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6.D

ISCUSSÃO DOS

R

ESULTADOS

A velocidade do estímulo tem sido uma das variáveis mais investigadas no âmbito da AC. Porém, é aquela que tem apresentado os resultados mais inconsistentes, referindo uns autores que o desempenho é melhor em velocidades mais baixas, outros em velocidades mais elevadas e há ainda alguns que sugerem a existência de velocidades óptimas de desempenho. A análise geral revelou uma precisão mais elevada na velocidade mais lenta (6mph) e uma variabilidade menos elevada na velocidade mais rápida (12mph). Quanto à precisão, os nossos resultados corroboram os observados por Shea et al. (1981). Estes autores utilizaram o Bassin Anticipation Timer a 6 velocidades aleatórias (1,5; 2; 2,5; 3; 3,5 e 4 mph), verificando que a precisão diminuiu com o aumento da velocidade, sugerindo que esta diminuição da precisão com o aumento da velocidade pode eventualmente ser o resultado da diminuição do tempo disponível para tomar as decisões adequadas, sugerindo que deve existir uma quantidade óptima de tempo disponível ou uma velocidade de estímulo óptima para maximizar o desempenho.

Dunham & Reid (1987), num estudo com crianças no desempenho de uma tarefa de AC às velocidades de 2, 4, 6, 8 e 10 mph, também verificaram que com o aumento da velocidade do estímulo a duração do estímulo foi diminuída e o tempo disponível para o processamento da informação reduzido, indicando que como a duração do estímulo diminuiu os indivíduos foram incapazes de processar as informações necessárias e, consequentemente, houve um declínio na precisão das suas respostas.

Quanto à variabilidade, os nossos resultados vão ao encontro dos observados em alguns estudos, tais como os de Meeuwsen, Goode & Goggin (1995), Brady (1996), Corrêa (2001), Coker (2004). Nestes, as velocidades mais rápidas proporcionaram uma menor variabilidade, indicando que a variabilidade da resposta diminui linearmente com o aumento na velocidade do estímulo. Uma possível explicação para estes resultados pode ser considerada em relação ao tempo de processamento da informação, mais especificamente,

nas velocidades mais baixas o executante possivelmente tem maior dificuldade em sincronizar a elaboração do plano de acção com sua execução (Ugrinowitsch, Corrêa & Tani, 2005).

No trabalho desenvolvido por Teixeira, Santos & Andreysuk (1992), os seus resultados corroboram, em parte, os que foram encontrados por nós. A amostra contava com 50 estudantes universitários de educação física, 50 rapazes e 50 raparigas, com média de idades de 22,5 anos e de 21,0 anos, respectivamente. No estudo elaborado por estes autores observou-se um aumento da tendência de atrasar as respostas à medida que a velocidade aumentava, em conformidade com a nossa análise, mas, por outro lado, encontraram desempenhos mais variáveis em velocidades extremas e menos variáveis nas velocidades intermédias, sendo as velocidades utilizadas 5,6,7,8,9 e 10 mph. Esta última observação refuta os nossos resultados, uma vez que no nosso estudo constatou-se uma menor variabilidade na velocidade mais alta (12 mph). Os autores interpretaram estes resultados à luz de duas hipóteses: 1) em função de um tempo de processamento da informação óptimo, pode haver uma velocidade de estímulo mais apropriada para aumentar a precisão temporal da resposta; ou 2) independentemente do valor absoluto das velocidades, durante a prática o executante estabelece uma expectativa de velocidade do estímulo, havendo uma correspondente queda de desempenho quando a velocidade é diferente dessa expectativa. Esta última hipótese parece ser aquela que mais se coaduna aos resultados obtidos no presente estudo.

Quando realizamos a análise por grupos, verificamos que apenas nos destrímanos o efeito da velocidade foi significativo no que diz respeito ao enviesamento da resposta, antecipando as respostas na velocidade 6 mph (mais lenta) e atrasando nas velocidades 9 e 12 mph. Estes resultados suportam os obtidos por Coker (2004), tendo a autora verificado que, na velocidade mais lenta (3 mph) os sujeitos respondiam antes da chegada do estímulo, enquanto na mais rápida (9 mph) a resposta surgia atrasada em relação ao alvo. De uma forma geral, os resultados confirmam a literatura em sujeitos destrímanos, uma vez que esta sugere que em velocidades lentas há

tendência das respostas serem dadas antecipadamente e que, em velocidades mais rápidas as respostas são dadas de forma tardia (Brady, 1996; Wrisberg, Hardy & Beitel, 1982).

Meeuwsen et al. (1995) sugere que responder mais cedo se revela mais complexo, quando a velocidade do estímulo aumenta, uma vez que o tempo de visualização total diminui, isto é, com o aumento da velocidade diminui a duração do estímulo e o tempo disponível para o processamento da informação é reduzido (Dunham & Reid, 1987).

O efeito da velocidade não foi aparente nos sinistrómanos corroborando os resultados observados no estudo de Rodrigues et al. (2009, em apreciação) com uma tarefa complexa de AC.

No presente estudo os sujeitos desempenharam uma tarefa simples de AC, predominantemente perceptiva, enquanto no estudo de Rodrigues et al. (2009, em apreciação) foi empregue uma tarefa complexa, com um componente fortemente efector. Parece que é a componente perceptiva que distingue destrímanos e sinistrómanos em tarefas de AC onde a velocidade do estímulo é manipulada.

Em relação à PM, o nosso estudo apenas apresentou uma supremacia no desempenho dos sujeitos destrímanos, comparativamente com os sinistrómanos no EC; apesar de os dois grupos terem atrasado as suas respostas, os destrímanos enviesaram menos, ou seja, apresentaram melhor desempenho. Estes resultados refutam os obtidos por Rodrigues, Vasconcelos, Barreiros & Barbosa (2009) onde os sinistrómanos revelaram ser mais precisos que o grupo de destrímanos, no desempenho de uma tarefa complexa de AC, e os resultados de Rodrigues et al. (2009), onde não se verificaram diferenças entre adolescentes destrímanos e sinistrómanos. São necessários mais estudos que uniformizem amostras, intrumentos, tarefas e procedimentos, de forma a verificar o efeito destas variáveis na AC.

Na generalidade, na avaliação da assimetria motora funcional, os destrímanos são mais consistentes na lateralização em comparação com os sinistrómanos e esta evidência revela-se na realização das tarefas unimanuais

mais complexas, em que os destrímanos apresentam maiores vantagens na concretização da tarefa porque são mais consistentes e mais rápidos em comparação com os sinistrómanos (Bryden et al., 2007). No entanto, os sinistrómanos são menos assimétricos no desempenho manual, principalmente com a MNP e apresentam melhores desempenhos em tarefas bimanuais devido à maior cooperação dos dois hemisférios cerebrais (Vasconcelos, 2004).

A escassez de literatura, referente à análise da PM em tarefas de AC, condicionou em certa medida a argumentação, sustentação e discussão dos nossos resultados, daí que se devam alargar estudos neste âmbito, na medida em que o conhecimento dos resultados acerca do desempenho destes grupos de PM poderá contribuir para a compreensão e desenvolvimento da motricidade global, retirando daí vantagens para tarefas laborais, em geral, e para o desporto, em particular.

No que respeita à análise geral, o sexo masculino evidenciou uma superioridade em relação ao sexo feminino quanto à precisão (dada pelo EA e pelo EC), estando estes resultados em conformidade com os observados em outros estudos (Wrisberg, Paul & Ragsdale, 1979; Stadulis, 1985; Brady, 1996; Williams & Jasiewicz, 2001; Rodrigues, Freitas, Vasconcelos & Barreiros, 2007).

Algumas sugestões têm sido fornecidas para explicar o efeito desta variável na performance em AC. Entre elas encontram-se o uso de um modo mais conservador de resposta pelas mulheres (Brady, 1996; Williams & Jasiewicz, 2001), factores sócio-culturais (Wrisberg, Paul & Ragsdale, 1979), estando este argumento sustentado no facto de os rapazes serem geralmente incentivados a desenvolver as suas habilidades atléticas enquanto as raparigas são instruídas a adoptarem comportamentos mais femininos, o que muitas vezes se traduz na revogação da maioria dos desportos e actividades vigorosas (Layman, 1968). Petrakis (1985) também apoia a influência sociocultural das diferenças entre sexos. No seu estudo participaram sujeitos de ambos os sexos, homogéneos em idade e experiência desportiva, tornando-

os mais similares do que uma amostra da população em geral. A autora sugere que se for permitido às mulheres desenvolverem as suas habilidades atléticas e receber a formação desportiva como os homens, os seus desempenhos serão semelhantes em tarefas de AC, quando o tamanho do corpo e a força não são factores limitadores nas habilidades específicas.

No entanto, no presente estudo, a amostra era constituída por estudantes de Educação Física que, apesar de poderem diferir quanto ao seu

background desportivo, possuíam alguma prática em modalidades desportivas

onde a capacidade de AC é utilizada. Assim, é possível que outros factores possam ter contribuído para os resultados obtidos.

Quando a análise foi efectuada por grupos de PM, constatou-se que o efeito do sexo foi significativo apenas no grupo dos sinistrómanos. Apenas podemos especular que estes resultados possam compreender processos hemisféricos diferenciados.

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