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“O Senhor disse: “Eu vi, eu vi a aflição de meu povo que está no Egito, e ouvi seus clamores por causa de seus opressores. Sim; eu conheço seus sofrimentos. E desci para o livrar da mão dos egípcios e para fazê-lo subir do Egito para uma terra fértil e esperançosa, uma terra que mana leite e mel, lá onde habitam os cananeus, os hiliteus, os amorreus, os ferezeus, os heveus e os jebuseus.”

Êxodo 3: 7-8

“Segundo a ordem do Senhor, teu Deus, votarás ao interdito, os hiteus, os amorreus, o cananeus, os ferezeus, os heveus e os jebuseus, para que não suceda que eles vos ensinem a imitar as abominações que praticam em honra de seus deuses, e venhais a pecar contra o Senhor, vosso Deus.”

Deuteronômio 20: 17-18

Cruzar uma imensidão de água salgada, da mesma forma como os hebreus atravessaram o deserto além do Egito, em busca de sua Canaã. Enquanto uns são guiados por Moisés, o homem e profeta que ouviu a voz manifestada pela sarça ardente e que recolheu as tábuas da lei em seus braços, outros são guiados pela doutrina do sucesso e da predestinação, tendo assinado um contrato social em plena viagem. A jornada de travessia de um oceano, tentada pelos novos habitantes do continente americano, desde os idos do século XV, ganhou uma aura de narrativa mítico-religiosa, retomando temas caros aos cânones do Antigo Testamento, ao menos no referente aos avanços ingleses no Novo Mundo.

A noção de um novo espaço no mundo desperta novas teorias de explicação da realidade e dos próprios cânones religiosos, remodelando o Velho Mundo a partir do contato com o Novo. A América se faz América nos tempos coloniais, assim como a Europa ganha uma nova feição, um novo rosto que evidencia o fato de que a sede dos grandes impérios europeus ocupa apenas uma fração das terras conhecidas. A ação desses mesmos impérios no continente recém-achado é estender seu braço, potencializando a prática da colonização. Porém, em alguns casos particulares, podemos notar uma tentativa de transplante do modo de vida europeu para as terras americanas, ao invés do estabelecimento de uma lógica colonial própria, seja ela feita pelo Estado centralizado ou pela administração local. Pode-se argumentar que essa tentativa foi algo fadado ao fracasso, devido às dinâmicas de um encontro de culturas colonial, mas é fundamental ressaltar que, principalmente por conta da construção histórica e mítica realizada ao longo do século XIX, essa perspectiva idealizada da

colonização tornou-se elemento decisivo para o processo de formação nacional. Essa peculiaridade se fez notar em algumas colônias inglesas da América do Norte, e é nesse ponto que o caminho do meu trabalho se inicia. A jornada que ele deverá percorrer precisa atingir, e se centrar, no século XIX. A exploração da dinâmica colonial busca identificar alguns dos discursos e práticas que notavelmente reaparecem, ou foram recuperados, nos anos independentes do território que virá a ser chamado de Estados Unidos da América. Além das rupturas e da defesa da inovação e do surgimento de um novo país, há uma série de permanências e de problemáticas ressignificadas, presentes no território desde os tempos em que os ingleses começaram a firmar pé no continente, e fortemente impressas na memória legada pela colônia. Faz-se importante recordar que o país independente, no contexto oitocentista, define muitos dos clichês e imagens interpretativas do que seria a colônia, no processo de formação de uma história oficial e de uma memória patriótica.

A colonização inglesa no continente americano, mais especificamente na região que corresponde aos atuais Estados Unidos, foi um processo múltiplo, diverso em relação à forma de exploração do território e à composição populacional das treze colônias norte- americanas. Entre diversas denominações religiosas presentes na colonização, os puritanos são o foco de maior atenção, provocando uma generalização na análise da América Inglesa do século XVII. Por um lado, aparece uma simplificação do processo colonizador da América do Norte ocorrida pela fixação – em grande parte levada adiante pelo discurso de formação nacional dos Estados Unidos – na filosofia e nos costumes puritanos. Por outro, esse destaque leva a uma ideia de excepcionalidade dos esforços colonizadores ingleses. No período pós- independência, o discurso valorizador da prática puritana se faz presente a ponto de apagar diferenças e peculiaridades, levando ao ápice a defesa de uma excepcionalidade inglesa, puritana e, posteriormente, estadunidense.

Jorge Cañizares-Esguerra, ao analisar o período colonial americano sob o ponto de vista atlântico – e não puramente hispano-americano ou anglo-americano – defende não apenas um cuidado com a multiplicidade cultural envolvida no processo colonizador, mas também cunha um método de aproximação entre os colonizadores ingleses e espanhóis. Ressaltando a importância de se estudar discursos específicos dentro de uma série de ideias presentes no processo histórico, chega-se ao destaque tanto de um cuidado com as especificidades quanto de uma defesa da comparação entre práticas de conquista, por meio de dois discursos predominantes:

“It is clear that there were important differences separating the Puritans from the Spanish Americans. But there were also significant resemblances, and the scholarship on the Atlantic world has paid little attention to them, because it has imagined the world in largely national terms. (…) I explore the discourse of demonology and spiritual gardening, and argue that British American Puritans and Spanish American Catholics in fact saw the world of colonization in remarkably similar terms.

(…)

Another important element to keep in mind (…) is that the discourses of demonology and gardening were only two of many in the Atlantic bazaar of ideas. I am aware that I deal mostly with the ideas of the learned (clergy and laity). We should not, however, dismiss the study of the discourse I have identified on account of its being both elite and one of many. (…)

(…) I am aware that using categories such as “Iberians” and “Puritans” is a reductive stance toward these historical actors. There were to be sure many strands within the so-called orthodox Puritan tradition (…) and that a similarly mind-boggling array of doctrinal positions can easily be discerned in the “Iberian” sources.”19

A aproximação entre puritanos e conquistadores pode parecer inusitada, e não funciona em todas as instâncias. Porém, não apenas os discursos da demonologia e da jardinagem espiritual podem ser aproximados, como essa comparação ajuda a historiografia a desconstruir as imagens tão arraigadas dos diferentes métodos de colonização: a exploração desbragada dos habitantes da Península Ibérica em contraposição ao povoamento austero dos puritanos, fugitivos de uma implacável perseguição religiosa por parte da corrupta Inglaterra.

Ao trabalhar com essa chave de análise, é necessário um cuidado extremo para não torcer as peculiaridades discursivas de qualquer uma das vertentes a fim de que elas terminem moldadas idealmente às teorias e teses dos acadêmicos. Existem paralelos bíblicos claros entre a presença do demônio na América com a purgação dos pecados realizada por meio do trabalho árduo no solo norte-americano. Mas apenas o fato de ibéricos e ingleses lerem a Bíblia em diferentes versões já transforma as tentativas de análise comparativa em uma desgastante jornada entre Cila e Caríbdis. Minha intenção ao trazer essa ideia não é endossar completamente o trabalho de Cañizares-Esguerra – afinal não acredito que as visões de mundo expressas pelos dois ímpetos de colonização sejam tão “notavelmente” similares

19“Claro que existiam importantes diferenças que separam os puritanos dos hispano-americanos. Mas existiam

também semelhanças significativas, e os estudos sobre o mundo atlântico têm prestado pouca atenção a elas, pois têm imaginado o mundo em termos majoritariamente nacionais. (...) Eu exploro o discurso da demonologia e da jardinagem espiritual, e argumento que os puritanos anglo-americanos e os católicos hispano-americanos viam o mundo da colonização em termos notavelmente similares. / Outro elemento a se ter em mente (...) é que os discursos da demonologia e da jardinagem foram apenas dois de muitos no bazar de ideias atlânticas. Estou consciente de que lido principalmente com as ideas dos letrados (clero e laicidade). Não podemos, entretanto, dispensar o estudo do discurso que identifiquei por conta dele ser elitista e apenas um entre muitos. (...) / (...) Estou consciente de que utilizar categorias como “ibéricos” e “puritanos” é uma postura redutora em relação a esses atores históricos. Existiam, claro, muitas vertentes entre a assim chamada tradição puritana ortodoxa. (...) e uma série similarmente estonteante de posições doutrinárias pode facilmente ser encontrada nas fontes “ibéricas”.” (Tradução minha) CAÑIZARES-ESGUERRA, Jorge. Puritan Conquistadors: Iberianizing the Atlantic, 1550-1700. Stanford: Stanford University Press, 2006. pp. 16-17.

assim – mas ressaltar como seu livro contribui para desfazer um senso comum historiográfico e social, que repete como uma cantilena as diferenças inconciliáveis entre os processos colonizadores.

A metáfora do processo de ocupação do continente com um plantio de jardim ganhará minha maior atenção nas próximas páginas, mas um de seus elementos constitutivos se relaciona com a construção simbólica, e posteriormente imagética, do que seria a colonização e seus empreendedores, os afamados puritanos, mitificados como os Pilgrim

Fathers, os pais peregrinos honrados em novembro, no Dia de Ação de Graças. Essa

construção traz um aspecto da formação dos Estados Unidos para o primeiro plano, relegando uma miríade de outras práticas e discursos para a poeira bibliófila que ocasionalmente recebe os traços de impressões digitais dos historiadores.

As imagens que mais frequentemente ilustram o processo colonizador do território são as de puritanos ocupando uma localidade que, em sua lógica discursiva própria, já estava destinado a esse grupo específico, a esse povo eleito e predestinado. Um exemplo de representação imagética bastante evocativa sobre os puritanos são os quadros The Landing of

the Pilgrim Fathers in America, de Charles Lucy20, divulgado em 1868, e The Landing of the

Pilgrims at Plymouth, que veio a público em 1876, ano de centenário da declaração de

independência, por meio da empresa de impressões Currier & Ives.

The Landing of the Pilgrim Fathers in America, a. d. 1620, 1868. Charles Lucy (1814-1873). Atualmente no

acervo do National Heritage Museum, em Lexington, Massachusetts, Estados Unidos. Disponível em: http://nationalheritagemuseum.typepad.com/library_and_archives/charles-lucy/. Acesso em 4 de julho de 2017.

20Charles Lucy (1814-1873): Pintor inglês, atuante durante a Era Vitoriana. Conhecido pela pintura de quadros

históricos, que cobriram temas ligados à história inglesa, como Oliver Cromwell e o processo das revoluções inglesas. Porém, é mais conhecido por retratar a chegada dos puritanos ao território americano.

The Landing of the Pilgrims at Plymouth, Mass. Dec. 22nd 1620.New York: Published by Currier & Ives, 125

Nassau St., c1876. Uma das impressões encontra-se na Biblioteca do Congresso, em Washington, DC, Estados Unidos. Disponível em: http://www.loc.gov/pictures/item/2002707741/. Acesso em 4 de julho de 2017.

Sem pretender realizar uma análise pormenorizada do quadro e da estampa, há alguns aspectos a serem realçados. Apesar de uma notória diferença estética nas duas obras, sendo que a obra de Lucy é mais elaborada e refinada, os elementos são comuns. Pessoas trajadas com vestimentas comumente associadas aos puritanos, homens de expressão austera e resoluta e frágeis mulheres desfalecendo, enquanto o navio que os trouxe da Inglaterra pode ser enxergado ao fundo, como um elemento que já cumpriu sua tarefa de transportar os colonos para um novo continente e para uma nova vida. Os pais peregrinos estão em Plymouth Rock, deixados à própria sorte pela terra natal inclemente e pecadora. Agora é o momento de construir uma nova cristandade, um novo modelo de sociedade e de organização política e religiosa. A América é a terra inóspita, que será cultivada e que purgará os pecados da humanidade. Um dos detalhes no quadro de Lucy é a representação de um homem ajoelhado, agradecendo a Deus pela jornada terminada, e pedindo forças para as etapas subsequentes da missão. Um dos homens carrega uma picareta, mostrando que está pronto para o trabalho árduo, para a construção de uma nova realidade com seu próprio suor. Os chapéus estão nas mãos, afinal, as cabeças devem se descobrir perante o divino, assim como Moisés retirou suas sandálias ao ser advertido pela voz que veio da sarça ardente.

Porém, Moisés já calcava pés em território sagrado. Os peregrinos puritanos se propunham a santificar o solo da América Inglesa. Essa perspectiva religiosa, que incita um pequeno contingente migratório a constituir uma nova vida, em um novo continente, a partir de pressupostos que já existiam na Europa – mas que lá não encontraram um solo fértil para prosperarem, sendo vítimas de perseguições e de incompreensão pelos não-eleitos – é uma

das tópicas míticas do discurso identitário estadunidense. Para estabelecer marcos históricos fundadores de novas realidades e novos momentos políticos, os Estados Unidos elaboraram mitos e ressignificaram eventos históricos. Por exemplo, a colonização do território foi muito mais diversa do que as imagens discutidas retratam, mas a construção da memória nacional se concentra nesse ideal, nessa nobre representação de momento fundacional. O mito reforça pontos, constrói outros, cria falsidades e exclui um grande número de vozes e de experiências históricas. Um dos objetivos mais enfáticos deste trabalho é desvelar essa construção.

Para voltar aos puritanos, podemos dizer que esse tipo de colonização comumente associado à construção de um país de proporções continentais, com todos os chavões imagéticos e representativos usuais, é bastante característico da colônia de Massachusetts, e não das treze colônias como um todo. A Virginia e os territórios ao sul; a posterior expansão para o oeste; os estados incorporados ao país e que tiveram colonização realizada por franceses, espanhois e holandeses; todos esses movimentos históricos são deixados de lado em detrimento de outro, na elaboração complexa de uma narrativa sobre a formação de uma nação.

Outro elemento que ainda pode ser destacado, em relação aos quadros, é que essas obras foram desenvolvidas no século XIX, estando inseridas em uma lógica de recuperação da memória colonial em um momento de construção nacional pós-independência. Charles Lucy é um pintor inglês, o que demonstra que essas temáticas nacionalistas podem dialogar com a ex- metrópole. Já as estampas de Currier & Ives têm como objetivo divulgar imagens populares da tradição histórica estadunidense, em uma comercialização pictórica da história oficial. A estrutura da estampa é a mesma da pintura de Lucy, porém, há uma diferença marcante: um elemento nativo, do lado esquerdo, isolado dos demais. Desde a chegada dos colonizadores, os habitantes originários do continente encontram-se em outro campo, separados da sociedade anglo-americana, ao menos na perspectiva traçada por esses recém-chegados. Mesmo estando isolado, a presença do nativo na imagem é intrigante. Qual o motivo de se representar, em um ano de celebração nacional, um elemento socialmente marginalizado? Uma interpretação possível seria entender a presença do indígena como um marco histórico, representando um grupo que ocupou o território originariamente, mas que deu lugar à onda colonizadora inglesa. Seria estabelecida, dessa forma, um etapismo histórico: após os nativos, a terra seria dos colonos, dos futuros estadunidenses. Os puritanos olham adiante, enquanto o indígena volta seu olhar para a outra direção. O século XIX interpretava seu passado em um momento de intenso debate sobre a política indigenista e o papel do nativo nos Estados Unidos. A estampa

comemorativa expõe um posicionamento: os habitantes nativos fizeram parte da colonização, mas estavam em intenso descompasso com os bravos peregrinos.

Essa representação e essa temática, ligadas aos peregrinos, foram tão fortes que até figuras como Samuel Morse21, conhecido como inventor do telégrafo, pintou quadros retratando a chegada dos colonos e o surgimento do novo colosso nortista. Além da ressignificação memorialística, existe a possibilidade de interpretarmos a constante renovação das imagens como sinal de uma contínua validade do discurso puritano, porém com traços laicos oitocentistas, nos séculos posteriores às primeiras investidas colonizadoras na América do Norte. Uma das constantes é a dinâmica do indígena isolado mostrada pela singela estampa comercializada pela casa de impressão Currier & Ives.

Um dos caminhos para se explorar os motivos dessa atenção focada em uma manifestação religiosa específica é pensar no discurso religioso puritano e em suas possibilidades de manifestação física, ou seja, no ideal de sociedade para o grupo colonizador e como essa elaboração influenciou a organização da colônia não apenas no âmbito religioso, mas também na formação de uma cultura e de um modelo de organização do espaço. Um modelo que já existia na Inglaterra e que se tentou transplantar para as terras do Novo Mundo. Ao longo do tempo, essa proposição de sociedade ideal, pintada inicialmente com vibrantes tintas religiosas, permaneceu atuando no estabelecimento de espaços específicos para grupos escolhidos. Respeitando as diferenças históricas e estabelecendo um limite que me impeça de incorrer na heresia historiográfica do anacronismo, é possível dizer que a continuidade dos traços gerais desse modelo pode ser identificada fortemente no século XIX e, de forma mais matizada e complexa, também no período contemporâneo.

Para se construir um novo espaço, um ambiente ideal no Novo Mundo, era necessária uma delimitação teórica, ideológica, religiosa, jurídica e prática do que constitui território, propriedade, e dinâmicas sociais. Essa delimitação leva à concepção de cidade, que constitui um ponto central para a autorepresentação dos colonos e de seus líderes no processo de transição da Inglaterra para a América. Portanto, antes de embarcar em uma análise do ideal de cidade e de organização social no discurso religioso puritano, convém explorar o fator definidor da propriedade para os colonos vindos para a América do Norte. A demarcação de território, a garantia da posse, estava relacionada com a construção de uma casa, com a

21Samuel Finley Breeze Morse (1791-1872): Inventor, físico e pintor estadunidense, conhecido pelo

desenvolvimento do telégrafo e pela co-criação do código que levaria seu nome. Como pintor, trabalhou com retratos e com cenas históricas. Um de seus quadros mais conhecidos, Dying Hercules, possui um tema mitológico, que pode ser relacionado com a guerra entre Estados Unidos e Inglaterra que marcou o ano de 1812, quando o quadro foi concluído.

utilização do solo para cultivo e com o ato de erguer cercas e sebes. Como analisa Patricia Seed, em sua obra sobre as cerimônias de posse nas colônias americanas:

“Está longe de ser uma coincidência o fato de os relatos da ocupação inglesa do Novo Mundo geralmente começarem com a descrição da atividade banal de construir casas. Embora outras fontes de direitos tais como a “descoberta” tenham sido posteriormente alegadas como justificativas para a posse inglesa do Novo Mundo, os próprios colonizadores em geral não fizeram uso desse argumento. Da mesma forma, esse argumento não foi empregado na Inglaterra da época pelos advogados das colônias. Em vez disso, os ingleses do século XVI e do início do século XVII geralmente construíam seu direito de ocupar o Novo Mundo sobre alicerces muito mais familiares em termos históricos e culturais: construir casas e plantar jardins.”22

Por meio de princípios práticos, ligados ao cultivo da terra, teria havido uma requisição de posse do território não representada por linhas imaginárias, ou pela conversão dos indígenas ao cristianismo, mas sim com demarcações claras, com cercas e sebes23. Seguindo uma vertente diferente do cristianismo, parte dos colonizadores da América Inglesa interpreta à sua maneira tanto as relações coloniais entre europeus e indígenas quanto passagens da Bíblia. O versículo do Gênesis que diz “crescei e multiplicai-vos” 24 é lido de

forma relacionada com a prática agrícola, com o cultivo do solo25. O objetivo do cristão seria

não somente fazer a espécie humana se multiplicar, mas também fertilizar o solo para que os frutos sejam ricos. A terra da colônia, seguindo essa lógica, é um jardim, pronto para ser

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