930708>. Acesso em: 30 set. 2011.

Ilustração 21 - Loteamento de habitats pavillonnaire, mostrando o arruamento e as edificações uni-familiares dispostos ao redor da vegetação.122

Fonte: ALLOCINE (2008)

Contextualizando, o autor referiu-se às construções em massa das décadas que se seguiram à segunda guerra mundial, e que eram parte da política de habitação social francesa. Os grandes conjuntos habitacionais que foram implantados surgiram, rapidamente, para dar conta das muitas famílias sem moradia (um problema constatado antes mesmo da guerra).

As críticas do autor referiram-se, ainda, a Le Corbusier eàsuaàes ola,àaoàdefi i àaà uestãoàdeà seàaloja à o oà aàfu ção à eà oà o jetivo à doà se à hu a oà aà vida social. Essa é uma

122 É considerado como modelo ideal de moradia por grande parte dos

franceses, em contraposição aos grandes conjuntos urbanos construídos nas décadas posteriores a segunda grande guerra.

questão observada, pelo autor, também em outros campos de estudo e outros profissionais.

Entretanto, essas críticas se confrontaram com o preceito comunista de defesa do coletivo em contraposição ao individual (individualismo), pois oà pavillo ai e à a egavaà uma ideologia que poderia entrar em conflito com outras consciências de classe (a questão da propriedade individual). Mas, para o autor, e a partir de estudos realizados sobre este odoà deà ha ita ,à oà ha itatà pavillo ai e à ãoà teria essa significação para os moradores e sim outra que suscitava o sentido de liberdade.

No capítulo, Lefebvre (1970a) propõe uma metodologia e considera: 1. O habitat como fato antropológico, portanto com uma história vinculada aos modos de produção do ser humano; 2. Os sistemas parciais por um lado e o conjunto social por outro, tendo a linguagem como conectora entre estes e o indivíduo ou pequeno grupo; 3. Análise de um duplo sistema: semântico (palavras e suas ligações) e semiológico (objetos e significações).

Os instrumentos para obtenção de dados envolveram entrevistas (fechadas e abertas), fotografias, ilustrações, gravação, observação minuciosa em fichas, confronto dos dados sensíveis, dentre outros. Mas, o autor acrescenta que ainda não se teria meios para registrar o tempo, a duração e os ritmos da vida.

Em seguida, Lefebvre descreve a pesquisa realizada no pavillo ai e àeàe pli aàoàse tidoàdeàap op iaçãoàeàdo i açãoà do espaço, considerando os níveis relacionados à marcação no terreno, ao fechamento e ao ordenamento territorial. Ele inclui a necessidade de se considerar símbolos, as oposições (contrastes) e a ordem, relacionando-os à juventude/velhice e aos elementos masculino/feminino dos grupos. Nesse sentido, essas iniciativas interligariam o mais individual aos níveis mais amplos.

O autor considera, ainda, o nível da utopia como conjunto de representações (por exemplo, o mito da casa patriarcal no campo onde o homem habita em poesia), a consciência de proprietário/propriedade das pessoas do

pavillo ai e à (Ilustração 22) 123 e a heterogeneidade do

conjunto como justificativas ao modo de existência social daquele grupo.

Ilustração 22 - A pu li açãoàL Ha itatàPavillo ai e cujo prefácio é de Henri Lefebvre.

Fonte: Decitre ([2011])

Finalizando, o autor explica sobre apropriação124 apontando que suas modalidades, suas relações (tanto com o conjunto social, quanto com os grupos) são conflituais,

123 áào aà L ha itatàPavillo ai e àve saàso eàu aàsí teseàdeàpes uisasàeà

análises relativas à política de habitação na França após a segunda grande guerra. Faz referência à preferência dos habitantes por imóveis individuais em contraposição ao investimento, pelo Estado, em imóveis coletivos. Em: DECITRE. L'habitat pavillonnaire [imagem]. [2011]. Disponível em: <http://www.decitre.fr/livres/L-habitat-pavillonnaire. aspx/9782747502719>. Acesso em: 13 nov. 2010.

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complexas e transformadoras. É a individualização do espaço social e, ao mesmo tempo, a socialização do espaço individual, ou seja, para sua compreensão é necessário pensar dialeticamente. Rebatendo a ideia da coincidência entre espaço social e espaço geométrico, ele afirma que a qualidade do espaço social seria refletida pela apropriação daquele espaço.

Demandas para AU. O ato de habitar envolve algumas considerações importantes, quais sejam:

- é traço fundamental da condição humana, é uma dimensão do homem que se exprime, também, por meio da linguagem. A linguagem, no entanto, necessita de um método que de conta do não dito, do sensível, do verbal e que tenha por referência o jogo, o próprio habitar, o vestir, o amar, dentre outros aspectos;

- é para além da linguagem da máquina e das exigências de qualquer plano de habitação social. Compreendendo diversos níveis, o habitar se expressa em meio aos conjuntos de obras, coisas, produtos, que formam determinada aglomeração;

- se realiza num conjunto arquitetural de significações e relacionado a questões econômicas e políticas;

- a metodologia para seu alcance deve envolver ferramentas variadas (não estagnar em dados obtidos em um questionário) a a ge doàfotos,ào se vaç esà i àlo u àso eàos modos de vida, a alimentação, a vestimenta, os objetos pessoais e da família considerada, onde a atenção aos respondentes é fundamental. Em sua maioria, as pessoas têm pouca consciência do que de fato estão vivendo, pois na luta contra sua própria situação, tendem a negá-la;

- atentar para a dificuldade da apreensão de dados relativos ao tempo, a duração e aos ritmos de vida, bem como para a diferenciação entre espaço geométrico e espaço social, tendo em mente que a apropriação qualitativa do espaço tempo é o sentido, o objetivo e a finalidade da vida social, por isso tão importante para a disciplina de arquitetura e urbanismo.