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2 SALINIZAÇÃO DO SOLO NO ASSENTAMENTO DE REFORMA AGRÁRIA

2.1 INTRODUÇÃO

A agricultura irrigada é, na atualidade, fundamental para a produção de culturas. Embora a área mundial sob irrigação (255 milhões de hectares) represente por volta de 16 por cento do total da área cultivada, ela contribui com cerca de 44 por cento do total da produção de alimentos. Portanto, a produtividade em terras irrigadas equivale a aproximadamente quatro vezes a produtividade nas áreas de sequeiro (SIEBERT et al., 2013). A agricultura irrigada será essencial no futuro para reduzir a insegurança alimentar nos países em desenvolvimento. Para suprir a necessidade de alimentos em médio prazo, a área cultivada irrigada nos países em desenvolvimento deve ser ampliada (BELTRAN, 2010; ALEXANDRATOS e BRUISMA, 2012).

Estima-se que 34 milhões de hectares, cerca de 11 % das áreas irrigadas, estão afetadas por algum grau de salinidade. Os países mais prejudicados são o Paquistão, China, Estados Unidos e Índia (MATEO-SAGASTA e BURKE, 2011). A salinidade ocasionada por alto teor de sais na água e no solo pode ser de origem natural, no entanto, o problema de salinização relacionado à agricultura irrigada geralmente decorre de alterações do balanço hídrico no ambiente ou utilização de água com elevada salinidade. Nestas áreas, o volume irrigado pode ocasionar a lixiviação e deslocamento de sais do solo para os mananciais que fornecem água para a agricultura, os tornando salinos. Em sentido inverso, há casos em que a água utilizada provém de mananciais naturalmente salinos e como consequência ocorre a salinização do solo. Volumes demasiados podem causar a elevação de aquíferos salinos, assim como o excesso de captação de água subterrânea para a irrigação possibilitam ocorrer intrusão salina das águas do mar em regiões costeiras, causando salinização dos solos. Em alguns casos, há aporte externo de sais no ambiente, como, através da aplicação de fertilizantes ou despejo de efluentes salinos. Tal condição causa grandes prejuízos econômicos e sociais para a agricultura com a redução ou eliminação de culturas, degradação do solo e a necessidade de remediação (RIBEIRO, 2010; CARROW e DUNKAN, 2011).

Segundo dados da FAO (2006), cerca de 40 por cento das terras irrigadas do mundo está localizada em regiões áridas e semiáridas, nas quais, apesar de aumentar a produtividade, muitas vezes a irrigação está associada a problemas de salinização do solo (MATEO- SAGASTA e BURKE, 2011). Nestas regiões, onde o teor de sais já é naturalmente elevado, é comum a ocorrência de salinidade secundária, ocasionada por atividades humanas. São casos em que geralmente há o acumulo desses elementos, provenientes do perfil do solo, na superfície em decorrência da ascensão capilar de água salina subterrânea que ocorre devido à

elevada taxa de evapotranspiração, baixo índice pluviométrico e deficiência de drenagem natural, que dificulta a lixiviação dos sais. Ou seja, o excesso de água de irrigação neste ambiente e nestas circunstancias potencializa esse movimento da água salina e acúmulo de sais na superfície do solo (BELTRAN, 2010).

No Brasil, destaca-se a região semiárida do Nordeste, onde há atualmente grandes áreas com solos salinizados devido à natureza física e química dos solos, ao déficit hídrico e à elevada taxa de evaporação, com maior incidência do problema nas terras mais intensamente cultivadas com o uso da irrigação, nos pólos de agricultura irrigada, que correspondem a uma área de 495.370 ha (SANTOS, 2011; SILVA et al., 2011). Cerca de 30% dessas áreas está afetada por sais, inclusive algumas já não produzem e a principal causa é a elevação do lençol freático (BERNARDO, 2008). Setenta por cento das águas dos principais mananciais da região Nordeste são consideradas de boa qualidade para a finalidade (baixa a média salinidade) e os problemas de salinidade existentes nas áreas estão relacionados principalmente ao manejo inadequado da irrigação (HOLANDA et al., 2010).

Neste contexto se inclui o estado de Sergipe, onde os perímetros irrigados têm apresentado problemas com salinidade, como é o caso do Califórnia, Jabiberi, Jacarecica e Piauí (CARMO e MAGALHÃES, 1999; AGUIAR NETTO, 2007).

No Perímetro Irrigado Califórnia, vizinho ao Perímetro Irrigado Jacaré-Curituba, AGUIAR NETTO et al. (2007) realizaram amostragens em 42 lotes, correspondendo a 16,4% dos lotes deste perímetro. As maiores concentrações de sais e, especificamente de sódio, ocorreram na camada superficial (0–0,2m), com predominância de solos salino-sódicos, o que evidenciou a falta de manejo adequado de irrigação visando o controle da salinidade. O aumento do pH do solo foi correlacionado significativamente com a porcentagem de sódio trocável, atingindo valores acima de 9,5, e, correlações positivas significativas também foram observadas entre a condutividade elétrica e os teores de Ca e Mg, indicando que sais desses íons podem estar se acumulando no solo pela ascensão do lençol freático, associado à ausência de lixiviação e drenagem. Em trabalho complementar, AMORIM et al. (2010) realizaram coletas de solos em 96 pontos do Perímetro Irrigado Califórnia, e evidenciaram a baixa incidência de solos sódicos. A percepção dos produtores do Perímetro Irrigado Califórnia sobre as relações da produção com a salinização dos solos ao longo dos anos, aponta que apenas 24% deles estão sofrendo algum tipo de restrição (GOMES et al., 2009).

No perímetro irrigado Jabiberi, AGUIAR NETTO et al. (2006) realizaram coleta de solos em 20% dos lotes em operação, dos quais 76,5% apresentaram problemas de salinização, agravados por práticas inadequadas de irrigação.

A escolha do assentamento Jacaré-Curituba para a realização da pesquisa se deu em função de repetidos relatos dos agricultores locais sobre o crescimento do processo de salinização do solo decorrentes de práticas de irrigação e consequente perda de produtividade e também pela e carência de estudos sobre salinização neste assentamento.

O objetivo deste trabalho é levantar as condições predisponentes e a existência de processo de salinização de solo, identificando a concepção e forma de ocorrência no assentamento de reforma agrária Jacaré-Curituba.

2.2 MATERIAIS E MÉTODOS

O estudo foi realizado no assentamento Jacaré-Curituba, localizado nos municípios de Canindé do São Francisco e Poço Redondo, mesorregião do Alto Sertão Sergipano, extremo noroeste do estado de Sergipe, na região Nordeste do Brasil. O assentamento possui como referência as coordenadas geográficas 9° 43’ 43” Latitude Sul e 37° 45’ 10” Longitude Oeste, abrangendo uma área de 9.617 ha, com 34 agrovilas, 785 famílias e cerca de seis mil moradores (SANTOS, 2011, RAMOS FILHO, 2013). Segundo SANTOS (2005), trata-se do maior Projeto de Assentamento voltado para a agricultura irrigada da América Latina.

O Projeto de Irrigação Jacaré-Curituba, executado no assentamento, abrange uma área de 1.827 ha distribuídos em 133 lotes, sendo 1.724 ha irrigados por micro aspersão e gotejamento e 103 ha com aspersão convencional para irrigação de forrageiras, e contempla 700 famílias. A água é captada diretamente do reservatório da hidrelétrica de Xingó, bombeada e armazenada em reservatório com aproximadamente 20 hectares de espelho d’água (CODEVASF, 2015). Segundo SANTOS (2011), a estrutura para captação e armazenamento de água na barragem são as mesmas utilizadas nos perímetros Califórnia e Nova Califórnia. O Projeto de Irrigação Jacaré-Curituba possui, para a distribuição da água no assentamento, 136 estações de bombeamento, 06 quilômetros de canais de irrigação e 80 quilômetros de adutoras (CODEVASF, 2015). O projeto inicial previa a irrigação de 80 grandes lotes para empresários e não foi reestruturado e redimensionado para a especificidade da agricultura camponesa (RAMOS FILHO, 2013).

O clima, de acordo com a classificação de Thornthwaite, é do tipo mediterrâneo quente ou nordestino, de seca acentuada no verão ou muito quente, semiárido, tipo estepe (GOMES et al., 2009). A precipitação média da área é de 483,9 mm; o período seco da região corresponde aos meses de setembro a março e o período chuvoso, aos meses de abril a agosto.

A temperatura média anual é de 25,5 ºC (RESENDE et al., 2014). A evapotranspiração média anual, estimada pelo modelo de Jensen-Haise, é de 2.200 mm (SOUSA et al., 2010)

Em termos geomorfológicos, o Pediplano Sertanejo é a unidade dominante na região do assentamento. O relevo, dissecado, é plano a suave ondulado, apresentando monotonia e pouco profundo (BOMFIM et al, 202; SANTOS, 2011). Segundo informação da CODEVASF (2015), o solo no perímetro irrigado é Luvissolo Crômico. MARCIANO (2000) classificou o solo do Perímetro Califórnia, que margeia o Jacaré-Curituba, como Luvissolo Crômico Carbonático Vértico. São solos rasos, com argila de alta atividade e alta fertilidade mineral com bastante reserva de nutrientes para as plantas, horizonte Bt com textura média e argilosa. Moderadamente ácidos e praticamente alcalinos, alta saturação de bases e ausência de alumínio extraível (HOLANDA et al, 2003).

Para levantar as condições predisponentes de salinização, optou-se em realizar a pesquisa em lotes que possuíam indício de salinização. Com objetivo de inclusão de número representativo da quase totalidade de propriedades onde ocorre o processo de salinização, adotou-se a técnica metodológica snow ball, ou Bola de Neve, que consiste em um modo de amostragem qualitativa, não probabilística, que utiliza uma abordagem em cadeias, em que os participantes iniciais, proprietários que alegavam ter área salinizada no lote, indicam os novos participantes, e estes, por sua vez, indicam outros novos e assim sucessivamente, até atingir um “ponto de saturação”, ou seja, a repetição das informações já obtidas pelos novos entrevistados (BALDIN, 2011). Com esta finalidade, foi realizada inicialmente visita ao assentamento para identificação de região com sinais de salinização e escolha de uma residência próxima ao local, a parir da qual foram sendo indicadas outras novas propriedades, até atingir o objetivo proposto pela pesquisa. Foi utilizada como critério de exclusão a condição de agricultores que possuíam lote no assentamento, mas não residiam no local.

Foram indicados ao todo 41 proprietários. No entanto, dois deles residiam no núcleo urbano do município de Canindé de São Francisco e foram excluídos da pesquisa. Dos 39 restantes, todos os proprietários confirmaram a suposição de existência de salinização em seus próprios lotes.

Realizou-se com os agricultores indicados uma entrevista com auxílio de questionário com perguntas abertas e fechadas (Apêndice I) que abordaram questões sobre as características dos lotes, do ambiente, do cultivo, das práticas de irrigação, preparo do solo e fertilização. Foram abordadas ainda perguntas relacionadas ao processo de salinização de solo e remediação.

Após a conclusão das entrevistas, foram realizadas as respectivas visitas aos lotes para coleta de solo com o intuito de confirmar a condição de salinização. As coletas foram feitas em áreas supostamente salinizadas, através da indicação do agricultor e observação direta de indícios de salinização, como crostas brancas na superfície, solos com manchas escuras, ausência ou deficiência de crescimento vegetal e presença de vegetação característica.

Foi realizada a coleta de solos com auxílio de trado manual tipo holandês de 0-20 cm, de amostras compostas deformadas de aproximadamente 1 quilo de solo por lote pesquisado, embalados em sacolas plásticas, que foram identificadas e passaram por análises de fertilidade, granulometria, condutividade elétrica (CE) e percentual de sódio trocável (PST) no Instituto Tecnológico e de Pesquisas do Estado de Sergipe (ITPS). Para realizar avaliação das relações existentes entre as características físicas e químicas do solo, foi obtida matriz de correlação linear para variáveis analisadas através do software BIOESTAT, versão 5.3. Foi analisada também, através de sonda multiparâmetro, a salinidade de corpo hídrico adjacente a áreas supostamente salinizadas.

As entrevistas e coletas de solo foram realizadas nos períodos de 05 a 07 e 24 a 27 de novembro de 2014. O período foi escolhido pelas características de alta temperatura e pouca chuva, que supostamente facilitariam as condições de trafegabilidade na área rural, favoreceriam a coleta manual com trado e esperava-se ser mais evidente a presença cristais de sais na superfície, eflorescência típica de solos halomórficos.

2.3 RESULTADOS E DISCUSSÃO 2.3.1 Análise do solo

As análises de solos comprovaram a salinidade nos lotes pesquisados. Os principais resultados obtidos são apresentados na Tabela 2.1 e nas Figuras 2.1, 2.2 e 2.3.

Tabela 2.1 – Valores médios conforme análise do solo.

Evidência Valor pH 7,97 CE (dS/m) 16,60 PST 21,35 Areia (%) 55,01 Silte (%) 16,65 Argila (%) 28,34 Fonte: ITPS/Autor (2014).

Observam-se médias elevadas de CE e PST, o que torna o solo inviável para diversas culturas e causa um grande risco de desestruturação do solo (DIAS e BLANCO, 2010; USSL, 1954). A alta porcentagem de areia nos primeiros 20 cm de solo pode estar relacionada às características naturais do solo ou indicar desestruturação do solo e translocação das argilas para perfis inferiores, causados pela salinização dos solos, conforme descrito por USSL (1954).

As Figuras 2.2 e 2.3 permitem melhor avaliação da distribuição dos valores de CE e PST. Nota-se que amostras estão distribuídas em faixas elevadas de salinidade e sodicidade, havendo a presença de casos severos, com valores de CE em torno de 47 dS/m e PST de aproximadamente 51. 64% 28% 8% Salino-sódicos Salinos Normais

Figura 2.1- Classificação das amostras de solo de acordo com a salinidade (USSL, 1954).

Figura 2.2- Distribuição dos valores de Condutividade Elétrica nas amostras de solos.

Figura 2.3- Distribuição dos valores de PST nas amostras de solo.

Observa-se que 92 por cento dos solos está de fato salinizado, muitos deles classificados como salino-sódicos, em menor quantidade os solos salinos e nenhum caso de solo sódico (Figura 2.1). AGUIAR NETTO et al. (2007) encontraram valores semelhantes de distribuição de solos salinizados no Perímetro Califórnia. Segundo os autores, a salinização no local decorre da falta de manejo adequado da irrigação. No entanto, a condutividade média nos primeiros 20 centímetros de solo foi 3,9 dS/m, bem inferior ao encontrado nesta presente pesquisa, indicando que o problema de salinização do solo pode ser mais grave no Perímetro Jacaré-Curituba.

Os resultados, no entanto, divergem dos dados apresentados por RESENDE et al (2014) sobre o Perímetro Califórnia, onde a CE apresentou valores médios de 0,47 e 1,10 para o mesmo período do ano e mesma profundidade do solo. Provavelmente essa divergência ocorreu devido à diferença metodológica, uma vez que os autores utilizaram amostragem aleatória definida por um grid preestabelecido.

Na Tabela 2.2, é apresentada a matriz de correlação linear obtida para os parâmetros analisados.

Tabela 2.2 – Matriz de correlação linear das características físicas e químicas dos solos avaliados. Característica Areia Silte Argila pH CE PST P Ca Mg K

Silte -0,47 Argila -0,33 -0,68 pH 0,05 -0,41 0,40 CE 0,02 0,58 -0,63 -0,29 PST -0,14 -0,02 0,14 0,32 0,06 P 0,30 0,08 -0,33 0,13 0,08 0,11 Ca -0,15 0,53 -0,44 -0,29 0,41 0,09 -0,12 Mg -0,31 0,23 0,01 -0,33 0,37 -0,29 -0,50 0,17 K -0,13 -0,13 0,25 0,46 -0,12 0,25 0,38 -0,21 -0,33 Na -0,09 0,24 -0,18 0,26 0,71 0,44 0,12 0,08 0,21 0,19 Fonte: Autor (2014) Biostat.

Segundo a análise estatística apresentada na Tabela 2.2, a condutividade elétrica apresentou alta correlação com o Na, Ca, Mg e com o teor de argila. Resultados semelhantes foram observados por AGUIAR NETTO et al. (2007) no Perímetro Irrigado Califórnia. De acordo os autores, essa alta correlação da condutividade com o Na, Ca e Mg indica que o solo ou lençol freático da região possui natural concentração de sais, que têm se acumulado em regiões de baixada através da lixiviação e drenagem das áreas mais altas ocasionadas pela água de irrigação, ou por o excesso estar causando a elevação do lençol freático. Portanto, há

indicação de que o conjunto de deficiência de drenagem, práticas agrícolas e intervenções inadequadas no ambiente associadas às características naturais do solo com Bt e argilas de alta atividade e às condições edafoclimáticas provavelmente está causando acúmulo de sais em lotes do Perímetro Irrigado Jacaré-Curituba.

2.3.2 Adoção de tecnologias agrícolas

A pesquisa revelou que 97,43% dos entrevistados declaram utilizar alguma técnica de irrigação. Apenas um dos lotes era de sequeiro, e segundo o proprietário, não havia irrigação. Considerando que o único critério de inclusão de propriedades na pesquisa era a suspeita de salinização, o fato de quase a totalidade possuir sistema de irrigação, em assentamento com lotes irrigados e não irrigados, pode indicar uma possível correlação entre a irrigação e salinização.

Dentre as técnicas utilizadas, 92,1% fazem uso conjunto de micro aspersão e gotejamento; 5,3% utilizam somente micro aspersão e 2,6% utilizam apenas o gotejamento (Figura 2.4). Não foram identificadas na pesquisa lotes que utilizam aspersão convencional para o cultivo de forrageiras.

92% 5% 3% Microaspersão e gotejamento Microaspersão Gotejamento

Figura 2.4- Gráfico sobre a porcentagem de técnica utilizada nos lotes irrigados.

De acordo com LIMA JUNIOR E SILVA (2010), as tipologias de irrigação podem alterar as características de salinização do solo. As técnicas utilizadas nos lotes pesquisados permitem um melhor controle do volume e distribuição da água irrigada, o que ajuda no manejo para a prevenção da salinização. Portanto, considerando apenas este fator, seria

esperada maior salinização em lotes com irrigação convencional, o que sinaliza a possibilidade de haver outros fatores contribuintes, como utilização inadequada da técnica de irrigação ou de outras técnicas agrícolas; relevo; preparo do solo e cultivo.

Foi evidenciado, através das entrevistas, que todos os lotes irrigados utilizam água captada no rio São Francisco para a irrigação, que é bombeada e armazenada em uma barragem localizada na região do assentamento. Essas informações estão alinhadas com os dados fornecidos pela CODEVASF. De acordo com HOLANDA et al. (2010), a salinidade média da água do Rio São Francisco é da ordem de 0,067 dS/m. Portanto, a qualidade da água utilizada no perímetro não seria um fator de risco relevante para o processo de salinização.

A frequência média de irrigação, segundo os agricultores, é de 2,95 vezes durante a semana e a duração média de irrigação informada é de 3,68 horas. No entanto, não há uma padronização de critérios para a definição desta frequência e duração, conforme pode ser observado na Tabela 2.3.

Tabela 2.3 – Critérios utilizados pelos agricultores para a definição de frequência e duração da irrigação.

Critério Proprietários (%)

Orientações da Netafim* 57

Critérios próprios 37

Orientações de assistência técnica 6

Fonte: Autor (2014). *Empresa contratada pela CODEVASF para a implantação do Projeto, cuja abordagem é sobre a capacidade técnica do sistema de irrigação.

Os critérios próprios apontados são baseados na experiência vivenciada pelo agricultor ou por outros proprietários, e variam pelo tipo de cultura, pela aparência do solo, ou decorrente de acertos entre os agricultores. Segundo dados obtidos nas entrevistas, e também constatados por SANTOS (2011) e RAMOS FILHO (2013), o controle da frequência e duração muitas vezes é realizado por turnos preestabelecidos para o uso da água, ou seja, sem critérios técnicos relacionados às condições do solo ou tipo de cultura. Tais constatações indicam para possibilidade de haver excesso de irrigação, e reforçam a afirmativa de AGUIAR NETTO et al. (2007) que esta pode ser uma das causas da salinização do solo.

SOUZA (2003) alerta que os solos da região são rasos, têm camadas impermeáveis e com componentes salínicos próximos da superfície. Tal fato, associado ao excesso de irrigação ocasionado por à ausência de hidrômetros (não previstos no projeto) e à crônica falta

de técnica e cultura dos assentados e a não execução de estruturas de drenagem, pode levar a um processo salinização do solo e gerar inviabilidade ao projeto.

É necessária, segundo SANTOS (2011) maior assistência técnica e esclarecimentos aos agricultores para não haver excesso de irrigação que favoreça a salinização do solo, como ocorrida no Perímetro Califórnia. No entanto, deve-se relativizar que, de acordo com informações de RAMOS FILHO (2103), o projeto de irrigação Jacaré-Curituba teve início em 2009, e haveria, portanto, pouco tempo de experiência adquirida com técnicas de irrigação.

O conhecimento das culturas plantadas e tipos de animais criados é importante, uma vez que podem estar diretamente ligados aos processos relacionados à salinização. Com esta informação, é possível avaliar os volumes necessários para a irrigação, quantidade e tipos de fertilizantes, pesticidas e corretivos; nível de compactação e exposição do solo; a influência ou tolerância dos cultivos à salinização e até mesmo o potencial de extração de sais do solo através das plantas. Os processos de remediação devem preferencialmente estar alinhados com as práticas agrícolas já existentes.

Os principais produtos cultivados, de acordo com informações obtidas com os agricultores, são apresentados na Tabela 2.4. Os números não refletem os volumes de produção.

Tabela 2.4 – Principais produtos cultivados nos lotes pesquisados, em área e frequência de citação.

Cultura Frequência de citação (nº de lotes) Área total (ha)

Mandioca 27 20,5

Quiabo 27 17,6

Milho 20 9,0

Feijão / Feijão de Corda 18 6,0

Frutíferas 13 7,0

Sorgo 4 2,6

Hortaliças 2 0,5

Pastagem 1 6,1

Fonte: Autor (2014).

Os dados apontam para uma predominância no cultivo de mandioca, quiabo, milho e feijão de corda. Em pesquisa realizada por SANTOS (2011), também foi constatada a importância destes cultivos na região do assentamento. De acordo com a autora, os cultivos de

mandioca, milho, feijão e hortifrúti no assentamento Jacaré-Curituba são destinados principalmente ao consumo das próprias famílias.

O cultivo de macaxeira e quiabo não toleram altos níveis de salinidade (LIMA et al., 1998; SOUZA et al., 2014). Segundo MEDEIROS et al. (2010), sorgo e milho são moderadamente tolerantes a salinização, no entanto o feijão é sensível. Portanto, os cultivos normalmente realizados no assentamento Jacaré-Curituba, podem sofrer influência negativa de produtividade devido ao excesso de sais identificado na região.

Na Tabela 2.5 são apresentadas informações sobre a criação de animais nos lotes pesquisados.

Tabela 2.5 – Animais criados nos lotes pesquisados.

Animais Frequência (nº de lotes) Numero de animais

Bovinos 16 64

Equinos 10 17

Ovinos 7 67

Galináceas 2 14

Fonte: Autor (2014).

Percebe-se a preponderância de criação de bovinos e ovinos. No entanto, o número de

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