• Nenhum resultado encontrado

2. CAPÍTULO – Gestão de Resíduos

2.1 Introdução

Antigamente os países (incluindo Portugal) lidavam com o excesso de resíduos de uma forma rudimentar ou seja, através da deposição, acumulação em lixeiras e incineração em terrenos ou mesmo em áreas de proteção ambiental, sem qualquer tratamento prévio, fiscalização ou manutenção [19].

No entanto tais práticas cedo se revelaram improdutivas devido ao aparecimento de animais e à disseminação de doenças, à poluição das águas superficiais e subterrâneas utilizadas para consumo e rega, à contaminação dos solos para cultivo, à poluição atmosférica entre outros [20, 21].

Hoje em dia a gestão de resíduos torna-se mais complicada, não só pelo contínuo aumento da quantidade de RSU devido ao desenvolvimento tecnológico, mas também ao aparecimento de novos materiais, aumentando assim a heterogeneidade e complexidade físico-química dos RSU [22] o que dificulta e encarece o seu tratamento [23]. Os fluxos de resíduos e o seu poder calorífico dependem do desenvolvimento socioeconómico de cada país [24].

Os RSU são constituídos por materiais combustíveis e incombustíveis, provenientes: dos domicílios, do comércio, da indústria, dos hospitais, da agricultura entre outros [25], que podem ser separados por fluxos entre os quais: metais, embalagens, papel, cartão, vidro, matéria orgânica, têxteis e outros de menor relevância [26]. A sua composição física média é influenciada por fatores geográficos, pelas estações do ano, por fatores sazonais (como por ex. épocas festivas) [27] e pelas condições socioeconómicas das populações [24].

A separação da fração orgânica dos RSU para a produção de composto e de energia, bem como a recuperação de recursos existentes em antigos aterros [28], devido à sua escassez na natureza e consequente aumento do preço [29], são dois grandes desafios para as sociedades modernas.

Uma gestão sustentável de RSU segundo a União Europeia, tem de ter por base a hierarquia dos resíduos [30], que consiste em dar prioridade máxima à prevenção, minimização, reutilização, reciclagem e recuperação energética dos mesmos, considerando o aterro como a última opção para a sua deposição [31].

Capítulo 2 – Gestão de Resíduos

Uma das possíveis soluções para que essa gestão seja concretizada é a separação dos resíduos na fonte [2] em vários fluxos, facilitando assim o seu tratamento e assegurando a qualidade dos resíduos a serem enviados para a indústria recicladora, bem como o cumprimento das metas de reciclagem exigidas pelas diretivas europeias [32]. Com esta separação, diminui-se a contaminação dos resíduos [33] e evita se a acumulação de tóxicos (como cádmio, zinco e chumbo) nos produtos reciclados [31].

Em 2009 a caracterização física média dos RU indiferenciados produzidos na União Europeia, demonstrava que os resíduos biodegradáveis representavam uma maior quantidade de resíduos produzidos, cerca de 35%, sendo a fração destinada à reutilização e recuperação (resíduos biodegradáveis, vidro, metais, papel e plásticos) de cerca de 74%, como podemos ver na figura 2.1 [34].

Em 2014 segundo dados do Eurostat [35], a maior parte dos resíduos tratados na União Europeia teve como destino o aterro e a reciclagem com cerca de 27,62%, seguindo-se a incineração com 26,78% e a compostagem com 15,90% como se verifica na figura 2.2 .

Capítulo 2 – Gestão de Resíduos

Com a escassez dos combustíveis fósseis, aumenta a flutuação dos preços dos mesmos devido ao lóbi da indústria petrolífera [36], tal facto, permite-nos considerar a produção de RSU como uma fonte inesgotável de matéria, com potencial de aproveitamento calorífico e energético, cujo aumento à partida será diretamente proporcional ao crescimento das populações nas cidades [37].

O aumento das populações nas cidades, devido ao êxodo rural em massa, provocado pela procura de melhores condições de vida, fez com que a área disponível para habitação, cultivo e gestão de resíduos, se tornasse escassa e um grave problema a ser resolvido. Com a diminuição do espaço disponível aumenta o preço dos terrenos, o que impossibilita a construção de novos aterros, bem como a ampliação dos já existentes cuja capacidade está no limite de ser atingida [28, 38]. Exemplo disso é o Canadá, que paga aos EUA para poder depositar os seus resíduos nos aterros americanos, ocorrendo assim o que se designa por movimento transfronteiriço de resíduos [25].

Durante muitos anos o aterro sem qualquer tipo de controlo ambiental foi comummente utilizado a nível global [16], por ser considerado um método de deposição de resíduos mais barato e prático, no entanto devido à falta de impermeabilização, manutenção e monitorização surgiram graves problemas ambientais [29].

Posteriormente os aterros comuns evoluíram para aterros sanitários, onde são cumpridas todas as normas legislativas ambientais, como por exemplo: a impermeabilização, o que evita a lixiviação dos poluentes e a contaminação dos solos e das águas subterrâneas

Capítulo 2 – Gestão de Resíduos

[29]. As águas lixiviantes resultantes da digestão anaeróbia dos RSU nos aterros, são encaminhadas e tratadas numa ETAL (estação de tratamento de águas lixiviantes), e o metano (CH4) libertado nos aterros é aproveitado comercialmente como fonte de energia, apesar de este ser considerado um gás com efeito de estufa 21 vezes superior ao dióxido de carbono (CO2) [24].

Nas últimas décadas os resíduos deixaram de ser considerados um problema que ninguém queria resolver e que implicava apenas gastos energéticos e económicos, para se tornar uma fonte de energia, calor e de recuperação de materiais, com interesse comercial para diferentes sectores a nível global [39].

Nao existe apenas uma tecnologia capaz de resolver a gestão de resíduos, mas um sistema integrado usado em vários países [17], que consiste na optimização dessa gestão a nível económico, ambiental e social [40]. Este sistema inclui diferentes tipos de tratamento como: a reciclagem, o tratamento biológico, tratamentos térmicos, e serviços de deposição como o aterro [41].

A gaseificação apresenta-se como um dos tratamentos térmicos de resíduos com grande potencial, uma vez que para além de permitir a redução de volume e massa dos RSU, diminui a quantidade de resíduos depositada nos aterros sanitários, evitando assim a construção de novos, o que faz com que sejam reduzidas as emissões de gases com efeito de estufa [14, 38].

O tratamento termoquímico de resíduos diminui não só a dependência dos combustíveis fósseis [39], como impede a exploração de novas matérias-primas, permite a recuperação de materiais, calor e energia e o retorno dos mesmos ao ciclo económico, reduzindo também a pegada de carbono e consequentemente as alterações climáticas [42].

No entanto, a falta de interesse e investimento por parte dos governos, autarquias, empresas privadas, indústrias e instituições de investigação para o desenvolvimento científico, tecnológico e legislativo da gaseificação, é o que impede este tratamento termoquímico de ser o mais utilizado a nível mundial, substituindo assim a incineração. Tais obstáculos condicionam a concessão, construção e adaptação de mais instalações em escala comercial. O conhecimento, informação e sensibilização das populações sobre o assunto, são determinantes para a aceitação pública desta tecnologia [43].

Capítulo 2 – Gestão de Resíduos

Documentos relacionados