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5 O MODELO TARIFÁRIO BRASILEIRO

IRT = VPA + VPB (IGPM ± X) RA

IRT: Índice de Revisão Tarifário.

VPA: Valor da parcela A . Representa os custos considerados não gerenciáveis:

Reserva Global de Reversão, RGR; Conta de Consumo de Combustíveis, CCC, encargos da compensação financeira pela exploração de recursos hídricos; taxas de fiscalização dos serviços concedidos; compra de energia; e encargos de acesso aos sistemas de transmissão e distribuição de energia elétrica para revenda.

VPB: Valor da parcela B. Representa os custos gerenciáveis, que correspondem

aos custos de operação, manutenção, depreciação, remuneração do capital.

IGPM: Índice Geral de Preços do mês anterior à data do reajuste em

processamento e o do mês anterior à Data de Referência Anterior.

X: Percentual de ganho de produtividade. RA: Receita Anual.

O reajuste tarifário anual permite às distribuidoras a possibilidade de que, entre as revisões tarifárias anuais, o equilíbrio econômico financeiro seja restabelecido – no reajuste anual, há a garantia que os custos não gerenciáveis são transferidos integralmente, já os gerenciáveis são calculados como uma fração (VPB x (IGPM ± x)). O reajuste tarifário periódico acontece depois de um intervalo temporal – geralmente entre 4 e 7 anos - estabelecido no contrato de concessão. A revisão tarifária especial poderá acontecer em qualquer tempo, a pedido da distribuidora, quando comprovada mudança significativa no quadro econômico, sem haver culpa da empresa – como no caso do “apagão”.

O modelo tarifário atual é fruto do novo formato de regulação decorrente da mudança do papel do Estado, a partir do anos 1990. Até o início dessa década, o Estado atuava e regulava toda a cadeia da energia, desde a geração até a distribuição. A Lei n.º 5.655/71, por exemplo, estabelecia o regime de remuneração garantida e fixava a taxa de retorno das concessionárias, além de estabelecer o sistema de equalização tarifária entre as essas distribuidoras. A fixação da taxa de retorno garantia o equilíbrio econômico financeiro e, ao mesmo tempo, atendia ao princípio da modicidade das tarifas. A equalização possibilitava aos consumidores, numa mesma classe de consumo, de todas as regiões pagassem a mesma tarifa, independentemente dos custos.

Esse modelo durou até 1993, quando foi promulgada a Lei n.º 8.631, que pôs fim ao regime de remuneração garantida e à equalização tarifária entre as distribuidoras de energia. A partir desse momento, as tarifas seriam propostas pelos concessionários, para serem homologadas pelo Departamento Nacional de Águas e Energia Elétrica (DNAEE), o qual passou a sinalizar que aumentos nelas estariam condicionados a ganhos de produtividade por parte das empresas concessionárias, com as quais passou a firmar Termos de Compromisso. Com essas alterações, o setor elétrico conquistava novas bases para transformar seu modus operandi, pois sua gestão passava a exigir maiores compromissos com eficiência e resultados. (VIEIRA, 2005, p.101).

A metodologia de regulação utilizada pela ANEEL para fixação da tarifa é conhecida pela regulação por Preço Teto. Por essa metodologia, um valor máximo da tarifa é estipulado pela ANEEL, sendo reajustado anualmente pelo Índice Geral de Preços (IGP) menos o fator X, que representa a produtividade da concessionária.

A ANEEL designa a estrutura de custos das concessionárias em gerenciáveis e não gerenciáveis:

Receita do serviço de distribuição

Custo não gerenciável – Parcela A Custo gerenciável - Parcela B

Compra de energia Transmissão Encargos setoriais

Custos operacionais Cota de depreciação

Remuneração dos investimentos

Tarifa de Energia = Parcela A + Parcela B

A ANEEL simula uma Empresa de Referência, ER, para fixar o Preço Teto das tarifas de energia elétrica de cada uma das concessionárias de distribuição. Esse valor é reajustado anualmente, com base no Índice Geral de Preços de Mercado (IGPM), da Fundação Getúlio Vargas, do qual é abatido o fator X. Em outras palavras, o ganho de produtividade da concessionária é repassado como fator redutor da tarifa; o ganho de produtividade da empresa é repassado ao consumidor. No entanto, o Preço Teto prevê também o repasse para a tarifa de todos os custos surgidos por eventos econômicos imprevisíveis da distribuidora. Tais custos são o fator Y.

A sistemática regulatória adotada, se, por um lado, permite preservar o incentivos à produtividade, por outro não oferece, por si só, garantias com relação ao equilíbrio econômico financeiro do contrato. O regulador poderá enfrentar também problemas de assimetria de informação na determinação do fator X a ser empregado. Caso o concessionário obtenha significativos ganhos de produtividade durante o interstício revisional, fará todos os esforços para manter o processo de extração de renda. A dificuldade reside na formulação de contratos que induzam o comportamento inovador do agente e, ao mesmo tempo, permitam a repartição dos ganhos de produtividade entre o agente e o principal (consumidores, representados pelo regulador). (VIEIRA, 2005, p. 247).

De fato, ocorreram algumas distorções no que tange às informações dos custos “não gerenciáveis” das distribuidoras. Na obra citada, VIEIRA, p. 185, ilustra casos em que distribuidoras compravam energia de empresas pertencentes ao mesmo grupo econômico:

1. A LIGHT deixou de adquirir energia de FURNAS por R$ 76,03 e passou comprar da Norte Fluminense a R$ 133,19 por MWh (outubro de 2003).

2. A COELBA deixou de adquirir energia da CHESF por R$ 54,33 e passou a comprar da Termopernambuco a R$ 146,90 por MWh (março de 2003).

3. A CPFL deixou de adquirir energia da CESP por R$ 63,05 e passou a comprar da CPFL Geradora a R$ 113,54 por MWh (abril de 2003).

4. A COSERN deixou de adquirir energia da CHESF por R$ 53,01 e passou a comprar da Termo GCS a R$ 135,27 por MWh (março de 2003).

5. A COELCE deixou de adquirir energia da CHESF por R$ 54,70 e passou a comprar da Central Geradora Termoelétrica de Fortaleza a R$ 153,98 por MWh (março de 2003).

Os custos “não gerenciáveis” acima foram repassados ao cálculo da tarifa de energia elétrica, valores esses acima dos preços de mercado. E as tarifas, que devem ser módicas, acessíveis aos usuários, já que correspondem à satisfação de um serviço público, funcionaram como um fator de extração de renda em favor das distribuidoras. O princípio da modicidade foi, pois, violado. A ANEEL ratificou o atentado ao direito do consumidor à

modicidade tarifária. No entanto, há aparato legal no modelo adotado para coibir os abusos verificados. O Decreto n.º 2335/97, que constitui a ANEEL, em seu art. 13, prescreve:

“Art. 13. O exercício da livre competição deverá ser estimulado pelas ações da ANEEL, visando à proteção e defesa dos agentes do setor de energia elétrica e à repartição de forma justa dos benefícios auferidos, entre esses agentes e os consumidores.”

A Lei n.º 9.648/98, por sua vez, prevê, em seu art. 10, parágrafo 2º:

Art. 10. Passa a ser de livre negociação a compra e venda de energia elétrica entre concessionários, permissionários e autorizados, observados os seguintes prazos e demais condições de transição:

(...)

§ 2º Sem prejuízo do disposto no caput, a ANEEL deverá estabelecer critérios que limitem eventuais repasses do custo da compra de energia elétrica entre concessionários e autorizados para as tarifas de fornecimento aplicáveis aos consumidores finais não abrangidos pelo disposto nos arts. 12, inciso III, 15 e 16 da Lei n.º 9.074, de 1995, com vistas a garantir sua modicidade.

6 DADOS

O valor da tarifa de energia elétrica cobrada, no Brasil, pelas concessionárias aos consumidores residenciais, à exceção dos de baixo consumo, não atende ao princípio da modicidade, positivado no art. 6º, § 1º, da Lei n.º 8.987, de 13 de fevereiro de 1995. Os reajustes tarifários aplicados às contas de luz têm sido maiores que o índice de inflação. De fato, o gráfico 1 ilustra o crescimento, entre 1995 e 2002, de 392% da tarifa de energia elétrica, em contraste com o de 236% de inflação.

Fonte: Revista do BNDES, Rio de Janeiro, V. 14, N.º 29, P. 435-474, junho de 2008. Gráfico extraído do artigo “Por que as tarifas foram para os céus ? Propostas para o Setor Elétrico Brasileiro”, de Gustavo Antônio Galvão dos Santos et all.

Em comparação com os valores do mercado internacional, a tabela 1 atesta a incômoda primeira colocação do Brasil no que diz respeito ao preço da tarifa de energia elétrica, na frente inclusive de países que têm uma matriz energética de base térmica, que é mais cara naturalmente, como o Japão e a Alemanha.

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