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A propósito da pesquisa interdisciplinar em sociologia urbana e em urbanismo

CAPÍTULO 3: PASSO A PASSO COM HENRI LEFEBVRE

20. A propósito da pesquisa interdisciplinar em sociologia urbana e em urbanismo

Principais termos: fenômeno urbano - métodos - vida social - espaço - tempo - ciências fragmentadas - sistema de signos/significações - vida cotidiana - habitat/habitar - interdisciplinaridade - o arquiteto e o urbanista - urbanismo de circulação - cidade - positivismo - humanismo - dogmatismo - escala humana - necessidades/desejos - plasticidade - adaptação - forma - estratégias - ideologias e práticas urbanísticas - estratégia urbana.

Neste capítulo 20, datado de 1969, Lefebvre (1970a, p.243-265) apresenta seis tópicos: a) O fenômeno urbano; b) Complexidades do fenômeno urbano; c) Mitos e necessidade de cooperação das ciências fragmentadas. Projeto para uma Faculdade de Urbanismo; d) A problemática urbanística; e) O papel do filósofo; f) Por uma estratégia urbana.

No primeiro tópico, o autor define a sociedade atual por sociedade urbana e afirma que a extensão do tecido e a

concentração urbana estão fazendo explodir as cidades pré- industriais /pré-capitalistas.

No segundo, aponta alguns métodos descritivos (ecológicos, fenomenológicos, empíricos) que mostram apenas traços do fenômeno urbano como tamanho e complexidade. Nesse sentido, estes métodos passam da fenomenologia à análise e colocam em questão o conjunto da vida social teórica e prática, absorvendo o desenvolvimento social dentro do crescimento industrial. Ainda neste tópico, ele aponta o método progressivo-regressivo no espaço e no tempo como uma direção a seguir para se considerar o fenômeno urbano.

O terceiro tópico trata do que há de residual nas diversas especialidades resultantes das ciências fragmentadas, da necessidade e dificuldade da interdisciplinaridade e da dificuldade metodológica e teórica que se apresenta quando osà e volvidosà seà p ete de à ho e sà daà sí tese .à “uge e,à ainda, a criação de uma Faculdade de Urbanismo com a união de todas as ciências fragmentadas, a partir de uma problemática geral e não de um saber adquirido.

No quarto tópico, discute sobre o residual e o irredutível em cada disciplina e expõe, também, sobre a questão da convergência entre elas. Afirma que o urbanismo estudaà u à o jeto à fe hadoà u à siste aà deà aç es, transformando o que se quer saber em um objeto cientifico cômodo e fácil, mas que a realidade urbana, caótica e desordenada, tem uma ordem a ser descoberta e para isso é necessária uma nova ciência, baseada na cooperação com todas outras ciências. Ainda neste tópico, refere-se ao urbanismo, que mais que um objeto virtual é a problemática, considerando, dentre outros aspectos, o urbanismo de circulação, a divisão do trabalho e a divisão social, a cultura e as universidades.

No quinto tópico, bastante abrangente, Lefebvre delineia as práticas do positivismo e questiona se não seria a partir da filosofia inteira e dos conhecimentos científicos que deveríamos interrogar o fenômeno urbano. Dentre os objetivos do autor está a preocupação com uma questão fundamental: a sociedade urbana autoriza a elaboração de um novo humanismo?

O autor se refere, então, ao espírito da filosofia que trata de: a) criticar radicalmente as ciências fragmentadas; b) repelir qualquer dogmatismo que pretenda alcançar um todo, setor, domínio ou sistema, considerando-os como propriedade privada; c) defender um pluralismo epistemológico; d) não o o da à o àaàe t apolaçãoàdeà ual ue à odelo àdoàluga à onde foi construído; e) não confundir investigação experimental e técnica, empírica e conceitual, que utiliza hipóteses (verificações, revisões), com a formalização e a axiomatização; f) não fechar o horizonte na consideração da es alaàhu a a ;àg à ost a àu aào ie tação e a amplitude da problemática com suas contradições.

No sexto tópico, as análises são relacionadas a necessidades e desejos da sociedade urbana que devem ir para além das coisas, da linguagem e das necessidades classificadas em função de questões econômicas e de normas sociais. Considera a plasticidade, a adaptabilidade, o espaço e o tempo, relacionando-os a um intermediário mais ou menos apropriável.

Trata, também, da confusão entre ideologia e ciência (no mundo invertido que engloba a sociedade urbana) e discute hipóteses, nem sempre aceitáveis, para conceber as ciências fragmentadas a partir de seis itens, quais sejam: 1. Convergência - que se dá no horizonte e na direção do ser humano da sociedade urbana, reconsiderado e reconstituído; 2. Integração - sob o ponto de vista do impossível, do vir-a-ser; 3. Pragmatismo - utilização de informações/referências daqui e da virtualidade; 4. Operacionalismo - variante do método anterior coberto pela ideologia da tecnocracia; 5. Hierarquização - a partir de qual especialidade e em nome de quais valores; 6. Experimentalismo - integração dos campos parciais, de setores com intercâmbios ideológicos e científicos - oscila entre utopia abstrata e realismo imediato, utilitarismo e irracionalidade.

Lefebvre expõe, ainda, sobre questões teóricas relacionadas ao marxismo envolvendo o acesso à totalidade, bem como a política e a ideologia e aponta soluções a partir, e para, a vida cotidiana. O autor propõe, então, o confronto do real com o possível na direção de uma crítica das ideologias e

das práticas urbanísticas enquanto parciais e estratégias de classes para, assim, esclarecer a real prática urbanística e definir uma estratégia urbana.

Nesse contexto, a estratégia é apresentada duplamente: estratégia do conhecimento - criação de faculdades de urbanismo focadas na prática com incessante confronto com a experiência; e, estratégia política - constituição de uma política global a partir dos políticos, homens de estado, tendências e partidos, coerente com a da sociedade urbana e a apropriação tempo-espacial pelo ser humano.

Finalizando o capítulo, ressalta que as questões acima seriam somadas ao emprego total e eficiente das técnicas (meios técnicos) a serviço da vida cotidiana na sociedade moderna.

Demandas para AU: a utilização do método progressivo-regressivo no espaço e no tempo para compreensão do fenômeno urbano; a prática urbana ult apassaà o eitosà pa iais;à oà u a is o à deveà se à considerado como uma problemática que se forma com uma

ordem/desordem diante dos que ali vivem e não enquanto siste a ,àpoisà ãoàe isteà u àsiste aàdeàsig os e significações e sim vários, com variados níveis e dimensões; a prática urbanística de circulação (fragmentária) resulta da divisão do trabalho atrelada à divisão social que se institucionaliza por meio da cultura; a fragmentação reflete nas relações de produção, nas instituições, nas relações de propriedade e no mundo da mercadoria, incluindo o espaço-tempo social e interferindo diretamente na vida cotidiana dos habitantes.