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MATERIAL CARACTERÍSTICAS MODO DE APLICAÇÃO

5. TÉCNICAS DE REABILITAÇÃO

5.2.3. Introdução de produtos impermeabilizantes

Qualquerdas barreiras físicas, descritas anteriormente, tem limitações de aplicação. O apareci- mento de novos materiais sintéticos permitiu a colocação em prática de outras soluções de re- paração das anomalias devidas à ascensão capilar. Este método consiste, basicamente, na cria- ção de zonas estanques nas paredes através da introdução de produtos que, por via química, impedem a progressão da água nas paredes (Fig. 60). Para este efeito, os tratamentos superfi- ciais não são adequados já que os sais se podem continuar a formar no interior da parede.

A barreira estanque deve ser localizada o mais próximo possível do nível do terreno (cerca de 15 cm acima deste - Fig. 67, à esquerda). A técnica inicia-se com a realização de furos, levemente oblíquos em relação à parede e de diâmetro apropriado às hastes a introduzir na parede para a impregnação, que deverão ter um afastamento de 10 a 20 cm e uma profundidade total de 2/3 da espessura da parede. Se a parede for muito espessa (> 0.50 m) e houver acesso a ambas as faces, devem fazer-se dois furos, um em cada face, desencontrados, cada um deles com a profundidade de 1/3 da espessura da parede (Figs. 61 e 62). A obturação dos furos - com argamassas adequadas e não retrácteis - só poderá ser executada após a secagem total do paramento.

Fig. 61 [7] - Furos na parede para introdução dos produtos

Estas regras são, na maior parte das situações, suficientes para obter uma boa distribuição do produto em toda a espessura da parede - uma das condições de sucesso desta técnica é que a barreira estanque abranja rigorosamente toda a espessura e largura da parede, de forma a não deixar qualquer caminho livre que permita a ascensão capilar.

5.2.3.1. Técnicas de introdução dos produtos

O processo através do qual estes produtos são introduzidos nas paredes (dependendo da situação em causa ou do tipo de produto) pode ser por gravidade ou sob pressão (Fig. 63, à direita e à esquerda, respectivamente).

Fig. 63 - Introdução de produtos impermeabilizantes numa parede por injecção [9] (à esquerda) e por gravidade (à direita)

No processo de introdução por gravidade (Figs. 64 e 65), os furos podem ser horizontais ou inclinados no sentido da base da parede, sendo-lhes introduzidos frascos contendo o produto impermeabilizante que, na sua parte inferior, possuem um tubo que permitirá a fácil escorrência do produto para a parede. A difusão desse produto no interior da alvenaria é efectuada pelas acções de gravidade e de capilaridade dos materiais.

Fig. 64 - Introdução em obra do impermeabilizante por gravidade / difusão: da esquerda para a direita, parede a tratar; execução dos furos; introdução dos reservatórios de produto;

verificação e controlo dos tubos de injecção

A utilização da técnica de injecção do produto sob pressão (Fig. 66) requer o uso de um equipamento de pressão: uma bomba injectora, que pode estar ligada simultaneamente a vários furos, ou empregue a cada um deles isoladamente (Fig. 67, à direita). A pressão utilizada é variável, mas não deve exceder os 0.4 MPa, para evitar a rotura dos materiais constituintes da parede. Esta introdução sob pressão tem a vantagem de facilitar a “expulsão” da água contida nos poros, facilitando assim a penetração do produto.

Fig. 65 - Introdução em obra do impermeabilizante por gravidade / difusão: da esquerda para a direita, período de permanência dos reservatórios no local para difusão do líquido; verificação dos níveis do líquido nos reservatórios (estes encher-se-ão sempre que estiverem vazios); após

a aplicação do método, a parede só será rebocada quando os teores de humidade não excederem 5%

Fig. 66 - Introdução em obra do impermeabilizante sob pressão: da esquerda para a direita, remoção e limpeza do reboco afectado; execução dos furos; colocação do sistema

Fig. 67 - Posicionamento dos furos na vertical [9] (à esquerda) e injecção de furos individualmente [22] (à direita)

De modo a promover-se a boa reabilitação da parede após o tratamento, será necessário proceder-se à substituição dos antigos rebocos. Estes só deverão ser executados quando os teores médios de humidade dos paramentos sejam iguais ou inferiores a 5% [12]. Esta operação reveste-se de extrema importância, pois irá remover todos os depósitos de sais higroscópicos neles depositados ao longo do período em que a anomalia esteve activa.

Deste modo, os novos rebocos a aplicar terão, para além da inevitável compatibilidade com o suporte, uma importante função: a capacidade de prevenir a passagem dos referidos sais da superfície ainda contaminada para o exterior, pois as paredes poderão levar anos a secar e a sua base permanecerá sempre húmida. Como tal, poder-se-á distinguir duas fases distintas e indissociáveis neste processo:

• a substituição dos rebocos antigos - que irá exercer funções de prevenção relativamente a futuros estragos.

Quadro 4 [7] - Produtos impermeabilizantes

5.2.3.2. Produtos utilizados

Os produtos susceptíveis de serem utilizados nestas reparações são de dois tipos diferentes (Quadro 4): os tapa-poros e os hidrófugos. Nos primeiros incluem-se as resinas epoxídicas, os silicatos alcalinos e as acrilamidas. O segundo conjunto é constituído pelos siliconatos, silicones (siloxanos e resinas silicónicas) e os organometálicos. Em geral, todos podem ser aplicados sob pressão, embora apenas os silicatos alcalinos e os siliconatos possam utilizar o processo de gravidade como método de aplicação [7].

Existe, portanto, um vasto conjunto de produtos aplicáveis por injecção e por gravidade / difusão de forma a criar uma barreira estanque, devendo ser repelentes de água, em forma líquida ou viscosa, e diluíveis em água e possuir as seguintes características principais [18]:

• capacidade de modificação do ângulo de contacto entre a água ascendente e a superfície interior dos poros;

• boa ligação química à parede existente;

• manutenção do aspecto e propriedades do substrato mineral; • constância de propriedades a temperaturas entre os 5 e os 40 ºC;

• resistência aos álcalis; • serem fungicidas; • não serem poluentes;

• serem isentos de solventes químicos.

No entanto, para que uma barreira química cumpra totalmente os objectivos para que foi concebida, além dos aspectos já referidos, deve ter-se em atenção o seguinte:

• a eficácia de qualquer produto depende de uma boa penetração do mesmo e da continuidade da barreira; este aspecto é um ponto essencial para a garantir da qualidade do trabalho mas na prática é muito difícil verificar esta continuidade;

• em função do tipo de parede, deve procurar-se o produto e modo de aplicação mais adequados; se houver dúvidas na escolha, o melhor será proceder a um ensaio numa zona localizada da parede e validar os resultados;

• tendo em conta que estas aplicações são efectuadas em materiais fortemente saturados de água e nos quais a migração ascensional da humidade está a decorrer, pode acontecer que os produtos não polimerizem ou sejam arrastados para fora da zona a impermeabilizar; para minimizar este problema, pode proceder-se à secagem prévia das alvenarias nas zonas dos furos praticados com recurso a um equipamento de micro-ondas.

5.2.3.3. Eficácia e limitações da solução

As injecções não formam um “plano impermeável” como as membranas estanques, mas sim uma banda difusa. Quando as soluções são injectadas em substratos heterogéneos (caso das alvenarias), de um modo geral não preenchem igualmente toda a estrutura. Irão criar “caminhos” preferenciais (Fig. 68) que correspondem às linhas de menor resistência dos materiais: geralmente poros mais largos ou fendas. Infelizmente, não são estes os caminhos mais importantes para a condução da água na parede. Para além disto, quanto mais húmida estiver a parede, maior tendência tem este fenómeno de acontecer, especialmente com sistemas baseados em solventes que não se misturam com água. O fenómeno (cuja designação anglo-saxãé“viscous fingering”)assume maior significado no caso das injecções sob pressão.

Fig. 68 - Caminhos preferenciais do líquido dentro da parede

A eficácia deste tipo de sistemas poderá também ser afectada quando existem anteriores soluções impregnadas na parede a tratar. Problemas semelhantes poderão ocorrer quando as paredes são tratadas contra infestações de animais.

De um modo geral, poder-se-á afirmar que os processos de injecção, seja por gravidade ou sob pressão, podem atingir bons resultados, se utilizados inteligentemente e instalados de forma conscienciosa. De facto, o sistema exige o recurso a mão-de-obra especializada, motivo pelo qual tem começado a cair em desuso em alguns países, associando-se inevitavelmente ao elevado número de falhas. Outra grande limitação da utilização deste tipo de sistemas é o facto de a base das paredes permanecer sempre húmida, já que o processo não constitui uma barreira totalmente estanque e uniforme. A utilização de emulsões à base de solventes poderá também causar problemas nocivos à saúde dos utilizadores dos espaços tratados, nomeadamente em condições higrométricas desfavoráveis / elevadas humidades relativas.

Num estudo experimental [7] efectuado na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto sobre a eficácia da injecção de produtos químicos para prevenção da ascensão capilar em paredes de tijolo maciço e tijolo vazados (Fig. 69), chegou-se às seguintes conclusões:

Fig. 69 [7] - Configuração dos provetes

• a prevenção constitui o melhor, mais eficiente e garantido meio de combate contra a humidade ascensional em paredes; esta prevenção passa obrigatoriamente pela correcta concepção e execução das paredes e uma adequada pormenorização;

• a melhor solução para o tratamento da humidade ascensional em paredes é, actualmente, a introdução de produtos hidrófugos injectáveis;

• a impermeabilização das faces da parede provoca um aumento da altura da humidade ascensional;

• a presença de sais agrava a ascensão capilar;

• a introdução dos produtos nas paredes de tijolo vazado, na primeira fiadas de furos (Fig. 70), conduziu a resultados aceitáveis.

Fig. 70 [7] - Provetes de tijolo vazado ensaiados em que se introduziu o produto na primeira fiada de furos

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