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IV – CONSIDERAÇÕES FINAIS

No documento Download/Open (páginas 182-198)

A luta diária das pessoas pela sobrevivência faz com que elas assumam a rotina do cotidiano e enfrentem a batalha natural pela sobrevivência, criando mecanismos próprios de defesa e de autopreservação. Muitas delas passam toda uma existência somatizando essa rotina e aceitando-a como algo nato, imutável, irreversível. Outras vão caminhando nesse conformismo até que algo ou alguém modifique essa rotina; são provocados, incomodados e procuram alternativas, ainda movidos pelo instinto de preservação. Para alguns, isto por si só não basta. É preciso mais, o desafio é diário, contínuo, a busca é incessante, provoca, apaixona, movimenta, transforma. Cada um de nós tem um pouco ou muito de tudo isso. Essa é a essência de ser da condição humana.

Ao aceitar o desafio proposto pela minha orientadora, Professora Doutora Jane Soares de Almeida, iniciei uma nova caminhada, que acreditava levar- me à conclusão de um trabalho de pesquisa. Queria fazer o melhor, assimilar novos conteúdos, novas aprendizagens, buscar com sucesso a conclusão desse desafio. Que armadilha! Preparado de forma eloqüente e contagiante, o desafio transformou-

se em descobertas e redescobertas apaixonantes. Proporcionou o encontro do meu eu e, mais ainda, com os outros. A cada material pesquisado, um outro mundo se apresentava e um novo olhar me impulsionou a buscar o enfrentamento desse desafio. Nessa caminhada, a trajetória se fez acompanhar de muitos parceiros que, ao aceitarem a proposta de participarem da brincadeira de roda, a ciranda, entraram em movimento, se transformaram.

As primeiras pesquisas confirmam os dados alarmantes que encontramos na sociedade brasileira. Os negros95 representam 45% da população brasileira, mas correspondem a cerca de 64% da população pobre e 69 % da população de extrema pobreza. Os brancos, por sua vez, são 54% da população total, mas somente 36% dos pobres e 31% dos extremamente pobres. No tocante à escolaridade, a incidência do analfabetismo e, portanto, a privação dessa característica elementar das oportunidades básicas do indivíduo, é significativamente maior entre os negros. Em 1999, a taxa de analfabetismo das pessoas negras com idade igual ou superior a 15 anos atinge o dobro do valor das pessoas brancas, sendo, respectivamente, 19,8% e 8,3%.96 (Henriques, 2002)

A esses dados somam-se os depoimentos recolhidos nessa pesquisa que retratam a luta pela sobrevivência de pessoas pobres, com pouca ou baixa escolaridade, trabalhadoras com baixa remuneração, que procuram romper o processo seletivo imposto por uma sociedade preconceituosa, discriminadora, que aceita as diferenças entre os sexos, mas que incorpora e dá aval para as desigualdades entre homens e mulheres. Uma sociedade onde a clareza da pele persiste como uma marca simbólica de superioridade imaginária e que atua como estratégia de distinção e ascensão social. Uma sociedade que se esconde no mito da democracia racial brasileira, que encobre com seu silêncio velado os seus preconceitos e discriminações.

Na sociedade brasileira, o mito da democracia racial é utilizado como argumento político e ideológico com o único objetivo de manter-se impassível diante da desigualdade racial. Um mito que passa a ser compreendido como uma narrativa capaz de falsear uma realidade, como uma corrente ideológica que pretende negar a

95 Negros s

ão os brasileiros que se declaram de cor preta ou parda nas pesquisas dos censos nacionais

96

desigualdade racial entre brancos e negros como fruto do racismo, afirmando que existe entre esses grupos uma situação de igualdade, de tratamento e de oportunidades. Uma sociedade que não atende o que disciplina o texto legal da sua Constituição, que viola os direitos e as garantias fundamentais e os direitos e deveres individuais e coletivos; uma sociedade que se esconde no mito da democracia racial brasileira, que encobre com o silêncio velado seus preconceitos e discriminações. Numa sociedade que enfrenta muitos desafios, por abarcar realidades complexas e de diferentes dimensões mas que poderá se tornar uma sociedade democrática de direito e de fato somente no momento em que sejam eliminadas todas as formas de preconceitos, discriminações e intolerâncias.

Os conceitos que envolvem o tema da pesquisa e suas múltiplas concepções geram divergências de opiniões entre os autores, intelectuais e militantes, dependendo de sua área de conhecimento e de seus posicionamentos políticos. Entender esse universo conceitual torna-se uma tarefa dificultada pela visão de mundo que temos constituído nas nossas relações sociais, no nosso pertencimento social, econômico e cultural, no momento histórico em que vivemos.

Ao procurar adotar uma visão isenta da influência de todos esses fatores, o que é também uma tarefa difícil uma vez que, esta posição também requer escolhas, constatei que gênero, raça, etnia, sexo, poder, discriminação, preconceito, identidade, cultura, educação, racismo, democracia racial, são conceitos intimamente relacionados e que assumem posições dependendo de como são aplicados, de quem os aplica, a quem os aplica e para que os aplica. Diante dessa complexidade foi que desenvolvi esta pesquisa, buscando contribuir para uma análise mais reflexiva desses termos e como eles interagem no desenvolvimento do indivíduo e de suas relações sociais.

Outro ponto que acredito ser relevante para a presente pesquisa e a sua contribuição para estudos posteriores, é a investigação dos processos de construções dessas relações sociais e culturais numa sociedade como a nossa, que enfrenta muitos desafios, de realidades complexas e de diferentes dimensões. Nessa ótica, a questão política torna-se fundamental, uma vez que, perpassa por todos os âmbitos da vida social, exigindo o combate às desigualdades econômicas, sociais e culturais, também existentes nos processos de construção de uma identidade individual, coletiva e de toda uma nação.

Em nossa sociedade, marcada fortemente pela herança de nossos colonizadores, as concepções de gênero, raça, etnia, sexo, discriminação, preconceito, identidade, cultura, educação, racismo, democracia racial, caminham juntos e, lado a lado, vão se transformando através de processos sutis e complexos, presentes no cotidiano, na esfera privada e pública, assim como nos diferentes espaços sociais, presentes nas relações sociais.

O entendimento histórico de nossas origens, de nossa herança cultural e social é o locus no qual busquei a nossa inserção na dança da ciranda. Utilizando o imaginário de uma brincadeira infantil, a ciranda, carregada de magia, simbologia, movimento, vida, realizamos uma roda de conceitos. Todos eles, integrantes importantes, assumem a posição de estar ao lado uns dos outros, ligados e interligados numa dança conceitual, onde o ritmo e a canção entoada falam de vida, vida cidadã.

As parceiras dessa caminhada são mulheres negras, diretoras de escolas públicas. Mulheres nascidas em diferentes épocas e lugares, de origem pobre, que estudaram e trabalharam muito para conseguirem ingressar num curso superior e que, escolheram o magistério público por opção e não por ausência dela. Em seus depoimentos, existe um discurso afetivo em relação à profissão que escolheram. Palavras como amor, carinho, afeto, dedicação, solidariedade, compromisso, competência, aparecem entremeadas com suas lembranças mais sutis e alinhavadas com um claro sentimento de orgulho e de prazer pelo que escolheram fazer e pelo que realizam. Na força da autodeclaração está a essência de sua identidade, de gênero e raça.

Junto com esse sentimento de orgulho existe o sentimento da conquista, pela escolha da profissão e a vitória de conciliar o espaço profissional e o doméstico. A opção pelo matrimônio, pela família e pela profissão, foi consciente, livre e não mais imposta como à suas antecessoras. As conquistas resultantes da luta feminista do inicio do século XX são perceptíveis no cotidiano da sociedade moderna e tiveram uma contribuição importante nas vitórias alcançadas por essas mulheres. A essas conquistas soma-se a batalha travada cotidianamente para se auto-afirmarem como mulheres, negras e diretoras de escola:

Estou em Diadema há 26 anos, trilhei por muitos caminhos e me considero uma mulher realizada. Meus filhos se formaram: a menina é Médica Veterinária, extremamente competente, e o menino professor de Educação Física, esportista de primeira linha...Sou hoje uma mulher batalhadora, respeitada profissionalmente, com muitas coisas para aprender, com mil barreiras a vencer, como tantas outras mulheres que tiveram sucesso na vida. Apenas uma coisa me faz diferente: Sou negra e me orgulho disso. (Vera)

Na força desse depoimento me remeto à celebre frase escrita por Hegel, “nada de grande se faz sem paixão”, ouvida numa adolescência distante, repetida várias vezes, por uma professora apaixonada por literatura97 e sem o entendimento que ela tentava transmitir. Segundo ela, Hegel referia-se àquele estado que deriva da vontade e do poder da crença em alguma coisa, aquilo que faz os homens realizarem grandes feitos movidos por uma força quase sobre humana. Uma frase repetida incessantemente dentro da escola que freqüentei, mas que não possuía a dimensão e o entendimento que lhe era atribuído. Entendimento que veio anos depois, durante minha trajetória de vida e agora ao ouvir o que a diretora Vera dizia, numa escola pública estadual muito semelhante àquela que freqüentei: grande, cheia de vida, e, agora, com o tom da cor na direção.

E, no depoimento resgatado das memórias dessas diretoras, a confirmação do que encontrei no meu primeiro dia de aula, nas aulas de português, na escola que todos nós freqüentamos, no passado e no presente, e, em Almeida (1998) no seu cotidiano:

A minha concepção de paixão situa-se numa esfera de desejo de ser, de esforço, no sentido da realização, de vontade e capacidade de libertação. É um movimento forte o bastante para justificarem tentativas e persistir, apesar de todos os obstáculos, na busca da realização individual. No campo da paixão, os dominados, os explorados, os revolucionários, os transgressores caminham por espaços a serem desbravados e a cada conquista, justamente por sua dificuldade, tornar-se mais apaixonada. E da paixão pelo magistério, do sentimento dessas mulheres, que nessa

97 Fica aqui o registro e a homenagem

à professora Benedita Vasconcelos Franco, mulher de fibra, professora de português e literatura, pelo incentivo aos estudos, pelos ensinamentos de vida e pela paixão pelo magistério que permanecem até os dias de hoje.

profissão realizaram alguma coisa, talvez pouco saibamos, a não ser aquilo que elas disseram... (Almeida, 1998, p. 215).

A paixão que esteve presente em todos os momentos desse trabalho, também acompanhou a trajetória de vida dessas mulheres e se fizeram constantes através do relato de suas memórias. Num dos momentos mágicos da ciranda, a opção pela historia oral como metodologia de estudo, baseou-se em Thompson (1992) que afirma que toda história depende, basicamente, de sua finalidade social. No passado ela era transmitida de uma geração a outra pela tradição oral e pela crônica escrita; hoje em dia, os historiadores são mantidos com recursos públicos e as crianças aprendem história na escola e por vezes a sua finalidade social é obscura, disfarçada. Os acadêmicos podem optar por uma pesquisa factual sobre problemas remotos, evitando envolvimentos ou interpretações mais amplas, contemplando o conhecimento pelo conhecimento, excursionando pelo passado como se fosse um passeio turístico onde, o sofrimento, a crueldade, o conflito não são levados em consideração, importando somente a paisagem do tempo e época. Entretanto, há que se considerar o outro extremo, onde a finalidade social da história é utilizada para justificar guerras, dominação, conquista territorial, revoluções, contra-revoluções, domínio de uma classe ou raça sobre outra, sistemas políticos, econômicos, sociais. Segundo Thompson (1992), a historia oral relaciona-se, em parte, com a finalidade social da história:

A história oral não é necessariamente um instrumento de mudança; isso depende do espírito com que seja utilizada. Não obstante, a história oral pode certamente ser um meio de transformar tanto o conteúdo quanto a finalidade da história. Pode ser utilizada para alterar o enfoque da própria história e revelar novos campos de investigação; pode derrubar barreiras que existam entre professores e alunos, entre gerações, entre instituições educacionais e o mundo exterior; e, na produção da história - seja em livros, museus, rádio ou cinema – pode devolver às pessoas que fizeram e vivenciaram a história um lugar fundamental, mediante suas próprias palavras. (Thompson, 1992, p.22)

A opção por utilizar como metodologia de trabalho a história oral foi feita de maneira consciente, uma vez que, qualquer posicionamento metodológico implica sempre num envolvimento. Nesse caso, um envolvimento que nasceu de um desafio, enredou-se pela paixão e caminhou na história oral representada pela memória das diretoras de escolas públicas de Diadema. Durante o percurso, as descobertas e redescobertas me impulsionaram a participar da construção de uma história transcorrida no anonimato de pessoas comuns, mulheres, diretoras de escolas, negras. Mulheres iguais a quaisquer outras, com desejos, paixões, sonhos, sofrimentos, dores, angústias, discriminações, preconceitos. Mulheres negras impregnadas do próprio sentido e significado da existência, que derrubam barreiras, edificam sonhos, constroem realidades. Mulheres negras e diretoras de escolas que, além de tudo isso, estão nas escolas, nas escolas públicas estaduais:

Muitas vezes é quase impossível ao pesquisador deixar de participar da construção lingüística e da expressão corporal do entrevistado e assumir um distanciamento ditado por um desejo de neutralidade na hora de transpor os testemunhos em texto. Na ausência de autores, o texto torna- se árido, sem a pregnância das emoções e das entonações que dão vida à linguagem e, nesse trabalho de análise, despe-se do texto toda e qualquer paixão que esse possa oferecer. Mas, à medida que, ao final do processo analítico, a síntese emerge, com ela ressurgem aspectos surpreendentes que conseguem novamente colocar em cena o ser vivo e sua carga de experiência de vida. Ao elaborar a síntese, constrói-se também História, uma micro-história transcorrida no anonimato de seres comuns, sem grandes tragédias, sem grandes realizações, porém impregnadas do próprio sentido e significado da existência. É nesse teatro que o historiador transita, aprende, e busca o encontro com si próprio, pois, “...o que ele enuncia, quando escreve a história é o seu próprio sonho”. (Almeida, 1998, p. 162)

Ao procurar desvendar, através das memórias dessas diretoras de escolas públicas em Diadema, as suas experiências de vida, de trabalho e da profissão, evitar o envolvimento foi impossível. No momento da transcrição dos relatos e depoimentos, a paixão despertada pelas primeiras leituras tornou-se mais quente, ávida de buscar o outro, de deixar-se levar, “de abrir a janela e deixar o

vento entrar...”. A postura que assumo é resultante de muita reflexão, não é neutra, não é distante, está em movimento. É a ciranda, que fala de vida, do cotidiano, de paixão, de cidadania.

As co-autoras dessa pesquisa são pessoas contando sua trajetória de vida, caminhando por um passado não muito distante, buscando trazer para o presente as ações de um cotidiano e os sentimentos dos quais foram portadoras, naquela época, naquele tempo, naquele lugar. Procurando reviver emoções, desejos, sonhos. E o passado, gentilmente desfilou no presente, mostrando com nitidez as imagens, exalando o perfume das pessoas e das coisas, colorindo os sentimentos, impregnando todos os sentidos e envolvendo-os agora num registro, numa tentativa de perpetuação e de transformação. São pessoas que, através de suas memórias, nos fizeram buscar nossas memórias; escondidas muitas vezes no tempo, esquecidas de maneira consciente ou inconsciente. Memórias transbordando amores, dores, sonhos, esperanças, alegrias e tristezas, mas, acima de tudo, viva, em movimento.

As categorias levantadas através dos depoimentos permitiram-me enveredar por algumas reflexões efetuadas no início da caminhada. A roda de conceitos passou a ter forma, cor, som, movimento. Durante a trajetória de vida dessas mulheres, verifiquei que a família e a escola ocupam um lugar de destaque e um espaço importante na construção de suas identidades social, cultural, de raça e gênero. Não é por acaso que o locus familiar e da escola aparecem de forma recorrente e constante nos depoimentos dessas mulheres. As lembranças marcantes e significativas aconteceram nesse espaço. Neles foram edificados seus valores, suas crenças, seus ideais, seus sonhos, suas realizações passadas, presentes e futuras. Nesses espaços a identidade cultural, social, de gênero e raça, se estabeleceu, estão se estabelecendo, constantemente, inacabadamente.

A família é vista por essas mulheres como o local acolhedor que incentivou sonhos, edificou valores e crenças, transmitiu conhecimentos, propagou uma cultura, fortaleceu relações, rompeu barreiras econômicas e sociais, compartilhou experiências, frustrações, expectativas, preconceitos e discriminações. A família edificou e solidificou o rompimento da barreira seletiva que essas mulheres enfrentaram. Essas mulheres que conseguiram romper o duplo bloqueio formado

pelas relações de gênero e de raça e atingiram a posição profissional de diretoras de escola pública:

Cresci num ambiente saudável com pais, irmãos, avós, tios e primos. Apesar de todas as dificuldades financeiras, sempre fomos muito felizes. Crescemos (eu e meus irmãos) dentro de padrões não muito comuns para a época. Faziam parte de nossos dia-a-dia conceitos de ética, responsabilidade e respeito. Tropeçávamos em livros e meus pais sempre liam algo para nós – trechos de livros, notícias de jornal e outras coisas que, muitas vezes a nossa pouca idade não permitia o entendimento. Mas atentos, olhos brilhantes e ansiosos por aqueles momentos, nem sequer piscávamos...Passeávamos muito: íamos ao Zoológico com freqüência, Jardim Botânico, Parque do Ibirapuera, parques de diversão, circo, “além de brincarmos na rua”... Sempre contamos uns com os outros e nos apoiamos em todas e quaisquer situações. Como todo ser humano, tenho “altos e baixos”. Muitas vezes o desânimo bate por me sentir impotente diante de algumas situações. Mas tenho um compromisso com a Educação e, conseqüentemente com a sociedade. Além disso, sou filha de Cloves e Ana Maria. Tenho uma história! Linda, cheia de cor, dor e principalmente amor... Amor à família, ao trabalho, ao próximo, à Pátria, a Deus... (Ana Paula)

Apesar de terem nascido em épocas e locais diferentes, todas essas mulheres têm em comum a origem humilde, as dificuldades econômicas e sociais, os preconceitos e discriminações sofridas, a busca pela ascensão social, pela realização de um sonho, pela transformação do sonho em realidades e esperanças. Todas elas escolheram a carreira do magistério público como uma opção consciente onde a racionalidade técnica se impôs como uma faceta da profissão que escolheram e no qual acreditam. Mesmo incorporando o discurso da missão e da vocação presentes desde o início da profissionalização do magistério, elas nunca deixaram de assumir a necessidade de serem competentes. Uma competência que acreditam ser fruto não só da apropriação adquirida através da experiência e durante o período de formação, por melhor que tenha sido seu padrão de excelência, mas também e, principalmente, através do processo de construção de sua identidade individual e coletiva.

A escola que essas mulheres freqüentaram e em que agora atuam é vista como um local privilegiado e que assume um importante papel no processo de construção das identidades individuais e coletivas. Acreditam que nesse contexto, os indivíduos são identificados por gênero, classe, raças, etnia, idade, nacionalidade, assumindo identidades plurais e múltiplas e produzindo diferentes posições do sujeito. Essas identidades não são estáveis, elas se modificam e se transformam. Elas estão ali, resgatando a auto-estima, rompendo preconceitos e discriminações, afirmando, auto-afirmando, construindo, reconstruindo, cotidianamente, constantemente, inacabadamente.

A educação, ministrada nas escolas ou nas famílias, atua como elemento reprodutor ou produtor dessas relações sociais e dos mecanismos de discriminação. Seus depoimentos confirmam que as identidades são múltiplas e plurais, se transformam e pode nos ajudar a entender que as práticas educativas são generalizadas produzindo-se a partir das relações de gênero, classe, raça. É a identidade cultural que possibilita à criança reconhecer-se como pertencente ao gênero masculino ou feminino, a esta ou aquela raça e até mesmo sua desigualdade econômica baseada nas relações sociais e culturas que se estabelecem constantemente, inacabadamente. E, conforme afirma Louro (2001):

As marcas mais permanentes que atribuímos às escolas não se referem aos conteúdos programáticos que elas possam nos ter apresentado, mas sim, se referem a situações do dia-a-dia, a experiências comuns ou extraordinárias que vivem no seu interior, com colegas, com professores ou professoras. As marcas que nos fazem lembrar, ainda hoje, da escola têm a ver com as formas como construímos nossas identidades sociais,

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