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No âmbito da relação entre o conservadorismo contabilístico e o rácio MTB encontramos na revisão de literatura alguns trabalhos de maior relevância e com maiores contributos para este trabalho.

Pae et al. (2005) testaram empiricamente a presença de conservadorismo condicional nos resultados para o período de 1970 a 2001, aferir a relação que existe entre empresas que apresentam resultados conservadores e o rácio P/B (price-to-book) do início do período. Formulam a hipótese: O portfolio de empresas que evidenciam rácio P/B mais baixo, são susceptíveis de reconhecerem as MN nos resultados mais rapidamente que as BN, do que o portfolios das empresas com rácio P/B mais elevado.

Para testar a hipótese e dada a dimensão relevante da amostra (119.983 empresas ano), dividem a amostra total em dois portfolios: empresas como rácio P/B <1 e empresas com o rácio P/B> 1.

Aplicando a regressão de Basu (1997) para cada portfolio e dentro de cada portfolio

subdivide entre BN e MN. Os coeficientes Adj R2 obtidos foram:

Figura 5 – Resumo modelo de regressão para rácio P/B

BN MN

Rácio P/B Adj R2

Adj R2

>1 1,50% 7,70%

<1 2,30% 12,70%

Fonte: Pae et al. (2005) Síntese própria

Efectivamente verifica-se em simultâneo, um maior coeficiente Adj R2 para o portfolio de

empresas com MN e com rácio P/B mais baixo. Para a amostra total, conjunta de BN e MN obtêm para o portfolio de empresas que apresentam o rácio P/B mais baixo um coeficiente de 54,2% significativamente superior ao obtido para o portfolio de empresas que apresentam o rácio P/B mais elevado.

Face ao demonstrado, os autores concluem, que os portfolios de empresas com rácios P/B mais baixos, exibem substancialmente maiores resultados contabilísticos conservadores que portfolio de empresas com rácios P/B mais altos.

Adicionalmente na tentativa de obter resultados semelhantes utiliza os accruals e cash

flows operacionais como variáveis dependentes. Na relação entre os accruals e o retorno

contabilísticos e o retorno da acção, ou seja, presença de elevado conservadorismo nos

accruals, evidenciando um coeficiente Adj R2 de 34,10%.

No extremo obtêm o coeficiente de Adj R2 de 4,8% quando usa a variável cash flows, ou

seja, não consegue demonstrar qualquer relação entre os cash flows e o rácio P/B.

Em suma a relação negativa entre os resultados conservadores e o rácio P/B resulta principalmente da componente accruals implícita nos resultados e não da componente

cash flow operacional implícita nos resultados.

Givoly e Hayn (2000) consideram que “A ratio greater than one indicates conservative

accounting” (p. 294), isto é, quando o rácio MTB é superior a 1 é considerado como proxy

de presença de conservadorismo. Os autores desenvolveram um estudo sobre a evolução do rácio MTB no período de 1962 a 1998.

Verificam que, no período de 1981 – 1998 a mediana do rácio MTB aumenta para 1,67

contra os 1, 30 verificado para o período 1968-1980 aplicando o Adj R2 no MTB para os

mesmos períodos, observam um aumento menos significativo de 1,24 para 1,26. Consideram que o elevado rácio MTB observado nos anos mais recentes deriva da

presença de book value mais deprimidos. Ressalvam a observação afirmando que o Adj R2

utilizando o MTB pode exagerar no contributo do aumento do conservadorismo com o aumento do rácio MTB ao longo do tempo. A explicação que encontram para este aumento, está associada, na sua opinião aos nonoperating accruals e despesas operacionais futuras. Ao registarmos a amortização de um activo write-off no período corrente, origina amortizações mais baixas nos períodos seguintes, a não ser que, o activo

write-off seja substituído.

Numa tentativa de avaliar o papel dos accruals no aumento do MTB examinam o aumento do MTB nos dois períodos para verificar se o aumento do MTB está associado à aceleração das amortizações dos activos e consequente acumulação de (negativa)

nonoperating accruals no segundo período. Os resultados (não mostram) indicam que as

empresas com maior acumulação de nonoperating accruals no segundo período relativo ao primeiro, são também aquelas que apresentam maior rácio MTB e evidenciam maior

these off- balances sheet intangibles on the M/B ratios is, however, quite distinct from the phenomenon of conservatism as measured”(p. 318).

Roychowdhury e Watts (2007) tendo por base a teoria contabilística do conservadorismo, investigam a relação entre dois modelos de mensuração do conservadorismo: assimetria de reconhecimento das BN e MN nos resultados (conservadorismo condicional) e o

market-to-book (MTB). Entender a relação entre o conservadorismo condicional e o rácio

MTB, e a extensão em que estas duas medidas reflectem conservadorismo, requer uma teoria de conservadorismo.

Tendo presentes as conclusões dos trabalhos anteriores sobre esta temática, que demonstram a correlação negativa entre o rácio MTB e o conservadorismo, os autores esperam concluir com este trabalho que, quando a assimetria de reconhecimento (conservadorismo condicional) é mensurado cumulativamente ao longo de vários períodos o rácio MTB, no fim desse período, regista uma correlação positiva.

Usam a regressão de Basu (1997) e explicam que o preço das acções reflecte a informação que o mercado recebe de várias fontes, não só dos resultados correntes. A variação no preço da acção é considerada o proxy da chegada de notícias durante um período ao mercado.

Do conjunto de hipótese formuladas no sentido de aferir a relação positiva entre o conservadorismo condicional e rácio MTB do início e fim do período, os resultados obtidos são demonstrados na seguinte tabela.

Tabela 2 – Conclusões das hipóteses formuladas (relação conservadorismo condicional e rácio MTB)

Hipóteses Conclusões Hipóteses Conclusões MTB do

Início Período

Relação negativa Verdadeira Relação negativa

Verdadeira e permanece negativa ao longo do horizonte MTB do final Período Relação negativa, mas mais negativa ao longo do período estimado Verdadeira Relação negativa, mas menos negativa ao longo do período estimado Verdadeira mas não sgnifiativa BN MN

Elaboram ainda outra hipótese: associação entre o conservadorismo condicional e o MTB no final do período estimado é mais positiva quanto mais longo é o horizonte da estimação e mostraram evidências de ser verdadeira.

As principais conclusões obtidas pelos autores neste trabalho foram:

• Quando se verifica baixa assimetria entre os resultados e as MN (a não presença

de conservadorismo) o rácio MTB (do início e fim do período) é mais elevado.

• A relação entre o rácio MTB e o conservadorismo condicional depende do

horizonte temporal. A relação negativa verifica-se somente quando se estima para um período, demonstrando uma relação significativamente positiva quando estimado para dois ou mais períodos.

• A medida de Basu (1997) pode ser tendenciosa “para baixo” quando os retornos

positivos e negativos derivam de economic rents (excesso de rentabilidade).

• A medida de Basu (1997) mensura melhor o conservadorismo no que respeita aos

activos líquidos que o rácio MTB.

Contrário aos estudos anteriores que evidenciavam uma relação negativa do MTB e conservadorismo condicional, este trabalho veio introduzir novas evidências. Demonstram que a relação entre o rácio MTB e conservadorismo pode torna-se positiva para horizontes temporais superiores a um, contudo consideram que a relação entre estas duas medidas é mais complexa do que tem sido relevado na literatura.

O erro do rácio MTB ainda não está devidamente explorado, atendendo aos montantes de rents e unverifiable net assets não observáveis.

Feltham e Ohlson (1996) já anteriormente sugeriam que o rácio P/B depende de se verificar no passado conservadorismo condicional e das futuras oportunidades de crescimento associadas a um valor líquido positivo do projecto.

Ferreira et al. (2007) utilizam o rácio market-to-book médio e agregado para analisar o grau de conservadorismo implícito no balanço em Portugal e verificaram empiricamente

Em suma os trabalhos evidenciados procuram encontrar relação existente entre o conservadorismo e o rácio MTB. Pela revisão de literatura maioritariamente essa relação é negativa. O trabalho de Roychowdhury e Watts (2007) evidenciaram resultados contraditórios para as análises efectuadas, demonstrando que a relação pode tornar-se positiva para horizontes temporais superiores a um.

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CONSERVADORISMO E MANIPULAÇÃO DE RESULTADOS