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Asthanga-yoga Tratado Sobre a Genuína Filosofia Sankhya

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Asthanga

-

yoga

Tratado Sobre a Genuína Filosofia Sankhya

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Asthanga-yoga - Tratado Sobre a Genuína Filosofia Sankhya

Copyright © 2005 by Jayadvaita Das

Todos os direitos reservados.

Capa:

Editoração Eletrônica: Ananta Shakti Devi Dasi Revisão Gráfica: Jaya Devaki Dasi

Editora: Om Tat Sat – (21) 2644-7213 Gráfica: Franciscana - (87) 3861-4739

Das, Jayadvaita, 1974 -

Asthanga-yoga - Tratado Sobre a Genuína Filosofia Sankhya - Vrajabhumi, Teresópolis - RJ: Om Tat Sat, 2005

1.Yoga - Filosofia 2. Sistemas de Yoga - Ciência do Yoga 3. Meditação - Espiritualidade 4.Asthanga-yoga - Patanjali 5.Vaishnava – Hinduísmo - Sankhya. I. Das, Jayadvaita. II. Título.

05

Índices para catálogo sistemático:

1. Yoga e Meditação : Filosofia do Yoga : Asthanga-yoga e Patanjali

2. Bhakti Yoga e Sistemas de Yoga : Vedanta Vaishnava

3. Meditação e Transcendência : Bhagavad-gita : Hinduísmo e Vaishnavismo

Editora Om Tat Sat

Vrajabhumi / Teresópolis - RJ cmsw@uol.com.br

(4)

Agradecimentos

Agradeço Suas Onipotências Sri Krishna-Balarama, Srila Prabhupada,

Hrdayananda das Gosvami, Chandramukha Svami

e a todos os yogis

da Sociedade Internacional da Consciência de Krishna por darem-me refúgio, instruções, determinação,

entusiasmo e desejo

(5)

Sumário

Mangalacarana

... vii

Prefácio

... ix

Introdução

... 11

CAPÍTULO 1 - Yoga e Tradição

1.1 - Auto-Disciplina e Auto-Realização ... 15

1.2 - A Mente na Visão do Yoga ... 16

1.3 - Cinco Estágios da Mente ... 17

1.4 - As Modificações da Mente ... 19

1.5 - Superando as Modificações Mentais ... 20

CAPÍTULO 2 - Sankhya

2.1 - A Filosofia Sankhya e Seu Contexto ... 21

2.2 - O Yoga Na Visão da Filosofia Sankhya ... 24

2.3 - Sankhya de Devahuti-putra Kapiladeva... 27

2.4 - Para Uma Compreensão Prática de Sankhya ... 32

2.5 - Os Elementos de Sankhya ... 35

2.6 - O Princípio Inconsciente da Natureza Material (Prakrti) ... 38

2.7 - Os Três Modos da Natureza Material (Tri-Gunas) .. 59

(6)

CAPÍTULO 3 - Asthanga-yoga

3.1 - O Conceito de Asthanga-yoga ... 94

3.2 - Entrando no Yoga (Kevala-bhakti asthanga-yoga) 100

3.3 - Asthanga-Yoga de Patanjali ... 103

CAPÍTULO 4 - Simplicidade e Auto-realização

4.1 - Meditação Com Sementes Materiais

(Sabija-samadhi) ... 163

4.2 - Meditação Sem Sementes Materiais

(Nirbija-samadhi) ... 165

4.3 - O Conceito de Liberação (Mukti) ... 166

4.4 - Eternidade, Conhecimento e Prazer Transcendental no Yoga ... 170

Conclusão

... 173

(7)

Mangalacarana

Nasci na mais profunda ignorância, mas meu mestre espiritual

está abrindo meus olhos

com o archote do conhecimento. Portanto, ofereço minhas respeitosas reverências a ele

que é como um cisne e que,

com sua inteligência transcendental e extática, está dando prazer a Srila Prabhupada,

(8)

Prefácio

odemos imaginar uma valiosa escultura de metal que com o passar do tempo fica oxidada e perde sua beleza e brilho. Uma pessoa profissional na arte de restaurar obras preciosas pode, por meio de polimentos e limpeza, recuperar a escultura de metal trazendo de volta seu brilho original.

Isto se aplica ao ser vivo, à alma espiritual, que após ter passado por milhões de nascimentos, em diferentes corpos, perde seu brilho original, sua consciência pura. Devido à força da energia material ilusória, ninguém é capaz de recuperar sua natureza original sem o auxílio de um Guru, o restaurador da alma “oxidada”.

Analogamente, o antigo conhecimento sobre o processo de “polir” a alma espiritual também pode, com o tempo, acabar se “oxidando” e perder sua eficácia no processo de recuperação da alma espiritual.

O processo de polimento é o Yoga e o método de como polir é o Vedanta. Ou seja, com o tempo o Yoga acabou perdendo sua essência e tornou-se um processo que, ao invés de “polir” e auxiliar a alma espiritual no seu trajeto em busca da auto-realização, “oxida” ainda mais a mente e a consciência do ser vivo.

(9)

A tentativa humilde deste trabalho não é a de recuperar a tradição do Yoga, mas mostrar que ela existe e que o Yoga que conhecemos popularmente está distante desta tradição. Se este ajudar ao menos despertar a consciência de busca pela tradição, acreditamos que algo de positivo já tenha sido alcançado.

O mais importante não é tornar alguém um praticante de Yoga, mas, torná-lo um verdadeiro yogi.

Jayadvaita das Ashram Vrajabhumi, RJ - Janeiro de 2005

(10)

Introdução

á milhares de anos, na antiga e avançada civilização Védica, tivemos a presença de um grande sábio chamado Kapiladeva. Ele foi filho do yogi Kardama Muni e Devahuti. Só encontramos referências sobre esta grande personalidade na milenar escritura conhecida como Srimad-Bhagavatam, ou

Bhagavat-Purana. De acordo com estes documentos sagrados, que datam

de mais de cinco mil anos, Kapiladeva foi uma poderosa encarnação de Deus. Seu principal propósito foi revelar à humanidade o conhecimento sobre o processo de Yoga.

Quando seu pai deixou o lar e foi viver na floresta – que para nossa realidade é algo muito distante, mas que naquele tempo fazia parte da cultura Védica - sua mãe, Devahuti, ficou muito pesarosa e sem saber o que fazer. Foi neste momento que Kapiladeva a instruiu sobre a meta última da vida que pode ser alcançada pela prática preliminar de Yoga, a original Asthanga-yoga, e pelo conhecimento da filosofia teísta de Sankhya.

A Filosofia Sankhya oferece uma compreensão sobre a natureza material em todos os seus elementos e culmina na compreensão entre matéria e transcendência, e na adoração e devoção ao Senhor Supremo. Esta filosofia Sankhya tem total relação com a Filosofia Vedanta e sua conclusão está em total concordância com os ensinamentos do Vedanta Vaishnava.

Com o passar do tempo teve inicio a atual era em que vivemos, chamada Kali-yuga. Ela é uma era muito desfavorável aos princípios elevados da humanidade, por ser repleta de desavenças, hipocrisia e deturpação.

Foi neste contexto que nasceu, aproximadamente 500 a.C., um outro Rshi Kapila. Este, no caso, foi um grande impostor. Criador de uma filosofia materialista e niilista ele mesmo acabou deturpando a autêntica Filosofia Sankhya. Conceitos elevados sobre a criação do universo e dos seres vivos foram postos numa visão grosseiramente materialista, através de argumentos contraditórios e equivocados. Porém, sua sombra foi maior que o brilho filosófico do verdadeiro

(11)

Kapiladeva, o filho de Devahuti, e se difundiu por muitas escolas.

Um pouco depois, por volta do século 3 a.C., nasce um outro reconhecido filósofo e yogi, Patanjali. Alguns documentos dizem que ele nasceu 3000 a.C., mas não há nada fidedigno nestas informações, pois sua principal obra,

Yoga-sutra, só veio à luz 300 a.C. Ele foi, na verdade, o decodificador

dos ensinamentos sobre Yoga deixados por Kapiladeva, o filho de Devahuti, mas seus seguidores e comentadores valeram-se da Filosofia Sankhya deixada pelo falso Kapila. Neste momento as águas foram divididas e proliferou-se por todo planeta um processo de Yoga que não coincide com sua Filosofia.

Na verdade, o Yoga-sutra, composto de 195 sutras ou aforismos, é mais um tratado sobre a teoria do Yoga do que um tratado filosófico do Yoga. Porém, mesmo no aspecto teórico há possibilidades de elucidar o processo apresentado por Patanjali através da Filosofia Sankhya do verdadeiro Kapiladeva, filho de Devahuti, que está em total concordância com o Vedanta.

Uma abordagem teórica do Yoga-sutra pela ótica do Vedanta pode ajudar na compreensão do Yoga e favorecer o resgate da tradição teórica e filosófica do Yoga.

Já houve muitos comentadores do Yoga-sutra. Cada qual em nada auxiliou na compreensão exata desta obra.

A Filosofia Sankhya do filho de Devahuti e o processo de Yoga são dois sistemas aliados. Mas a Sankhya niilista do falso Kapila parte do conceito de que o desfrutador (purusa) e natureza material (prakrti) são indistintos. Tendo como base a idéia de que a entidade viva e a natureza material são iguais, tais filosofias caem num sério erro quanto à compreensão da origem do universo e do propósito último da vida humana.

Através do emprego de termos como Sankhya e Yoga especuladores filosóficos, como o pseudo-Kapila e outros, assumiram uma posição de destaque nos tópicos sobre Yoga, deturpando Patanjali.

De maneira bem simples, Sankhya significa

conhecimento e Yoga, aplicação prática do conhecimento, ou seja, conhecimento a respeito da Verdade Absoluta e meditação na forma transcendental desta Verdade Absoluta. Por este motivo, de acordo com o que realmente é apresentado no

Yoga-sutra, é possível conciliar harmoniosamente Yoga e Vedanta no

(12)

explana que a liberação não é atingida apenas pela discriminação entre matéria e espírito - como enfatiza a falsa Filosofia Sankhya - mas pelo conhecimento a respeito do Senhor Supremo e rendição a Ele.

Recorrendo à Filosofia do verdadeiro Kapiladeva o yogi aspirante pode compreender adequadamente o Asthanga-yoga. O próprio Kapiladeva, a autoridade maior do Yoga, estabeleceu os oito estágios iniciais do Yoga, a saber, yama, niyama, asana,

pranayama, Pratyahara, Dharana, Dhyana e Samadhi. Através

destas práticas deve-se buscar pela Superalma, que é a meta de todo Yoga. Existem pretensas práticas de Yoga nas quais se concentra a mente no vazio ou no impessoal, mas isto não é aprovado pelo Vedanta e nem mesmo pelo Yoga-sutra.

Portanto, o sucesso no Yoga implica no libertar-se de todas as designações materiais e situar-se na sua original posição constitucional.

(13)

Capítulo 3

Asthanga-yoga

pós ter assimilado o conhecimento de Sankhya o yogi deve partir, então, para a prática. Tendo uma visão geral e detalhada da constituição deste mundo material, da mente, dos sentidos, da complexa interação dos Gunas e Karma, a situação real de si mesmo como uma eterna alma espiritual e a meta última da vida, Purusottama, o yogi inicia sua jornada em busca da auto-realização.

Já temos uma idéia de que não é tão simples este progresso. Não pelo processo em si, mas pela dificuldade de abandonar os apegos e, principalmente, a falsa identificação corpórea. Isto requer já de início o controle da mente. Podemos dizer que Yoga significa controle mental. Eis a primeira e talvez a maior dificuldade. Superando-a, facilmente superam-se as próximas. Mas, falhando na primeira todas as seguintes estarão comprometidas. No entanto, todos deverão praticar o processo de Yoga um dia, nesta ou em alguma outra vida.

De acordo com a filosofia Vedanta - o pilar da filosofia Sankhya - Yoga significa devoção amorosa exercitada através do transcendental serviço devocional ao Senhor. Isto é confirmado no Srimad Bhagavatam (1.2.29): vasudeva-para

yoga. Yoga significa compreender a Suprema Personalidade de

Deus. Vasudeva-paro dharmo. A ocupação eterna dos seres vivos é desenvolver amor pela Suprema Personalidade de Deus.

Vasudeva-para gatih. A Suprema Personalidade de Deus é a

meta máxima da vida humana.

3.1 - O Conceito de Asthanga-yoga

Para deixar bem enfatizado, o processo de

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muitas pessoas no passado beneficiaram-se espiritualmente através deste processo. O Senhor Devahuti-putra Kapiladeva legou à humanidade este conhecimento minucioso. Além do conhecimento teórico (Sankhya), Kapiladeva deixou também o processo prático (kevala-bhakti asthanga-yoga).

Por estar envolvida dentro de Prakrti e identificada com os produtos e subprodutos do corpo material, a entidade viva afasta-se de sua cooperação com o Senhor. Isto ocorre porque sua verdadeira identidade espiritual está encoberta. Entretanto, pelo processo autorizado de Yoga, a pessoa recupera sua identidade original e realiza sua não-diferença qualitativa com a Superalma. Assim, ela se engaja no transcendental serviço amoroso ao Senhor e supera a natureza material.

O mesmo sistema apresentado por Devahuti-putra Kapiladeva foi utilizado por Patanjali. Ele é estruturado em oito partes (angas): regras (yamas); regulações (Niyamas); posturas (asana); controle do ar vital (Pranayama); restrição dos sentidos (Pratyahara); concentração (Dharana); meditação (Dhyana); absorção espiritual (Samadhi). Veremos adiante a descrição pormenorizada de cada um deles.

Este mesmo sistema foi apresentado pelo Senhor Krishna nos capítulos seis e oito do Bhagavad-gita, e, como sabemos, ele foi rejeitado por Arjuna. Há um motivo que nos faz entender esta rejeição de Arjuna. Ele argumenta que este processo mecânico de controle dos sentidos é muito difícil e imprático. Isto há mais de cinco mil anos; o que podemos esperar deste sistema nos dias atuais? O Senhor Krishna, entendendo a dificuldade de Arjuna, expõe a essência de todo processo de Yoga: a devoção (kevala-bhakti asthanga-yoga).

Num aspecto geral pode-se dizer que o Asthanga-yoga tem duas fases. A primeira, que corresponde a Yama, Niyama, Asana e Pranayama, é ainda uma etapa física e externa chamada bahiranga-yoga e de certa forma é mais ritualística. Nesta fase ocorre uma luta constante da mente com os sentidos que insistem em agir por conta própria. Por isso, entender o que se deve aceitar ou o que se deve rejeitar dentro de preceitos éticos e morais, controlar o corpo, os sentidos e a mente, controlar as influências mais sutis que afetam a mente estão entre os primeiros degraus, desta primeira fase do Asthanga-yoga.

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Um degrau intermediário e de muita importância é

Pratyahara, ou interiorização da consciência. Ele faz a divisão

entre a fase externa e interna do Asthanga-yoga. É nele que ocorre a bifurcação em que se decide por um caminho ou outro: ou o yogi escolhe seu objeto de meditação pessoal ou impessoal. No final faremos uma breve apresentação sobre estes dois objetos de meditação (sabija e nirbija). Enfim, neste degrau é definido todo o futuro espiritual do yogi.

Neste momento, o yogi passa a focar os objetos internos da mente numa busca cada vez mais profunda de sua essência, impedindo que qualquer influência externa atrapalhe sua interiorização consciente. É neste momento que o yogi irá definir seu objetivo em auto-realização e fará a escolha de fundir-se na energia divina (brahmajyoti), ou desenvolver seu relacionamento amoroso por meio do serviço devocional puro. Esta é, na verdade, a escolha mais coerente, pois Krishna mesmo diz a Arjuna no Bhagavad-gita (6.31):

sarva-bhuta-sthitam yo mam bhajaty ekatvam asthitah

sarvatha vartamano ‘pi sa yogi mayi vartate

“Tal yogi que se ocupa no serviço de adoração à Superalma, sabendo que Eu e a Superalma somos um, sempre permanece em Mim em todas as circunstâncias.”

Pratyahara é de fundamental importância neste

ponto. Enquanto nos angas anteriores mantiveram-se o controle externo dos sentidos, em Pratyahara este mesmo controle torna-se ocupação transcendental dos sentidos espirituais. Isto irá definir completamente o desenvolvimento interior do yogi.

Finalmente, mantendo-se fixo em Pratyahara o yogi entra na segunda fase do Asthanga-yoga, ou seja, a prática interna do Yoga chamada antaranga-yoga, que corresponde a

Dharana, Dhyana e Samadhi, os três últimos degraus. Estes

três degraus também são chamados de samyama. O praticante deve almejar chegar a esta fase. É nela que ocorrem intensas realizações espirituais e insight, e sem se situar nela o yogi não

(16)

sente prazer interior, podendo perder o estímulo e abandonar sua busca através do Yoga. Quanto a isso, no Srimad

Bhagavatam (1.13.54), encontramos a seguinte confirmação:

jitasano jitasvasah pratya-hrta-sad-indriyah hari-bhavanaya dhvasta- rajah sattva-tamomalah

“Tendo controlado sua postura e seu processo respiratório, pode-se direcionar seus sentidos à Suprema Personalidade de Deus e tornar-se imune às contaminações das qualidades materiais tais como bondade, paixão e ignorância.”

Direcionar os sentidos para o serviço amoroso ao Senhor é definido neste verso como pratya-hrta. Pratya é da mesma raiz que Pratyahara; direcionar os sentidos para dentro (hara). E hrta tem sua mesma raiz que hrday, do coração. Portanto, é conclusivo que neste estágio de Pratyahara o yogi direcione a ocupação de seus sentidos para a Superalma,

Paramatma, e não optar por se fundir na energia impessoal da

Superalma. Ocupar-se é superior ao fundir-se, pois em ocupação mantém-se a identidade individual eterna da alma, ao passo que na fusão ocorre à perda inclusive da liberdade transcendental.

Neste verso também encontramos o termo

hari-bhavanaya. Hari significa a Suprema Personalidade de Deus e bhavanaya tem sua raiz em bhavah, que significa natureza

interior. Assim, hari-bhavanaya é estar absorto na natureza intrínseca da alma, que é adorar e servir ao Senhor Hari; esta é a fase preliminar do amor pela Pessoa Suprema (bhavena).

Isto corrobora o fato de que em Pratyahara devem-se direcionar os sentidos internos para a satisfação e prazer do Senhor Supremo. Isto é a essência do Asthanga-yoga, que, como veremos mais adiante, culminará no amor puro pelo Senhor Supremo.

Embora tenha um aspecto ainda mecânico, o Asthanga-yoga não é um exercício de ginástica corporal quando aplicado junto à devoção. De qualquer maneira, o

(17)

Asthanga-yoga visa estabilizar a mente e então concentrar-se na forma pessoal do Senhor. Isto é confirmado no Srimad

Bhagavatam (4.8.44): sanair vyudasyabhidhyayen manasa guruna gurum. Gradualmente abandona-se o envolvimento

externo e, com a mente imperturbável, medita-se no Senhor Supremo. A palavra abhidhyayet significa estar com a mente fixa para meditar. Fixar a mente em algo externo é perigoso, pois isto a torna ainda mais instável. Mas, quando se fixa a mente internamente na forma do Senhor, através do Asthanga-yoga ou da glorificação dos santos nomes do Senhor, alcança-se alcança-sem demora o estado de meditação mais elevada. Isto também está confirmado no Srimad Bhagavatam (4.8.52):

evam bhagavato rupam subhadram dhyayato manah

nirvrtya paraya turnam sampannam na nivartate

“Aquele que medita desta maneira, concentrando a mente na sempre auspiciosa forma do Senhor, liberta-se mui rapidamente de toda contaminação material, e não decai de sua meditação no Senhor.”

Samadhi é a absorção em transe meditativo no

Senhor Supremo, e aqui temos a palavra dhyayato que significa meditando. O yogi que consegue se manter fixo em seu transe está em Samadhi, ou seja, absorto na satisfação do Senhor. Dhruva Maharaja, um grande bhakti-yogi e famoso rei

santo, executou Asthanga-yoga num local chamado

Badarikasrama, com menos de dez anos de idade. Mesmo

assim, ele alcançou seu objetivo dentro do Yoga simplesmente por ter ocupado sua mente em meditar na Suprema Personalidade de Deus. Encontramos esta descrição no Srimad

Bhagavatam (4.12.17):

tasyam visuddha-karanah siva-var vigahya baddhvasanam jita-marun manasahrtaksah sthule dadhara bhagavat-pratirupa etad dhyayams tad avyavahito vyasrjat samadhau

(18)

“Em Badarikasrama, os sentidos de Dhruva Maharaja purificaram-se perfeitamente porque ele se banhava regularmente em pura água cristalina. Ele fixou-se em postura sentada e, mediante a prática de yoga, controlou o processo respiratório e o ar vital; dessa maneira, recolheu seus sentidos completamente. Concentrou então sua mente na forma arca-vigraha do Senhor, que é a réplica exata do Senhor, e, assim meditando nEle, entrou em transe completo.”

Aqui mais uma vez mostra-se a potência da meditação na forma pessoal do Senhor Supremo. Mas, o ponto importante é que, mesmo sendo ainda uma criança, Dhruva Maharaja foi para a floresta e praticou Asthanga-yoga e elevou-se a fase perfeita do Yoga, o Samadhi na forma eterna do Senhor. A palavra bhagavat-pratirupa, significa a forma exata do Senhor, que também é conhecida como Arca-vigraha. Não há progresso real na prática de meditação no aspecto impessoal do Senhor e este fato derruba todos os diferentes processos de Yoga que proferem a meditação impessoal. É ilusório querer controlar a mente fixando-a em algo sem forma. Sem uma forma a mente permanece instável para a meditação. Por isso, os yogis mais avançados concentram-se na forma pessoal da Verdade Absoluta, bhagavat-pratirupa.

Outro ponto importante é dado na palavra avyavahito, que significa ininterrupto. Este é o verdadeiro Samadhi. Quando se mantém vinte e quatro horas meditando no Senhor pode-se dizer que o yogi está numa posição segura do

Samadhi. E esta eficácia é adquirida através do transcendental

serviço devocional amoroso ao Senhor Supremo, pois nele o

yogi se mantém constantemente ocupado em adorar e servir

externa e internamente a forma pessoal da Verdade Absoluta. Estar em verdadeira meditação é estar em contato direto com a Pessoa Suprema, reciprocando serviço amoroso e satisfação plena. Neste sentido pode-se entender Yoga como “atuar em nome da Suprema Personalidade de Deus”. Yoga é atitude interna e externa de amor por Deus.

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3.2 - Entrando no Yoga

(Kevala-bhakti asthanga-yoga)

Há uma essência original presente em tudo. Por toda a criação, em todos os seres vivos, em todo sentimento, pensamento e ação. Esta essência é a Verdade Absoluta.

Verdade Absoluta não é uma verdade imposta ou forçada. Ela é Absoluta por ser igual para todos, independente de cultura, raça ou momento histórico. Uma verdade que mude em cada época ou que se aplique para uma nação e não para outra não é uma verdade completa, mas relativa. Porém, a Verdade Absoluta é aplicada incondicionalmente a todos os seres. E não importa qual o nome que se dê a esta Verdade. O que importa é Sua presença em tudo (vasudeva sarvam iti), que ocorre mesmo contra a vontade do mais fiel ateísta.

Esta essência tem em cada alma individual uma contrapartida que é a ocupação eterna de cada ser vivo, o que há de intrínseco em cada um. Por exemplo, o caráter da água é umidade; do fogo, calor; do ser vivo, servir. É natural que toda alma espiritual tenha esta propensão a servir, pois é algo intrínseco à alma. Assim como também é o amor, a atividade e o prazer. A perfeição da vida humana é harmonizar a existência com o que possibilite a plenitude de tudo que seja intrínseco à alma. Só assim pode haver paz. E esta é também a perfeição do Yoga.

Portanto, se em tudo há esta essência divina presente e se em todas as circunstâncias o ser vivo deve manter-se em sintonia com esta essência, não poderia ser diferente no Asthanga-yoga.

No capítulo seis do Bhagavad-gita temos toda a descrição detalhada sobre o processo de Asthanga-yoga, e no final (6.47), Krishna conclui dizendo que o maior de todos os

yogis é aquele que pensa sempre nEle dentro de seu coração.

Esta é a mais elevada bênção. Só quem realiza este segredo dentro de si (param drst va nivartate), é que pode sentir profundamente as palavras de Krishna e Sua verdade. Em outras palavras, praticar Asthanga-yoga sem Bhakti não é Yoga. Mas, Asthanga-yoga com Bhakti leva o yogi a

(20)

experimentar dentro de si a beleza bem-aventurada do Senhor Supremo.

O Vedanta-sutra (3.2.26), expõe que: prakasas ca

karmany abhyasat. “O serviço devocional amoroso é tão

poderoso que a iluminação espiritual ocorre pelo simples fato de ocupar-se em suas atividades.” O fato é que ninguém pode compreender a Verdade Absoluta pelo simples processo de Karma-yoga, Siddhi-yoga ou Asthanga-yoga isoladamente. Estes processos podem apenas facilitar o despertar da devoção no coração do yogi. Mas, como também se declara no

Bhagavad-gita: evam prasanna-manaso bhagavad-bhakti-yogatah. Somente depois de ter purificado o coração é que se

pode compreender a Personalidade de Deus.

A conclusão é que a prática de Yoga também está influenciada pelos três modos da natureza material e, portanto, qualquer prática está manchada por contaminação material, ou seja, não dará a plena realização ao seu praticante. Isto é chamado Bhakti-misra asthanga-yoga, execução de devoção amorosa através do Asthanga. Misra significa misturado ou contaminado. O ponto é que se deve partir de Bhakti. Assim tudo se molda em Bhakti, mas partir de qualquer outro processo para se chegar à Bhakti corre-se o risco de não chegar a visuddha-bhakti, devoção amorosa pura, ou Kevala-bhakti

asthanga-yoga. Então, partindo-se de Bhakti pode-se executar

Asthanga-yoga com sucesso. O Srimad-Bhagavatam (11.9.11), confirma isto:

mana ekatra samyunjaj jita-svaso jitasanah vairagyabhyasa-yogena dhriyamanam atandritah

“Depois de aperfeiçoar as posturas sentadas e dominar o processo respiratório, deve-se estabilizar a mente através do desapego e da prática regulada do Yoga. Desse modo, com muita atenção deve-se fixar a mente na meta única da prática do Yoga.”

Verdadeiro Asthanga-yoga é Kevala-bhakti

asthanga-yoga, ou Yoga com seu objetivo claro e puro, a Superalma. A

(21)

meta da vida. E esta meta deve ser apenas uma: a Superalma. Se a meta for algo material ou sutil não ocorrerá nenhum progresso; no máximo poderá alcançar a meta que, sendo material, é temporária - e isto não é Yoga. Por isso,

dhriyamanam se refere à Verdade Absoluta em Sua forma

pessoal.

Da mesma forma, a palavra vairagyabhyasa-yogena indica que através da prática genuína do Yoga é que se desenvolve o desapego, vairagya. Sendo assim, é contraditório imaginar que praticando verdadeiro Yoga devem-se manter apegos materiais. Artho yad asangas tu krtsnasah (SB 3.32.27). De fato Yoga leva ao desapego da matéria. Yoga é trabalho com a eternidade da alma, com a verdadeira vida. É por este motivo que neste verso também aparece a palavra atandritah, que significa ter muito cuidado e atenção na prática. Qualquer descuido pode nos levar a meditar em ilusões. Verdadeira prática de Yoga não deixa de manter fixo o objetivo final que é a essência original presente em tudo.

3.3 - Asthanga-Yoga de Patanjali

Em seu Yoga-sutra (2.26-28), Patanjali apresenta o Asthanga-yoga como fora apresentado por Devahuti-putra Kapiladeva. Seu maior trabalho foi facilitar e aproximar o Asthanga para a vida real das pessoas de sua época. Como está claro no Srimad-Bhagavatam (3.28.5), há total sintonia do

Yoga-sutra com as palavras de Kapiladeva: maunam sad-asana-jayah stairyam prana-jayah sanaih

pratyaharas ca cendiyanam visayan manasa hrdi

“Deve-se observar silêncio, adquirir equilíbrio, praticando diversas posturas sentadas, controlar os ares vitais, afastar os sentidos dos objetos dos sentidos e, deste modo, concentrar a mente no coração.”

(22)

Nota-se que neste verso há os seis primeiros degraus do Asthanga-yoga. Portanto, tendo como princípio os mesmos deixados por Kapiladeva, Patanjali enfatiza várias vezes a questão mais importante do Yoga: a rendição a Suprema Personalidade de Deus. E como veremos, ele focou seu processo meditativo no aspecto pessoal do Senhor, ao contrário do que pensam muitos dos seguidores e comentadores de sua obra.

Assim como Kapiladeva apresentou, Patanjali

estruturou seu Asthanga-yoga em oito (astha) partes (angas): 1 - Yamas (regras);

 ahimsa (não violência)  satya (veracidade)  asteya (não roubar)

 brahmacarya (controle dos sentidos)  aparigraha (não possessividade) 2 - Niyamas (regulações);

 sauca (pureza)  santosa (satisfação)  tapas (austeridade)

 svadhyaya (estudo das escrituras)  isvara-pranidhana (rendição ao Senhor) 3 - Asana (posturas);

4 - Prananyama (controle respiratório);  puraka (inalação)

 kumbhaka (retenção)  rechaka (exalação)

5 - Pratyahara (restrição dos sentidos);  brahman-pratyahara

 bhagavan-pratyahara 6 - Dharana (concentração); 7 - Dhyana (meditação);

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 sabija- samadhi  nibija- samadhi

3.3.1 - Yama

Dentro do sistema de Asthanga-yoga todas as oito etapas progressivas visam levar o praticante ao objetivo final que é o Samadhi. Para isto, é necessário desenvolver o controle dos sentidos. O processo de Asthanga-yoga exige autocontrole do começo ao fim. Por isso mesmo o nome do primeiro degrau é

Yama, que significa controle, ou regras regulativas que ajudam

o yogi a desenvolver o autocontrole. O Senhor Kapiladeva declara no Srimad-Bhagavatam (3.27.6):

yamadibhir yoga-pathair abhyasan sraddhayanvitah

mayi bhavena satyena mat-katha-sravanena ca

“É preciso tornar-se fiel, praticando o processo controlador do sistema de Yoga, e elevar-se à plataforma do serviço devocional amoroso puro, cantando e ouvindo sobre Mim.”

Neste sentido, Yama é composto de regras que auxiliam o controle da mente e dos sentidos. Entretanto, este controle deve ser feito com firme fé e devoção pura (sraddhayanvitah mayi bhavena satyena). Sem este controle inicial, exercido pelo yogi que busca pela perfeição espiritual ou auto-realização, não há como fazer o menor progresso. E ele é facilitado através de Bhakti, ou bhavena. No

Srimad-Bhagavatam (3.8.4), Kapiladeva descreve Yama e já adianta

algo sobre Niyama como se segue:

ahimsa satyam aasteyam yavad-artha-parigrahah brahmacaryam tapah saucam

(24)

“Deve-se praticar a não-violência e a veracidade, evitar roubar e contentar-se com a posse de apenas o que seja necessário para a manutenção. Deve-se abster-se da vida sexual, praticar austeridade, ser limpo, estudar os Vedas e adorar a forma da Suprema Personalidade de Deus.”

Entre as oito etapas de Asthanga-yoga Yama, juntamente com Niyama, definem os primeiros passos do Yoga. Alguns degraus intermediários são de grande importância e formam o processo gradual de Yama. São eles:

3.3.1.1 - Ahimsa

Ahimsa literalmente significa não-violência. Tudo que possa favorecer a futura felicidade espiritual dos seres vivos em geral chama-se ahimsa. Sem seguir este primeiro princípio não há como elevar a consciência e, conseqüentemente, não dá para se falar de paz. Qualquer atitude que possa prejudicar ou interromper o desenvolvimento vital dos seres vivos é considerado violência.

Esta não-violência não se restringe apenas ao aspecto físico da violência, mas à violência causada pelos pensamentos, pelas palavras e pelas ações. Qualquer pensamento que tenha algum resquício de inveja, luxúria, ira, cobiça, ilusão ou loucura é, em diferentes graus, fonte de violência. Toda a dificuldade para se encontrar a paz ou praticar a paz recai neste mesmo ponto: a violência contra outras entidades vivas.

Alguém que cultive pelo menos um destes inimigos dentro de si não pode ser um yogi. No Yoga-sutra (2.35), encontramos que:

ahimsa-pratisthayam tat-samnidhau vaira-tyagah

“Estabelecendo-se intensamente em não-violência abandona-se qualquer hostilidade.”

(25)

Também na fala o yogi deve ser muito sóbrio. Ele deve ser veraz, agradável e causar entusiasmo com sua fala, evitando palavras agressivas.

A violência mais grosseira é justamente a causada pela matança de animais. O yogi deve ver com igualdade todos os seres vivos como esclarece o Bhagavad-gita (6.10):

yogi yunjita satatam atmanam rahasi sthitah

ekaki yata-cittatma nirasir aparigrahah

“Considera-se um yogi mais avançado aquele que vê os benquerentes honestos, os benfeitores afetuosos, os neutros, os mediadores, os invejosos, os amigos e os inimigos, os piedosos e os pecadores - todos com uma mente equânime.”

O verdadeiro yogi vê tudo em relação com a Verdade Absoluta e assim passa a respeitar a todos. Violência não é apenas aquela realizada por um assassino ou psicopata, mas por qualquer um que seja conivente com a matança indiscriminada de seres vivos para a satisfação do paladar. Qualquer ação que cause sofrimento a outro ser vivo é uma ação violenta tanto para o executor quanto para a vítima. Qualquer tipo de violência é sinal de um baixo nível de consciência, que impede o desenvolvimento da misericórdia e da equanimidade. Um yogi está sempre atento para não causar nenhum tipo de violência contra nenhuma espécie de entidade viva. Não é por acaso que não-violência aparece em primeiro lugar nos degraus de Yama. Ela é muito grosseira e está relacionada com o que há de mais degradado. A forma humana destina-se à compreensão espiritual; logo, qualquer ação que não promova ou impeça este propósito na certa comete violência contra os seres humanos e demais seres vivos.

(26)

3.3.1.2 - Satya

A veracidade é compulsória a todo ser humano. Nenhuma sociedade pode ser estabelecida sem pelo menos um pequeno grau de veracidade. Deve-se ser veraz com os outros e consigo mesmo. O yogi só deve falar o que pensa e fazer o que diz, e sua veracidade também deve estar presente nos pensamentos, falas e ações. Patanjali no Yoga-sutra (2.36), diz que:

satyapratisthayam kriya-phala-asrayatvam

“Estabelecendo-se em veracidade as conseqüências das ações dependerão apenas das atividades que se realizarem.”

O yogi dever ser transparente em suas atividades externas e internas. Dentro do sistema social Védico existe a classe social mais elevada formada por intelectuais, sacerdotes e professores (brahmanas) que são a cabeça da sociedade

autêntica. Tais brahmanas apresentam em suas

personalidades e caráter a exemplar qualidade de serem verazes. De acordo com a literatura Védica, na atual era em que vivemos (kali-yuga), por mais incrível que possa parecer, só resta uma qualidade dos elevados valores religiosos: a veracidade.

Krishna diz no Bhagavad-gita (10.4-5), que bhavanti

bhava bhutanam matta eva prthag-vidhah, ou seja, a

veracidade e todas as boas qualidades dos seres vivos surgem dEle.

A verdade deve ser apresentada independente de suas conseqüências. Sem veracidade o yogi não pode fazer o menor avanço. Enganando aos outros ou a si mesmo, como um pretenso yogi, ele pode causar sua própria ruína por não ser transparente em seus relacionamentos. Transparência é sinônimo de simplicidade e um yogi vive de maneira simples. O

yogi não deve complicar sua vida e viver de maneira delirante

sem saber em que nível está sua consciência espiritual. E para se obter esta simplicidade é necessário veracidade.

(27)

Outro ponto importante é que o yogi deve ser verdadeiro com seus desejos. Isto requer harmonia e sinceridade na atitude com o Senhor Supremo. Esta sinceridade é definida no Srimad-Bhagavatam (8.16.22), pela palavra satya-sankalpa :

yatha me satya-sankalpa vidadhyat as manoratham

“Que o Senhor fique satisfeito comigo e satisfaça todos os meus sinceros desejos.”

É por isso que Krishna diz no Bhagavad-gita (7.16), que existem quatro tipo de pessoas que se aproximam dEle: o aflito, o desejoso de riquezas, o inquisitivo e o que busca conhecer a Verdade Absoluta.

3.3.1.3 - Asteya

Neste caso, o verdadeiro yogi também se destaca por não querer para si a posse de outrem. Com perfeito conhecimento de que existe um Supremo Controlador, Desfrutador e Proprietário ele entende que tudo pertence ao

Paramatma, a Superalma. Quando o yogi compreende que

nada pode ser realmente seu - já que tudo tem uma existência temporária neste mundo -, mas que tudo pertence ao Senhor Supremo, ele pratica a verdadeira renúncia, utilizando tudo que possui para a satisfação do Senhor. Não é necessário abrir mão de nada além do falso ego.

De acordo com a filosofia do Yoga, cada qual tem sua cota determinada. Querer mais do que determina sua cota pode ser considerado um crime, e um yogi não deve cair neste erro que gera inveja e cobiça. Por isso, está dito no Sri

Isopanisad (1), que:

isavasyam idam sarvam yat kinca jagatyam jagat tena tyaktena bhunjitha

(28)

“O Senhor controla e possui todas as coisas animadas e inanimadas que estão dentro do Universo. Portanto, devem-se aceitar apenas as coisas que lhe são necessárias, que foram reservadas como sua cota, e não se devem aceitar outras coisas, sabendo bem a quem pertence.”

Por este motivo o yogi deve ser auto-satisfeito e não alimentar o desejo por objetos que possam desviá-lo da meta última da vida. Estando satisfeito por considerar suficiente o que possui o yogi nunca estará envolvido pela ira ou luxúria, e nem se tornará escravo dos desejos insaciáveis da mente, fatores que podem atar a alma por muitas vidas ainda no mundo material.

Assim, o yogi deve desenvolver certo desapego de tudo que possa atá-lo à vida material. No Bhagavad-gita (15.4) vemos que é necessário deixar a associação daquilo que possa ser prejudicial à alma espiritual. Asanga-sastrena: é preciso deixar todo o apego a tudo que pertence à energia material. A melhor maneira de realizar este desapego não é abandonando a

associação com a energia material, mas usá-la no

aprimoramento espiritual. Seria como trocar a associação material pela espiritual. Sabendo que tudo pertence ao Isvara Supremo, o yogi naturalmente desenvolve uma relação espiritual com a energia material utilizando-a para a satisfação do Supremo. Isto é Asanga-sastrena, que pode ajudar a desenvolver uma atitude livre da cobiça. Como se declara no

Yoga-sutra (2.37):

asteya-pratisthayam sarva ratnopasthanam

“Estabelecendo-se firmemente em honesti-dade todas as opulências necessárias se afloram.”

Porém, se não puder eliminar por completos estes desejos corrosivos da mente por meio de Asanga-sastrena, o

yogi deve ao menos evitá-los em seus pensamentos, fala e

ações. Isto é facilitado quando se busca levar uma vida pura em todos os aspectos. Através da associação com aqueles que

(29)

estão empenhados na prática do serviço devocional amoroso ao Senhor pode-se tornar a vida mais pura e espiritualizada.

3.3.1.4 - Brahmacarya

Brahmacarya significa aquele que atua no nível de brahman. Em todas as circunstâncias o yogi deve ser um brahmacary e sempre agir com consciência de aham brahmasmi, ou seja, que “eu não sou este corpo”. A atitude do yogi que segue brahmacarya deve basear-se neste princípio e

nunca no conceito corpóreo de desfrute dos sentidos materiais do corpo.

O aspecto da abstinência sexual é apenas o aspecto externo da vida de brahmacarya. A meta não é meramente a vida celibatária, mas o controle total dos sentidos. Para quem está seguindo as regulações necessárias à vida espiritual sabe muito bem que o controle do impulso sexual é muito difícil, pois o prazer alcançado no ato sexual é, do ponto de vista material, muito forte. Assim, controlar os impulsos sexuais é conquistar todos os outros sentidos.

Para o verdadeiro yogi, que se dedica com sinceridade e oferece sua vida a Alma Suprema conhece um prazer muito superior a qualquer prazer mundano e, por isso, ele não se entrega aos desejos sensuais dos sentidos materiais, mas os ocupa para servir ao Paramatma.

Na ordem religiosa do sistema social Védico,

brahmacarya é a primeira fase e precede, sucessivamente, as

fases de casado (grhasta), retirado (vanaprasta) e renunciado (sannyasi). Em todos eles apenas na fase de casado é que se tem acesso regulado à vida sexual, porém apenas para a geração de filhos avançados em consciência espiritual, o que significa que mesmo na vida de casado o yogi deve praticar celibato.

Tal restrição não deve ser vista como algo proibitivo ou sofrido, mas como uma austeridade que faz parte do processo de se buscar pela meta última da vida. A vida sexual contrária aos princípios religiosos acaba com toda a energia vital que poderia ser usada para elevar a consciência e destrói

(30)

a potência espiritual acumulada pelas atividades espirituais diárias.

Para se manter fortalecido o brahmacary deve manter-se junto do Guru e manter-servi-lo por um bom tempo. O Guru ensina ao yogi discípulo a controlar os sentidos e concentrar-se no objeto de sua busca transcendental. Enfim, a prática de

Brahmacarya capacita a memória a agir com mais rapidez e

aumenta a duração de vida, como se declara no Yoga-sutra (2.38):

brahmacarya-pratisthayam virya-labhah

“Estabelecendo-se firmemente no controle dos órgãos genitais facilmente desenvolve-se vigor.”

Não há vantagem em desfrutar dos sentidos materiais. Qualquer animal vive nesta plataforma sensual, mas o ser humano tem a prerrogativa de escolher entre a vida degradada ou civilizada. Sem esta alternativa não faria sentido o livre arbítrio. Portanto, vida espiritual é simples para as mentes simples, mas é difícil para as mentes complicadas. O melhor é descomplicar a vida controlando os sentidos e usando-os para o avanço espiritual. Imaginem quantas situações conflitantes, frustrações e desperdício de tempo e energia seriam evitados sem esta busca insólita por gozo sensual dos sentidos.

3.3.1.5 - Aparigraha

Aparigraha, ou não-possessividade, é compreendido

como alguém que seja despojado de posses materiais, não no sentido de não possuir o mínimo necessário a sua manutenção básica, mas de não acumular mais do que necessita.

Aparigraha se assemelha um pouco a Asteya, embora nesse o

que prevalece é a inveja e a necessidade de assumir algo que não lhe pertença. Já em Aparigraha há o forte impulso de acumular posses desnecessárias.

Este sentimento de possessividade expressa a mais profunda insatisfação, insegurança, apego e cobiça. Por mais

(31)

que alguém procure satisfazer sua tendência de Aparigraha nunca estará satisfeito, pois o desejo nunca poderá ser saciado. Por isso, encontramos no Yoga-sutra (2.39):

aparigraha-sthairye janma-kathanta-sambodhah

“Estando livre de possessividade material torna-se clara a razão da existência.”

A razão da existência é justamente buscar pela auto-realização espiritual, e nada mais (vedais ca sarvair aham eva

vedyah). Quem está envolvido com a ganância acaba sempre

comendo a mais do que a capacidade do estômago, dormindo mais do que o corpo requer e assume tamanho hedonismo que passa a dedicar toda sua energia em saciar as mais fúteis demandas corpóreas.

Devido à intensa identificação com o corpo material tal pessoa acaba encontrando, em sua busca por desfrute, mais sofrimento do que prazer.

Diante de todas estas anomalias, o yogi não perde seu tempo procurando satisfazer-se com os produtos da ilusão, mas utiliza todo seu tempo e energia em expandir sua consciência espiritual.

Aqui também se aplica a idéia de desapego, como citado por Srila Rupa Gosvami em seu Bhakti-rasamrta-sindhu (2.255-256):

anasaktasya visayan yatharham upayunjatah nirbandhah krsna-sambandhe

yuktam vairagyam ucyate prapancikataya budddhya

hari-sambandhi-vastunah mumuksubhih parityago vairagyam phalgu kathyate

(32)

“Quando a pessoa não se apega a nada, mas ao mesmo tempo tudo o que aceita ou possui usa em relação com Krishna, ela está corretamente situada acima do sentido de posse. Por outro lado, aquele que rejeita tudo sem entender a relação destas coisas com Krishna, não é completo em sua renúncia.”

Se o yogi tiver que conseguir algo que seja muito difícil, e ainda assim colocar em risco sua vida diária de práticas espirituais, para difundir o conhecimento espiritual às outras pessoas, ele aceita como uma perfeita austeridade e age com verdadeira renúncia; mas, se for para satisfazer a si próprio e seus anseios pessoais ele então abre mão de tal esforço inútil. A idéia é que o yogi não fica em ansiedade e sempre utiliza sua vida no progresso espiritual. Ele sabe que tudo está sob o controle do Paramatma e assim dedica-se e esforça-se para cumprir seus deveres em harmonia com o Senhor Supremo.

3.3.2 - Niyamas

Os cinco subdegraus de Niyamas visam disciplinar os hábitos, definindo personalidade e caráter. A palavra Niyama refere-se aos preceitos concernentes às atividades que os seres humanos em geral não estariam inclinados a executar. Ou seja, no início deve-se fazer um esforço, mas gradualmente estes preceitos tornam-se naturais. Ni significa ausência. Sem esforço; algo que é natural para o ser vivo civilizado. Porém, devido ao contato contaminado com o mundo material é necessário começar com um pequeno esforço. As disciplinas de

Niyama não são proibitivas, são reguladoras.

Estas regulações tornam o yogi física, mental e espiritualmente fortalecido. É importante compreender que estas regulações visam o bem estar mental e espiritual do yogi. De acordo com as escrituras Védicas regras e regulações existem para que o yogi possa sempre pensar no Senhor Supremo dentro de seu coração e nunca se esquecer dEle.

(33)

Seguir tais prescrições de maneira mecânica ou desconsiderá-las está fora de cogitação para o yogi sincero. Também no

Bhakti-rasamrta-sindhu (1.2.101), se declara que: sruti-smrti-puranadi-

pancaratra-vidhim vina aikantiki harer bhaktir atpatayaiva kalpate

“Praticar serviço transcendental amoroso ao Senhor Hari, mas ignorar os textos védicos autorizados, tais como os Upanisads, Puranas e o

Narada-pancaratra, é simples-mente uma perturbação

desnecessária na sociedade.”

Deve-se segui-las de maneira natural e com consciência de desenvolver o autocontrole.

Embora sejam ainda externas, e estejam ligadas ao âmbito de moral e ética, tanto Yama quanto Niyama são de grande importância dentro do Asthanga-yoga. Todos os outros

angas dependem de uma boa base nestes dois angas iniciais.

Sem disciplina ninguém alcança seus objetivos.

3.3.2.1 - Sauca

No contexto da ciência do Yoga, Sauca refere-se à pureza física e mental já que ambas ajudam a evitar doenças no corpo e na mente, respectivamente. É muito simples aceitar o fato de que o yogi não é aquele que deixa o cabelo crescer, não toma banho, não se alimenta ou não dorme. O yogi cuida melhor do seu corpo do que uma pessoa comum, pois ele sabe a quem pertence seu corpo. Devido a um conceito errado sobre yoga, muitas pessoas acham que para se tornar um yogi ela terá que abandonar todos os seus cuidados com a saúde e simplesmente viver ao acaso. Esta não é a idéia. Vida espiritual requer maiores responsabilidades.

A pureza mental, por sua vez, auxilia no avanço espiritual ao possibilitar uma inteligência mais aguçada e

(34)

de apego, medo e ira, devido à execução de atividades que a purificam. Com a mente estável e limpa de toda poeira material ele pode ver constantemente a realidade do mundo numa perspectiva positiva.

A pureza, ou limpeza física é fácil de entender e realizar, porém a limpeza da mente requer algo mais intenso e profundo. A pureza da mente depende de pensamentos espirituais, absorção mental em tópicos transcendentais e discernimento apurado. Sem estes pré-requisitos, que devem ser desenvolvidos ainda nos dois angas iniciais (Yama e

Niyama), não há como fazer progresso na auto-realização. A

mente precisa de ocupação constante e, ao contrário do que se pensa, o correto é ocupar a mente e não tirar suas ocupações, ou, melhor dizendo, ocupar a mente em atividades transcendentais e tirá-la das ocupações materiais. Este é o grande segredo do sucesso no processo de Yoga. Patanjali diz no Yoga-sutra (2.40):

saucat svanga-jugupsa parair asamsargah

“A pureza do próprio corpo e da mente é superior ao contato indesejado - com outros corpos ou objetos materiais.”

E é por este motivo que se enfatiza muito o autocontrole. Ocupando os sentidos, a mente e a inteligência no transcendental serviço devocional amoroso ao Senhor Supremo pode-se purificá-los e, com a mente pura, pode-se concentrar e meditar na forma transcendental do Paramatma. E como podemos ocupar a mente e os sentidos no transcendental serviço devocional amoroso ao Senhor? O

próprio Senhor Kapila explica no Srimad-Bhagavatam

(3.28.33):

dhyanayanam prahasitam bahuladharistha- bhasarunayta-tanu-dvija-kunda-pankti dhyayet svadeha-kuhare ‘vasitasya visnor bhaktyardrayarpita-mana na prthag didrkset

(35)

“Com devoção embebida em amor e afeição, o yogi deve meditar no âmago de seu coração, na risada do Senhor Vishnu. A risada dEle é tão cativante que se pode meditar nela facilmente. Quando o Senhor Supremo ri, pode-se ver Seus pequenos dentes, que parecem botões de jasmim matizados de rosa pelo esplendor de Seus lábios. Uma vez que tenha devotado sua mente a isto, o yogi já nem deseja ver qualquer outra coisa.”

Este é o processo de meditação mais correto que é

praticado pelos verdadeiros yogis e que leva ao

desenvolvimento natural do amor por Deus. Sem chegar ao ponto de desenvolver amor puro pelo Senhor Supremo, qualquer processo de Yoga que descarte o trabalho de purificação do praticante é mera perda de tempo, pois não o leva ao desenvolvimento de amor puro pelo Senhor Supremo. O

yogi não desperdiça sua valiosa vida em algo que não lhe dará

a fonte última de prazer, que só poderá ser alcançada após ter desenvolvido pureza no coração. Tudo isto dependerá de Sauca que o yogi deve desenvolver dentro de si mesmo.

3.3.2.2 - Santosa

Santosa pode ser entendida como contentamento,

satisfação ou entusiasmo. Com a mente limpa e calma pode-se encontrar satisfação em todas as situações, e assim atua o

yogi, sempre extraindo ouro do lixo. Em tal estado de mente,

mesmo um mendigo pode viver com a satisfação de um grande rei.

Porém, o yogi mantém seu equilíbrio sem se exaltar e sem se lamentar. Na verdade, sua satisfação não depende de fatores externos. Ele vive este estado dentro de si, compreendendo que este é o seu verdadeiro tesouro. E é este tesouro que alimenta sua firme convicção de investir na vida espiritual.

(36)

Podemos perceber que mesmo uma experiência do passado que tenha nos dado alguma sensação de prazer ou satisfação já não existe mais como fator externo, mas a sensação ainda pode estar viva em nossa memória. Aquela realidade já não tem mais existência física no contato com nossos sentidos embora a satisfação possa ainda ser sentida como uma lembrança do passado. Isto mostra que a satisfação é interior. Ela nunca depende de algo externo. Quando experimentamos uma situação compatível com algum desejo da mente sentimos internamente algo que nos dê prazer. Mas quando o estímulo externo se esvai a satisfação, que dependia de fator externo, também se acaba. Porém, esta satisfação está constantemente presente dentro de cada um. Quando o yogi entra em contato com sua essência espiritual real ele pode sentir plenamente esta constante satisfação e prazer dentro de si. Isto é Santosa, a satisfação que alimenta o desejo de querer vida espiritual.

Para isto é necessário provar o sabor sublime da transcendência, como é apresentado no Bhagavad-gita (2.59):

rasa-varjam raso ‘py asya param drst va nivartate

“Interrompendo as ocupações materiais ao

experimentar um gosto superior, o yogi se fixa em consciência espiritual.”

Provando um nível superior de consciência, qualquer um que esteja desejoso por vida espiritual abandona naturalmente sua afeição pelos objetos dos sentidos materiais. Isto se deve à rasa ou sabor espiritual que nutre a alma, dando-lhe prazer e satisfação. Esta rasa, ou sabor é que dá o prazer interior que o Senhor Krishna descreve no

Bhagavad-gita (5.21):

bahya-sparsesv asaktatma vindaty atmani yat sukham as brahma-yoga-yuktatma

(37)

“Tal pessoa liberada não se deixa atrair pelo prazer dos sentidos materiais, mas está sempre em transe, gozando o prazer interior. Desse modo, a pessoa auto-realizada sente felicidade ilimitada, pois se concentra no eu.”

Esto verso confirma que a satisfação está dentro da alma espiritual, em associação com o Senhor Supremo, e não fora, nos objetos materiais que só geram apego e sofrimento.

3.3.2.3 - Tapas

Tapas, ou a verdadeira austeridade, significa deixar

de fazer o que a mente gosta e deseja fazer para realizar aquilo que se deve fazer, mesmo que seja contrário ao prazer da mente. Em outras palavras, austeridade significa vencer os obstáculos e dificuldades pelas quais nossos sentidos, mente e inteligência tem que passar.

De acordo com o Bhagavad-gita, existe austeridade do corpo, da fala e da mente e todas devem visar à satisfação do

Paramatma. Qualquer tipo de austeridade que cause dor ou

sofrimento nunca deve ser praticado pelo yogi erudito. Praticar

Tapas para engrandecimento pessoal ou político (jejuns,

mortificações, autoflagelação), não tem nenhum valor espiritual e são contrárias às bases da filosofia Védica do Yoga.

A austeridade tem como objetivo auxiliar no avanço da consciência espiritual do yogi, trabalhando seu desapego e fortalecendo sua determinação espiritual. Toda austeridade praticada com base nas escrituras favorece a vida espiritual e não há vida espiritual sem austeridade.

Muitas vezes, devido à influência ilusória de ter passado por milhões de vidas em diferentes corpos, a alma condicionada sente mais facilidade em ocupar-se nas atividades prejudiciais à sua vida espiritual e vê a auto-entrega do yogi como algo muito penoso. Na verdade, fazer da vida diária uma atividade sagrada nos leva à idéia de executarmos ofícios sagrados - daí, sacro ofício. E de acordo com o

(38)

E ainda neste verso encontramos que Sauca, Asteya, Brahmacarya e Ahimsa constituem austeridades do corpo; Satyam, Svadhyaya e ser agradável nas palavras constituem

austeridade da fala (Bg 17.15); Santosa, gravidade,

autocontrole, simplicidade e purificação da existência são austeridades da mente (Bg 17.16). Somente reconquistando estas qualidades divinas é que podemos recuperar nossa consciência original. E fixo na busca desta elevação espiritual é que o yogi sente a satisfação que resulta da própria austeridade. Rasa-varjam raso ‘py asya param drst va

nivartate.

3.3.2.4 - Svadhyaya

Svadyaya pode ser entendida como o estudo profundo

sobre a essência do ser vivo. Todos estão buscando por algo e muitas vezes não se sabe nem mesmo o que é. Assim, uma pessoa comum passa toda a sua vida sem inquirir sobre a Verdade Absoluta, que é a essência de toda a busca e, assim, desperdiça toda a chance de poder compreender a si próprio, compreender o mundo, compreender o Senhor Supremo e a relação existente entre todos eles.

Entretanto, esta busca deve ser baseada em três

fontes de conhecimento autêntico. Sem estas fontes

autorizadas qualquer estudo sobre tópicos elevados não leva ao propósito último e verdadeiro.

As três fontes são:

 Pessoas santas ou seguidores das escrituras sagradas (sadhu)

 Mestre espiritual (guru)  Escrituras sagradas (sastras)

As pessoas santas passam o conhecimento através de exemplos práticos. Apenas o contato manso e humilde, com serviço sincero, prestado a estas almas elevadas já é suficiente para beneficiar o yogi sério. Eles podem passar o conhecimento

(39)

e, pelo próprio exemplo, estimular e ensinar sobre a essência da vida.

O mestre espiritual também é uma pessoa santa e um representante autêntico do Senhor Supremo. Ele aceita discípulos e instrui sobre a vida espiritual. Todo estudo feito sobre o tema transcendental deve ser seguido por um Guru. Somente o Guru pode iluminar a inteligência do discípulo ou

yogi. Para isto ele deve se aproximar do mestre espiritual com

atitude correta, como apresentada no Bhagavad-gita (4.34):

tad viddhi pranipatena pariprasnena sevaya upadeksyanti te jnanam jnaninas tattva-darsinah

“Tente aprender a verdade aproximando-se de um

mestre espiritual. Faça-lhe perguntas com

submissão e preste-lhe serviço. As almas auto-realizadas podem lhe transmitir conhecimento porque são videntes da verdade.”

Todo exemplo dado pelo Guru é baseado nos mestres anteriores (acaryas), e totalmente respaldado nas escrituras reveladas.

Por fim, as escrituras são as bases de todo conhecimento que conduz aos estudos mais profundos da essência do ser individual (Jivatma) e do Ser Supremo (Paramatma). Dentro da tradição do Yoga a forma humana é tida como a mais adequada para se atravessar a existência no mundo material e todo estudo (Svadhyaya) do Vedanta e prática do Yoga tem como propósito seguir e satisfazer os desejos do Paramatma, a Pessoa Suprema. Isto é confirmado também no Srimad-Bhagavatam (10.47.24):

japa-svadhyaya-samyamaih krsne bhaktir hi sadhyate

“Também através de japa, estudo dos textos védicos e observância dos princípios reguladores alcança-se o transcendental serviço devocional amoroso por Krishna, a Suprema Personalidade de Deus.”

(40)

Nesta citação pode-se notar que tanto o cantar da

japa (recitação individual do Maha-mantra Hare Krishna, Hare

Krishna, Krishna Krishna, Hare Hare / Hare Rama, Hare Rama, Rama Rama, Hare Hare), quanto seguir os princípios reguladores - entre outros (votos, caridade, austeridade e sacrifícios), são estabelecidos pelo Guru, pelas pessoas santas e pelas escrituras reveladas. E todos estes auxiliam no progresso espiritual do yogi a sua meta suprema, krsne

bhaktir, devoção amorosa pela Suprema Personalidade de

Deus.

3.3.2.5 - Isvara Pranidhana

Já nesta etapa do Asthanga Yoga o praticante deve estar preparado para abandonar sua ilusória identificação corpórea. Deixar o falso ego e aceitar um Ser Supremo a quem temos que aceitar como superior ao nosso insignificante ego grosseiro é algo muito difícil, mas extremamente necessário para quem quer avançar no caminho do Yoga como ele realmente é. Patanjali em seu Yoga-sutra (1.23), enfatiza que:

isvara-pranidhanad va

“Entregar-se por completo à Suprema Personalidade de Deus.”

Também é enfatizado o mesmo ponto no sutra 2.45:

samadhi-siddhir isvara-pranidhanat

“A perfeição do Samadhi é a rendição completa à Suprema Personalidade de Deus.”

Entregar-se numa atitude de rendição ao Senhor Supremo é muito difícil para quem ainda não tenha desenvolvido pelo menos uma pequena centelha de amor pela Pessoa Suprema. Porém, para amá-Lo é necessário conhecê-Lo, e para conhecê-Lo dependerá muito do estágio anterior,

(41)

Svadhyaya. Estudar as escrituras com uma pessoa autorizada e conhecedora profunda das escrituras autorizadas, um Guru, será de fundamental importância para se chegar a este último estágio de Niyama.

Assim, este é o ultimo estágio para o yogi que deseja abandonar os apegos materiais e proteger-se dos perigos da vida humana. Por este motivo o Senhor Krishna instrui Arjuna já no final do Bhagavad-gita (18.65):

sarva-dharma parityajya mam ekam saranam vraja aham tvam sarva-papebhyo

moksayisyami ma sucah

“Abandone todas as suas ocupações materiais e simplesmente renda-se a Mim. Eu o libertarei de todas as reações pecaminosas. Não tema.”

A verdadeira rendição depende de abandonarmos completamente a falsa identificação corpórea e as atividades do ego material. Para isto, utiliza-se tudo para o prazer do Supremo, com uma visão espiritual. Desse modo, isvara

pranidhana não significa algo externo ou mecânico, mas um

sentimento e atitude interna de entrega completa. Caso contrário o yogi corre o risco de se refugiar, ou se render, à energia material ilusória. Como Krishna declara no

Bhagavad-gita (9.12):

moghasa mogha-karmano mogha-jnana vicetasah

raksasim asurim caiva prakrtim mohinim sritah

“Aqueles que estão perplexos deixam-se atrair por

opiniões demoníacas e ateístas. Estando

(42)

liberação, suas atividades fruitivas e seu cultivo de conhecimento são todos destroçados.”

Portanto, o yogi deve render-se ao Supremo refugiando-se na potência espiritual do Senhor. Após esta rendição o yogi dedica todas as suas atividades, pensamentos, sentimentos, desejos e inteligência ao Senhor Supremo, e isto é a perfeição da vida. Após este teste o yogi pode realmente ser considerado um verdadeiro yogi.

Embora já em Yama se faça necessário o cultivo de

Bhakti, é justamente neste momento do processo que o yogi

desenvolve sua devoção natural pela Superalma. A partir deste ponto, sem devoção, nenhum progresso mais é possível. O que nos leva a concluir que Yama e Niyama são disciplinas que ajudam a modelar o caráter do yogi para que ele possa naturalmente sentir atração amorosa por Deus.

Nos próximos angas o yogi mantém e desenvolve gradualmente sua devoção até o estágio último de Bhakti, culminando em prema-bhakti, o transcendental amor puro pelo Senhor Supremo. A semente que foi plantada em Yama e

Niyama cresce nos próximos degraus até que a consciência do yogi se absorva na forma pessoal da Verdade Suprema - a meta

de todos os grandes yogis. Este é o objetivo mais elevado, como confirma o Bhagavad-gita (12.6-7):

ye tu sarvani karmani mayi sannyasya mat-parah

ananyenaiva yogena mam dhyayanta upasate tesam aham samuddharta

mrtyu-samsara-sagarat bhavami na cirat partha mayy avesita-cetasam

“Mas aqueles que Me adoram, abandonando todas as atividades por Mim e não se afastando de sua

devoção por Mim, ocupando-se em serviço

devocional e sempre meditando em Mim, tendo fixado suas mentes em Mim, ó filho de Prtha - a eles Eu sou o pronto salvador do oceano de nascimentos e mortes.”

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