Já nesta etapa do Asthanga Yoga o praticante deve estar preparado para abandonar sua ilusória identificação corpórea. Deixar o falso ego e aceitar um Ser Supremo a quem temos que aceitar como superior ao nosso insignificante ego grosseiro é algo muito difícil, mas extremamente necessário para quem quer avançar no caminho do Yoga como ele realmente é. Patanjali em seu Yoga-sutra (1.23), enfatiza que:
isvara-pranidhanad va
“Entregar-se por completo à Suprema Personalidade de Deus.”
Também é enfatizado o mesmo ponto no sutra 2.45:
samadhi-siddhir isvara-pranidhanat
“A perfeição do Samadhi é a rendição completa à Suprema Personalidade de Deus.”
Entregar-se numa atitude de rendição ao Senhor Supremo é muito difícil para quem ainda não tenha desenvolvido pelo menos uma pequena centelha de amor pela Pessoa Suprema. Porém, para amá-Lo é necessário conhecê-Lo, e para conhecê-Lo dependerá muito do estágio anterior,
Svadhyaya. Estudar as escrituras com uma pessoa autorizada e conhecedora profunda das escrituras autorizadas, um Guru, será de fundamental importância para se chegar a este último estágio de Niyama.
Assim, este é o ultimo estágio para o yogi que deseja abandonar os apegos materiais e proteger-se dos perigos da vida humana. Por este motivo o Senhor Krishna instrui Arjuna já no final do Bhagavad-gita (18.65):
sarva-dharma parityajya mam ekam saranam vraja aham tvam sarva-papebhyo
moksayisyami ma sucah
“Abandone todas as suas ocupações materiais e simplesmente renda-se a Mim. Eu o libertarei de todas as reações pecaminosas. Não tema.”
A verdadeira rendição depende de abandonarmos completamente a falsa identificação corpórea e as atividades do ego material. Para isto, utiliza-se tudo para o prazer do Supremo, com uma visão espiritual. Desse modo, isvara
pranidhana não significa algo externo ou mecânico, mas um
sentimento e atitude interna de entrega completa. Caso contrário o yogi corre o risco de se refugiar, ou se render, à energia material ilusória. Como Krishna declara no Bhagavad-
gita (9.12):
moghasa mogha-karmano mogha-jnana vicetasah
raksasim asurim caiva prakrtim mohinim sritah
“Aqueles que estão perplexos deixam-se atrair por
opiniões demoníacas e ateístas. Estando
liberação, suas atividades fruitivas e seu cultivo de conhecimento são todos destroçados.”
Portanto, o yogi deve render-se ao Supremo refugiando-se na potência espiritual do Senhor. Após esta rendição o yogi dedica todas as suas atividades, pensamentos, sentimentos, desejos e inteligência ao Senhor Supremo, e isto é a perfeição da vida. Após este teste o yogi pode realmente ser considerado um verdadeiro yogi.
Embora já em Yama se faça necessário o cultivo de
Bhakti, é justamente neste momento do processo que o yogi
desenvolve sua devoção natural pela Superalma. A partir deste ponto, sem devoção, nenhum progresso mais é possível. O que nos leva a concluir que Yama e Niyama são disciplinas que ajudam a modelar o caráter do yogi para que ele possa naturalmente sentir atração amorosa por Deus.
Nos próximos angas o yogi mantém e desenvolve gradualmente sua devoção até o estágio último de Bhakti, culminando em prema-bhakti, o transcendental amor puro pelo Senhor Supremo. A semente que foi plantada em Yama e
Niyama cresce nos próximos degraus até que a consciência do yogi se absorva na forma pessoal da Verdade Suprema - a meta
de todos os grandes yogis. Este é o objetivo mais elevado, como confirma o Bhagavad-gita (12.6-7):
ye tu sarvani karmani mayi sannyasya mat-parah
ananyenaiva yogena mam dhyayanta upasate tesam aham samuddharta
mrtyu-samsara-sagarat bhavami na cirat partha mayy avesita-cetasam
“Mas aqueles que Me adoram, abandonando todas as atividades por Mim e não se afastando de sua
devoção por Mim, ocupando-se em serviço
devocional e sempre meditando em Mim, tendo fixado suas mentes em Mim, ó filho de Prtha - a eles Eu sou o pronto salvador do oceano de nascimentos e mortes.”
E também (Bg. 9.34):
man-mana bhava mad-bhakto mad-yaji mam namaskuru mam evaisyasi yuktaivam
atmanam mat-parayanah
“Ocupe sua mente em pensar sempre em Mim, torne-se Meu devoto, ofereça-Me reverências e Me adore. Estando absorto por completo em Mim, com certeza você virá a Mim.”
Esta atitude de rendição é o que há de mais sublime para a Jivatma, a alma espiritual individual, pois após milhões de nascimentos ela pode reaver esta conexão esquecida por parte dela. E esta tendência de se render é natural à alma espiritual. Portanto, o yogi rende-se a Pessoa Suprema e não à Sua energia ilusória, Maya.
A própria Suprema Personalidade de Deus se autodefine no Bhagavad-gita (15.18):
yasmat ksaram atito ‘ham aksarad api cottamah
ato ‘smi loke vede ca prathitah purusottamah
“Porque Sou transcendental, situado além do falível e do infalível, e porque Sou o maior, Sou celebrado tanto no mundo quanto nos Vedas como a Pessoa Suprema.”
Uttamah significa aquele que está situado acima de
qualquer condicionamento material (Paramatma). Conectar-se ou render-se a esta Pessoa Suprema significa restabelecer sua eterna relação com o Senhor (Yoga), e ao mesmo tempo tornar- se também transcendental à influência do condicionamento material, alcançando a perfeição (nitya-siddha). Mas, o que vem a ser rendição?
Rendição significa que em lugar de trabalhar para a satisfação dos próprios desejos pessoais o yogi se ocupa por completo em agradar ao Senhor diretamente, segundo Seus
próprios desejos íntimos. Tendo os mesmos interesses que o Senhor o yogi se situa em verdadeira rendição. Não é difícil nem antinatural. É apenas uma questão de desejo. Isto é confirmado no Srimad-Bhagavatam (3.29.33): akartuh sama-
darsanat. Os interesses do yogi são idênticos aos interesses da
Suprema Personalidade de Deus. Entretanto, esta igualdade de desejos não significa que o yogi se torna uno com o Supremo, ou se torne Deus. A palavra akartuh indica sem sentido de propriedade. Isto implica reciprocidade amorosa, Bhakti; reciprocidade implica em individualidades separadas. Logo,
akartuh sama-darsanat indica que o yogi quer satisfazer os
desejos do Senhor. Como, por exemplo, a mãe que quer servir seu amado filho.
No mesmo verso citado há o termo: mayi sannyasta-
karmanah, indicando que todas as atividades que o yogi realiza
são dedicadas ao Senhor. O Srimad-Bhagavatam (10.2.32), declara: aruhya krcchrena param padam tatah patanty adho
‘nadrta-yusmad-anghrayah. Isto significa que se o yogi
abandona seu refúgio aos pés de lótus do Senhor Supremo e tenta avançar espiritualmente, através de sua própria determinação, certamente acabará caindo novamente na plataforma de atividades materiais, mantendo-se fiel a sua própria força falível.
Anadrta-yusmad-anghrayah indica aquele que abandonou o refúgio Supremo. Verdadeira rendição nunca resulta em abandono. Render-se só tem significado quando ocorre inteiramente. Por isso, Krishna afirma no Bhagavad-gita que Bhakti e fácil e agradável de ser praticada. Não é nada complicado e não se necessita de muito esforço. Tudo que é realizado de maneira forçada acaba sendo superficial. Crer num refúgio material e render-se a ele requer muito esforço desnecessário, como enfatiza os termos aruhya krcchrena.
Portanto, mesmo que pareça ser muito difícil render- se ao Senhor Supremo, ainda assim, o yogi deve dedicar-se com afinco em depender por completo da proteção da Superalma. Tentar viver de maneira independente dentro do mundo material é uma atitude cega do falso ego. Nesta etapa do Asthanga-yoga, o que há de mais difícil é justamente abandonar o falso ego que, embora seja a causa de todo tipo de sofrimento, faz a entidade viva condicionada pensar que conseguirá em algum momento ser feliz sem se dedicar em
satisfazer o Supremo. Renunciar ao falso ego é na verdade a única renúncia. Sem deixar o falso ego ninguém consegue progredir seguramente no caminho do Yoga.
3.3.3 - Asana
Os Asanas, que são considerados posturas físicas ou mecânicas, necessitam de Yama e Niyama. Sentar-se em postura sem Yama e Niyama não passa de exercícios físicos e, portanto, não dará os benefícios desejados. Além disso, o real significado de Asana é “assento”. Mas que tipo de assento seria este?
A alma espiritual está presa dentro do corpo material, porém, em essência, ela possui uma natureza eterna e original que é prestar serviço transcendental amoroso ao Senhor. Assim, o Asana visa facilitar a alma espiritual de restabelecer sua eterna relação devocional com a Pessoa Suprema. Desse modo, o conceito mais amplo e específico de Asana é a alma espiritual posicionar-se, ou assentar-se, em sua posição constitucional eterna, sua natureza real. Em outras palavras,
Asana é a atitude que o yogi desenvolve diante da vida e da
Verdade Absoluta. Ocupar-se em atividades ilícitas - não seguindo Yama e Niyama - não permitem o yogi situar-se em verdadeiro Asana (no sentido mais profundo da palavra); mas, se ele está ocupando-se em dar prazer ao Senhor compreende- se que ele está situado em Asana.
Arjuna pergunta para o Senhor Krishna kim asita
vrajeta kim (Bg. 2.54), “qual é a atitude de um sábio que está
fixo na transcendência?”. O Senhor Krishna responde (Bg. 2.61):
tani sarvani samyamya yukta asita mat-parah vase hi yasyendriyani tasya prajna pratist hita
“Aquele que restringe seus sentidos, mantendo-os sob completo controle, e fixa sua consciência em Mim, é conhecido como um homem de inteligência
Em qualquer situação, o verdadeiro yogi pode manter- se autocontrolado simplesmente por estar com sua consciência fixa e ocupada em glorificar e satisfazer o Supremo. Esta é a perfeição do Asana, que está além do conceito físico ou externo que conhecemos, como meras posturas. Inicialmente têm-se as práticas físicas dos Asanas que, juntamente com os angas anteriores, auxiliam na conquista dos sentidos e da mente. Somente após assumir total controle da mente é que se entra realmente no Asana. Podemos definir o primeiro como Asana externo, enquanto que a meta é o Asana interno, pois sem desenvolver-se no Asana não há como interiorizar a consciência para os próximos degraus até Samadhi.
Um yogi avançado pode estar realizando diferentes tipos de atividades aparentemente materiais, mas internamente ele está conectado com o Supremo e estabelecido em sua natureza original.
Meramente manter posturas mecânicas, por mais difíceis que sejam – sem consciência de sua posição constitucional original -, não levará o yogi ao Samadhi, a meta do Asthanga Yoga. Por este motivo, é extremamente necessário o estágio de Isvara-pranidhana, pois, sem ele torna-se impossível para o yogi situar-se em sua posição constitucional eterna, que é executar o transcendental serviço amoroso puro ao Senhor, ou seja, estar em seu Asana. Do ponto de vista externo Asana é meramente postura, mas internamente ele é assento ou posição constitucional da alma eterna, ou atitude de serviço devocional amoroso ao Senhor Supremo.
No Yoga-sutra (2.46), Patanjali diz:
sthira-sukham asanam
“O Asana deve ser firme e confortável.”
Aquele que consegue manter sua mente sob controle é considerado um sábio de mente estável, sthita-dhir munir
ucyate (Bg.2.56). Assim ele se mantém fixo em sua posição
como servo do Senhor. Da mesma forma, su-sukham kartum
avyayam (Bg. 9.2): o conhecimento a respeito do serviço
transcendental amoroso ao Senhor “é eterno e agradável de ser praticado”.
É um fato que os Asanas trazem uma infinidade de benefícios físicos, o que pode auxiliar no processo de meditação, mas não leva diretamente à auto-realização espiritual. Estando com o corpo saudável e com vitalidade (o que é oferecido como benefício físico pelos Asanas), a pessoa pode ficar com a mente mais tranqüila e, com a mente calma e controlada, pode dedicar-se mais facilmente à meditação. Por isso, muitos Asanas estão relacionados com meditação.
Quando se fala em meditação logo se pensa em posturas e vice-versa. Mas, o verdadeiro yogi tem em consciência o conceito real do Asana: situar-se em sua posição original como servo eterno do Paramatma.
No Srimad-Bhagavatam (10.87.42), encontramos a seguinte passagem: asrutyatma-anusasanam. Segundo Srila Jiva Gosvami, o termo atmanusasanam significa tanto instruções que beneficiam as entidades viva, quanto instruções que revelam a relação da entidade viva com o Senhor Supremo.
Anusasanam se refere às instruções (SB 11.3.44), e atma à
alma. Logo, do ponto de vista filosófico, o Asana está intimamente relacionado com a alma em sua constituição eterna.
O oposto de sua posição constitucional é nirasana, uma posição artificial. Esta é a situação material da alma condicionada. Por exemplo, se considerarmos o ser vivo como o corpo material, então, sua posição condicional é servir às ilusões; mas, se considerarmos o ser vivo como alma espiritual individual sua posição será a de servir ao Supremo Senhor Hari. Desse modo, se, contrariando a natureza, o ser vivo como alma espiritual, se ocupa em servir suas ilusões mentais, diremos que ele não está em seu Asana, mas em nirasana - sem posição estável. Nessa condição o ser vivo sofre os resultados da instabilidade mental e é arrastado pelas reações de suas atividades.
A conclusão é que o Asana deve levar o yogi da concepção corpórea às refinadas realizações sobre seu próprio eu e a Suprema Personalidade de Deus. Para tanto, fica evidente a necessidade de uma profunda base filosófica sobre o assunto. Porém, sem esta compreensão a respeito do Asana, corre-se o perigo de permanecer apenas no conceito corpóreo do Asthanga-yoga. A idéia, como já foi várias vezes ressaltada, é chegar à plataforma do incondicional amor puro pelo Senhor.
3.3.4 - Pranayama
A palavra prana é derivada da raiz sânscrita -ana, animar ou vibrar, e pra-, primeira unidade. Então, literalmente, prana significa a primeira unidade de energia vital. Tudo que se move ou que vive expressa a presença do
prana.
Após praticar os Asanas o yogi capacita-se a adentrar os profundos níveis da consciência, compreendendo o funcionamento do prana nas funções do corpo material através do controle dos ares vitais; e elevando a consciência interior à essência do próprio eu. Está técnica é conhecida como
Pranayama.
Pranayama não é apenas o controle da respiração, é o
controle dos ares vitais internos. E ainda, numa compreensão mais detida, Pranayama significa usar toda a vitalidade para o prazer do Senhor Supremo. Toda a vitalidade proveniente do
Paramatma e manifesta através da Jivatma deve ser utilizada
para a satisfação do Supremo, por meio da prática do transcendental serviço amoroso. Desperdiçar a vida em ilusões e futilidades é sinônimo de insanidade. Há uma meta única na vida humana. Vedais ca sarvair eva vedyo. A meta última apresentada nos Vedas é compreender a Verdade Absoluta. O Senhor Krishna declara no Bhagavad-gita (8.8):
abhyasa-yoga-yuktena cetasa nanya-gamina paramam purusam divyam
yati parthanucintayan
“Aquele que, meditando em Mim como a Suprema Personalidade de Deus, sempre ocupa sua mente em lembrar-se de Mim e não se desvia do caminho, ó Partha, com certeza Me alcança.”
O ar vital não deve ser desperdiçado de forma animalesca. Qualquer atividade sem consciência espiritual apenas absorve os ares vitais deixando a entidade viva sem força ou determinação para a auto-realização. O yogi deve usar toda sua vitalidade para se concentrar, meditar e servir ao
Senhor, dentro de si. Assim, Pranayama é mais do que controle dos ares vitais, é controle da vida em toda a sua amplitude e em todas as circunstâncias. O Paramatma é o ar vital no corpo de todas as entidades vivas (bhutva praninam deham asritah, Bg. 15.14), a Alma de todas as almas. Após ver e compreender a verdadeira identidade do Senhor Krishna, Arjuna oferece reverências (pranamya sirasa devam, Bg. 11.14), dedicando toda sua vida ao Senhor.
Por isso, todo yogi que, ao chegar à hora de abandonar o atual corpo, estiver com a mente resoluta devido à sua ocupação devocional e pelo poder do yoga (yoga-balena), concentra seu ar vital entre as sobrancelhas e alcança a Suprema Personalidade de Deus (bhruvor madhye pranam
avesya samyak, Bg 8.10).
Por outro lado, segundo o conhecimento milenar da antiga cultura Védica, todos os conflitos e problemas existentes são criados pela própria mente. A respiração e a mente estão intimamente relacionadas. A situação de uma determina a outra. Uma respiração agitada ou acelerada tornará a mente intranqüila ao passo que uma respiração suave, pausada e consciente resultará numa mente apaziguada. Nisto se baseia tanto nossa saúde física quanto mental.
A técnica original do Pranayama é baseada em
puraka, kumbhaka e rechaka, ou seja, inalação, retenção do ar
inalado, exalação, retenção do ar exalado e novamente repetindo a seqüência. Esta mesma técnica é apresentada no
Bhagavad-gita (4.28; 8.19; 8.12) e no Srimad-Bhagavatam
(3.28.6; 3.28.9; 11.14.33).
A prática correta do Pranayama nos fornece a energia necessária para que o corpo, a mente e a alma possam manter- se ligados até os últimos degraus do Asthanga-yoga. Através da respiração correta e conscientemente controlada pode-se passar da primeira fase dos oito degraus da Yoga externa (bahiranga), e ir direto para os três últimos degraus da Yoga interna (antaranga). Por este motivo, Pranayama é muito importante na visão de Patanjali, e mesmo para a maior autoridade do Yoga, Devahuti-putra Kapiladeva, como Ele expõe no Srimad-Bhagavatam (3.28.12), o propósito específico do Pranayama:
pranayamair dahed dosan dharanabhis ca kilbisan pratyaharena samsargan dhyanenanisvaran gunan
“Aquele que pratica o processo de Pranayama pode
erradicar a contaminação de sua condição
fisiológica e, concentrando a mente, pode livrar-se de todas as atividades pecaminosas. Controlando os sentidos, ele pode livrar-se do contato com a matéria e, meditando na Suprema Personalidade de Deus, pode livrar-se dos três modos do apego material.”
Neste verso as palavras pratyaharena samsargan são significativas. Elas definem a importância do Pranayama dentro do Asthanga. Assim, pratyaharena samsargan se refere a interiorização dos sentidos e a retirada dos mesmos do contato com a matéria. Outra palavra importante é
dhyanenanisvaran gunan, que significa “meditar na Pessoa
Suprema que é o controlador dos três modos da natureza material”, e não em qualquer objeto criado pela mente. Nota-se, portanto, que no degrau de Pranayama já se encontram
Pratyahara e Dhyana, além de Dharana. (dharanabhis). Então,
conclui-se que o controle dos ares vitais tem um propósito muito mais elevado: trazer os sentidos para dentro (Bg 2.58), concentrar-se (Bg 2.61) e meditar (Bg 10.9).
Depois, no verso seguinte do Srimad-Bhagavatam (3.28.13), Kapiladeva esclarece que, após ter purificado a mente por este processo de Yoga (yada manah svam virajam
yogena), deve-se meditar na forma da Suprema Personalidade
de Deus (bhagavato dhyayet).
Com a devotada prática de Pranayama pode-se livrar o eu do maior problema da entidade viva: nascer e morrer. E, como a meta é alcançar a morada suprema, o Senhor Krishna garante no Bhagavad-gita (8.10):
prayana-kale manasacalena bhaktya yukto yoga-balena caiva bhruvor madhye pranam avesya samyak
“Aquele que, ao chegar à hora da morte, fixar seu ar vital entre as sobrancelhas e, pela força do Yoga, com a mente indesviável, ocupar-se em lembrar de
Mim com devoção plena, com certeza Me
alcançará.”
A perfeição da vida humana pode ser alcançada quando se mantém a mente indesviável no transcendental serviço amoroso ao Senhor (manasacalena bhaktya yukto), ocupando-a completamente em lembrar da Pessoa Suprema (pranam avesya samyak as tam param purusam upaiti divyam). Utilizando a vida de forma natural e consciente para a satisfação do Senhor (bhaktya yukto), o yogi alcança o sucesso na prática do Pranayama, que é reconquistar sua consciência original (param purusam upaiti divyam). A energia vital e a própria vida é uma dádiva divina dada para o benefício dos seres vivos. É completamente ilógico utilizar esta mesma energia para fins egoístas ou até mesmo animalescos. Assim, o propósito do Pranayama é controlar a vida direcionando-a para o amor à Suprema Personalidade de Deus, Krishna.
Superar e liberar-se do aprisionamento material é um dos objetivos do Yoga. A sessão mais técnica do Pranayama descreve uma série de canais sutis por onde circula toda energia vital do ser vivo corporificado. Estes canais são chamados nadis e o principal deles é susumna. Tendo como meta superar nascimentos e mortes, o Chandogya Upanisad (8.6.6), diz:
satam caika ca hrdayasya nadyas tasam murdhanam abhinihsrtaika tayordhvam ayann amrtatvam eti.
“Há cento e um canais prânicos sutis que emanam do coração. Um destes, o susumna, estende-se até o topo da cabeça. Elevando-se através deste canal, a pessoa transcende o nascimento e a morte”.
No mesmo Chandogya Upanisad (8.6.9), se diz:
udaram brahmeti sarkaraksa upasate hrdayam brahmety arunayo
brahma haivaita ita urdhvam tv evoda-sarpat tac-chiro ‘srayate.
“Aqueles cuja visão ainda permanece obscurecida compreendem apenas o Brahman impessoal, ao passo que outros compreendem o Senhor no coração. Mas quem de fato compreendeu o
Brahman Supremo segue do coração ao topo da
cabeça onde se refugia no Senhor que ali se