• Nenhum resultado encontrado

Devido à restauração do período Meiji (1868 – 1912), o Japão passou a utilizar uma política de abertura para o exterior o que gerou um fluxo grande de exportação de

Ukiyo-ee outras Japonaiserie. O negociante de arte Tadamasa Hayashi (1853-1907) foi o primeiro a viajar para França em 1878 e posteriormente tornou-se diretor da Exposição de 1900. (FUNAYAMA apud PASLER, 1986, p. 274 e 275)22.

A grande aceitação da arte japonesa por parte da Europa e especialmente a França atingiu seu pico na Exposição de 1900 em um fenômeno chamado Japonismo e foi principalmente associado ao grupo Apaches formado por artistas, compositores e poetas como Maurice Ravel e Maurice Delage 23 (FUNAYAMA apud PASLER, 1986, p.273 e 275). Apesar dessa popularidade do Japonismo em diversas manifestações artísticas, a música tradicional japonesa quase nunca foi apresentada na Europa (FUNAYAMA in PASLER, 1986, p. 275 e 276)24.

Mas para Funayama, apesar de compositores como Debussy, Ravel e Satie que presenciaram a Exposição de 1900 conhecessem apenas a música javanesa e pouco ou

22 In the mid-nineteenth century, the Meiji restoration ended the exclusionist policies had prevailed from

the middle of the seventeenth century, and Japan joined the three great international exhibitions that took place in Paris in 1867, 1878, and 1900. After more than two centuries of national isolation, during which only an infinitesimally small number of art objects had been exported in Dutch trading vessels, Ukiyo-e prints and other "Japonaiserie' were taken overseas in large quantities. The art dealer Tadamasa Hayashi (1853-1907), who first traveled to France in 1878, collected and sold literally hundreds oi thousands of Ukiyo-e prints. He later became director of the 1900 exhibition.

23

"Japonisme'' a phenomenon that appeared in France in the latter hall of the nineteenth century, and more directly, his relationship with the "Apaches," a group of Parisian artists, composers, and poets (induding Maurice Ravel and Maurice Delage).

24 Arguably, Japonisme reached its peak m France with the great international exhibition held in Paris in

1900. Ukiyo-e's influence upon Edouard Manet, Claude Monet, and other members of the impressionist school, as well as upon other leading artists such as Van Gogh, Gauguin, and Toulouse-Lautrec, has been studied in detail by Japanese art historians. In contrast, the question of Japonisme in music has been almost completely overlooked. Whereas Japonaiserie in its manifold forms was introduced into Europe on occasions like the three great international exhibitions, Japanese traditional music was almost never performed in Europe.

quase nada a japonesa, dificilmente não receberam influencias do Japonismo, pois era um fenômeno forte sobre a cultura europeia como um todo na época (FUNAYAMA in PASLER, 1986, p. 276) 25. Esse fato reforça novamente a ideia de que a arte japonesa sempre foi um elemento recorrente na vida de Debussy mesmo que não encontremos relatos que citem a presença do mesmo na Exposição Universal citada.

Jessica Elizabeth Stankis em Maurice Ravel as Miniaturist through the Lens of

Japonisme (2012) utiliza o Color Counterpoint26 (ou “contraponto de cores” em tradução livre) como uma ferramenta de análise metodológica do japonismo e especialmente a relação do Ukiyo-e em Ravel. Seguimos com a definição dessa técnica: Embora a música seja uma forma de arte que se desdobra ao longo do tempo, a exigência auditiva ao ouvir o contraponto de cores de Ravel é análoga a mover os olhos para diferentes caracteres visuais nas impressões em xilogravura para ter uma noção intuitiva do todo sem o auxílio de pontos de fuga claros. Embora semelhante às “variações simultâneas” encontradas no contraponto heterofônico de cores de Debussy em La Mer, o contraponto de cores de Ravel é definido por um maior senso de intensidade e independência das imagens sonoras - assim, um maior sentido de detalhe miniaturista em curtos intervalos de tempo musical (STANKIS, 2012, p. 28).27

Os conceitos acima são aplicados por Stankis na obra Le grillon (figura 14), segunda peça de Histoires naturelles composta em 1906 por Ravel com letra de Jules

25

French musicians who attended the 1900 exhibition, such as Debussy, Satie, Ravel, and Chabrier, were deeply moved upon hearing Indonesian gamelan music, but they had no knowledge whatsoever of Japanese music. However, these musicians could scarcely have remained unaffected by the phenomenon of Japonisme that was exerting such a strong influence upon European culture as a whole at the time.

26 Aqui é estabelecida uma analogia dessa técnica ao klangfarbenmelodie e a técnica de montagem e

colagem. [The idea is somewhat reminiscent of Anton Webern’s pointillistic interpretations of Schoenberg’s Klangfarben principle.Colorcounterpoint is also similar to collage and montage techniques ubiquitous in twentieth-century art (STANKIS, 2012, p. 26)].

27Although music is an art form that unfolds over time, the aural requirement in listening to Ravel’s color

counterpoint is analogous to moving the eyes to different visual characters in the woodblock prints to get an intuitive sense of the whole without the aid of clear vanishing points. While similar to the “simultaneous variants” found in Debussy’s heterophonic counterpoint of colors in La Mer, Ravel’s color counterpoint is defined by a greater sense of intensity and independence of sound images—thus, a greater sense of miniaturist detail in short spans of musical time.

Renard. Na análise dos oito primeiros compassos a autora considera que o trecho é composto por texturas formadas de pequenos sons e gestos pontilhistas justapostos em camadas simultâneas (STANKIS, 2012, p. 28 e 29).28

Figure 14: Le grillon (compassos 1 a 8)

Fonte: STANKIS, 2012, p. 29.

Os fragmentos marcados no exemplo acima são denominados como “traços sonoros” (sound strokes) em uma analogia a caligrafia japonesa, aonde os kanjis29

são justapostos verticalmente ou horizontalmente. O exemplo citado (figura 14a) é da palavra ongaku (música) formada por on (音 - som) e gaku (楽 - conforto/comodidade):

28 Consider the first eight measures of Ravel’s “Le grillon” (The cricket) from Histoires naturelles de

Jules Renard (1906). The texture is crafted by sound pockets and pointillistic gestures that are juxtaposed and arranged in simultaneous layers—a textural counterpoint related to yet distinct from tonal counterpoint.

Figura 14a: Maneiras de organizar kanjis

Fonte: editado pelo autor.

Fica evidente uma nova utilização do material sonoro distinto do uso tradicional e apesar de bem refutada, consideramos essa abordagem demasiadamente abstrata, os argumentos acima não possuem nenhum precedente específico na música japonesa e mesmo com todo o fascínio gerado pelo Ukiyo-e, a música foi uma manifestação constituinte desse momento histórico como é visto no relado de Jirohachi Satsuma, que organizou para os Apaches um recital de shamisen com execução Sakichi Kineya. Segue o relato de Satsuma:

Eu imediatamente consultei Ravel e Delage, e decidi dar uma festa de boas-vindas para Sakichi e sua esposa na casa do pianista Gil- Marchex. Sakichi se apresentou em um cobertor vermelho cercado por uma tela dobrável dourada. Ravel e Delage ficaram encantados com a

performance (FUNAYAMA apud PASLER, 1986, p. 278)30.

Portanto para adquirirmos uma real compreensão sobre essa música, consideramos necessário um aprofundamento nos conceitos e elementos que a constituem.

30 I immediately consulted Ravel and Delage and decided to hold a welcome party for Sakichi and his

wife at the home of the pianist, Gil-Marchex. Sakichi performed on a red blanket surrounded by a golden folding screen. Ravel and Delage were enthralled by the performance.

Capítulo 4 - A música japonesa sob um olhar outsider.

Documentos relacionados