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A forma de perceber e pensar a infância influi nas atitudes que os adultos adotam em sua relação com as crianças. Assim, o que se escreve sobre a criança, a partir das concepções criadas da infância, também acaba incidindo sobre a produção literária para as crianças. Nessa perspectiva, a literatura sobre a infância, por vezes destinada às crianças, valoriza um conteúdo permeado pela exemplaridade e referência da visão do adulto. A criança delineada nas narrativas está prisioneira de um projeto futuro, negada em um presente narrativo e suas ações orientadas pela censura e pelos fatos passados. Na história da literatura sobre/para crianças criou-se um estereótipo que cristaliza este sentido programático voltado para a infância.

A relação do adulto com sua própria infância ou com a de outrem, mas que de alguma forma está distanciada de seu observador, carrega uma configuração ambígua, e isso se expressa quando se tenta materializar uma imagem cristalizada da criança/infância na escrita literária.

Este encontra nela uma antiga forma do seu eu, da qual frequentemente se sente saudoso. A criança representa um estado original onde todas as possibilidades estavam abertas. Retornar a sua infância é uma tentativa de escapar ao desenrolar do tempo, ao aprisionamento dos papéis sociais, é sonhar com um re-nascimento. A criança é também o único ser que podemos criar, que gostaríamos de logo modelar para nos prolongar e compensar aquilo que nos faltou. Mas irresistivelmente, ela assume sua autonomia e nos repele em direção a gerações desaparecidas (LAUWE, 1991, p. 2).

A memória do tempo da infância funciona, então, como uma tentativa de conciliar o passado com o futuro, produção mediada pelo presente de quem escreve/lê. Nesta forma de representar a infância, tenta se ocultar a tensão dos dois extremos temporais. Porém, esta aproximação de fato jamais poderá acontecer, já que esta representação da criança assume uma forma idealizada, às vezes pincelada por tons dóceis e ingênuos, por outras carregada de cores negativas, sobretudo quando se trata da criança inquieta e insubmissa.

Ao estabelecer a relação entre infância e literatura, reconhece-se de que modo se costuma realizar a inserção da criança no tecido social. Nesse sentido, a literatura assume o papel de veículo criador e socializador da linguagem e dos valores que identificam e

distinguem a pessoa. Uma das formas de entendimento do caráter humano é a afirmação de uma origem, de uma infância. Assim, quando a ideia de infância surge no cenário ocidental, juntamente com os conceitos modernos de família e de escola, a criança ganha um papel importante na representação literária. Falar sobre e para a infância é reafirmar sua existência, assim como criar mecanismos para sua disciplinarização.

O primeiro passo para que essa compreensão se estabeleça é traçar alguns elementos históricos da trajetória da literatura para a infância – onde se delineiam os condicionantes sociais que se desdobram na emancipação da modalidade de um discurso que, ao incorporar a criança, cria também a percepção do que é a infância.

2.1 – Visões da infância na literatura: uma breve história

Para desenvolver o tema infância na literatura e seus fundamentos históricos, é importante considerar o conceito de criança por meio da produção literária para esse leitor. Assim, a relação entre história e literatura torna-se relevante à medida que, enquanto a reflexão histórica vai analisando a convivência social da criança em diferentes épocas, a produção literária se afirma como um dos discursos que assume a preocupação com a infância e a partir daí constrói um conceito ou imagem da criança. A literatura constrói diferentes representações da criança que circulam em várias sociedades.

Como já foi visto no primeiro capítulo, a infância surge como categoria, a partir do século XVIII. Até então, não se encontra um corpus de conhecimentos, nem tampouco uma área específica de conhecimento que seja capaz de conceituar esse período de desenvolvimento humano. Não havendo conhecimento especializado, nem procedimentos específicos visando a educação, afeto e proteção das crianças, estas participavam da vida da sociedade sem que houvesse cuidados especiais às suas necessidades.

Neste mesmo percurso, a literatura pouco se interessou em tematizar a infância, até o final do século XVIII.

A infância aparece afastada da existência humana ou, quando ela é descrita, o é negativamente. Alguns textos excepcionais dão imagens positivas, mas somente como objeto de divertimento, de jogo. Os escritores experimentam

então o prazer manifestado pela criança que se diverte (LAUWE, 1991, p. 7). Na pesquisa de Lauwe, há uma investigação das representações da sociedade francesa sobre a criança, nos séculos XIX e XX, a partir da imagem da infância nas produções literárias e cinematográficas. No primeiro capítulo de seu livro Um outro mundo: a infância, Lauwe demonstra o percurso das concepções sobre a infância em alguns importantes pensadores do mundo ocidental, desde a Antiguidade. Para Aristóteles, a infância é “uma desgraça ao longo da existência”. O filósofo afirma que a infância remete às emoções irracionais, ao âmbito do desejo. No século V, Agostinho, ao discorrer sobre o “peso do pecado original no início da vida”, enfatiza o caráter de imperfeição da infância. Em Descartes, a “infância é um erro” (p.8).

Esta concepção muda bastante, como já visto, com o advento da burguesia e a propagação dos ideais iluministas, principalmente em Rousseau. Por volta de 1850, a personagem infantil aparece de maneira decisiva na literatura. “Os homens descobrem que não existe apenas uma maneira de ser humano, o adulto perde seu prestígio de modelo único” (p.9). Nesta época, os contos populares medievais ganharam versões direcionadas ao público infantil, sendo expoentes nessa época os irmãos Grimm com suas histórias de contos de fadas. Paralelamente, muitos autores escrevem sobre sua infância, reconstruindo uma imagem que desejavam, ou “queixavam-se daquilo que sua infância não foi ou o que ela deveria ter sido, em referência a um momento ideal implícito ou explícito” (LAUWE, 1991, p.10).

As primeiras obras destinadas ao público infantil foram publicadas no início do século XVIII; porém, antes disto, durante o classicismo francês, no século XVII, foram escritas algumas obras que viriam a ser incorporadas também como literatura infantil, das quais se pode citar: Fábulas, de La Fontaine (1668-1694), As aventuras de Telêmaco, de Fénelon (lançadas, postumamente, em 1717) e Contos da Mamãe Gansa, de Charles Perrault (1697) (LAJOLO & ZILBERMAN, 1999).

Deste modo, pode-se afirmar que o surgimento da literatura infantil está relacionado à constituição de uma nova mentalidade a respeito das crianças, que surge no conceito de infância que se consolidou a partir do século XVII.

Charles Perrault, considerado uma pessoa importante nos meios intelectuais franceses, não quis a assinar a primeira edição de Contos da Mamãe Gansa, dando a autoria a seu filho mais moço. Todavia, o livro é dedicado ao delfim da França – país que, por ter um rei ainda

criança, é governado por um príncipe regente. Essas situações explicitam como a literatura destinada às crianças tinha uma caráter ambivalente desde o início, pois o gênero denominado “infantil” sempre encontrou dificuldades de legitimação, apesar de muito veiculado na época. Perrault não é somente o responsável pela propagação da literatura infantil, também reuniu as obras de La Fontaine e Fénelon. Seu livro, a partir da publicação de uma produção até então de natureza popular e circulação oral, populariza os contos de fadas como uma literatura identificada com as leituras infantis (LAJOLO & ZILBERMAN, 1999).

O surgimento da indústria de literatura infantil fez parte do processo que Ariès denominou a invenção da infância, ou seja, a definição da infância como uma etapa distinta da vida, com determinadas especificidades. Seguindo a linha do cuidado e da moralização decorrentes do surgimento da ideia de infância, no início do século XIX os interesses do leitor infantil eram reconhecidos somente com o objetivo de imposição de regras e hábitos, gerando uma literatura infantil marcadamente pedagógica. A transposição dos contos de fadas da tradição oral para a literatura infantil demonstra como os contos de Perrault foram reformulados para destacar a moral vigente, pois queriam atender às exigências da sociedade do século XVII (LYONS, 2002, p.167). Esse processo de transformação dos textos seguiu sendo adotado pelas casas editoras, sempre com uma preocupação em retirar histórias que mostrassem uma conduta inadequada, violência ou sexualidade explícita.

Segundo Lyons, a classe média emergente do século XIX identificavam na leitura uma possibilidade de ascensão social. A leitura passou a ser “ponto central no ethos do progresso pessoal” (2002, p. 170). Assim, a educação através da literatura assumiu um papel de destaque nas práticas de formação do indivíduo, ganhando importância na educação das crianças. Tais representações estavam relacionadas a uma visão utilitarista da leitura que se fortalecia na época.

A literatura infantil e a escola estão ligadas desde o começo, já que a aprendizagem depende da capacidade de leitura das crianças, colocando-se em um patamar submisso às práticas educativas (LAJOLO & ZILBERMAN, 1999). Assim sendo, a literatura infantil é marcada, em sua história, por determinadas convenções e práticas que se remetem às representações que os adultos, de um determinado contexto sócio-histórico, entendem como adequadas para as crianças.

Em suas pesquisas no campo da infância, Ana Maria Clark Peres não deixa de salientar a inadequação e a imposição de “valores” a que se veem submetidas as crianças, sem

que sejam oferecidas prerrogativas às suas necessidades, impulsos ou desejos: “Com base nas pesquisas da área, o autor e o crítico-educador encontram, frequentemente, bases sólidas para a transmissão de normas. Instituem-se saberes, criam-se dogmas: muitas certezas e praticamente nenhuma dúvida quando se trata de afirmar o que é melhor para a infância” (PERES, 1999, p. 170-171).

Os irmãos Grimm se empenharam em dar uma caráter mais dócil e menos cruel aos contos populares recolhidos por Perrault. Dessa forma, suavizaram o conflito entre pais e filhos: na versão de João e Maria, não é o casal de pais que os expulsa, mas há a introdução de um pai compreensivo e, na 4ª edição, a figura da madrasta substitui a mãe. Também suprimem as histórias que insinuam que o crime compensa - como no caso do Gato de Botas – e utilizam vários componentes que se repetem, como a presença das lindas princesas, dos caçadores simpáticos, das fadas, entre outros, assim como intensificação dos castigos para os personagens maus.

Entende-se, a partir desses exemplos, que, desde os seus primórdios, a literatura voltada para as crianças surge como uma forma literária menor. Tal concepção está intrinsecamente relacionada à ideia do infantil como menor, como aquele que necessita de um desenvolvimento para ser completo. O literário, assim, é somente um caminho para atingir uma finalidade educativa extrínseca ao texto propriamente dito, reafirmando um conceito, já do século XVIII, de A.C. Baumgartner de que ‘a literatura infantil é primeiramente um problema pedagógico, e não literário’” (p. 7). Desta maneira, em sua maior parte, o texto literário infantil visa, sobretudo, que a criança possa se desenvolver na leitura, tutelada pela ação do adulto. A infância trata-se de uma instância menor, anterior à desejada e definidora adultez. O crescimento, este sim, apresenta-se repleto de possibilidades e expectativas de êxito rumo ao posterior plano da maioridade buscada.

O adjetivo infantil, dessa maneira, origina uma diminuição do valor artístico da obra, como se, por sua destinação, essa se constituísse uma produção cultural inferior. Chartier, ao analisar os textos ‘populares’, demonstra algumas das estratégias para a transformação dos textos: encurtamento de sentenças e parágrafos, simplificações da linguagem, eliminação de capítulos, fragmentação de capítulos, censura ao que era considerado inadequado, acréscimo de notas, resumos ou títulos, entre outras (2001, p. 210). Assim, recriava-se uma obra para um leitor que, segundo a concepção da época, precisava de uma facilitação do que estava escrito na narrativa. Em outro sentido, para este leitor, não era valorizado o cuidado na elaboração da

obra, sendo possível o aparecimento de erros de impressão, clichês e trocas de palavras. O leitor dos livros populares lia de um jeito descontínuo, fragmentado, que, aparentemente, se acomodava às incoerências e lacunas do texto. Outra estratégia utilizada era o uso de ilustrações, as quais, muitas vezes, não tinham relação nenhuma com o texto ou com as intenções do autor, assim como a utilização de repetições de temas. Tudo isto era utilizado para produzir uma compreensão do que se lia, mesmo que esta compreensão estivesse longe do pretendido pelo autor ou editor do livro.

Este aspecto relacionado a uma menoridade da literatura infantil é um ponto fundamental pois esta noção implica uma desqualificação da produção literária destinada às crianças.

2.1.1 - A infância na literatura brasileira – o papel da memória na reconstituição da infância

Nos últimos cem anos, a Literatura Brasileira tem acumulado um grande acervo de literatura infantil, muitas vezes de cunho memorialista. Há desde obras de escrita autobiográfica até narrativas que envolvem crítica ou que se utilizam da ironia para realizar esta crítica (como as obras de Monteiro Lobato que tratam de memórias).

No primeiro caso, as escritas sobre a infância têm dado uma contribuição no sentido de se conhecer a história das mentalidades no Brasil, como também para se analisarem as transformações que ocorreram na escrita sobre a infância no decorrer dos tempos. Já no segundo caso, o que se tenta é uma reformulação da literatura escrita para as crianças, tentando subverter o discurso mais tradicional e de caráter pedagógico. Mas isso nem sempre ocorre.

De início, as histórias que envolviam a infância, abordadas a partir da visão memorialística de um adulto, insistiam na veracidade das memórias, valendo-se do texto como um depositário de lembranças referenciais e objetivas. A tradução de Cuore do autor italiano De Amicis foi bastante divulgada no fim do século XIX e constituiu o primeiro exemplo de literatura infantil memorialística, de caráter instrutivo. Narrada em primeira pessoa, sob a forma de diário, tal narrativa apresenta uma sucessão de episódios que transcorrem em ambiente doméstico e escolar. Neste relato que se propõe como de uma

verdade passada na vida de um menino, verifica-se a pretensão de ensinar o respeito e amor aos mais velhos e à pátria, sendo a questão da nacionalidade bastante valorizada (LAJOLO, ZILBERMAN, 1988, p. 33).

Podemos constatar, a partir desta época, que os textos que falam sobre as reminiscências de uma infância também apontam para pedagogização da leitura, assim como para a valorização do cenário onde os protagonistas passaram sua infância, relevando-lhes a origem e exaltando-lhes a identidade nacional e/ou regional.

A presença de uma personagem infantil é um dos procedimentos mais comuns da literatura infantil. A imagem da criança em tais textos é formatada conforme a lição que se quer passar na narrativa. E mais o contundente é essa adequação da personalidade da personagem quando o texto é de caráter autobiográfico com a utilização de um personagem/narrador:

A presença de um protagonista criança é um dos procedimentos mais comuns da literatura infantil. Via de regra, a imagem da criança presente em textos dessa época é estereotipada, quer como virtuosa e de comportamento exemplar, quer como negligente e cruel. Além de estereotipada, essa imagem é anacrônica em relação ao que a psicologia da época afirmava a respeito da criança (LAJOLO, ZILBERMAN, 1988, p. 34).

Em textos cuja produção não estivesse necessariamente voltada para a recepção infantil, podemos também detectar uma escrita sobre a infância preocupada com a orientação por interesses que controlam a escrita da memória. Como exemplo observamos o livro

Memórias de Taunay, em que o narrador relata em sua história pessoal fatos que ocorreram na

política e na sociedade da época. Nesta forma de contextualização da infância em um universo histórico, ressalta a intenção de se objetivar o texto passado, impregnando a escrita da infância de elementos referenciais.

As Memórias representam uma infância descrita como um tempo de felicidade, e, ao mesmo tempo, de formação cultural daquele que cresce e se identifica com os valores do Império. Os privilégios concedidos pelo convívio com a família imperial são decisivos para a formação do narrador protagonista, num tempo em que os sinais de mudança política assinalavam uma nova ordem.

Taunay relata alguns conflitos quando criança, quase sempre resolvidos pelo pai e/ou o Imperador. Todavia, o menino considerava-se, na maioria desses episódios de conflito ou

tensão, superior aos que lhe contrapunham as opiniões. Os pais, além de privilegiarem a harmonia doméstica, são responsáveis por uma educação rígida centrada nos estudos e na disciplina do corpo, treinando o menino para o trabalho intelectual. A educação é um dos pontos mais importantes dessa parte das Memórias, sendo decisiva para que se possa compreender a dimensão de um certo tipo de violência paterna, que o obrigaria a estudar horas e horas, até alcançar o máximo de rendimento.

Nesse tempo de Jurujuba, já estava eu às voltas com os estudos, começando o do latim na História Sagrada, de Lhommd. O tal Epítome, apesar de toda a simplicidade mais que elementar, dava-me trabalho enorme, provocando da parte de meu pai contínuas recriminações, no meio de exclamações de cólera e indignação - “Tu n’es qu’un imbécile!” era afirmação que voltava a cada instante. Às vezes a lição interrompia-se com as minhas lágrimas, e minha Mãe vinha, com toda a solicitude, procurar ajudar-me (TAUNAY, 2005, p. 12).

Como já dito anteriormente, Rousseau apontou para a compreensão e difusão da “ideia da infância como felicidade”, considerada uma novidade na Europa, em fins do século XVIII. Taunay, de uma forma bastante peculiar, vale-se de estratégias textuais para que a infância, recordada como felicidade plena, esteja vinculada à construção de um sujeito completo e feliz. E essa condição é obtida pelo esforço nos estudos e na procura por uma índole saudável e disciplinada.

Paralelamente a esta preocupação de se escrever literariamente uma infância pretensamente realista, a Literatura Brasileira está povoada de vários exemplos de uma perspectiva nostálgica do tempo passado, reafirmando uma visão idealizada da criança, tendência esta verificável inclusive na atualidade. Como exemplo máximo desta tendência, podemos destacar o poema “Meus Oito Anos”, de Casimiro de Abreu. O idealismo que permeia a produção literária dessa época vê na fuga para a infância um modo de representação do espírito romântico do século XIX. A infância assim representada revela um espaço distante e até estranho ao adulto que precisou abandonar a vida de “cores” e “amores”. É a fase da vida idílica, aquela a que todos querem retornar, mas que, infelizmente, não é mais possível.

Oh ! Que saudades que tenho Da aurora da minha vida, Da minha infância querida Que os anos não trazem mais! Que amor, que sonhos, que flores, Naquelas tardes fagueiras,

Debaixo dos laranjais! (ABREU, s.d., p. 19)

Durante o romantismo, esse mito da infância assoma como nacional, ultrapassando o plano individual e revela a força da imagem primitiva, pela qual, mais uma vez, a criança e o povo vão ser positivamente assimilados, por um momento. A linguagem que a expressa corresponde à exposição de desejo numa sociedade de contornos rígidos e estreitos, de normas que a constrangem e impedem a emergência do espontâneo, do natural (LAJOLO, ZILBERMAN, 1988, p. 43-44).

Uma escrita memorialista que oferece versões diversas de uma mesma vida, procurando integrar os fragmentos passados, alternando os pontos de vista de um mesmo eu- narrador é o romance Menino de Engenho, de José Lins do Rego.

A infância de Carlinhos, protagonista desse romance, estava "dividida" entre o "bem e o mal", ou seja, na companhia de sua tia seu comportamento era mais terno, já quando convivia com os primos era extrovertido e libertino.

Com a morte de Lili, tia Maria ficou toda em cuidados comigo. Proibiu-me da liberdade que eu andava gozando como um libertino. Passava o dia a me ensinar as letras. Os meus primos, esses, ninguém podia com eles (REGO, 2001, p. 46).

Nessas memórias infantis, a visão tende para uma idealização em tons de saudade, melancolia e dores. Muitas outras narrativas seguiram este modelo de idealização, que por um lado demonstrava o ser criança como a fase mais desditosa da vida e por outro revelava as agressões que o infante sofria, por estar numa situação de submissão e, portanto, em

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