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D ISTRIBUIÇÃO DE RENDA NO B RASIL

No documento Universidade Estadual de Londrina (páginas 31-37)

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA E EMPÍRICA

2.4 D ISTRIBUIÇÃO DE RENDA NO B RASIL

Hoffmann (1997) exprimiu a expressão distribuição pessoal da renda como a forma através da qual a renda nacional é repartida entre as várias categorias de pessoas que contribuíram direta ou indiretamente para sua produção. Já em estatística a expressão distribuição da renda, significa conhecer os possíveis valores da renda e as respectivas probabilidades ou frequências, sem muita ênfase, necessariamente, no fato de que existe um valor total sendo repartido. Para o termo distribuição da renda utilizada em seu trabalho, o autor destaca que os dois significados da expressão estão estreitamente relacionados e afirma que as mudanças nas leis e normas econômico-sociais que regulam a repartição da renda nacional entre as várias categorias de pessoas envolvidas na sua produção irão alterar a forma da distribuição estatística da renda.

Ainda referindo-se ao termo distribuição de renda, Hoffmann (2006) declara que este vem a ser um tema central da teoria econômica, tratado pela escola clássica e marxista como forma de compreender as leis econômicas que regulam os níveis dos salários, recebidos pelos trabalhadores, os lucros dos capitalistas e a renda da terra recebida pelos proprietários; e pela escola neoclássica com o enfoque da análise na determinação da remuneração dos fatores de produção.

Hoffmann (1997) faz algumas observações a respeito das diferenças entre as várias formas de se mensurar uma boa medida de desigualdade. Segundo o autor, de acordo com o princípio de Pigou-Dalton, uma medida de desigualdade eficiente deve aumentar quando é feita uma transferência regressiva de renda, isto é, quando parte da renda de uma pessoa é transferida para outra cuja renda era igual ou maior do que a renda da primeira, além do mais, quando uma transferência ocorre entre pessoas do mesmo intervalo, este tipo de medida torna- se mais sensível em relação aos demais. O principio de Pigou-Dalton comprova que uma transferência de renda de um indivíduo mais rico para um indivíduo mais pobre, desde que essa transferência não inverta a posição social entre os dois, resulta em uma maior igualdade social.

Cacciamali e Cury (2013) afirmam que o Brasil, o Chile e a Colômbia conduziram, segundo analistas internacionais, o crescimento da região sul da América Latina, na década de 2010, mas que, há desafios internos e externos que devem ser superados, principalmente no caso do Brasil, haja vista sua condição de líder regional. Conclui que não são poucos os desafios para a continuidade do processo de crescimento da América Latina, e que a concretização das possíveis soluções não é trivial, e após apontar diversas sugestões acerca de

movimentos que devem ser tomados para que haja a continuidade do processo de crescimento da América Latina, faz um alerta a respeito da questão social.

O problema da concentração de renda é recorrente em vários países do mundo, não apenas no Brasil, porém, quando comparado ao cenário mundial, percebe-se que o Brasil encontra-se entre os países com maior desigualdade de renda. A tabela 2 mostra o índice de Gini para alguns países. Entre os países selecionados, nota-se que o Brasil se encontra na 4ª posição, apontando que há uma má distribuição dos recursos.

Tabela 2 – Índice de Gini para os países selecionados.

País Índice de Gini Ano

África do Sul 0,631 2009 Bolívia 0,563 2008 Colômbia 0,559 2010 Brasil 0,547 2009 Chile 0,521 2009 Costa Rica 0,507 2009 Equador 0,493 2010 El Salvador 0,483 2009 Argentina 0,445 2010 Costa do Marfim 0,415 2008 Camboja 0,379 2008 Croácia 0,337 2008 Bangladesh 0,321 2010 Egito 0,308 2008 Cazaquistão 0,290 2009 Afeganistão 0,278 2008 Eslováquia 0,260 2009

Fonte: Elaborada pela autora, a partir de dados do Banco Mundial (2014).

Cacciamali e Cury (2013) constataram que houve a necessidade de promover maior diversificação de parceiros econômicos e comerciais para evitar o aprofundamento da dependência das economias da Região Sul com a China e das economias da Região Norte com os Estados Unidos. Visto que a crescente dependência da América do Sul em relação à China pode implicar maior desindustrialização da região, com graves implicações no médio e longo prazo para o crescimento sistêmico da produtividade. A manutenção do modelo secundário exportador de baixos salários mantido pelo México e Centro-América poderá restringir a execução de medidas redistributivas mais profundas, como a política ativa de salário mínimo, ou de diminuição das desigualdades regionais ou setoriais, por exemplo, dado

que as consequências são bem conhecidas, como o aumento das desigualdades e restrição aos níveis de bem-estar.

Além disso, a política econômica dos anos 2000 foi gerida, na maioria dos países da América Latina, por grupos políticos que ocuparam espaço por meio de agendas comprometidas com demandas populares. O cumprimento dessas propostas e, muitas vezes, até a dramaticidade da questão social na região tornam as lideranças suscetíveis à realização de gastos não compatíveis com a realidade orçamentária. Os autores chamam a atenção para o fato de que nunca é demais repetir que a alocação dos recursos deve ser gerida mantendo parâmetros de responsabilidade fiscal e medidas populistas, no presente, comprometerão a sustentabilidade do desenvolvimento no longo prazo.

De acordo com Cacciamali e Cury (2013) para continuar com o processo distributivo de renda é necessário manter articulados os programas redistributivos de renda e de combate à pobreza, pois a dinâmica capitalista é concentradora e requer demandas sociais organizadas, que se traduzam em políticas públicas para conter, ou, pelo menos, diminuir a elevação da desigualdade. Neste aspecto social, a manutenção das políticas de acesso ao crédito para empresas de menor porte e negócios informais, políticas ativas e passivas de mercado de trabalho, como a política ativa de salário mínimo, qualificação, intermediação, e seguro- desemprego, programas de transferência de renda para os mais pobres, são contrapeso para as forças concentradoras.

Em relação ao Brasil, a literatura a respeito da distribuição de renda aponta para a ocorrência de desconcentração de renda. A tabela 3 traz os valores para cada ano, no período de 1981 a 2009, do índice de Gini para o Brasil. Os dados mostram que no período a desigualdade na distribuição da renda no país decaiu de 0,582 para 0,539. No entanto, esse declínio não se deu de forma constante. Nos anos de 1980 a desigualdade de renda no Brasil atingiu o seu pico, encerrando a década com a concentração de renda apresentando o pior valor do período, com o índice de Gini igual a 0,634. Na década de 1990 o país tem uma pequena queda no índice de Gini, de 0,612 em 1990 para 0,592 em 1999. Apenas a partir do novo milênio torna-se possível observar a queda contínua de 0,592 em 2001 para 0,539 em 2009.

Tabela 3 – Índice de Gini para o Brasil entre os anos de 1981 a 2009

Ano Brasil Ano Brasil

1981 0,582 1997 0,600 1983 0,594 1998 0,598 1984 0,587 1999 0,592 1985 0,595 2001 0,594 1986 0,586 2002 0,587 1988 0,616 2003 0,581 1989 0,634 2004 0,569 1990 0,612 2005 0,566 1992 0,580 2006 0,559 1993 0,602 2007 0,552 1995 0,599 2008 0,544 1996 0,600 2009 0,539

Fonte: Elaborada pela autora, a partir de dados de Ferreira e Souza (2011).

A melhora na distribuição de renda do Brasil é consenso entre a maioria dos pesquisadores desse tema. Entretanto, Hoffmann (2009) ressaltou que há substanciais diferenças na contribuição do rendimento domiciliar para o índice de Gini da distribuição da renda domiciliar per capita, tanto regionais como entre as diferentes parcelas de renda. O rendimento do trabalho de militares e funcionários públicos estatutários, por exemplo, está associado a 11,4% do índice de Gini no Estado de São Paulo, mas essa percentagem é 38,9% no Distrito Federal. Aposentadorias e pensões oficiais respondem por 15,7% do índice Gini no Estado de São Paulo e por 27,8% do índice de Gini no Rio de Janeiro. Entre as nove parcelas do RDPC analisadas, a que mais contribui para a redução da desigualdade no período 2001-2007 é o rendimento dos empregados do setor privado (incluindo todos os celetistas), representando quase 50% da redução do índice de Gini no período.

No estudo de Bessa (2013) realizado para o Brasil e região Nordeste sobre desigualdade de renda das parcelas de rendimentos domiciliares per capita, de 1995 a 2012, para o Brasil e o Nordeste o autor constatou uma tendência de queda da concentração de renda, mas a região nordestina apresentou uma taxa de queda na desigualdade de renda menor que a taxa nacional (11,36% no Brasil contra 9,96% no Nordeste). Uma observação feita pelo autor, que pode justificar tal diferença, é o fato de que na região Nordeste há uma menor participação das parcelas de rendimento oriunda do trabalho perante o restante do país, e uma grande importância dos programas de transferências condicionadas de renda para esta queda, principalmente depois do ano de 2004, quando foi implantado o Programa Bolsa Família.

rendimento domiciliar per capita nos seus vários componentes, que permite avaliar a magnitude da sua contribuição para a desigualdade no país, verificou-se que é crescente o percentual de rendimento domiciliar médio no Brasil advindo das aposentadorias e pensões. Em 1999, o rendimento das aposentadorias e pensões participava com 17,8% da renda total, e, em 2002, esse valor foi de 18,7%. Os resultados obtidos para o Paraná indicam, nos anos selecionados, que a parcela das aposentadorias e pensões é uma das duas parcelas mais significativas no rendimento domiciliar e, seguindo a tendência brasileira, mas em ritmo intensificado, esse componente tem elevado sua participação na renda. Se, para o Brasil, os dados apontam 0,9% de crescimento, para a Região Sul é de 2,3% e para o Paraná foi de 2,7%.

Segundo os autores, a população brasileira segue uma tendência mundial com baixas taxas de fecundidade, aumento da longevidade e urbanização acelerada, e a interação desses fatores resulta em um maior crescimento da população idosa em relação aos demais grupos. Segundo os autores, verifica-se uma tendência de remunerar o trabalhador formal com menor salário e com participação nos lucros através de gratificação, bônus ou dividendos, sem que haja incidência de contribuição, tanto do empregado, quanto do empregador. Essas novas tendências contribuem para intensificar a problemática da Previdência Social no Brasil, de forma que ao se aposentar o salário utilizado com base será menor do que o montante recebido pelo contribuinte enquanto o mesmo estava na ativa.

Avaliou-se também a contribuição do componente do rendimento domiciliar “aposentadorias e pensões” para a desigualdade da distribuição do rendimento domiciliar per

capita no Brasil, Região Sul e Estado do Paraná, nos meios rural e urbano, em 1999, 2001 e

2002. Utilizou-se a estratificação do rendimento domiciliar per capita e a metodologia de decomposição do índice de Gini dos seguintes componentes: rendimento do trabalho principal, de outros trabalhos, aposentadorias e pensões, doações, de aluguel, e outros rendimentos (juros, dividendos, etc.). Conclui-se que existe uma substancial contribuição das aposentadorias e pensões para a desigualdade da distribuição da renda no Brasil e na Região Sul, no entanto na Região Sul rural e Paraná rural essa situação não se efetiva, com exceção do ano de 2002, contrariando a tendência brasileira. A estratificação dos rendimentos domiciliares permitiu a verificação de que, para todas as regiões rurais analisadas, há uma melhor distribuição dos rendimentos das aposentadorias e pensões localizados nos estratos inferiores da renda.

Em um de seus trabalhos realizados a respeito da contribuição das aposentadorias e pensões na distribuição de renda, Hoffmann (2009), constatou que em todo o período

analisado, que foi de 2001 a 2007, de acordo com os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), a razão de concentração de aposentadorias e pensões oficiais ficou um pouco acima do índice de Gini, indicando o caráter regressivo dessa parcela do RDPC no Brasil. Porém o autor ressalta que provavelmente os dados das PNADs levam a superestimar a regressividade de aposentadorias e pensões, por serem menos subdeclaradas do que outras parcelas do rendimento domiciliar.

Em sua pesquisa, Bessa (2013) divide o total da renda em parcelas, sendo que uma delas se refere à renda provinda das aposentadorias e pensões. A parcela referente à remuneração do trabalho principal e a aposentadoria se mostraram como as principais fontes de renda tanto no Brasil, como no Nordeste, juntas com uma média de 93,04% para o Brasil e 91,07% para o Nordeste. Constatou-se mediante os resultados obtidos que no período analisado, que vai de 1995 a 2012, a parcela de remuneração do trabalho vem perdendo seu grau de progressividade, tanto no Brasil como no Nordeste. Com respeito à parcela de aposentadoria e pensões, em conformidade com outros estudos, como em Ferreira (2003), realizados a respeito do mesmo assunto, ressalta-se que essa parcela se mostrou regressiva.

No documento Universidade Estadual de Londrina (páginas 31-37)

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