Isolamento acústico

O desempenho acústico de um ambiente depende de vários fatores, dentre os quais destacam-se o posicionamento do edifício e de suas dependências, as características acústicas dos sistemas de fechamento adotados e o tratamento de suas interfaces entre si e com a estrutura, pisos, coberturas, forros e esquadrias, além de especificações de equipamentos e instalações possíveis geradores de ruído.

Sales (2001), considerando que estruturas e fechamentos mais leves possuem menor massa para isolamento de ambientes e maior fragilidade em termos de isolação sonora, realizou avaliações qualitativas de capacidade de isolações sonoras, por meio da lei de massa,

determinando perdas de transmissão sonora em função da freqüência do som, com fechamentos verticais externos e internos.

Assim, foram comparados fechamentos externos constituídos por alvenaria, placa cimentícia, painel simples de concreto recheado de poliestireno (isopor), painel duplo de concreto recheado de poliestireno (isopor), painel de concreto celular autoclavado, painel de concreto maciço, painel simples de EPS e painel duplo de EPS. E fechamentos internos constituídos por alvenaria, divisórias de gesso com faces simples, divisórias de gesso com faces duplas, painel simples de EPS, painel duplo de EPS e painel de concreto celular. Entre esses, o fechamento externo em alvenaria, com espessura de 25 cm, material utilizado como fechamento vertical no primeiro pavimento do prédio da Escola de Minas, possui desempenho acústico superior à maioria dos fechamentos industrializados do mercado, sendo que apenas os painéis duplos de concreto recheados de isopor e os painéis duplos de EPS apresentam desempenho melhor, Figura 5.13 (SALES, 2001).

Nas dependências da edificação em estudo, onde foi utilizado o fechamento com divisórias pré-fabricadas moduladas, observa-se que esse tipo de fechamento apresenta pouca isolação sonora e os ruídos de uma sala interferem em outra. Além disso, as frestas existentes entre a laje de piso do segundo pavimento e a esquadria do fechamento externo, agravadas pela falta de rodapés de borracha, contribuem para a passagem do som de um andar para o outro.

Para o sistema de fechamento interno, paredes de painéis duplos em gesso acartonado, recheados, ou não, de materiais isolantes acústicos, e paredes em painéis duplos de EPS proporcionam desempenho acústico superior ao da alvenaria de 15 cm de espessura, utilizada como fechamento interno das salas de aula, Figura 5.14 (SALES, 2001).

Os painéis de gesso acartonado, ou dry wall, que também são de montagem rápida, poderiam ser utilizados como fechamento interno. Esses painéis, como as divisórias, possuem as vantagens de permitirem flexibilidade e adaptação dos espaços conforme o uso, serem de montagem rápida, oferecerem limpeza à obra durante a montagem e, diferentemente das divisórias utilizadas, permitirem o embutimento de dutos de maior volume para a fiação e admitirem reforço para fixação de bancadas, estantes e pias, podendo ser aplicados em áreas molháveis. Por outro lado, como desvantagens, também

necessitam de estrutura auxiliar em perfis leves metálicos, que ficam embutidos na parede, não podem ser molhados durante a montagem, exigem mão de obra especializada e devem ser aplicados de forma planejada após a instalação de todos os dutos de energia, telefonia, água e esgoto.

Figura 5.13 – Variação de perda de transmissão sonora para paredes externas Fonte: SALES, 2001

Figura 5.14 – Variação de perda de transmissão sonora para paredes internas Fonte: SALES, 2001

Na edificação em estudo, para proporcionar melhor isolamento acústico, as paredes de duas salas de aula, que ficam localizadas no primeiro bloco, com fechamento interno em divisórias, foram modificadas, passando a ser paredes duplas com adição de uma manta de lã de vidro entre elas. Outra modificação ocorreu no auditório de eventos do prédio, sala 110, que foi reformado em 2005 e a divisória foi trocada por painéis duplos de gesso acartonado recheados com lã de vidro, totalizando uma parede de espessura igual a 0,25 m, com revestimento interno em feltro, para garantir melhor isolamento acústico.

Vê-se que, como fechamento externo, a alvenaria proporciona condições de conforto ambiental satisfatória, mas a falta de isolação sonora nas interfaces geradas pelas frestas entre o piso do segundo pavimento e a esquadria do fechamento causa desconforto. Esse problema poderia ser atenuado por meio da colocação de rodapés de borracha em todo o edifício. Na sala 110, o isolamento acústico teve uma melhoria após a colocação dos painéis duplos de gesso acartonado. Mas, como existe a fresta, em decorrência da não colocação do rodapé, esse isolamento ainda não está otimizado.

Além disso, como nas dependências onde foi utilizado o fechamento com divisórias pré- fabricadas moduladas, a isolação sonora é baixa, a adoção do sistema de fechamento interno em gesso acartonado com paredes duplas e espessura de 7,5 cm poderia constituir uma solução satisfatória.

Ressalta-se que, para a escolha do sistema de fechamento mais adequado quanto ao isolamento acústico é necessário o conhecimento das propriedades isoladas de seu material, considerando-se a execução e a montagem de cada sistema e suas interferências com o meio (SALES, 2001).

Mas, além de uma escolha dos sistemas de fechamento e tratamento adequado das juntas, é necessária a compatibilização dos outros sistemas componentes de uma obra, pois todos eles apresentam interfaces entre si, as quais devem ser executadas de maneira que a edificação alcance o desempenho global esperado. Os projetos, sua compatibilização, bem como o planejamento dos processos de concepção e de execução da obra geram uma visão sistêmica da construção, que exige uma abordagem multidisciplinar e integrada de todos os projetos e etapas constituintes (SOUZA e SALES, 2005).