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Nos últimos anos tem-se observado crescente interesse acerca das questões ambientais. Governos e organizações internacionais estão ativamente engajados na construção de políticas que levem em conta os vínculos entre a atividade econômica e o meio ambiente. Neste contexto, surgiu um corpo teórico, cada vez mais amplo, tentando determinar como o crescimento comercial e as mudanças nos regimes de comércio afetam o meio ambiente, e, de outra forma, como as regulações ambientais mais estritas e coercitivas afetam o comércio.

Em um mundo cada vez mais interdependente, as políticas ambientais tendem a exercer maior impacto sobre os níveis e padrões de comércio, visto que este último pode ser direta ou indiretamente afetado por políticas ambientais que, no curto ou longo prazo, podem alterar os custos relativos de produção. A adequação a novos padrões geralmente requer modificações nas técnicas de produção (ou mesmo nos produtos finais) e as regulações ambientais podem ser amparadas por restrições comerciais para tornarem-se efetivas.

Apesar do crescente número de trabalhos recentemente desenvolvidos no sentido de esclarecer a relação entre políticas ambientais nacionais e competitividade internacional, o debate sobre o tema segue polarizado por duas visões extremamente antagônicas.

De um lado situam-se os adeptos da visão tradicional, segundo a qual há um conflito inevitável (trade-off) entre ganhos ambientais e ganhos econômicos, que deriva do conceito de externalidade negativa. No lado oposto do debate, situam-se os defensores da abordagem revisionista, conhecidos como “seguidores de Porter”, que destacam os potenciais efeitos sinérgicos entre regulações ambientais e competitividade.

Frente à ambigüidade de resultados que marca a literatura, tornou-se patente a necessidade de condução de análises mais específicas (case-by-case). Neste sentido, ao longo da década de 1990, uma série de trabalhos procurou identificar os bens passíveis de serem classificados como ambientalmente sensíveis, para então confrontar as abordagens revisionista e tradicional.

Neste período, sobretudo em função da escassez de indicadores de desempenho ambiental harmonizados para um número razoável de países, a análise do setor agrícola foi relegada a um segundo plano. Apenas mais recentemente, com o avanço na produção de estatísticas para o meio rural referentes às dotações de capital, trabalho e recursos naturais, pôde-se avançar nesse quesito.

Desde meados da presente década, a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação - FAO vem empreendendo esforços visando à produção e aperfeiçoamento de estatísticas que reflitam a dotação de mão-de-obra, terra, recursos hídricos, maquinário, utilização de agroquímicos, fertilizantes e investimento, para mais de duzentos países, e para as principais culturas agrícolas.

Paralelamente a este processo, desde 2005, o Yale Center for Environmental Law & Policy, em parceria com o Center for International Earth Science Information Network, passou a formar um detalhado sistema de Indicadores de Performance Ambiental - EPIs, cujos resultados são anualmente divulgados no Fórum Econômico Mundial de Davos24.

Com a disponibilidade deste recente conjunto de dados, viabilizou-se uma nova possibilidade de aplicação dos principais modelos de comércio internacional à análise dos efeitos das regulações ambientais sobre a competitividade e padrões de comércio mundial do Agronegócio. A realização deste tipo de análise é de fundamental importância para enriquecer o debate acerca da real necessidade de harmonização internacional das políticas ambientais. No cenário atual, a simples suspeição de que um país esteja assumindo posição passiva frente à adoção de práticas ambientalmente degradantes, podendo assim auferir ganhos de competitividade, tem ensejado o emprego de instrumentos de discriminação comercial. Neste sentido, é comum a proliferação de diagnósticos, sem o devido embasamento científico, associando o crescimento das exportações do Agronegócio nos PEDs à intensificação dos problemas ambientais do planeta.

Diante desse contexto, e tendo em vista ainda a candente demanda pela flexibilização do ordenamento jurídico da OMC no sentido de incluir disposições que permitam a discriminação comercial motivada por questões ambientais, este trabalho tem como objetivo central identificar os efeitos da heterogeneidade das regulações ambientais entre países sobre os padrões mundiais de comércio do setor do Agronegócio. Os testes empíricos são conduzidos seguindo o Modelo Heckscher-Ohlin-Vanek (H-O-V) de comércio internacional, tradicionalmente empregado para diagnosticar os efeitos de políticas e/ou variáveis de controle governamental sobre os padrões de comércio.

24 A publicação oficial que fez a divulgação e primeira análise dos EPIs no ano de 2008 tem autores Esty et al.

(2008). Maior discussão a respeito destes indicadores, assim como o acesso da base de dados para os anos anteriores pode ser encontrada em http://epi.yale.edu/Home.

O trabalho está organizado em cinco seções, incluindo esta introdução. Inicialmente apresenta-se a síntese das principais teorias, evidências e controvérsias empíricas atinentes ao tema regulação ambiental, competitividade e padrões de comércio internacional, dando especial enfoque ao Agronegócio (seção 3.2). Na seção 3.3 procede-se a explanação do referencial metodológico e da base de dados utilizados. Em seguida (seção 3.4), realiza-se a análise dos impactos decorrentes de diferentes regimes ambientais sobre os padrões de comércio mundial do dos produtos agrícolas ambientalmente sensíveis e do Agronegócio, sob uma perspectiva Norte- Sul. Por fim (seção 3.5), são feitas algumas considerações destacando a importância do trabalho e a contextualização de seus resultados em relação à literatura existente.

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