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3. Sociedade de Concertos da Madeira – o papel fundamental no contexto

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“Em determinada época, muitos me consideravam utópico… felizmente que vivi para ver concretizados vários sonhos”53

Figura 4: William Clode à esquerda e Peter Clode à direita Fonte: Espólio Peter Clode/ARM Caixa42 livro 1027

Luiz Peter Stanton Clode nasceu em dia 1 de março de 1904 no Funchal, tendo completado o curso do Liceu Jaime Moniz com distinção e matriculou-se em seguida, já em 1921, na Faculdade de Matemática da Universidade de Coimbra. Em simultâneo, Luiz Peter Clode obteve os estudos preparatórios para a Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, instituição para a qual foi posteriormente estudar e onde se viria a

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«Grande Colégio da Boa Vista», «Almeida Garret» e «Instituto Dumont».

Com uma vasta e diversificada acção que desenvolveu no campo cultural, especialmente na música – que foi a arte que mais o marcou e era, aliás, a sua grande paixão – com a organização de exposições de artes plásticas, de trabalhos de investigação genealógica que produziu, de estudos sobre a heráldica e de investigação sobre o património artístico da Madeira), Peter Clode teve também o prazer de ao longo de toda a vida se dedicar ao piano, à composição musical, à abrangente música clássica e, obviamente, a todos os campos de actuação cultural que a Sociedade de Concertos da Madeira concebeu.

Figura 5: Luíz Peter Clode; Espólio Luíz Peter Clode

O gosto de Peter Clode pela música despontou desde a sua infância, tendo a música clássica sempre marcado presença nos serões com a família e os amigos. Além disso, desde

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muito cedo, na “Quinta Gertrudes” (onde nasceu e passou grande parte da sua juventude), Peter Clode, juntamente com os irmãos e primos, ocupou o seu tempo com actividades relacionadas com a música, teatro e jogos, ou seja, habituou-se desde muito novo a viver envolto em actividades já com algum cariz cultural (cf. Edward Clode: 2000).

Peter Clode aprendeu a tocar piano com as conceituadas professoras Cora Alice Cunha e Olga da Cunha Freitas e, mais tarde, dedicou-se à composição musical, sobretudo de obras para piano. Saliente-se que algumas delas, como a “Fantasia nº2 Op.31”, foram interpretadas em alguns concertos no Teatro Municipal Baltazar Dias durante o período de actividade da Sociedade de Concertos da Madeira (cf. Edward Clode: 2000).

Sobre as suas composições, o crítico musical António Jorge Andrade refere que:

“[s]ão composições que de imediato nos prendem e por vezes em sua aparente fragilidade, surpreendem por seus arrobos fulgurantes que se diluem em cintilações cristalinas a esvaírem–se com doçura e delicadeza. São o produto de um espírito que vive e sente profundamente a música e a ela se entrega sem reservas estéticas. Inserem-se, numa linha vincadamente clássica, sem curar de saber ou integrar-se em escolas ou movimentos definidos no tempo. São a expressão estruturalmente sólida de sons que transpiram o sentimento de uma alma sensível e devotada, percorrendo os custosos mas sedutores caminhos do Belo.”54

O carácter obstinado que o caracterizava, aliado à sua persistência, dedicação e determinação, ajudaram-no, durante várias décadas, a realizar uma vasta obra no campo cultural, especialmente o musical, onde é imprescindível um olhar atento e perspicaz para que se alcance sucesso.

O referido crítico musical, na mesma crónica onde teceu algumas considerações sobre a música composta por Peter Clode, traça um resumido retrato do seu carácter, através do qual podemos verificar muitas das careterísticas atrás mencionadas:

“ … o firme carácter que individualiza e distingue o nosso homenageado, em suas qualidades de inteligência, de comportamento social e de temperamento decidido, que muitas vezes lutou contra dificuldades e empecilhos de vária ordem, sempre numa saudável teimosia propiciadora de vasta obra e actividade que tem desenvolvido. Pensamos mesmo, disso estamos convictos, que tudo quanto realizou e fez para além da competência e talento, que o caracteriza, é fruto evidente dessa inabalável teimosia, que assim possibilitou relevantíssimos serviços à causa da cultura na nossa terra”55

54 Crónica sobre Peter Clode intitulada “A Homenagem ao Historiador e Musicólogo”, da autoria de António Jorge de Andrade, publicada no Diário de Notícias da Madeira: 23 de março de 1985.

55 Crónica sobre Peter Clode intitulada “A Homenagem ao Historiador e Musicólogo”, da autoria de António Jorge de Andrade, publicada no Diário de Notícias da Madeira: 23 de março de 1985.

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Obviamente que não pode ser esquecido o importante contributo do seu irmão – Dr. William Edward Clode –, que, apesar de menos destacado no contexto da abrangente obra levada a cabo pela Sociedade de Cobcertos da Madeira, colaborou e apoiou intensamente todas as iniciativas que despontavam pela acção primeira de Peter Clode. Assim, durante algum tempo no Funchal, foram referidas as realizações dos “manos Clode” e, muito embora tivessem percursos profissionais completamente distintos (um foi Engenheiro e o outro Médico), a comunhão de interesses, o gosto e a educação que partilhavam e os objectivos que ambos preosseguiram fizeram com que estas personaliades tivessem seguido um mesmo percurso no âmbito das realizações culturais no Funchal, especialmente durante o período de actividade da Sociedade de Concertos da Madeira.

Dia 22 de Março de 1985, por iniciativa da organização “Tertúlia sem Título” – (Jornalistas da Madeira), realizou-se um concerto no Teatro Municipal Baltazar Dias de homenagem a Peter Clode por toda a acção que desenvolveu em prol da cultura, mais especificamente na área musical. A referida organização emitiu uma medalha com a efígie do homenageado.

Esta homenagem teve o apoio da Secretaria Regional do Turismo e Cultura, dirigida na altura por João Carlos Abreu.

O concerto contou com a presença de Lizete Zarone (piano) e João Nogueira (violino) que interpretaram Haendel, Ravel, Falla, Paganine e Khachaturian, com o Trio Pahtétique subricará Glinka, composto pelos pianista e violinista referidos juntamente com o clarinetista José António Faria e o violoncelista Agostinho Henriques.

Como não poderia deixar de ser, a terceira parte do concerto foi totalmente consignada a obras de Peter Clode, interpretadas pelo pianista inglês Nicholas McNair que, tal como aconteceu com João Nogueira, se deslocou propositadamente ao Funchal para participar na sessão de homenagem.

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William Edward Clode nasceu no Funchal, na “Quinta Gertrudes” em setembro de 1900.

Também desde cedo o seu interesse e gosto pela música se fazem notar, aprende a tocar órgão no Colégio Britânico do Funchal onde obviamente teve de igual forma a sua instrução primária.

A partir de 1920 já em Coimbra, onde concluiu o curso de medicina na Faculdade de Medicina desta cidade, participou no Orfeão Académico e na Tuna Académica, tocando viola. A partir de 1923 funda, conjuntamente com outros colegas, a Escola Cantorum de Santa Cecília no âmbito de atividades do Centro Académico de Democracia Cristã, tendo participado no acompanhamento musical de muitas missas em Coimbra.

A partir de 1932, depois de ter desenvolvido e colaborado na organização de diversas actividades no âmbito profissional mas também político, passa a pertencer à Comissão Administrativa da Câmara Municipal do Funchal onde, passados dois anos é nomeado Vice-Presidente da referida Comissão. Neste mesmo ano é fundada a Juventude Católica Antoniana presidida então por William Clode, organização que, para além da natural função religiosa que fundamentou a sua fundação, passa a desenvolver várias atividades no âmbito cultural (música e teatro), assim, é formado um Grupo Dramático e um Grupo Musical, composto por 13 elementos.

Na década de 40 William Clode dedica-se de uma forma mais empenhada às manifestações culturais, nomeadamente à música. Como sabemos, é a partir de 1943, com a fundação da Sociedade de Concertos da Madeira que tem início uma actividade no campo cultural verdadeiramente notória. Em 1944 é formada a “Grande Orquestra Madeirense” também presidida por William Clode. Ou seja, grande parte da actividade cultural que desenvolveu, a partir de 1943, foi no âmbito da então formada Sociedade de Concertos da Madeira, sobre a qual já dedicamos o capítulo 3 da I parte.

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Liceu do Funchal. Foram então desenvolvidas actividades no âmbito da música e da pintura cujos principais objectivos eram transmitir conhecimentos nessas áreas e fomentar o interesse cultural.

William Clode consagra ainda algum tempo à composição musical, nomeadamente de música sacra, por ele muito apreciada desde os tempos de estudante em Coimbra e, em virtude do acidente de que foi vítima já no ano de 1962, que lhe retirou alguma mobilidade, dedicou-se ainda com mais tempo a essa actividade.

William Clode foi, em suma, um homem da cultura e sobretudo pró-cultura, que procurou em todos os momentos, juntamente com o seu irmão Peter Clode, desenvolver, estudar, fomentar e criar atividades que servissem culturalmente as populações.

Deixa-nos em 1980 depois de uma vida repleta de dinamizações em diversas áreas da vida social, cultural, política, etc., da qual aqui fizemos uma pequena alusão.

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A título de exemplo, junto se apresentam reproduções dos programas de concertos: um recital de piano e canto realizado pela pianista Mary Ramsay e pelo tenor Anders Timberg e um recital de piano pelo pianista Victor Schioler.

Figura 6: Folheto do concerto de Mary Ramsay e Anders Timberg, promovido pela Sociedade de Concertos da Madeira no Teatro Municipal Baltazar Dias (capa), no dia 09 de

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Figura 7: Folheto do concerto de Victor Schioler, promovido pela Sociedade de Concertos da Madeira no Teatro Municipal Baltazar Dias (capa), no dia 13 de Janeiro de 1951 - Espólio