• Nenhum resultado encontrado

2.3 CONSERVADORISMO INCONDICIONAL OU EX-ANTE

2.3.2 Inventário LIFO vs FIFO

A aplicação do FIFO (First In, First Out) LIFO (Last In, First Out) e Custo Médio (CM),

resulta do critério contabilístico de atribuição às saídas das existências correspondentes às primeiras entradas, às últimas entradas ou a valores médios respectivamente e não um critério de identificação física das existências.

Segundo Penman (2007, p. 603) a utilização do sistema de custeio LIFO é um método contabilístico conservador quando as quantidades e os custos estão a aumentar. Considera que o LIFO resulta sempre em baixos lucros. Segundo este autor o LIFO provoca Custo das Mercadorias Vendidas (CMV) mais elevado em paralelo com margens brutas e resultados contabilísticos mais baixos. A interacção entre conservadorismo contabilístico, investimento e resultados é mais bem explicado através o critério LIFO (S. H. Penman & Zhang, 2002).

O uso do LIFO reflecte no balanço valores mais baixos que o critério FIFO ou critério Custo Médio, somente se o inventário sofrer variações. Os resultados do período não são afectados pelo uso do LIFO, se o valor do inventário não sofrer variações nesse período, uma vez que, o CMV será igual às compras de determinado período e o mesmo acontece no caso de se adoptar o critério FIFO.

O uso do critério LIFO é um caso de reservas ocultas10. A reserva criada pelo uso do LIFO é

o montante acumulado dos ganhos adicionais que teriam sido reconhecidos no passado

10O termo reservas ocultas é usado para referir passivos e subsídios que são sobrevalorizados, como seja dívidas de cobrança duvidosa, subsídios e estimativa de proveitos e são casos particulares de

se a empresa tivesse usado o critério FIFO. Pelo facto de o LIFO provocar CMV mais elevado e resultados mais baixos, cria reservas ocultas.

O IASB aponta razões para a não utilização do LIFO. Transcrevemos a opinião de Pinto (2006) que consideramos bastante esclarecedora sobre o entendimento do IASB sobre o sistema de custeio LIFO

“O critério LIFO é utilizado como uma tentativa de anular uma deficiência do modelo contabilístico convencional, ou seja, a valorização do rédito a preços actuais e do custo dos produtos vendidos a preços antigos, mas através da imposição de um pressuposto irrealista sobre o movimento das existências;

– A utilização do critério LIFO conduz ao apuramento do resultado como uma diferença entre o rédito e o valor da reposição das existências vendidas determinado com referência à data da última aquisição anterior àquela venda. – A utilização do critério LIFO conduz à valorização das existências no Balanço por um montante que poderá não ter qualquer relação com o actual valor de reposição;

Não é apropriado permitir a utilização de um procedimento que conduz à valorização dos resultados que não é consistente com a valorização das existências no Balanço. Note-se que a utilização do critério LIFO traduz-se no reconhecimento do efeito das alterações de preços apenas na Demonstração dos Resultados, contrariamente ao que se verifica no Balanço; e

– O critério LIFO generalizou-se por razões de ordem fiscal, mas há países que só permitem a sua utilização para efeitos fiscais quando o mesmo é utilizado também para efeitos contabilísticos. Porém, o IASB considera que o problema fiscal não proporciona uma base conceptual adequada para a selecção do critério contabilístico mais adequado e que não é correcto aceitar um procedimento contabilístico desadequado para que as entidades de alguns países possam usufruir de vantagens em termos fiscais”.

É válido assumir que os três critérios aqui mencionados têm um efeito diferente em termos de resultados e valores do balanço. Em períodos de inflação e em situações que

os stocks crescem. O FIFO origina resultados superiores e valores superiores de balanço. O LIFO origina resultados e valores de balanço inferiores, mesmo em situações de normalidades, ou seja, em períodos com inflação normal a adopção do LIFO comparado com os outros critérios tende a provocar resultados e valores de balanço inferiores. Não se pode afirmar todavia que o LIFO seja pior que os outros critérios. O LIFO é mais adequado que o FIFO em termos de resultados, que neste são ilusórios por compararem preços de venda actuais com custos de aquisição desactualizados, e desta forma as existências no balanço tendem a estar mais desactualizadas com o LIFO que com o FIFO (Pinto, 2006).

Assim surge a questão do que se pretende, ou seja, a escolha do critério de valorização das existências tem subjacente qual o objectivo pretendido pelo gestor, de um valor mais próximo do real para efeitos de determinação de resultados e neste caso deve-se optar pelo LIFO e ter a percepção que os valor das existências no balanço vão estar subavaliadas ou para efeitos de apuramento das existências e neste caso opta-se pelo FIFO e vamos ter um resultado sobreavaliado.

A questão da escolha dos critérios FIFO/LIFO está implícito nas Demonstrações Financeiras. Esta questão tem sido considerada em vários estudos, e não colocando de parte a posição assumida pelo IASB, a conclusão é unânime, os resultados contabilísticos apresentados são significativamente diferentes nas empresas que usam LIFO ou FIFO. Como forma de evitar esta discricionariedade na legislação portuguesa, o novo Sistema de Normalização Contabilística a entrar em vigor em Janeiro de 2010, extingue o sistema

de custeio das existências LIFO.

A nível internacional Krishnan et al. (2008) através de estudo empírico procuraram encontrar a relação entre os métodos de custeio dos stocks e qualidade dos accruals num complemento à literatura existente Francis et al. (2005). Concluíram principalmente, que as empresas onde predomina o critério FIFO exibem sistematicamente uma pobre qualidade dos accruals, comparada com empresas que usam o critério LIFO. Demonstram

que o custo de capital é mais elevado nas firmas que usam FIFO que nas empresas que usam LIFO.

Em suma, verificamos que as rubricas atrás mencionadas ficam sujeitas ao critério do decisor. A decisão de qual o método de custeio a adoptar pode ser incentivado por diversos motivos, principalmente com a imagem que se quer transmitir do balanço ou associado a vantagens fiscais.